quinta-feira, 24 de setembro de 2009

APOMETRIA, CORRENTE MAGNÉTICA E CROMOTERAPIA

O médico carioca residente em Porto Alegre desde os anos 50, Dr. José Lacerda, espírita que era então, começou a realizar atividades mediúnicas normais numa pequena sala de Hospital Espírita de Porto Alegre e ali realizou investigações pessoais que desaguaram no movimento denominado Apometria.

Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria, porque eu não sou apômetra; eu sou espírita, mas o que posso dizer é que a Apometria, segundo os seus próprios seguidores, não é Espiritismo. Suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de “O Livro dos Médiuns”.

A presunção de alguns chegou a afirmar que a Apometria é um passo avançado ao Movimento Espírita e que Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado, já que sua proposta era para o século XIX e parte do século XX, e que a apometria é o degrau mais evoluído. A prática e os métodos violentos de libertação dos obsessores que este e outros métodos correlatos apresentam, a mim me parecem tão chocantes que me fazem recordar da lei de Talião, que já foi suavizada por Moisés, com o código legal, e que Jesus sublimou através do amor.

De acordo com aqueles métodos, quando as entidades são rebeldes os doutrinadores, depois de realizarem uma contagem cabalística ou um gestual muito específico, as expulsam com violência para o magma da Terra, substância ainda em ebulição do nosso planeta, ou as colocam em cápsulas espaciais que são disparadas para o mundo da erraticidade.

Não iremos examinar a questão esdrúxula desse comportamento, mas se eu, na condição de espírito imperfeito que sou, chegasse desesperado num lugar pedindo misericórdia e apoio à minha loucura, e outrem, o meu próximo, me exilasse para o magma da Terra, para eu experimentar a dureza de um inferno mitológico, ou ser desintegrado, ou se me mandassem expulso da Terra numa cápsula espacial, renegaria aquele Deus que inspirou esse adversário da compaixão.

A Doutrina Espírita, baseada no ensino de Jesus, centraliza-se no amor e todas essas práticas novas, das mentalizações, das correntes mento-magnéticas, psico-telérgicas, que para nós, espíritas, merecem todo respeito, mas não atêm nada a ver com Espiritismo.

O mesmo se dá com as práticas da Terapia de Existências Passadas, realizadas dentro da Casa Espírita ou cromoterapia, que foge, totalmente, da finalidade do Espiritismo.

A Casa Espírita não é uma clínica alternativa. Não é lugar onde toda experiência nova deve ser colocada em execução. Tenho certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos não conhecem as bases kardequianas e, ao conhecerem-nas, nunca as vivenciaram.

Temos todo o material revelado pelo mundo espiritual nestes tantos anos de codificação, no Brasil e no mundo, pela mediunidade incomparável de Chico Xavier; as informações que vieram pela notável Yvonne do Amaral Pereira; por Zilda Gama e por tantos médiuns nobres conhecidos e desconhecidos.

Então, se alguém prefere a Apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture para não confundir. A nossa tarefa é de iluminar, não é de eliminar. O espírito mau, perverso, cruel é nosso irmão na ignorância. Poderia haver alguém mais cruel do que o jovem Saulo de Tarso? Ele havia assassinado Estevão a pedradas, havia assassinado outros, e foi a Damasco para assassinar Ananias. Jesus não o colocou numa cápsula espacial e disparou para o infinito. Apareceu a ele! Conquistou-o pelo amor. “Saulo, Saulo, por que me persegues?” pode haver maior ternura nisso? E ele tomado de espanto perguntou: “Que é isso?” “Eu sou Jesus, aquele aquém persegues”. E ele, então, caiu em si. Emmanuel ensina que o termo “caindo em si” significa que a capa do ego cedeu lugar ao encontro com o ser profundo. Ele despertou e, graças a ele, nós conhecemos Jesus pela sua palavra, pelas suas lutas, pelo alto preço que pagou, apedrejado várias vezes, jogando por detrás dos muros nos lugares do lixo, foi resgatado pelos amigos e continuou pregando.

