quinta-feira, 20 de junho de 2019

Por que pensar em suicídio?

Por que pensar em suicídio? 

Com frequência temos visto na imprensa notícia de suicídio de pessoas comuns, de artista, modelo, criança, jovens e idosos... Pessoas, ainda, que matam para depois se matarem. Qual a razão para uma atitude definitiva em relação a vida do corpo? 

O Evangelho, em Mateus 6:21, recita: “Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”   Podemos entender, onde estiver o seu interesse, aí também estará a sua emoção. O interesse é fruto da vontade, por consequência qualifica a emoção. Tanto a vontade como a emoção são departamentos da consciência, a consciência é atributo da Alma, esta como um “Iceberg”quando atrelada a um corpo de carne mostra parte pequena de um continente interior enorme, no entanto, age e reage com todos os valores que possui, aqueles adquiridos na presente existência, tanto quando recebe a influência do patrimônio acumulado em todas as existências anteriores. Certamente que os pontos fortes são imperativos.  

A composição do patrimônio da Alma precisa iniciar-se deste a mais tenra idade, com os valores nobres cultivados pelos pais e com os pais, a religiosidade desenvolvida dentro do lar, a capacidade de dialogar nas diversas fases da vida, de forma útil e educada, o desenvolvimento da capacidade de reflexão, a busca do autoconhecimento, modificando os ímpetos negativos, os pensamentos escapistas, o temor para o enfrentamento de dificuldades, o medo de aceitar frustrações e impedimentos que se apresentam, às vezes ilusoriamente. 

A impulsividade e a ação extremada perturbam o discernimento. Não permite tempo para a reflexão, deixa que um estado perturbador tome conta de sua razão, dando vazão cega a forças destrutivas, que como uma avalanche arrasa corpos e almas. 

Sendo a presente vida uma oportunidade nova para a criatura, a religiosidade implementada em primeiro lugar na infância exerce com grandeza ação como a de um escudo intelectual e moral diante das circunstâncias que se apresentam danosas à sua existência, dando-lhe o ensejo de discernir as consequências daquilo que se apresenta.  É a Alma utilizando ferramenta de aquisição recente para  melhor decisão, tem tempo para decidir se “devo ou não devo”, “convém ou não convém”, quais são os desdobramentos disto?  É o tempo da reflexão, quando se mede a responsabilidade da atitude que deverá ser tomada ou não. Pensa em si, pensa nos outros. É ação do amor a si mesmo e  ao próximo.  

A evangelização, a religiosidade pode ser buscada a qualquer idade, quando adulto o pretendente precisa de decisão forte, pois terá de vencer barreiras criadas por si mesmo, pela educação que recebeu, pelos preconceitos e hábitos que cultiva.  Agora não se trata de educação inicial, será preciso ressignificar os valores morais que detêm, quase sempre em dissonância com os princípios evangélicos, o que exigirá esforço para superar as emoções antagônicas ao estado existente no indivíduo; no entanto, assim é o sacrifício de salvação. Muitos pretenderão que as verdades oferecidas pelo Evangelho de Jesus se adequem às suas canhestras concepções e atendam e justifiquem os seus interesses mesquinhos. Terão que entender que é preciso investir-se de humildade e permitir-se encharcar das verdades divinizadoras oferecidas pelo Divino Mestre, sendo que estas permanecerão eternidade afora.  

Todos morreremos e se fosse somente isto, se fosse puramente essa a constatação estaria tudo resolvido, não seria justo sentir dores, nem física nem emocional, nem aflições, seria o caso de fazer com que a máquina carnal cessasse e tudo estaria resolvido. Assim é o pensamento materialista, muito pobre! O corpo não é a vida, é instrumento de manifestação da vida. Quem sofre não é o corpo é a Alma que detém a consciência.  Os sofrimentos, as dificuldades que passa são inerentes ao seu estado evolutivo, às suas experiências desastrosas de outras reencarnações.  Os erros que cometeu, os malefícios que engendrou, comportamentos inconsequentes, deslealdades, traições e outros refletem no presente, em conta a consciência comprometida, porque distanciada da harmonia com a Lei Divina.  É certo que algum bem a Alma realizou na trajetória de milênios; no entanto, o saldo negativo diante da contabilidade universal ainda é muito grande. Somos devedores inveterados, sendo que o bem que realizamos ainda não é suficiente para anular as consequências de ações danosas empreendidas no passado.  

O suicídio não resolve, na verdade agrava substancialmente a situação do indivíduo (sua consciência), é uma rebeldia, uma inconformação à Lei de Deus, um desamor consigo mesmo, um desrespeito com os que o amam (pai, mãe, filhos...).  Muita vez o fato desencadeador é de pequena monta, sem significado para quem detém um princípio de evangelização na sua alma, para aqueles sem interesse pela espiritualidade torna-se a faísca que dá início ao incêndio devastador, extinguindo o corpo.  Logo após, encontrará uma grande frustração, quando perceber que não morreu, que tudo está presente e mais vivo ainda, o agravamento da perturbação é inevitável, as dores exacerbam. Até quer dar passo atrás, retornar à vida do corpo, impossível, a porta se trancou definitivamente, restam as lágrimas, as lamentações... 

Um dia chegará o remorso, o arrependimento, o socorro, quanto tempo transcorreu, serão dias, anos, décadas, quem poderá avaliar, cada caso é um caso e depende do próprio padecente.  

