quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário - 2ª parte

Especial Inglês Espanhol
Ano 9 - N° 438 - 1° de Novembro de 2015
JOSÉ SOLA GOMES
josesolagomes@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

José Sola Gomes

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário
Ele viveu a filosofia e também a ciência, mas não se
esqueceu de praticar a caridade
 
Parte 2 e final
 
Havia transcorrido um ano da desencarnação de sua esposa e, em 1864, Bezerra de Menezes foi reeleito vereador e casou-se com D. Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã de sua primeira esposa. Com ela, teve sete filhos e permaneceram juntos até o momento de seu falecimento. Deu, então, continuidade à sua carreira política. Em 1867 foi aclamado e eleito deputado geral.
Manteve diversas lutas políticas, sendo conhecido como homem público que não comprometia seus princípios para colher favores ou posições. 
A exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu-se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio do pouco que possuía, a benefício desses necessitados.
Quando afastado provisoriamente da atividade política e dedicando-se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou-se na construção da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, tornou-se presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão.
Depois de breve afastamento, retornou à atividade política e foi, então, eleito vereador em 1876. Em 1878 foi reeleito e tornou-se presidente da Câmara Municipal (correspondente ao atual cargo de Prefeito Municipal) e líder do seu partido, permanecendo no cargo até 1881.
Alguns confrades espíritas, sabendo-me adepto da premissa das almas gêmeas, me questionaram na intenção de saber qual das duas mulheres seria a alma gêmea de Bezerra de Menezes: a que lhe foi a primeira esposa ou a segunda? 
Dr. Bezerra Menezes empresário 
Tenho respondido logicamente conforme o meu entender, pois Dr. Bezerra nunca apresentou algum comentário a esse respeito. Respondendo à pergunta, tenho dito que provavelmente nenhuma das duas, pois é provável que a alma gêmea de Bezerra já esteja vivendo uma evolução muito maior que ele, pois, embora não seja regra, as mulheres comumente evoluem mais rápido que os homens, como é o caso de Emmanuel e Lívia, ou de Carlos Kenaglan e Alcíone. Mas, o que não podemos esquecer é que não reencarnamos apenas com nossas almas gêmeas, pois vivemos várias reencarnações junto a outros Espíritos, por necessidade de ter outras experiências ou atraídos mesmo pela sensualidade do sexo oposto, pois somente acordamos para a concepção de que somos almas gêmeas quando nos maturamos no campo do sentimento e, mesmo assim, quase sempre esse acordar acontece pelo cadinho da dor.
Pelo que podemos ver, nosso amigo Bezerra de Menezes, além de médico, atuou também na área empresarial, foi político, enfim, viveu uma vida dinâmica, havendo sido mesmo presidente da Companhia Carril de São Cristovão. Dr. Bezerra ocupou cargos na política, foi deputado, foi presidente da Câmara, o que equivalia naquela época ao cargo de perfeito, tal qual conhecemos.
Ocorre que, quando citamos essas informações em seu currículo, alguns confrades menos avisados imaginam que Dr. Bezerra haja se demorado envolto em politicagem. Ora, não podemos confundir política com politicagem, pois a política é uma necessidade social, para se administrar um município, estado, ou nação. A política faz parte intrínseca da vida de um indivíduo. Mesmo quando dizemos a célebre frase “eu sou apolítico”, estamos defendendo um princípio político nosso e não aceitamos outros. Diferente disso, a politicagem prima em interesses partidários, em obter vantagens pessoais e financeiras, e o indivíduo se esquece por completo dos interesses comuns da sociedade.
Já houve, com certeza, muitos políticos honestos em nosso país, mas com certeza hoje está muito difícil encontrarmos alguns, embora haja um número infinitamente maior de políticos no Brasil do que havia na época em que viveu Dr. Bezerra. 
Augusto Elias da Silva e a criação da FEB 
Se nosso amigo Bezerra era dinâmico, realizador, operante em vários departamentos da vida, isso acontecia por manifestar seu amor em tudo o que fazia. Havendo acordado para a doutrina espírita, seu amor e sua dedicação foram infinitos, e esse amor pelo Espiritismo deu, como sabemos, ótimos frutos, vindo ele exercer papel fundamental no Movimento Espírita brasileiro.
Por essa época o Espiritismo no Brasil buscava organizar-se.
Em 1876 surgira a primeira sociedade espírita no Rio de Janeiro. Em 1883, Augusto Elias da Silva, interessado na difusão dos ensinos espíritas, fundara a revista “Reformador” e punha-se a procurar colaboradores. 
O Espiritismo sofria, no entanto, grandes perseguições e era combatido veementemente. A imprensa era fonte diária de críticas ferozes; os sermões enchiam os púlpitos de insultos e insinuações contra a doutrina. Elias da Silva foi então buscar em Bezerra de Menezes conselhos sobre como revidar toda a animosidade contra os espíritas e o movimento. A resposta dada pelo Dr. Bezerra foi o de não seguir o caminho do ataque, de não combater o ódio com o ódio, mas antes combater o ódio com o amor. A tônica desse conselho norteou toda a vida e o trabalho de Bezerra, dentro e fora do Movimento Espírita brasileiro.
Além dos ataques externos, reinava em 1883 um ambiente francamente dispersivo no seio do movimento espírita brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse, de certo modo, indestrutível.
A cisão era, então, profunda entre os chamados "místicos" e os "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico.
