quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Diferenças e convivência

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)
 
 
Orson Peter Carrara


Diferenças e convivência
Sobre as diferentes aptidões dos seres humanos, os Espíritos foram claros na Codificação. À indagação de Allan Kardec sobre as razões das desigualdades dessas aptidões, eles responderam que “Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles tem maior ou menor vivência e, por conseguinte, maior ou menor experiência. A diferença está no grau da sua experiência e da sua vontade, que é o livre-arbítrio: daí, uns se aperfeiçoam mais rapidamente e isso lhes dá aptidões diversas. A variedade das aptidões é necessária, a fim de que cada um possa concorrer aos objetivos da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais: o que um não faz, outro faz. É assim que cada um tem um papel útil (...)”.(1)

Ora, a resposta acima enseja vários desdobramentos. A própria indicação de maior ou menor vivência, de menos ou mais experiência, que naturalmente vai determinar o grau de vontade e liberdade, abre imensos espaços de atuação material e moral. Sim, porque cada um de nós só poderá agir com desenvoltura na área que conhece, em que tem experiência, que domina por vivência anterior, não necessariamente de existência passada.

Isso também leva a refletir que não se está impedido de iniciar campo novo de atuação, cuja constância e perseverança também levará a novas experiências e acúmulo de outras vivências, igualmente úteis em todo o processo evolutivo.

Na mesma resposta igualmente há a indicação do aperfeiçoamento mais rápido (que gera novas e constantes aptidões, nas diversas áreas) ou mais lento, a depender do esforço despendido e da movimentação da vontade nesse objetivo. 

O que causa os conflitos 

Porém, os Espíritos são muito claros. Como ensinam, “a variedade das aptidões é necessária”. Cada um trará sua cota de contribuição, cada experiência será utilizada, cada força física ou intelectual concorrerá para o bem coletivo e todos têm um papel a desempenhar, sempre útil no conjunto geral, sempre bem de acordo com a Vontade Divina, útil e sábia.

O interessante, porém, é que nem sempre as diferenças – que devem concorrer para um objetivo útil, como bem indicado em O Livro dos Espíritos(1) – conseguem estabelecer elos de harmonia. Muitas vezes as diferenças individuais são causadoras de conflitos, fruto, é óbvio, da influência do orgulho e do egoísmo que ainda dominam a condição humana.
Allan Kardec, porém, traz a lucidez de seu pensamento em duas colocações – entre tantas no mesmo sentido – que transcrevemos parcialmente aos leitores:

a) “Se um grupo quer estar em condições de ordem, de tranquilidade e de estabilidade, é preciso que nele reine um sentimento fraternal.  Todo grupo ou sociedade que se forma sem ter a caridade efetiva por base não tem vitalidade; ao passo que aqueles que serão fundados segundo o verdadeiro espírito da Doutrina se olharão como membros de uma mesma família, que, não podendo todos habitar sob o mesmo teto, moram em lugares diferentes.”

A observação está dirigida aos grupos espíritas (em resposta a requerimento dos espíritas de Lyon, por ocasião do Ano Novo) e consta da Revista Espírita de fevereiro de 1862 (2), mas vale para qualquer grupamento. Onde há o sentimento de tolerância e benevolência estarão presentes a ordem, a tranquilidade, a estabilidade.

A fraternidade e sua importância

Da mesma forma, no exemplar de dezembro de 1868(2), página 392, na Constituição Transitória do Espiritismo (item IX – Conclusão), Kardec volta a afirmar:

b) “(...) mas pretender que o Espiritismo seja por toda a parte organizado da mesma maneira; que os espíritas do mundo inteiro estejam sujeitos a um regime uniforme, a uma mesma maneira de proceder, que devam esperar a luz de um ponto fixo para o qual deverão fixar seus olhares, seria uma utopia tão absurda quanto pretender que todos os povos da Terra não formem um dia senão uma única nação, governada por um único chefe, regida pelo mesmo código de leis, e sujeitos aos mesmos usos. Se há leis gerais que podem ser comuns a todos os povos, essas leis serão sempre, nos detalhes, na aplicação e na forma, apropriadas aos costumes, aos caracteres, aos climas de cada um. Assim o será com o Espiritismo organizado. Os espíritas do mundo inteiro terão princípios comuns que os ligarão à grande família pelo laço sagrado da fraternidade, mas cuja aplicação poderá variar segundo as regiões, sem, por isto, que a unidade fundamental seja rompida, sem formar seitas dissidentes se atirando  pedras e o anátema, o que  seria antiespírita (...)”.

