quinta-feira, 22 de abril de 2010

SOBRE O FUTURO DO MUNDO

Lamentas-te, com justa razão, da agrura moral dos tempos atuais, que consegue causar grandes malefícios para toda a sociedade.

Reclamas, lucidamente, do avanço da violência em qualquer nível considerada, da dependência química que invadiu lares, escolas, oficinas de trabalho e templos.

Recriminas, devidamente, a enxurrada de pornografia que se espraia com relativa facilidade, tendo achado adeptos subservientes em todas as camadas da esteira social.

Identificas a queda gradual e perseverante da qualidade das programações midiáticas, quer sejam radiofônicas ou televisivas, onde o escândalo e as aberrações do caráter têm foros de cidadania, sendo mostrados com tamanha regularidade que acabam por se impor às mentes frágeis e incautas que os aceitam, absorvem e difundem, muito embora os veículos se mantenham impolutos, como verdadeiras ilhas de nobilíssima exceção.

Falas da textura ideológica de periódicos como jornais e revistas, que conseguem relegar a planos secundários as boas obras, os fatos construtivos do bem, que costumam ser enfocados mui modestamente, quando o são, enquanto dão longos e duradouros destaques à impostura, à criminalidade, ao nonsense presentes na sociedade.

Denuncias a baixa qualidade dos diálogos ou monólogos aos quais és levado a ouvir, quando constatas, desde a pobreza vocabular gritante até as agigantadas dificuldades da leitura interpretativa. Imensos grupos de indivíduos que, ajustados à condição de analfabetos funcionais, conseguem juntar letras e formar palavras sem que, contudo, logrem decodificar o que está escrito.

Angustias-te com as características dos quadros da política partidária que têm assustado a população consciente, e pasmas com a leva dos que neles se inscrevem sonhado em locupletar-se, em sua sede de poder temporal e em seu fascínio pelo tilintar simbólico das moedas. Perturba-te com os que assumiram como prática comum transformar o erário em patrimônio particular, o que é de todos tornar em posses pessoais. Desarmonizas-te com o cinismo com que se corrompe e se é corrompido, além do vezo de converter as comunidades baldas de comida, de trabalho e de saúde em massas de manobra, tendo em vista lhe negarem, desgraçadamente, a chance de iluminar a mente com a luz sublime da escolaridade, do pensamento alto ou da lucidez intelectual.

A situação psico-sócio-moral-espiritual do mundo chegou a tal condição que parece que tudo isso é o normal. Muitos já admitem que é assim mesmo, e que o mundo não tem mais jeito, ou para que para seus problemas não há mais conserto.

Há mesmo aqueles para os quais tornaram-se estranhos, inconvenientes e exibicionistas vaidosos exatamente os que mantêm esforços pela boa qualidade de tudo quanto fazem.

É verdade que o momento presente da humanidade é preocupante e deve merecer as atenções das autoridades variadas constituídas mundo afora.

Entretanto, os que militam nas hostes da crença, empolgados pelas leis de Deus em vigor na Terra, devem refletir acerca dos tipos, classes e categorias dos seres espirituais que se acham agora renascidos no planeta, com o propósito feliz de alcançar o progresso.

Têm sido inumeráveis os Espíritos que o Criador tem enviado ao planeta terrestre para que elaborem a própria melhoria, porém, uma vez reencarnados no bojo de famílias displicentes, de comportamentos do tipo laissez-faire, acabam por desviar-se dos trilhos dos compromissos, tipo em vista o relaxamento dos processos educacionais.

Familiares existem que incentivam as práticas de explorar os semelhantes e as atitudes violentas dos filhos para com terceiros; famílias que induzem seus meninos e meninas às exacerbações da sexualidade precocemente, prematuramente, gerando desajustes, conflitos e frustrações no campo da libido; familiares que alimentam os pendores perdulários consumistas ou onzenários egoístas da prole, deixando-a incapaz do exercício da moderação em todos os sentidos.

Estamos diante de um mundo que tem necessidade da maturidade nos relacionamentos entre os indivíduos, relacionamentos que deveriam primar pelo respeito recíproco e pelo empenho em favor das qualidades morais de todos. Mas não é o que acontece, e em virtude dessa falta, o aturdimento geral tem sido a marca desses tempos de complicações humanas nos mais distintos patamares.

Existimos num planeta no qual, com respeitáveis e poucas exceções, deparamos intelectuais de áreas diversas que são azes verdadeiros no que fazem: Elaboram planejamentos impecáveis; aplicam recursos financeiros com tamanha precisão que o lucro é inevitável; escrevem com tal descortino e sensibilidade que criam legiões de fãs dos seus textos publicados. Nada obstante, não conseguem utilizar os conhecimentos e habilidades em favor de si mesmos, em prol de sua harmonia ou felicidade, como se nenhuma ponte pudessem estender entre os elementos da vida intelectual e os da vida moral.

Há os que carregam a rotulagem de pessoas religiosas e que se tornam bem-falantes, bons endoutrinadores, reconhecidos debatedores que se esmeram nas propostas de renovação alheia. Poucos dentre eles, todavia, logram valer-se dos conhecimentos que desfraldam e dos conselhos que ministram em seu próprio benefício, numa vez que entram em pânico e se desesperam quando os dramas existenciais, os problemas cotidianos e a morte lhes batem às portas, chamando-os ao testemunho do que costumavam apregoar para os outros.

O bem do mundo, pois, está na dependência da atitude tomada perante a existência.

Indispensável é que cada pessoa, cada família, cada sociedade, consiga acreditar no bem, cujas propostas são pregadas para terceiros. É preciso crer a tal ponto que o bem deixe de ser um mero discurso vazio e se transforme em vivência prática. Ainda que haja necessidade de alguém assumir individualmente os aconselhamentos da dignidade, da fraternidade, da prática do bem sob todos os títulos, sem aguardar que seja seguido pela massa, vale a pena tentá-lo. Enquanto se espera que os outros cumpram os preceitos das Leis Divinas, a fim de que nos pautemos nos seus exemplos, as necessidades humanas tendem ampliar-se gerando frustrações e dores.

Embora todos sonhemos com um paraíso na Terra, poucos estão conscientes de que a maravilha que esperamos ver materializada por fora precisa ter começo, mantença e nutrição no mundo interior de cada indivíduo. Desse modo, o futuro do planeta está em nossas mãos, depende de nós, indubitavelmente.

A vivência da honestidade, da amizade, da sinceridade, tanto quanto os esforços pela generosidade, pela afabilidade e pela doçura no trato com os irmãos do caminho, ajudar-nos-ão a converter o vale de perturbações e lágrimas, como muitos nomeiam o mundo, em campo de abençoadas sementeiras, com vistas a um porvir iluminado.

Empunhemos a flama da crença no poder do bem. Assumamos, corajosamente, a experimentação desse bem e do amor, com todas as suas variantes, e marchemos para o Pai comum de todos nós, que nos aguarda, após haver-nos ensejado o livre-arbítrio, a fim de que sejamos responsáveis diretos pela própria ventura espiritual que é o fanal a ser buscado por todos nós.



Camilo
Mensagem psicografada em 11.02.2009,
na Sociedade Espírita Fraternidade, em Niteroi-RJ.
pelo médium José Raúl Teixeira.
“Extraída do livro: Quando a Vida Responde, pág. 33/37.”