No dia 27 de dezembro de 1883, Augusto Elias da Silva promoveu uma reunião com os 12 companheiros que o ajudavam no “Reformador”. Nesse encontro, eles decidiram fundar uma nova instituição, que não fosse nem mística, nem científica, mas ideologicamente neutra.
Assim, no dia 1° de janeiro de 1884, foi fundada a Federação Espírita Brasileira (FEB), que promoveria a doutrinação, a disciplina e o intercâmbio de experiências entre os diversos centros já existentes.  
O Dr. Bezerra Menezes jornalista 
Bezerra foi um dos primeiros a ser convidado para assumir a posição de presidente da organização, mas não aceitou, por não se considerar capaz de tamanha responsabilidade. Seu primeiro presidente foi o Marechal Ewerton Quadros e a revista “Reformador” tornou-se o órgão oficial da FEB.
Em 1887 o Médico dos Pobres passou a escrever uma série chamada “Espiritismo – Estudos Filosóficos”, que saía aos domingos no jornal “O País”, com o pseudônimo de Max. Vale lembrar que na época esse era o jornal mais lido no Brasil. Continuaria a série de artigos até o Natal de 1894. Escreveria depois, com o mesmo pseudônimo, em outros dois jornais, sempre em defesa dos postulados do Cristo Jesus, calcado na visão espírita. 
Em 1888, logo no início da série de artigos, Dr. Bezerra perdeu dois filhos. Reagiu e continuou trabalhando. Durante cinco anos escreveu sobre a Doutrina, elucidou muitas pessoas e arrebanhou outras tantas para as fileiras espíritas.
Encontramos alguns confrades que sentem ojeriza quando ouvem falar em “polêmica”; entretanto não podemos esquecer que Bezerra de Menezes foi um missionário da doutrina espírita no Brasil, tão relevante foi a sua atuação no movimento espírita, que nós os espíritas atribuímos a esse espírita maravilhoso o cognome de “Kardec brasileiro”. Bezerra de Menezes foi humilde durante toda a sua vida, infinitamente caritativo, não polemizava por ostentação, mas porque desejava esclarecer a verdade. Quem desejar ter conhecimento dessas polêmicas, deve adquirir os Estudos Filosóficos, tomo 1 e tomo 2, publicados pela FEB, pois não me é possível transcrevê-las. Conhecendo-as, verão como eram as polêmicas travadas com muita propriedade por parte de Bezerra com os sacerdotes e bispos da época, o que será muito útil a todos aqueles que acreditam que polemizar é perlengar.
Em 1889 o Marechal Ewerton Quadros foi transferido para Goiás, ficando impossibilitado de permanecer à frente da FEB. Para substituí-lo, foi eleito Dr. Bezerra de Menezes, que, cerca de três anos atrás, havia chocado a sociedade carioca com a notícia de sua conversão ao Espiritismo. Ao elegê-lo, a intenção dos confrades febianos era colocar uma pessoa de prestígio e força moral na presidência, a fim de fortalecer o processo de unificação. 
Dr. Bezerra dizia que era espírita de nascença 
Bezerra de Menezes anunciou publicamente sua conversão ao Espiritismo, tão grande era a emoção que sentia na alma – e não podemos nos esquecer de que naquela época o Espiritismo sofria uma perseguição intensa por parte da imprensa, tanto quanto da Igreja Católica Apostólica Romana.
Realmente, é preciso reconhecer: Dr. Bezerra não havia errado quando, ao ler “O Livro dos Espíritos”, disse a si mesmo que era espírita de nascença.   
À frente da Federação Espírita Brasileira, ele tentou a todo custo promover a união de todos os espíritas, inspirado principalmente por mensagem ditada mediunicamente por Allan Kardec em janeiro daquele ano, por intermédio do médium Frederico Júnior, chamada “Instruções de Allan Kardec aos Espíritas do Brasil”. 
Ele lutou muito no intento de eliminar as diferenças que aconteciam no meio espírita e seu propósito era promover uma liderança que abrigasse todos os espíritas do Brasil. Quanto mais aumentavam as dissensões, mais aumentava seu esforço e seu trabalho. 
Por faltarem pregadores espíritas cristãos, assumiu ele próprio a função. Iniciou, assim, no dia 23 de maio de 1889, uma sessão semanal na Federação para o estudo de “O Livro dos Espíritos” e os resultados obtidos foram os melhores possíveis, com o grande número de pessoas que ali compareciam ávidas de conhecimento e saber.
Dedicado à causa, realizava também conferências e reuniões em uma casa espírita chamada “União”. Fundara uma casa chamada “Centro”, para promover o estudo do “Evangelho” e de “O Livro dos Espíritos”, na tentativa de conciliar as diferentes correntes de pensamento espírita. E participava, ainda, em outra casa, dos trabalhos de desobsessão. 
A mensagem “Instruções”, de Kardec, fornecera as diretrizes para o trabalho do Dr. Bezerra. A certa altura Kardec pergunta: “Onde está a escola de médiuns?” e essa pergunta ficou gravada na mente de Bezerra. Na realidade, ele não encontrou uma escola de médiuns em parte alguma. A solução encontrada foi fundar ele mesmo a tal escola. 
Muitos se opuseram à ideia, mas ele terminou por instalar a “Escola de Médiuns” no Centro. Como, infelizmente, ninguém gostava de estudar, ele se viu só, pois nem mesmo os próprios membros da diretoria da instituição frequentavam a escola. Ele apresentou um convite a todos, mas ninguém comparecia. 
O movimento espírita prosperava, contudo, em outras áreas. A Federação Espírita Brasileira inaugurava o seu período áureo, preparando-se para o futuro glorioso que a aguardava, iniciando uma caminhada que estaria a solidificá-la como a Casa-Máter do Espiritismo no Brasil.
Jamais ignoremos os exemplos do Dr. Bezerra 
Instituiu-se o serviço filantrópico de “Assistência aos Necessitados”, que atraiu muita gente e era o complemento de um dos três aspectos do Espiritismo, o aspecto moral, pois como poderia realmente ser o Consolador prometido, indiferente à dor e à necessidade alheia?        