Ora, é essa a questão das diferenças nos relacionamentos, na convivência. Há diferenças, óbvio, até por questão de entendimento nos diferentes estágios em que também nos encontramos, os adeptos do Espiritismo. Isto, todavia, não elimina a fraternidade que deve reinar para construção da paz no planeta e na intimidade individual.

Sem fraternidade, que vemos?

Bem a propósito, como destaca a mensagem Fundamentos da ordem social (3):

“(...) A fraternidade pura é um perfume do Alto, é uma emanação do infinito, um átomo da inteligência celeste; é a base das instituições morais, e o único meio de elevar um estado social que possa subsistir e produzir efeitos dignos da grande causa pela qual combateis. Sede, pois, irmãos, se quiserdes que o germe depositado entre vós se desenvolva e se torne a árvore que procurais. A união é a força soberana que desce sobre a Terra; a fraternidade é a simpatia na união. (...) É preciso estardes unidos para serdes fortes, e é preciso ser forte para fundar uma instituição que não repouse senão sobre a verdade tomada tão tocante e tão admirável, tão simples e tão sublime. Forças divididas se aniquilam; reunidas elas são tantas vezes mais fortes. (...)”.

E conclui com sabedoria:

“(...) Sem a fraternidade, que vedes? O egoísmo, a ambição. Cada um em seu objetivo; cada um persegue-o de seu lado; cada um caminha à sua maneira, e todos são fatalmente arrastados no abismo onde são tragados, depois de tantos séculos, todos os esforços humanos. Com a união, não há mais que um único alvo, porque não há mais do que um único pensamento, um único desejo, um único coração. Uni-vos, pois, meus amigos; é o que vos repete a voz incessante de nosso mundo; uni-vos, e chegareis bem mais depressa ao vosso alvo (...)”.

O que um não faz, outro faz 
           
E qual seria o alvo, para nós que professamos o Espiritismo?

Permitimo-nos reproduzir a clareza da resposta com que iniciamos o presente comentário: A variedade das aptidões é necessária, a fim de que cada um possa concorrer aos objetivos da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais: o que um não faz, outro faz. É assim que, cada um tem um papel útil (...)”.(1)

Concentremos atenção no final da frase: o que um não faz, outro faz. É assim que cada um tem um papel útil (...).

Compreendendo este esclarecimento vital, desaparecem as diferenças e a convivência toma seu verdadeiro rumo: o da fraternidade. (Os destaques são nossos.)
 
Notas:  
(1) Questão 804 de O Livro dos Espíritos, 8ª edição IDE-Araras-SP, out/79, tradução de Salvador Gentile.

(2) Edição IDE-Araras-SP, nov./92, tradução Salvador Gentile.

(3) Mensagem obtida em reunião presidida por Allan Kardec, ditada pelo Espírito Léon de Muriane, e publicada na edição de novembro de 1862 da Revista Espírita (edição IDE-Araras-SP, tradução Salvador Gentile, páginas 345 e 346). 

                                                           **************** 

Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano9/449/especial.html



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Análise do livro “A Vida Viaja na Luz”

Especial Inglês Espanhol    
Ano 9 - N° 451 - 7 de Fevereiro de 2016
JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, MG (Brasil)
 
 
José Passini
Análise do livro
“A Vida Viaja na Luz
 
Título do livro: A Vida Viaja na Luz 
Autor: Inácio Ferreira
Médium: Carlos A. Baccelli
Editora: LEEPP
Ao longo desta análise, deveriam ser colocados entre aspas os nomes dos Espíritos citados, pelo fato de suas palavras e atitudes não nos convencerem da identidade a eles atribuída. Entretanto, para facilitar a redação deste texto,
deixamos de fazê-lo.