Então, os espíritos perversos merecem nossa compaixão e não nosso repúdio. Coloquemo-nos no lugar deles.

Não temos nada contra a Apometria, as correntes mento-magnéticas, aquelas outras de nomes muito esdrúxulos e pseudocientíficos. Mas, como espírita, nós deveremos cuidar da proposta Espírita.

Na minha condição de Espírita, exercendo a mediunidade por mais de 60 anos, os resultados têm sido todos colhidos na árvore do amor e da caridade e a nossa mentalidade espírita não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos.


                                                                                    Divaldo Pereira Franco



(Transcrito do programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova a partir de palestra de Divaldo Pereira Franco e re-transcrito do Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, setembro de 2009, número 1502, ano 77)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Calabouço dos Sentimentos

“Nos agregados pouco numerosos, todos se conhecem melhor e há mais segurança quanto à eficácia dos elementos que para eles entram. O silêncio e o recolhimento são mais fáceis e tudo se passa como em família.” O Livro dos Médiuns – cap. XXIX – item 335.


Contava-se na idade Média, em determinada região européia, que um suserano odiento tinha por vício separar homens apaixonados de suas mulheres amorosas, e deixá-los morrer em um calabouço, à míngua de água, pão e luz, para que pudesse amparar suas pobres viúvas solitárias e torná-las suas vassalas preferidas. Dizia-se que ele fez centenas de prisões, destruiu várias famílias e vivia refestelando-se na sexualidade e cortesias insaciáveis de suas companhias femininas.

Certo dia, no entanto, quando foi descoberta a trama, as mulheres revoltadas, informadas de que o suserano era o criminoso de seus esposos, em inteligente armadilha, trancafiaram também o senhor no calabouço. Entretanto, a partir daí passaram a viver de insatisfações e tristeza até a morte, porque sentiram-se presas de um passado infeliz que jamais lhes saía da memória, vivendo por entre o ódio, a insegurança e a saudade.

Conquanto dramática, é bem essa a história de quase todos nós em assuntos da vida sentimental: o narcisismo, a volúpia sexual, o egoísmo e o prazer gerando medo e frustração, culpa e mágoas, dilacerando corações e arruinando lares e sonhos.

Por completa insanidade da razão, em crises de paixões e libidinagem, bastas vezes espezinhamos o amor alheio em impiedosas atitudes de desrespeito, separando homens honrados de mulheres fiéis, em tramas passionais, desleais e injustas, para depois, bem depois, caindo em si no despertamento consciencial, verificamos os registros desditosos que instalamos no imo de nós próprios, em lances de sede de domínio e satisfação pessoal.

O suserano íntimo, no papel do egoísmo destruidor, é o condutor inconsciente e mantenedor dos calabouços de sofrimento, com o qual ferimos centenas ou milhares de almas nos desdobramentos das vidas sucessivas.

Por isso hoje muitos de nós purgamos a solidão reeducativa nos temas do amor, ainda que enleados em uniões esponsalícias ou afetivas.

Temos um “calabouço de sentimento” como aquisição consciencial de nossas decisões malsinadas em forma de graves lesões afetivas.

Sedentos por novas experiências nas vivências da afeição, renascemos presos aos calabouços provacionais da emoção, sem liberdade novamente para fazer o papel do suserano enlouquecido, conquanto ele ainda esteja, de alguma forma, mesmo aprisionado nas provas da inibição afetiva, querendo espezinhar e ferir, com extrema rebeldia aos novos quadros do hoje. A sua principal manifestação nesses casos é a doentia inveja e o profundo sentimento de abandono, inutilidade e insatisfação por que passam os que se encontram em tal teste corretivo, debandando para a depressão, a suscetibilidade. As neuroses de vários matizes, adiando ainda mais a edificação da felicidade pessoal pela fuga da autoeducação.

Eis bem o retrato dessa expiação dolorosa: a prisão subterrânea do medo e da insegurança encarcerando os sentimentos de amor e esperança, penalizando a criatura com a sede de afeto não correspondido e com a tristeza de viver sempre à espera de alguém que não sabe se existe ou dormita em algum lugar, à sua espera também, assim como ocorreu aos homens trancafiados pelo suserano. Doutras vezes são as vivências da sexualidade embaladas pela luxúria, dissociada da satisfação que, geralmente, termina em revolta, golpes de revide e autodesvalorização.