Para dar melhor ideia sobre o suicídio, vamos acrescer uma entrevista com o Espírito de um suicida, que se encontra na obra O Céu e o Inferno, 2ª parte, capítulo V,  que compõe o conjunto das obras básicas da Doutrina Espírita, que foi publicada em 1865, por Allan Kardec, quando acrescenta outras informações sobre mortes violentas, como segue: 

O SUICIDA DA SAMARITANA 

A 7 de abril de 1858, pelas 7 horas da noite, um homem de cerca de 50 anos e decentemente trajado apresentou-se no estabelecimento da Samaritana, de Paris, e mandou que lhe preparassem um banho. Decorridas cerca de 2 horas, o criado de serviço, admirado pelo silêncio do freguês, resolveu entrar no seu gabinete, a fim de verificar o que ocorria. 
Deparou-se-lhe então um quadro horroroso: o infeliz degolara-se com uma navalha e todo o seu sangue misturava-se à água da banheira. E como a identidade do suicida não pôde ser averiguada, foi o cadáver removido para o necrotério. 
1. Evocação. (Resposta do guia do médium.) — Esperai, ele aí está. 
2. Onde vos achais hoje? — R. Não sei... dizei-mo. 
3. Estais numa reunião de pessoas que estudam o Espiritismo e que são benévolas para convosco. — R. Dizei-me se vivo, pois este ambiente me sufoca. 
“Sua alma, posto que separada do corpo, está ainda completamente imersa no que poderia chamar-se o turbilhão da matéria corporal; vivazes lhe são as ideias terrenas, a ponto de se acreditar encarnado.” 
4. Quem vos impeliu a vir aqui? — R. Sinto-me aliviado. 
5. Qual o motivo que vos arrastou ao suicídio? — R. Morto? 
Eu? Não... que habito o meu corpo... Não sabeis como sofro!... 
Sufoco-me... Oxalá que mão compassiva me aniquilasse de vez! 
6. Por que não deixastes indícios que pudessem tornar-vos reconhecível? — R. Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à tortura. 
7. Tendes ainda os mesmos motivos para ficar incógnito? 
— R. Sim; não revolvais com ferro candente a ferida que sangra. 
8. Podereis dar-nos o vosso nome, idade, profissão e domicílio?  
— R. Absolutamente não. 
9. Tínheis família, mulher, filhos? — R. Era um desprezado, ninguém me amava. 
10. E que fizestes para ser assim repudiado? — R. Quantos o são como eu!... Um homem pode viver abandonado no seio da família, quando ninguém o preza. 
11. No momento de vos suicidardes não experimentastes qualquer hesitação? — R. Ansiava pela morte... Esperava repousar. 
12. Como é que a ideia do futuro não vos fez renunciar a um tal projeto? — R. Não acreditava nele, absolutamente. 
Era um desiludido. O futuro é a esperança. 
13. Que reflexões vos ocorreram ao sentirdes a extinção da vida? — R. Não refleti, senti... Mas a vida não se me extinguiu... minha alma está ligada ao corpo... Sinto os vermes a corroerem-me. 
14. Que sensação experimentastes no momento decisivo da morte? — R. Pois ela se completou? 
15. Foi doloroso o momento em que a vida se vos extinguiu? 
— R. Menos doloroso que depois. Só o corpo sofreu. 
16. (Ao Espírito S. Luís.) — Que quer dizer o Espírito afirmando que o momento da morte foi menos doloroso que depois? — R. O Espírito descarregou o fardo que o oprimia; ele ressentia a volúpia da dor.  (Para ampliar entendimento, acrescentamos: O Espírito percebia o reflexo da dor) 
17. Tal estado sobrevém sempre ao suicídio? — R. Sim. O Espírito do suicida fica ligado ao corpo até o termo dessa vida. A morte natural é a libertação da vida: o suicídio a rompe por completo. 
18. Dar-se-á o mesmo nas mortes acidentais, embora involuntárias, mas que abreviam a existência? — R. Não. 
Que entendeis por suicídio? O Espírito só responde pelos seus atos.” 

Esclarecimentos de Allan Kardec: 
Esta dúvida da morte é muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas que, durante a vida, não elevam a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente. 
Se a um indivíduo, pela primeira vez sonambulizado, perguntarmos se dorme, ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na linguagem comum, a ideia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do vocábulo. Eis a razão por que responde não, até que se familiariza com essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto, e isto afirmando até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e dá ao Espírito uma tal ou qual ansiedade. No exemplo supra ela constitui verdadeiro suplício pela sensação dos vermes que corroem o corpo, sem falarmos da sua duração, que deverá equivaler ao tempo de vida abreviada. Este estado é comum nos suicidas, posto que nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. A sensação dos vermes e da decomposição do corpo não é privativa dos suicidas: sobrevém igualmente aos que viveram mais da matéria que do espírito. Em tese, não há falta isenta de penalidades, mas também não há regra absoluta e uniforme nos meios de punição.”

Observação:  grafamos na cor verde o que é argumentação de Allan Kardec e azul o diálogo entre Allan Kardec e o Espírito S. Luís”.    São Luís foi o mentor de Allan Kardec. 

No capítulo V da Obra acima citada existem mais oito casos analisados de suicídios, onde fica bem caracterizado as dificuldades para o Espírito nessa condição, mostrando porque esse ato extremo é um grande erro, que somente a ignorância sobre a vida espiritual pode levar uma pessoa a tal fatalidade, que ainda trará a necessidade de resgate e provação nas vidas futuras, sofrendo todos os percalços que desse ato derivar. 

Por que pensar em suicídio? Seria buscar o desespero, a dor, o comprometimento com a restauração demorada da consciência em várias existências, causando sofrimentos aos que amam, ingratidão que também precisa ser recomposta junto aos que sofrerem em consequência do ato extremado. 

Suicídio nunca!


                                                           Dorival da Silva