Os textos do livro serão transcritos em
negrito, as páginas, entre parênteses.

Esse Espírito, que se fez passar pelo Dr. Inácio Ferreira, depois de achincalhar a mediunidade, de atacar os espíritas, de inventar materialização a partir de ectoplasma haurido de um cadáver de um bêbado, de inventar reencarnação no Mundo Espiritual, de usar uma linguagem absolutamente incompatível com a sobriedade, a dignidade e a nobreza da Doutrina Espírita, agora coloca-se, em linguajar bem mais moderado, como defensor de Chico Xavier, esquecido de que no livro “Chico Xavier Responde” colocou na boca do médium desencarnado uma clara defesa do aborto. 

Se esse Espírito fosse realmente o ilustre Dr. Inácio Ferreira, deveria valorizar a obra do médium Chico Xavier, estudando e desdobrando as teses apresentadas por André Luiz, que se apresentam como um complemento da Codificação. Mas, numa tentativa de valorizar o trabalho equivocado do médium que lhe serve de instrumento, primeiro defende a tese de que Chico Xavier foi Kardec, e agora apresenta Baccelli como médium de Chico, logo do próprio Kardec, que estaria voltando para completar a Codificação.

– Mas ninguém pode querer impor silêncio ao Chico! -, exclamou, indignado, o fiel amigo.
– É uma tentativa de lançar ao descrédito toda a mensagem dele, via mediúnica. Veja: contestam alguns livros de sua lavra psicográfica – tendo o visível intuito de que não sejam admitidos por complemento da Codificação... (22)

Quem estuda a obra de André Luiz tem uma visão clara de como se organiza a vida no Mundo Espiritual. O Dr. Inácio nunca se refere à bela organização delineada na comunidade “Nosso Lar” e noutras colônias, em que são ressaltados os valores espirituais, a vivência evangélica, a ordem, a seriedade, o merecimento, a obediência.

– No outro dia, bem cedo, na companhia de Modesta e Manoel Roberto, fui ver, nas imediações do Hospital, uma chácara que conseguíramos em regime de comodato, para a realização de velho sonho. (25)
– O Hospital dos médiuns será a instituição mantenedora da Sociedade Protetora dos Animais “Francisco de Assis”!
– Uma Sociedade Protetora dos Animais no Além! (27)
– O Hospital dos Médiuns, do ponto de vista jurídico, responderá pela Sociedade “Francisco de Assis”. (30)

O Dr. Inácio, em seu consultório, encontrou sobre sua mesa uma carta confidencial de Chico Xavier, como se houvesse lá um serviço postal. (33/35)

Essa, uma das inúmeras tentativas que faz no sentido de tornar a vida espiritual semelhante à vivida na Terra, numa tentativa clara de minimizar as revelações de André Luiz. Depois, recebe um homem que havia sido condenado a 200 anos de prisão no Mundo Espiritual, e que havia obtido licença do juiz para uma consulta:

– Jamais poderia supor que, na Vida de Além-Túmulo, a justiça funcionasse como funciona na Terra. Assim que me vi fora do corpo, deram-me voz de prisão e fui para uma penitenciária, onde fiquei aguardando julgamento. (49)

Observe-se a continuação do relato do madeireiro desencarnado:

– Conforme lhe disse, assim que me vi fora do corpo – tive oportunidade de ver meu corpo imóvel, caído no banheiro de uma das minhas propriedades -, dois detetives se aproximaram e me perguntaram se eu era o dono daquelas propriedades e da serraria.
– Os detetives pronunciaram o meu nome completo. Noutras circunstâncias, como fugi inúmeras vezes, eu teria fugido, mas... Eu tinha inúmeros contatos na polícia, Doutor! (50)
– Conforme lhe disse, deram-me voz de prisão e me algemaram.
– E você foi algemado?
– Conduzido na viatura?
– Levaram-me para o presídio. Tiraram-me as algemas, um médico me examinou e prescreveu alguns medicamentos. Devo ter dormido uns quatro ou cinco dias seguidos... (51)

A estória prossegue, dando-nos a impressão de que o Dr. Inácio tornou-se um novelista...

