quinta-feira, 25 de julho de 2013

GUARDEMOS O ENSINO

GUARDEMOS O ENSINO

“Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos.” – Jesus. (Lucas, 9:44)

Muitos escutam a palavra do Cristo, entretanto, muito poucos são os que colocam a lição nos ouvidos.

Não se trata de registrar meros vocábulos e sim fixar apontamentos que devem palpitar no livro do coração.

Não se reportava Jesus à letra morta, mas ao verbo criador.

Os círculos doutrinários do Cristianismo estão repletos de aprendizes que não sabem atender a esse apelo. 

Comparecem às atividades espirituais, sintonizando a mente com todas as inquietações inferiores, menos com o Espírito do Cristo. Dobram joelhos, repetem fórmulas verbalistas, concentram-se em si mesmos, todavia, no fundo, atuam em esfera distante do serviço justo.


A maioria não pretende ouvir o Senhor e, sim, falar ao Senhor, qual se Jesus desempenhasse simples função de pajem subordinado aos caprichos de cada um.

São alunos que procuram subverter a ordem escolar.

Pronunciam longas orações, gritam protestos, alinhavam promessas que não podem cumprir.

Não estimam ensinamentos. Formulam imposições.

E, à maneira de loucos, buscam agir em nome do Cristo.

Os resultados não se fazem esperar. O fracasso e a desilusão, a esterilidade e a dor vão chegando devagarinho, acordando a alma dormente para as realidades eternas.

Não poucos se revoltam, desencantados...

Não se queixem, contudo, senão de si mesmos.

«Ponde minhas palavras em vossos ouvidos», disse Jesus.

O próprio vento possui uma direção. Teria, pois, o Divino Mestre transmitido alguma lição, ao acaso?


Página do livro Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, cap. 70

quinta-feira, 11 de julho de 2013

No deserto

No deserto

Há dias em que tudo se afigura desolador, caracterizado pela perda de sentido, sem qualquer estímulo para o trabalho de divulgação e de preservação do bem na Terra.

Há períodos na existência humana em que todas as florações da alegria e do entusiasmo emurchecem, demonstrando a aparente inutilidade da sua benéfica ação.

Há fases no percurso carnal, em que proliferam o mal e a agressividade em crescimento, asfixiando as débeis manifestações da bondade e da abnegação.

Há ocasiões em que a predominância da vulgaridade e do ressentimento golpeia as expressões da gentileza e da dignidade, parecendo conduzir tudo e todos ao caos.

Há ocorrências perturbadoras que se multiplicam na condição de escalracho maldito, dominando o trigal das experiências de amor e de caridade direcionadas às criaturas humanas.

Olhando-se superficialmente a cultura social vigente e os indivíduos, repontam alarmantes índices de perversidade, de gozo exaustivo e de loucura pelo poder e pelo prazer sem freio nem dimensão.

Todos os que se envolvem nos ideais de engrandecimento da sociedade interrogam, com frustração, se têm valido as propostas da honradez e as lições sublimes do Evangelho de Jesus com os seus mártires e apóstolos, pois que apraz aos viandantes carnais tudo quanto leva à consumpção, ao desar, ao invés da alegria pura e da harmonia indispensável ao equilíbrio e à plenitude.

Há, é certo, predominância do vício escancarado e, sob disfarces variados, o aspecto pandêmico do cinismo e do desrespeito aos códigos de ética e de moral, prevalecendo a face zombeteira dos triunfadores da desonestidade, famosos e difamados, nos postos que conquistaram mediante o suborno, a traição e a astúcia.

Mas, não são realmente felizes, tranquilos...

Estão hipnotizados, esses triunfadores de um momento, marchando inexoravelmente na direção do deserto que os aguarda, ardente e desolador.

Sorridentes, mas receosos, inseguros embora prepotentes, empanturram-se de poder e intoxicam-se no álcool e nas drogas ilícitas, porque não suportam a lucidez da consciência ultrajada, a fim de fugirem da presença da culpa e do desamor.

