sábado, 31 de outubro de 2020

Você sabe orar? Poucos sabem

 Você sabe orar?  Poucos sabem

                 Na Doutrina Espírita, quando se refere ao substantivo homem em seus escritos, está se referindo ao ser humano, à humanidade. Portanto, está tratando tanto do homem quando da mulher, que correspondem às características orgânicas de Espíritos reencarnados.

         Todos os humanos da Terra -- não se trata de redundância --, estamos nos referindo aos que estão vinculados ao nosso Planeta, como ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo III, itens 8 e 9: “Nos mundos mais atrasados, os homens são de certo modo rudimentares. Possuem a forma humana, mas sem nenhuma beleza; seus instintos não são temperados por nenhum sentimento de delicadeza ou benevolência, nem pelas noções do justo e do injusto; a força bruta é a sua única lei. (...)”   “Nos mundos que atingiram um grau superior de evolução, as condições da vida moral e material são muito diferentes das que encontramos na Terra. A forma dos corpos é sempre, como por toda parte, a humana, mas embelezada, aperfeiçoada, e sobretudo purificada. O corpo nada tem da materialidade terrena, e não está, por isso mesmo, sujeito às necessidades, às doenças e às deteriorações decorrentes do predomínio da matéria. Os sentidos, mais sutis, têm percepções que a grosseria dos nossos órgãos sufoca. A leveza específica dos corpos torna a locomoção rápida e fácil. Em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, eles deslizam, por assim dizer, pela superfície ou pelo ar, pelo esforço apenas da vontade, à maneira das representações de anjos ou dos manes dos antigos nos Campos Elíseos. (...). Vivem o plano de vida material e o espiritual simultaneamente, embora essa realidade possa não ser compreendida sem o estudo do paradigma da reencarnação. 

         Pretendíamos apenas elucidar que existem seres humanos no Universo, além da Terra, no entanto, a citação fala de mundos inferiores e mundos superiores, em qual situação se encontra a Terra? Conforme a Doutrina dos Espíritos Ela figura na faixa vibratória em que estagiam os mundos de provas e expiações. O próximo passo é chegar ao mundo de regeneração.  A Escala Espírita pode ser estudada em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, nas questões de 100 a 113.

          A oração é o momento em que o indivíduo alça, através do pensamento, vontade imbuída de um objetivo claro, ao Criador, a Jesus, ou algum Ser de sua confiança em busca de algo para si mesmo, ou para outrem, de socorro, alento, coragem, esclarecimento para suas dúvidas; também para agradecer petição atendida, a disponibilização dos recursos da Natureza e a própria vida, e louvar a Deus em reconhecimento à Sua grandiosidade.

         “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e fechada a porta, ora a teu Pai em secreto; e teu Pai, que vê o que se passa em secreto, te dará a paga. E quando orais não faleis muito, como os gentios; pois cuidam que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não queirais, portanto, parecer-vos com eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, primeiro que vós lho peçais. (Mateus, VI: 5-8)”.  Jesus ensina a orar, referindo-se a entrar no aposento e fechar a porta; que aposento é esse? e que porta é essa? O Senhor quando orava, e isso fazia com muita frequência, ia para a montanha, para a margem do lago de Genesaré, ou para algum lugar da Natureza, onde não tinha aposento e nem porta, então, a que Ele se referia? 

         Naquele momento da Humanidade não tinha como explicar melhor, utilizou dos conhecimentos que o povo tinha nos usos do dia a dia para grafar no sentir das Almas a ciência de fundo transcendente que somente nos séculos futuros poderia encontrar entendimento.  Ele falava ao Espírito do Homem, conquanto imantado a um corpo carnal, por algum tempo, permaneceria evoluindo no tempo, e a semente lançada alcançaria resultado da Ciência iniciada, quando o terreno espiritual estivesse fértil para a eclosão da sabedoria. A moradia é o corpo, àquele em que se habita, o aposento é a Alma e a porta corresponde aos sentidos que dão acesso às realidades exteriores. O ambiente da oração é o estado espiritual, o Ser e seus valores, num impulso de humildade busca o diálogo sincero e honesto, aonde o burburinho do mundo material não tem lugar, é o coração e a mente que vibram, sem palavras, é sentimento que adentra a frequência do Ente a alcançar e a comunicação se dá Espírito a Espírito. 