Mais adiante, diz que foi a Uberaba e, tendo materializado um ouvido e um olho (precisaria?), ouviu umas conversas de espíritas e presenciou algumas cenas triviais, cuja descrição, como muitas outras, serve apenas para encher páginas de livros.
(58)

Lecionando bons costumes, diz que leu nos jornais (sic) da localidade onde habita:

– Você leu, nos jornais, a lei que foi aprovada recentemente? – Quem for pego jogando papel no chão, ou cuspindo, além de ser multado, será condenado a um mês de serviços comunitários! (60)

Difícil de comentar é a afirmativa da possibilidade de afogamento seguido de morte na colônia “Nosso Lar”. Depois da morte, o sepultamento, ou a cremação.

– Será que, sem saber nadar, se algum de nós cair nas águas do Rio Azul, poderá se afogar e morrer?  Doutor, se o corpo espiritual é dotado de sistema pulmonar e tudo mais, se continuamos a inflar os pulmões de oxigênio, a resposta é lógica: sim, poderá se afogar e morrer ! (87)
E não só morre, mas é enterrado ou cremado...
– Morre e é enterrado! Vai para o cemitério, ou, como neste Outro Lado, é mais comum, para o forno crematório! (119)

Mas como pode haver desencarnação se não há carne? Apesar do absurdo, o Dr. Inácio prossegue no seu raciocínio falacioso, aproveitando para reafirmar sua tese da reencarnação no Mundo Espiritual, partindo de um sofisma criado por ele próprio:

– Minha gente, reflita comigo. Se do Lado de Cá se morre, ou seja, desencarna-se, o que impede que também se reencarne?

Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios (15: 40), faz distinção entre corpo carnal e corpo espiritual, demonstrando que este sobrevive à morte: “E há corpos celestes e corpos terrestres (...)”. Mas, O Dr. Inácio cita a passagem apenas pela metade, tentando confundir o leitor:

– “... também há corpos celestiais”! (121)

Continuando na sua campanha de disseminar descontentamento no meio espírita, faz acusações, como se houvesse algum órgão censor:

– Sim. Sob o pretexto, por exemplo, de pureza doutrinária, em substituição à fraternidade, a intolerância vem sendo adotada. Estamos quase a repetir os erros cometidos pela Igreja, no campo da censura às novas ideias com o cerceamento da liberdade de expressão. (133)

Logo adiante, o Dr. Odilon afirma justamente o contrário, ou estará fazendo um mea culpa em nome do Dr. Inácio e advertindo o seu médium?:

– É sumamente desagradável falarmos, mas os médiuns, notadamente os psicógrafos, deveriam ser mais comedidos. Nem todo médium nasceu para escrever sob a inspiração dos espíritos. Em consequência, pressionados pelas editoras, os médiuns perdem todo o critério de avaliação quanto ao que se refere à conveniência ou não de se publicar esta ou aquela obra de sua coautoria. (137)

No cap. 19, o Dr. Inácio faz uma interpretação curiosa da Parábola do Filho Pródigo, na qual se aventura como teólogo e produz afirmativas como esta, em que nega a encarnação como necessidade evolutiva, quando diz que só depois de o filho ter deixado a casa paterna é que necessitou da reencarnação (será esta uma nova versão da “queda dos anjos”?):

– Em tradução metafísica, deixando o Plano Etéreo, ele reencarna! Mergulha, de cabeça, na experiência da reencarnação! Até então, ele não possuía carma, estava isento! (158)

Note-se como é “terreno” o plano espiritual em que o Dr. Inácio se situa:

– Meu caro, por onde é que você andava? – perguntei ao Cássio.
– Por aí, Doutor.
– O que está fazendo agora?
– Lecionando e cuidando da Clínica.
– Você abriu uma clínica por aqui? (178)

