quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Leis…

                                                                              Leis… 


Neste texto abordaremos as leis, não o faremos como uma questão técnica de Direito, não é a finalidade, mas num pensamento livre, numa lógica natural, longe do apego à legislação de qualquer viés, apenas a liberdade de pensar.  

A Natureza tem suas leis, nada além destas seria necessário para conduzir a vida, não fosse o surgimento de um elemento chamado homem. Um ser do reino animal em estágio hominal, significando um animal com capacidade de pensamento contínuo e consciência de si mesmo. Por isso sobrepõe os demais reinos. Suas ações são intencionais, premeditadas, visam um resultado, têm consequências positivas ou não, para si mesmo ou para o seu grupo, podendo representar vantagem ou desvantagem para um ou outros demais grupos da organização social.  

Os atributos do ser humano incluem o livre-arbítrio, o direito de experimentar, de conhecer os resultados de suas ações, se é bom ou não, e suportar as consequências de suas atitudes. Foi através dos acertos e erros que se descobriu o que era útil para a vida, avançou-se e houve a necessidade de disciplinar as experiências, catalogar os passos e os resultados, iniciando-se a Ciência, metodizando os fatos.  

No entanto, existem fatores comportamentais que, em um estágio da existência, foram essenciais para a sua manutenção, como o instinto de conservação, a força bruta, a capacidade de adaptação ao meio ambiente…  No contar dos séculos, a inteligência humana se desenvolveu, a Ciência subdividiu-se em especialidades, a tecnologia trouxe comodidade às suas ações, nos diversos setores da vida.  

E as Leis?...   

As leis naturais estavam latentes no homem quando ele surgiu. Elas foram evidenciando-se conforme as ações empreendidas, sentindo-se seus efeitos, com as repetições foram sendo conhecidas.  

Com o crescimento da inteligência, que precede o desenvolvimento moral -- este último seria o freio equilibrador das ações do homem --; descobriu-se que o poder governa, manda, exige, acumula e cria um estado de “respeito-temor” sobre aqueles de menor poder, gerando ilusória sensação de segurança, seja individual, ou coletiva.  

O que era instinto de conservação tornou-se egoísta, centralizador, pessoal ou social, somando-se ao orgulho do poder, duas forças ilusórias que se unem; que perduram enquanto o combustível da ilusão suportar.    

A lei que rege toda a vida não está escrita nem em pedra, nem em papel, pois está inerente ao próprio ser, é a lei natural, a Lei de Deus, inscrita na consciência. No entanto, ela está latente, é preciso que a consciência se faça lúcida, crescida, esteja forrada na inteligência e na moral avançadas, coroadas de virtudes, conquistas de grandes lutas interiores.  

Para apoiar o estado evolutivo incipiente do ser humano,  no transcorrer dos séculos, houve o auxílio das instâncias espirituais  responsáveis pela humanidade da Terra, com o estabelecimento de normas de conduta e o apontamento de que não se estava só, como as orientações lançadas ao mundo pela voz direta, surgida no ar, posteriormente com registro tátil, como exemplifica o código de Hamurábi, e mais tarde o que marcou com mais expressividade, a recepção por Moisés, do Decálogo, até esses dias, normativo indiscutível.  

Desde os Profetas, que orientavam o povo para a vida presente e antecipavam os acontecimentos que ocorreriam no futuro, mostrando que a existência não era finita e que os seres não eram o corpo, mas sim algo que perduraria no tempo, pois seria sem propósito revelar o futuro para quem não chegaria lá. Não era possível explicar como se chegaria lá, o que posteriormente Jesus começou a esclarecer nessa Ciência no diálogo com Nicodemos, tratando do renascimento. Como hoje entendemos o mecanismo da reencarnação, e a evolução constante da alma humana.  

As leis civis existiram desde as mais rudimentares, as patriarcais, depois pelas de grupos sociais, as de estado, e as nacionais, com as regras modernas ordenadoras da ordem social no mundo.  Todas essas são relativas, sofrem alterações constantes para aperfeiçoamento e se adaptam de acordo com as necessidades do estado evolutivo de cada sociedade; acompanham a evolução dos povos.  

Nos tempos modernos, principalmente após o advento da Doutrina Espírita (1857), o homem está ciente de que é um Espírito, uma individualidade autônoma, que não terá fim; no entanto, transitou desde o estado evolutivo mais insignificante, aperfeiçoa-se todos os dias, caminha pela eternidade e alcançará o estado de perfeição, porque existe uma lei inexorável e atrativa que é a Lei de Progresso, que rege todo o Universo, pois se trata de Lei Divina. 

A Lei de Progresso, embora governe tanto o mundo material e o espiritual, sendo que o primeiro tem suas próprias normas físico-químicas, que são exercidas automaticamente; o segundo, tem a lei imutável inscrita na consciência, e a exerce de acordo com o seu estado evolutivo, pois, tem vontade e é livre para decidir, vive a sua experiência, e assume as suas consequências.  

As Leis Naturais que regem a matéria se cumprem dentro de uma ordem constante, que a multidão incontável de mundos e astros do Universo seguem cortejos em movimentos harmônicos pelo tempo sem fim, sem a ocorrência de fatos acidentais. Sendo que serve ao desenvolvimento da vida em todos os planos, fora disso não haveria razão para existir. Quem criaria tanta grandeza sem finalidade? 

Aquelas que cuidam da vida espiritual são dinâmicas e, em profundidade, fogem da possibilidade de julgamento pelos homens, pois, as facetas motivadoras de quaisquer fatos têm concepções inatingíveis no presente estágio evolutivo. Considerando que a alma humana percorre o caminho do tempo em inúmeras experiências, estas estão compondo o seu patrimônio espiritual, que reflete influência inconsciente sobre si mesmo, exercendo força para a repetição de circunstâncias anteriormente habituadas, que precisam encontrar na vida presente discernimento para conter e neutralizar ou dar vazão, advindo os resultados bons ou depreciativos. A educação moral e a espiritualização do indivíduo são o grande divisor de águas entre os desastres, que causam sofrimentos que transcendem os tempos da própria vida corporal, e o estado de paz e felicidade que se perpetuam.  

Não há mundo, não há vida sem ordem e sem lei. Mundo material e mundo espiritual têm a mesma Fonte, no entanto, aquele serve a este, e existe em razão deste.  

Lei, ordem, disciplina… 

                                                                         

 

                                                                         Dorival da Silva