Dr. Bezerra continuava esquecido no “Centro”, mas, mesmo assim, manteve firme seu propósito. A situação chegou a um ponto em que a despesa e os gastos da instituição tornaram-se insustentáveis, e Bezerra já não podia dispor de seus próprios recursos. Convocou por carta cada um dos membros da diretoria, para buscar a solução do problema, mas ninguém atendeu ao chamado. Na semana seguinte, convocou-os novamente. Ninguém compareceu. Foi à casa de um por um para convocar uma última reunião. Nem mesmo assim eles atenderam. Bezerra foi então, sozinho, procurar abrigo em outra casa espírita, onde foi bem recebido. A boa acolhida, porém, não durou muito tempo, já que apareceriam novamente as dissensões entre as correntes de pensamento espírita. O movimento espírita demorava-se carente de união.
Espíritas, por mais difícil que pareça a situação do Espiritismo, vamos ter como exemplo esse Espírito maravilhoso, que em momento algum se deteve diante das dificuldades e lutou destemido confiando na vitória da luz sobre as trevas.
Vamos pugnar, por nossa vez, no intento de preservarmos a lídima e pura doutrina espírita, vivendo pela causa com todo o amor, como exemplificou Dr. Bezerra, pois o Espiritismo é a religião universal do amor e da sabedoria que palpita no coração de cada criatura, o encontro marcado com as lições do Cristo de Deus, como nos diz Emmanuel.
Apliquemo-nos para desmistificar aqueles que acreditam que o Espiritismo deva ser apenas uma ciência, ou uma filosofia, pois o Espiritismo é, acima de tudo, uma como síntese da moral divina, da moral ensinada pelo Cristo, pois não podemos esquecer que Jesus foi o médium de Deus na Terra, não incorporando o Ser Supremo do universo, mas traduzindo para nós as Leis Divinas, que expressam o pensamento do Criador a manifestar-se na vida, ao longo da eternidade.
Não nos esqueçamos, por fim, de que Dr. Adolfo Bezerra de Menezes viveu a filosofia, e também a ciência, mas não se esqueceu de praticar a caridade, pois de que nos vale uma cabeça cheia de sonhos quando nos demoramos com as mãos desocupadas? Quando faltamos com a caridade, demonstramos que somos ainda imaturos no campo do sentimento e do amor.  