Na obra “Nosso Lar” há uma observação de Lísias a André Luiz, no sentido de serem evitados comentários que não sejam construtivos. No livro “Fundação Emmanuel”, o Dr. Inácio faz referência a um jornal, intitulado “Resenha”, que circularia naquela região, veiculando comentários feitos na Terra. Ao tomar conhecimento de apreciações que lhe foram desagradáveis, o Dr. Inácio dá uma banana aos espíritas que não concordam com suas teses. No livro em estudo, há uma afirmação equivocada, afirmando a existência de imprensa na colônia “Nosso Lar”, o que não é verdade:

– A lembrança de Altiva é interessante, Inácio - falou Modesta -, o pessoal que lê a obra “Nosso Lar” pouco comenta sobre a Imprensa no Mundo Espiritual. (179)

O Dr. Inácio, sempre diminuindo o valor dos espíritas, e dando-se importância...

– Ultimamente, muitos espíritas recém-desencarnados marcam consulta comigo. Não que estejam propriamente doentes, mas desejam ajustar certas ideias em conflito com a realidade da Vida, ante a qual se deparam na existência de Além-Túmulo. (184)

Esse Espírito, que se diz Dr. Inácio, moderou um tanto os ataques aos espíritas e as piadas que fazia em seus livros anteriores, mas não as deixou de todo, como se vê nesses diálogos que diz ter tido com um espírita recém-desencarnado:

– Você não podia: sorrir era contra a pureza doutrinária! Aliás, para muitos espíritas, fumar é mais contra a pureza da Doutrina do que contra a pureza dos pulmões!
O amigo agora passou a rir sonoramente.
– Eu mesmo, Doutor – ponderou –, já combati muito o hábito de se comer carne... Chego a este Outro Lado e percebo que certos espíritos...
Espíritos , não – homens! – consertei.
– Correto. Percebo que muitos homens estão se desabituando aos poucos... (189)

Prosseguindo a conversa, passou a entrevistar o Espírito:

– Você é espírita?
– Sim, há mais de 40 anos...
– Desencarnou, e daí?
– Não aconteceu absolutamente nada. Estou na mesma.
– Não volitou?
– Mal me arrastei e estou me arrastando...
– Come e dorme?
– E bebo água!
– Faz sexo?
– Faço!
– Com o que?
– Doutor, o senhor é louco!
– Responda.
– Com as coisas, ué!
– Você é espírito vampiro?
– Não, eu sou normal.
– Então, você faz sexo é com desencarnado?
– É! Pensou o quê? Eu não sou íncubo...
– Tem orgasmo?...
Bem, desculpem-me, mas o restante da entrevista é proibido para menores e não quero poluir a cabeça desse nosso pessoal beato, que considera pecado ter orgasmo num só lado da Vida, quanto mais nos Dois! (190/191)

Numa entrevista concedida a um jornal (sic) da colônia espiritual onde se encontrava, o Dr. Inácio declara algo inusitado, como o fato de um Espírito desencarnado normalmente não se lembrar de sua última encarnação:

– Se estamos vindo da Terra – de sua contraparte mais materializada –, por que não nos lembramos?
– Pela mesma razão que, ao reencarnar, o espírito não se recorda de onde vem! (202)

Imaginemos a confusão que causa em alguém que se está iniciando no Espiritismo, ao ter conhecimento de que um Espírito, que se diz médico e orientador de grupos espirituais, se apresente resfriado, com o nariz escorrendo:

Percebendo que eu estava com o nariz escorrendo, o companheiro me perguntou:
– O senhor se resfriou?
– Não sei – respondi – se é a “suína”, com a qual o pessoal anda preocupado lá embaixo, mas estou todo entupido, a cabeça pesada, respirando mal... (209)

Em toda a obra de André Luiz não há nem um relato de doença em Espíritos trabalhadores do Bem. O Dr. Inácio apresenta essa novidade.