         É certo que somos pequenos e não sabemos ou não temos entendimento suficiente para jornada tão grandiosa, em conta disso não ficamos abandonados, existem os Espíritos intercessores que acompanham o nosso caminhar nesta vida e fazem com que as rogativas, pedidos e os agradecimentos, àqueles que têm mérito, cheguem ao seu destino, e carreiam as virtudes de acordo com as nossas possibilidades.  

         Nada pode ser concretizado sem que exista a conformidade da Lei Divina. Os seres responsáveis pela execução daquilo que vem dos pedidos não poderão ir além dos méritos de quem solicita, tanto quanto para aquele a quem se pede. 

         “A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo.   (...)¹”.  A prece livre é o sentimento que flui do estado espiritual de quem ora, influxo singular, nunca haverá outro igual, pois corresponde aos valores daquele Espírito que se expressa para a Divindade, não são o que as palavras conseguem dizer, são a essência daquele que se manifesta, lançando-se na corrente energética Universal. Atinge o objetivo e acolhe a retribuição. 

         Toda manifestação do indivíduo a título de oração, seja lida, decorada e na forma de repetição, precisa ser considerada com validade, sem se esquecer o ponto central de interação, “a intenção”, conquanto em grande parte de pouca eficácia, vez que a forma utilizada não proporciona conexão espiritual com o Ser a que se pretende alcançar ou aos intercessores, pois, não acontece nenhum fato vibracional para que isso ocorra. O que pode acontecer é que, em certo momento de dificuldade premente, mesmo utilizando-se dessa forma de orar, entra, sem se dar conta disso, num estado espiritual próprio da oração efetiva, fechando a porta do aposento”, realizando a interação vibratória significativa atingindo o atendimento para às suas necessidades. Para isso, pode receber ajuda de Espírito caridoso que o auxilia a entrar por esse caminho vibratório que desconhece. 

         “O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço.²”  Esses esclarecimentos são dos Espíritos reveladores da Doutrina Espírita, que não deixam dúvida de que tudo é trabalho e exige esforço, trata-se de conquista pessoal, é a busca permanente da elevação espiritual, o que corresponde a aquisição de valores nobres, intelectuais e morais, em todos os momentos da vida. O estado espiritual existente, por afinidade natural, propõe sintonia com Espíritos envolvidos nos mesmos propósitos de cada um de nós, e se conectam pela atmosfera mental que alimentamos, formando ligação com o mundo espiritual que nos é próprio; assim vivemos nos dois mundos simultaneamente, a qualidade corresponde às nossas escolhas. 

         A oração é uma via direta de duas mãos e chegará até onde nossas forças permitirem, até onde o combustível do mérito puder nos conduzir. 

         A fé raciocinada, àquela que a Doutrina Espírita nos apresenta com a suas revelações sobre o Homem e o mundo dos Espíritos, dando aos seus estudiosos a clareza sobre a existência, mostra a necessidade do esforço em todos os momentos da vida de forma consciente, sabendo-se que a construção efetiva é a do Espírito. Assim todos os trabalhos realizados com amor, mesmo os dificultosos, sempre visando o bem, não importando para quem seja, mesmo que o beneficiário não reconheça, é por isso uma prece, uma oração, pois o bem já existia na origem da intenção de quem a realiza, enriquecendo espiritualmente àquele que o detém.

        Aquele que sabe como orar, por que orar e para que orar é um Ser consciente em evolução espiritual. Sempre estará confiante, com coragem, paciente e resignado diante do que não pode mudar. Será vencedor de si mesmo, carregará consigo a paz e a felicidade, pois tem plena confiança em Deus.

           Oremos!

 

                                Dorival da Silva      

¹ O Livro dos Espíritos, questão 658

2   O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 7 (final)

Nota: Todas as obras de Allan Kardec poderão ser consultadas no endereço:

www.kardecpedia.com.br