quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Qual o seu álibi?

                                                    Qual o seu álibi?


Ninguém ignora que, em num certo instante incerto, deixará o corpo físico.  Pois isso ocorreu ao longo da história da humanidade, sem nenhuma exceção. Todos os dias, os noticiários nos relembram daquilo que se denomina morte, por uma infinidade de causas.  Muitas vezes isso ocorre próximo de nós, dentro da própria família. 

Sendo o corpo frágil, temporário e depreciável em pouco tempo, ele sofre com os fatores ambientais e não depende do seu ocupante para cessar as suas atividades. Após essa paralisação definitiva, para onde irá o seu ocupante?

Certamente estará em algum lugar; mas que lugar seria esse? Se escolheu um veículo frágil para uso de pouco tempo indefinido, certamente veio de algum lugar e, em um momento incerto, para lá retornará.

Portanto, o viajante não é o corpo, porque este tem um fim, mas sim o elemento essencial e permanente que atravessa tempos incontáveis, rumando pela eternidade e acumulando o que cultiva em todas as épocas de sua trajetória. 

A importância reside no tesouro que acumula. O receptáculo é o espírito e, quanto em um corpo, é chamado de alma. É aí que reside o Céu, ou o Inferno.  

O Espírito, algo grandioso e complexo, é senhor de si mesmo. Atua como réu e juiz, julgando a própria causa. Como um julgador incansável, suas sentenças são rigorosamente cumpridas. Ele não se satisfaz com artifícios escapistas ou engenhosas justificativas, especialmente quado se trata de intenções e atos maldosos, indecentes e voluptuosos que causaram desvirtuamento de qualquer ordem e sofrimento a quem quer que seja, mesmo depois da morte. As influências morais danosas repercutem no tempo… Esse juiz é inexorável!  Exige reparo, certificação de que a lição foi aprendida, e a certeza de que a recuperação esteja sedimentada, o que vem a se denominar educação espiritual, definitiva.

Existem estágios nesse processo: o reconhecimento de que a dívida pertence ao indivíduo, o remorso, o arrependimento sincero, a busca pela reparação, a resistência aos efeitos das consequências, a prova da efetivação do aprendizado e a determinação de não retornar ao erro.  Estes passos não têm tempo definido para se cumprir, nem mesmo pode se encerrar numa única reencarnação, depende da vontade do Espírito de se educar, e da satisfação do juiz implacável, a consciência.  Um dos ensinamentos de Jesus Cristo ao apóstolo Pedro foi: “Perdoar, não sete vezes, mas sete vezes setenta vezes…” Todos somos devedores uns dos outros de alguma forma, pois os males cometidos disseminam como ervas daninhas nas almas com raízes profundas, que precisarão realizar incontáveis ações benéficas para sanar as consequências. 

Sempre se encontrarão os efeitos das iniciativas implementadas em qualquer época, de tal forma que o autor se verá obrigado a reparar a desarmonia que causou na casa do Pai, que é o Universo, para que a consciência se harmonize com a própria harmonia de Deus. Sem a qual Espírito algum encontrará paz. 

Qual é o seu álibi?  Diante da consciência, somente o bem serve como justificativa em qualquer circunstância. Veja-se que isto não é exigência de nenhuma autoridade espiritual, nenhum tribunal de potestades, é a Lei de Deus ínsita no próprio ser. A lucidez da consciência com a conquista do bem traz o Céu -- um estado de espírito --, ou, com o mal, instala-se um estado de sombra que imporá a perturbação, até que se dê cabo de seus efeitos. 

Referindo-se novamente ao apóstolo Pedro, que ensina: “A caridade cobre uma multidão de pecados…”, o bem em todos os passos, momentos e circunstâncias ilumina o Espírito, o que significa que limpa a consciência de muitos resquícios dos quais por agora não se lembra, mas que o alivia e amplia o estado íntimo de alegria. É o Céu que se constrói em seu interior.  

A razão de certas alegrias ou sofrimentos que por ora não são conhecidos só será relembrada quando o Espírito estiver novamente no mundo espiritual. O esquecimento dos fatos passados se dá enquanto na vida material, sendo isso próprio da nova oportunidade -- a presente reencarnação --, tendo do passado nuanças intuitivas, que se apresentam refletidas como tendências para as Artes, as Ciências, e as diversas práticas para a condução da vida, podendo-se também surgir impulso para o bem ou para o mal, se lhe era de cultivo em existência passada. 

Cabe a cada indivíduo o melhor direcionamento dos ímpetos que surgem, refletindo bem antes das decisões, sabendo que pela intenção e o desfecho do que permitir, os resultados o farão senhor ou vítima de si mesmo. 

Qual é o seu álibi?

                                                     Dorival da Silva


1. Mateus, 18:21-22
2. 1 Pedro 4:8