– Logo pela manhã daquela quinta-feira, depois de me ter afastado do consultório por três dias consecutivos, a fim de me recuperar de um forte resfriado, Nelson compareceu para mais uma consulta. (227)

A informação abaixo é errada, pois “Nosso Lar” é apenas uma dos milhares de cidades espirituais. De fato, não se pode fazer paralelo com a paródia apresentada na obra:

– A referida colônia é uma organização sui generis ! Não se tem paralelo a respeito em nenhuma outra obra de cunho espiritualista, transmitida para a Terra mediunicamente. (213)

O capítulo 28 é dedicado a uma crítica ao Movimento Espírita Unificado, e aos espíritas em geral. Depois de muito se queixar do trabalho que tem como Diretor-Médico de um hospital, recusa-se a filiá-lo a uma entidade de unificação existente no Mundo Espiritual. Seu interlocutor, buscando aproximar-se do Dr. Inácio, se declara, também ele, maçom (sic). Imaginando que seu interlocutor falasse em intervenção no hospital, o Dr. Inácio não perdeu a oportunidade para uma bravata:

– Não é meu receio, porque, primeiro, vocês teriam que passar por cima de mim. Enquanto eu estiver na direção deste nosocômio, exceto Jesus e os Maiores que nos orientam, ninguém se intromete. Nesse sentido, se fosse o caso, não hesitaria em recorrer aos préstimos de um bom advogado! (240)

Parece que o Dr. Inácio quer materializar o Mundo Espiritual a ponto de torná-lo inverossímil... Finalmente, depois de muita conversa, o Dr. Inácio sai-se com esta, como se circulasse dinheiro no Mundo Espiritual:

– Vocês podem contar conosco, inclusive, se for o caso, com dinheiro para as promoções em pauta, mas não nos filiaremos. (243)

E continua com seus ataques à Unificação:

– Quase me arrisquei a dizer que nos moldes com que vem sendo conduzido, o Movimento de Unificação é mais prejudicial do que útil ao Espiritismo. (244)

Usa todo o capítulo 29 para descrever uma conversa informal com a cozinheira do sanatório, o que dá ao leitor ideia de que o hospital está no plano físico... Além do mais, diz que a cozinheira chegara com a criança pela mão, com fome! Não é isso que se aprende com André Luiz, notadamente nas obras “Entre a Terra e o Céu” e “Libertação”, relativamente a crianças desencarnadas.

– Lembra-se de como cheguei aqui, trazendo o Benedito pela mão? Medrosa e retraída feito uma cadelinha assustada... O senhor me olhou, brincou com o Benedito, perguntou se estávamos com fome e nos trouxe justamente para cá, a Cozinha – o senhor mesmo fez o prato do Benedito!...
– ... que comeu feito um leão!
– Estávamos com fome, Doutor. A maioria das pessoas não sabe o que é passar fome e chegar escorraçada do mundo... (260)

Algo que não encontra explicação no livro é o fato de o Dr. Inácio receber cartas de encarnados e de desencarnados, como essa que ele responde abaixo:

“Confesso que as suas obras muito me têm auxiliado a entender o que André Luiz escreveu através de Chico Xavier. (...) E o senhor é o único espírito a defender a obra mediúnica de Chico Xavier – Não generalizando, a maioria não diz uma única palavra, a não ser para exaltar a si mesma! Receba meu abraço e bola para a frente!” (264/265)

Respondendo a carta recebida, ataca médiuns e o Movimento Unificador:

– O Espiritismo, meu amigo, para muita gente, hoje virou meio de vida. A inquisição que os “cardeais” do movimento vêm fazendo aos novos médiuns, no fundo, é luta pelo poder e – pasme! – pelo vil metal! Muitos deles, sem que percebam, estão sendo usados pelos lobos disfarçados de ovelhas... (268)

Mais adiante, continuando a resposta à “carta” que recebera, faz uma defesa da obra mediúnica de Chico Xavier, como se aquela que ele recebeu quando encarnado, como médium, estivesse sendo contestada. Mas a defesa que ele faz é dessas obras pretensamente atribuídas ao Chico desencarnado, recebidas por Baccelli, materializadas em aberrações como “Chico Xavier Responde”:

– Mas, antes do ponto-final, preciso lhe dizer mais uma coisa: não duvide de que, no próprio meio espírita, haja uma conspiração contra as obras mediúnicas da lavra de Chico Xavier! (270)