Reconhecem que ninguém os ama, embora se exibam ao seu lado, como cachorrinhos que aguardam as migalhas que venham a cair das suas mesas ricas.

Na primeira oportunidade, abominam-nos, abandonam-nos, execram-nos, porque tampouco se sentem amados e respeitados. Sabem que são utilizados na ruidosa corte da exibição, na qual um usa o outro, que é sempre descartável.

...Este é o deserto social!

*

Nunca duvides do êxito da verdade.

Nuvem alguma pode deter indefinidamente a luminosidade solar, por mais se demore em aparente impedimento.

Foi num desses desertos que, às portas de Damasco, Jesus apareceu a Saulo, triunfante e enganado, que seguia encarregado de infausta missão contra um dos Seus discípulos.

Ao impacto da Sua presença, derreou da animália ricamente adornada e percebeu a gloriosa figura luminescente, passando a sofrer o horror da cegueira que o tomou, acompanhada do tormentoso arrependimento em torno da hórrida conduta que se permitia.

Nesse deserto, a viagem foi para dentro, para a necessidade do autoencontro, do redescobrimento, da reidentificação com a vida e do retorno aos sagrados objetivos existenciais que desprezara até aquele momento.

Ali nasceu o apóstolo das gentes, o desbravador dos desertos humanos, expandindo o reino de Deus em todas as possíveis direções.

A linguagem do tempo é um presente agora, um contínuo suceder que altera todas as paisagens: as agrestes reverdecem-se, as montanhosas são corroídas, as pantanosas abrem-se em valas de liberação dos fluidos pútridos.

A água suave, nesse largo, infinito tempo, vence a rocha, o vento cantante desgasta o granito vigoroso, o fogo altera a floresta...

Também o ser humano, mesmo quando soberbo e ingrato, arbitrário e dominador, corroído pelas viroses da culpa, necessitando de afeto que não soube despertar pelo caminho transforma-se, amolda-se, cede ao impositivo das inevitáveis alterações evolutivas.

Ninguém consegue fugir de si mesmo ou viver saudável sem um propósito, um sentido psicológico na sua existência.

O indivíduo mais inflexível nos seus ideais e convicções assim permanece até o momento em que a dor se lhe penetra, insinuante e contínua, passando a habitar-lhe as paisagens dos sentimentos.

Nesse deserto, porém, numa caminhada silenciosa e demorada, surgem os tesouros da reflexão, do entendimento dos valores espirituais, da necessidade de ser pleno.

Não importa quando esse sublime fenômeno venha a acontecer, porquanto o importante é que sucederá.

A bênção do tempo agora é responsável pela edificação do anjo e do holocausto de amor, porque o sofrimento é uma dádiva que Deus confere aos Seus eleitos.

*

Após a visita de Jesus a Saulo, no deserto em Damasco, o prepotente rabino, déspota e criminoso, teve necessidade de três anos em outro deserto, para diluir a construção de ferro do orgulho em que se encarcerava e argamassar a realidade do amor no coração ralado de sofrimentos.

Foi, portanto, reflorescendo as emoções que ele se deixou impregnar por Jesus e contribuiu vigorosamente para torná-lo conhecido e amado.

Trabalha o teu deserto interior com os instrumentos do amor e da compaixão e o transformarás em jardim de dádivas, tornando o mundo melhor,de onde o mal fugirá envergonhado.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião
mediúnica da noite de 4 de março de 2013, no Centro Espírita
Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 17.6.2013.

A mensagem acima pode ser acessada no endereço:

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Anjos de guarda


ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br 
Muriaé, MG (Brasil)


 
Anjos de guarda

A doutrina dos anjos guardiães, pelo seu encanto e doçura,
deveria converter os mais incrédulos 
 

“(...) E apareceu-Lhe um anjo do Céu, que O confortava.” - Lucas, 22:43.
 