Os sonhos amorosos, as fantasias da união afetiva, o desejo do lar feliz estão por trás das grades limitadoras da paixão que não se consegue expressar, tornando-se “estranho amor emudecido”. Nessa prova as criaturas permanecem acorrentadas à inibição, baixa autoestima, insatisfação com a vida, afiveladas a profundos e dolorosos sentimentos, tais como medo de amar, dúvidas e receios sobre suas emoções, descrença na felicidade, desmerecimento a seus ideais de amor e no sucesso afetivo. Pelos “odores psíquicos” que emanam, atraem assim outras criaturas perturbadas ou perturbadoras, em ambos os planos de vida, com as quais tecem elos de frustração e mágoas, dilatando sua solidão e exaurindo-se energeticamente em obsessões “cumulativas” ou mesmo abrindo portas mentais para “vinganças cruentas” de credores de outras épocas.

A origem de semelhante aferição reeducativa, portanto, está no menosprezo e indiferença de outrora recheados dos requintes de falsas promessas aos corações que permitiram confiar em nossos votos de fidelidade e carinho, que foram completamente desonrados.

O afeto não correspondido e o receio de amar no hoje são amargas doses de medicação preventiva ante as feridas emocionais acrisoladas no “centro de força” cardíaco do corpo espiritual, junto às sensíveis “engrenagens” da vida afetiva – verdadeira cirurgia de extirpação nos domínios da vida sentimental em razão das matrizes pré-existênciais e reminiscências de outras reencanações.

Enclausurado em tal quadro, a criatura passa a viver por entre a desmotivação e a instabilidade nos deveres da rotina, carpindo uma “revolta muda” contra tudo e todos, estabelecendo constantes complicações nos relacionamentos e nas amizades, e, em chegando aos píncaros da resistência, se não se armou da profilaxia adequada, tomba nas neuroses fóbicas, nas alterações cíclicas de humor ou em psicoses graves.

Para a psiquiatria humana são esquizofrênicos irreversíveis, para a medicina do Espírito são doentes que precisam sair de si mesmos e aprender a dar sem ter, amar mesmo sem serem amados. Não logrando, poderão estar iniciando um ciclo provacional de longa duração.

Alma constrangida a sanções, será sempre muito suscetível de rancor com pequenas falhas alheias e com grade dificuldade ao perdão e ao autoperdão, necessitando de muito apoio e carinho para suportar o peso de seu próprio narcisismo e da dor que carregará até reeducar-se nos temas do Amor e do sexo.

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Amigos nas privações cármicas da afetividade:

O calabouço provacional de hoje quando bafejado pela luz do Espiritismo faculta ao “prisioneiro” o pão da misericórdia e a água da restauração, com os quais poderão as penas serem amenizadas e terem novas dimensões.

Se hoje encontras nas lutas da solidão reeducativa, não fujas de tua oportunidade.

Ainda que entre dores e problemas, assume tua prova e liquida teu débito.

Aceita o amargo remédio da solidão e da abstinência no aprendizado da “saturação emocional”.

Não obtendo apoio familiar e social ante as imposições de tuas “penas reencarnatórias”, procura no grupo doutrinário a integração com a família espiritual que te será arrimo e suporte para os instantes mais difíceis.

Aprende as lições do respeito e do dever nos assuntos do Amor, porque também na casa das orações e estudos espirituais depararás inúmeras vezes com corações que ser-te-ão “príncipes de encanto” aos teus sonhos de afeto, podendo converter-se em “suseranos da ilusão”, mas cuida-te para não decepcionares a outros e a ti mesmo.

Confidencia a quem tenha condições de amparar-te, isso trará alívio e será o embrião de uma relação valorosa no teu recomeço; estarás assim confiando em alguém, e confiar em alguém é refazer os caminhos da libertação de ti próprio.

Não esqueça nunca da prece na qual buscarás o acréscimo de forças que te falte.