No final de sua resposta, retoma aquele linguajar rasteiro dos seus primeiros livros:

– Seja você mesmo e, conforme disse, ”bola para a frente”! Permita-me apenas pluralizar a palavra “bola”, concitando-o a ser digno representante dos que, sem serem machistas, são machos o suficiente para dizerem o que pensam.
P.S: No que se refere à coragem do testemunho e verdadeiro amor à Causa, não posso deixar de reconhecer que, por seus ovários, muitas mulheres possuem mais “bolas” do que muitos homens! (271)

Depois de falar, noutras obras, em reencarnação no Mundo Espiritual, Dr. Inácio agora tenta amenizar a tese, misturando reencarnação com materialização, argumentando com o que relata André Luiz em “Nosso Lar” e em “Libertação”:

– Em suas bases o fenômeno é o mesmo; o que difere é o processo... daí, en passant, nós podermos conjeturar em torno da reencarnação nos diferentes planos espirituais da Vida, sem que, para tanto, o sexo concorra, nos padrões com que concorre na Terra, noutros mundos e dimensões. (287)

No cap. 36 há uma curiosa carta que Chico, desencarnado, teria dirigido ao Dr. Inácio. Sempre a tentativa do Dr. Inácio de “materializar” o Mundo Espiritual.
(314)

Sempre atacando e ridicularizando os espíritas que estudam e que seguem uma linha moral:

– Os ortodoxos, no campo da Filosofia Espírita, estão impedindo o nosso povo de pensar – estão cometendo um crime! Essa turma de clérigos reencarnados, que se cansou de ajoelhar, mas não de ter os outros ajoelhados diante de si, acha que a Lei de Causa e Efeito funciona sozinha! Se fosse assim, também a Lei da Reencarnação também funcionaria – não haveria necessidade nem de relação sexual! O espermatozoide – eu não sei por que orifício –, sairia sozinho perguntando em cada esquina: – “Vocês viram um óvulo dando sopa por aí?...” Ora, não façam pouco da minha já tão pouca inteligência...
– Os espíritas precisam mesmo atualizar sua concepção de vida além da morte! (318/319)

Noutra tentativa de “materializar” a Vida Espiritual, fala de força policial no Além, que viria à Terra aprisionar Espíritos:

– Iremos, mas vou entrar em contato com o Dr. Elpídio, amigo meu e Delegado de Polícia, para que providencie um destacamento policial. Aquelas entidades necessitam ser presas! (319)
– Conforme combinado, Odilon veio me encontrar no hospital e, em companhia de Elpídio, previamente contatado por mim e mais três detetives sob o seu comando, partimos em direção à Crosta (324)
– Enquanto “descíamos”, fomos, naturalmente, integrando-nos no ambiente, de tal maneira a sermos identificados na condição de entidades recém-desencarnadas. Inalando fluidos menos rarefeitos, na atmosfera da Terra, promovemos relativa condensação em nossos corpos espirituais e, então, confundimo-nos com os transeuntes da cidade que visitávamos. (324)

Confundimo-nos com os transeuntes”. Então materializaram-se, como disse no livro “Por Amor ao Ideal”, referindo-se a Edgar Alan Poe, que se teria materializado com o ectoplasma do cadáver de um bêbado e teria andado pelas ruas de Uberaba, a fim de consultar-se, como se fosse um paciente encarnado. Se é assim como fala o Dr. Inácio, fica difícil saber se estamos vendo um Espírito encarnado ou um desencarnado materializado!

Afinal, trata-se de um trabalho grosseiro, emanado de um Espírito que pretende informar equivocadamente aqueles que estão se interessando pelo Espiritismo, ao tempo que conta com a falta de cuidado daqueles que, conhecendo a Doutrina, nada fazem para coibir sua ação nefasta.

Com a palavra principalmente os responsáveis por centros, livrarias e clubes de livros espíritas pela divulgação de livros como esse.

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Extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada pelo endereço:  http://www.oconsolador.com.br/ano9/451/especial.html