Kardec narra a interessante história de Françoise Vernhes[1], cega de nascença, que um dia guiou uma tia (que enxergava), através dos caminhos lamacentos de uma sombria floresta, em tarde invernosa, onde havia necessidade de toda precaução para não caírem nos fossos. Nesta contingência, querendo a tia dar-lhe a mão, ela disse: “Não se incomode comigo, não corro risco algum, visto como tenho aos ombros uma luz que me guia. Siga-me, pois serei eu, cega, a guiá-la, minha tia”.

Posteriormente desencarnada, foi evocada por Kardec que lhe perguntou que luz era aquela; ao que ela ripostou: “Era o meu anjo de guarda que me guiava”.

Por heranças oriundas do caldo cultural judaico-cristão, inúmeras criaturas e até mesmo muitos que se dizem espíritas possuem ideias equivocadas a respeito do que se convencionou chamar “Anjo de Guarda”.  Seria um papel extremamente fastidioso, em especial para um Espírito Superior, estar de guarda todo o tempo, acompanhando de perto o seu tutelado, em geral, um ser indisciplinado, alienado, sem descortinos espirituais...  Na verdade, ele recebe a missão à semelhança de um pai ou mãe em relação aos filhos: para guiar o seu protegido pela senda do bem, dar-lhe conselhos, consolá-los nas aflições e levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.[2]

Mas, por acaso, os pais ficam vinte e quatro horas ao lado dos filhos?!

São Luís explica[3]: Mesmo estando o Espírito Protetor a muitos milhões de léguas distante de seu protegido, não deixa de oferecer-lhe ajuda todas as vezes em que ela se fizer necessária, pois as distâncias, por maiores que sejam, nada são para os Espíritos.

Kardec ensina2“(...) Nada tem de surpreendente a doutrina dos anjos guardiães, a velarem pelos seus protegidos, malgrado a distância que medeia entre os mundos. É, ao contrário, grandiosa e sublime. Não vemos na Terra o pai velar pelo filho, ainda que de muito longe, e auxiliá-lo com seus conselhos correspondendo-se com ele? Que motivo de espanto haverá, então, em que os Espíritos possam, de um outro mundo, guiar os que, habitantes da Terra, eles tomaram sob sua proteção, uma vez que, para eles, a distância que vai de um mundo a outro é menor do que a que, neste planeta, separa os continentes? Não dispõem, além disso, do fluido universal, que entrelaça todos os mundos, tornando-os solidários; veículo imenso da transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o da transmissão do som?”.

Ainda com o Mestre Lionês aprendemos[4]: “(...) Além do Anjo guardião, que é sempre um Espírito superior, temos Espíritos protetores que, embora menos elevados, não são menos bons e magnânimos. Contamo-los entre amigos, ou parentes, ou, até, entre pessoas que não conhecemos na existência atual. Eles nos assistem com seus conselhos e, não raro, intervindo nos atos da nossa vida.

(...) Deus, em o nosso Anjo guardião, nos deu um guia principal e superior e, nos Espíritos protetores e familiares, guias secundários”.

O Ministro Clarêncio não conseguiu sopitar uma expressão de surpresa com o amadorismo do conhecimento que André Luiz possuía sobre esses seres angélicos, suscitando-lhe o seguinte ensinamento[5]— “Os Espíritos tutelares encontram-se em to­das as esferas, contudo, é indispensável tecer algu­mas considerações sobre o assunto. Os anjos da sublime vigilância, analisados em sua excelsitude divina, seguem-nos a longa estrada evolutiva. Des­velam-se por nós, dentro das Leis que nos regem, todavia, não podemos esquecer que nos movimen­tamos todos em círculos multidimensionais. A cadeia de ascensão do Espírito vai da intimidade do abismo à suprema glória celeste.