Apoia-te nessa família pelos laços do coração e vai “compensando” teus afetos com o esforço de amar, independentemente de ser amado. Muitas vezes terás tendência a exigir essa correspondência, contudo, vigia teu suserano que ainda teima em reinar e dilapidar, tenha siso e lucidez, e analisa o mal que te faz essa postura.

Caminha, chora, desabafa e prossegue sem desistires nunca. Se hoje está difícil, amanhã, se decidires por enfrentar corajosamente, poderá ser menos penoso intimamente, mesmo que não tenha teus anseios atendidos como gostarias. Talvez nada fique como queiras, entretanto, nem sempre terá que ser sofrido, ou infeliz a tua experiência renovadora. Deus espera-nos para a alegria e o Amor e pode promover infinitas formas de conduzir-nos a isso pelas sendas de Sua Inesgotável Misericórdia.

Misericórdia, porém, não é dispensada apenas por pura bondade Paternal, porque a Justiça Divina conta com as conquistas de seus filhos nos rumos do autoaperfeiçoamento.

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Condutores e integrantes dos grupamentos espíritas:

Estejamos todos atentos a semelhantes gêneros provacionais como os que assinalamos.

Mesmo com a dramaticidade das palavras por nós escolhidas, ansiamos, sobretudo, em alertar sobre que tipos de assistência estamos sendo chamados no que tange à vida íntima de quantos têm batido às portas do centro espírita, compondo, muita vez, o quadro dos trabalhadores de nossos conjuntos de labor.

Em várias ocasiões temos ao nosso lado na faina doutrinária tais corações em semelhante sofrimento “purgatorial”, e carecemos de concepções mais intuitivas e de instrução mais lapidada para amealhar condições de orientação e apoio.

Jamais descuremos do amparo especializado da medicina humana, quando se fizer necessário.

Os avanços da psicoterapia com foco transpessoal, tomando por base o Espírito, é indicação para muitos deles.

Os serviços de promoção social e solidariedade são exercícios inevitáveis a esses “andarilhos emocionais” em busca de afeto e gratificação.

Providencia a desobsessão como medida extensiva de amparo aos vitimados na expiação além túmulo, jamais esquecendo que são eles os prisioneiros de outra época, trancafiados nos calabouços da decepção pelo doente encarnado que hoje pede socorro em tuas reuniões, amando-os muito como vítimas, e não verdugos inconsequentes.

Chama sempre a atenção do reeducando quanto à vivência das lições evangélicas, das virtudes, e agrega-o aos esclarecimentos libertadores da Boa Nova.

Acima de tudo construa essa relação de confiança e respeitabilidade com teu assistido de agora, concedendo-lhe, como maior bênção nesse tipo de testes, a crença de que alguém o ama e o quer bem, a despeito de sua autodesvaloriação.

Essa relação promissora é a revitalização da esperança e o estímulo para a continuidade que carece o prisioneiro dos calabouços afetivos.

Dá-lhe tudo que tens, assim como fez a viúva pobre do Evangelho, depositando nesse coração que esmola carinho e piedade a honra das atitudes nobres, ensejando-lhe uma mensagem, pelo exemplo, de que se pode amar sem possuir e gostar sem dominar, conclamando-o a comportamentos novos, íntegros moralmente.

Sê-lhes íntimo, mas ensina-lhes o limite. Sê-lhes afetuoso, mas ensina-lhes o amor fraternal.

Na condição de condutor de grupo ou integrante do mesmo, fazer-te um irmão muito disposto a aceitar, compreender e incentivar.

É tudo que eles precisam para continuar sua prova redentora em busca da quitação consciencial e de um pouco de paz e crença em um futuro menos sóbrio ante suas perspectivas, quase sempre, comprometidas pelas tenazes da amargura e do descrédito.

Ama-os, ama-os sempre e ensina-lhes a amar como devem, e permita-lhes sentir novamente, depois de séculos de secura no coração a importância de uma família espiritual e dos laços de confiança.

Médium: Wanderley S. de Oliveira, pelo espírito: ERMANCE DUFAUX, livro: Laços de Afeto, capítulo 23.