Será justo lembrar que estamos plasmando nossa individualidade imperecível no espaço e no tempo, ao preço de continuadas e difíceis experiên­cias.  A ideia de um ente divinizado e perfeito, invariavelmente ao nosso lado, ao dispor de nossos caprichos, não con­corda com a justiça. Que governo terrestre desta­caria um de seus ministros mais sábios e especia­lizados na garantia do bem de todos para colar-se, indefinidamente, ao destino de um só homem, qua­se sempre renitente cultor de complicados enigmas e necessitado, por isso mesmo, das mais severas lições da vida? Por que haveria de obrigar-se um arcanjo a descer da Luz para seguir, passo a passo, um homem deliberadamente egoísta ou preguiçoso? Tudo exige lógica, bom senso...

O Sol está com o verme, amparando-o na furna, a milhões e milhões de quilômetros, sem que o verme esteja com o Sol.

Anjo, segundo a acepção justa do termo, é mensageiro. Ora, há mensageiros de todas as condições e de todas as procedências e, por isso, a antiguidade sempre admitiu a existência de anjos bons e anjos maus. Anjo de guarda, desde as con­cepções religiosas mais antigas, é uma expressão que define o Espírito celeste que vigia a criatura em nome de Deus ou pessoa que se devota infini­tamente à outra, ajudando-a e defendendo-a...  Em qualquer região, convivem conosco os Espíritos fa­miliares de nossa vida e de nossa luta. Dos seres mais embrutecidos aos mais sublimados, temos a corrente de amor, cujos elos podemos simbolizar nas almas que se querem ou que se afinam umas com as outras, dentro da infinita gradação do pro­gresso. A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus.  Aquele que já pode ver mais um pouco au­xilia a visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso pode­mos verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se consagram ao nosso bem. De todas as afeições terrestres, salientemos, para exemplificar, a devoção das mães. O espírito maternal é uma espécie de anjo ou mensageiro, embora muita vez circunscrito ao cárcere de férreo egoísmo, na custó­dia dos filhos. Além das mães, cujo amor padece muitas deficiências, quando confrontado com os princípios essenciais da fraternidade e da justiça, temos afetos e simpatias dos mais envolventes, capazes dos mais altos sacrifícios por nós, não obstante condicionados a objetivos por vezes egoísticos. Não podemos olvidar, porém, que o admi­rável altruísmo de amanhã começa na afetividade estreita de hoje, como a árvore parte do embrião. Todas as criaturas, individualmente, contam com louváveis devotamentos de entidades afins que se lhes afeiçoam. A orfandade real não existe. Em nome do Amor, todas as almas recebem assistên­cia onde quer que se encontrem. Irmãos mais velhos ajudam os mais novos. Mestres inspiram dis­cípulos. Pais socorrem os filhos. Amigos ligam-se a amigos.  Companheiros auxiliam companheiros. Isso ocorre em todos os planos da Natureza e, fatalmente, na Terra, entre os que ainda vivem na carne e os que já atravessaram o escuro passadiço da morte. Os gregos sabiam disso e recorriam aos seus gênios invisíveis. Os romanos compreendiam essa verdade e cultuavam os numes domésticos. O gênio guardião será sempre um Espírito benfazejo para o protegido, mas é imperioso anotar que os laços afetivos, em torno de nós, ainda se encon­tram em marcha ascendente para mais altos níveis da vida. Com toda a veneração que lhes devemos, importa reconhecer, nos Espíritos familiares que nos protegem, grandes e respeitáveis heróis do bem, mas ainda singularmente distanciados da angelitude eterna.  Naturalmente, avançam em linhas enobrecidas, em planos elevados, todavia, ainda sen­tem inclinações e paixões particulares, no rumo da universalização de sentimentos”.                    


[1] - KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. VIII, p. 417.
[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 491. 
[3] - Idem, ibidem, q. 495.
[4] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio: FEB, 2009, cap. XXVIII, item 11. 
[5] - XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra e o Céu. 6. ed. Rio: 1978, cap. XXXIII, p.p. 213-216.

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A mensagem foi extraída da Revista Eletrônica  "O Consolador", que pode ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano7/315/rogerio_coelho.html