Página colhida na Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano9/438/especial.html

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário - 1ª parte

Especial Inglês Espanhol
Ano 9 - N° 437 -25 de Outubro de 2015
JOSÉ SOLA GOMES
josesolagomes@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

José Sola Gomes

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário
Ele viveu a filosofia e também a ciência, mas não se
esqueceu de praticar a caridade
Parte 1
 
Sinto-me prestigiado por uma oportunidade maravilhosa, entretanto, imerecida, pois terei que tecer alguns comentários a respeito de um missionário divino, pois o Espírito de Adolfo Bezerra de Menezes foi um missionário, conforme no-lo narra Humberto de Campos, em o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Nessa obra, Humberto de Campos, através das mãos de nosso inesquecível médium Francisco Cândido Xavier, nos informa que em uma reunião espiritual presidida pelo Anjo Ismael, este, após haver transmitido a todos sua palavra de paz e de amor encarecendo a importância de trabalharmos pela implantação do Evangelho de Jesus no país do Cruzeiro, lembrou que o Mestre dos Mestres houvera cumprido sua promessa quando nos afirmou que enviaria o Consolador, para permanecer eternamente conosco.
E, dirigindo-se a um dos discípulos de Jesus, que fazia parte da plêiade de Espíritos empenhados junto a Ismael no divino desejo de solidificar o Consolador prometido, que é o Espiritismo, incumbiu-o de reencarnar com a missão de unificar o movimento espírita no Brasil, pois as reuniões espíritas em seus primórdios não tinham ainda um roteiro de desenvolvimento, cada centro espírita tinha o seu método e cada um deles se julgava o portador da verdade, o que criava entre os espíritas a desunião e a adversidade.
Alguns de nós, espíritas, ainda servimos à causa, como um cumprimento do dever, uma necessidade de evoluir, tanto é assim que ainda sentimos a necessidade de tirar férias na realização do trabalho que desempenhamos na instituição espírita, alegando que estamos cansados, embora o trabalho que realizamos na casa espírita não nos deva cansar, visto que não é estressante, ou pelo menos não deveria ser. No meu entender, deveria ser algo que realizamos com prazer, não como uma obrigação.
Narra-nos Humberto de Campos que os olhos do discípulo, após haver sido incumbido da importante missão, derramaram lágrimas de gratidão a Deus e a Jesus, pela oportunidade bendita, que lhe foi outorgada por Ismael, de estar cooperando com a unificação do movimento espírita, o que deixa evidente que não entendeu o chamamento como uma imposição, mas como uma bênção, que é poder realizar algo a favor dos necessitados do espírito e da matéria, como veremos mais adiante. 
Em agosto de 1831 nascia Bezerra de Menezes 
Atento à lei de amor universal, esse discípulo de Ismael reencarnou no dia 29 de agosto de 1831, na pequenina Riacho do Sangue, no estado do Ceará, filho de Antônio Bezerra de Menezes, capitão das antigas milícias e então tenente-coronel da Guarda Nacional, e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra.
Antônio Bezerra era importante fazendeiro local que “nunca mediu sacrifícios, na hora de socorrer aqueles que lhe estendiam a mão”. Tanta generosidade acabou por levar sua fortuna material e, em determinado momento, a grandes dívidas, que atingiram níveis insuportáveis. 

Antônio foi então procurar cada um de seus credores, decidido a entregar seus bens para saldar as dívidas. Os credores, contudo, reuniram-se e decidiram que o coronel Bezerra continuaria com seus bens. Assinaram um documento que afirmava com força legal que o velho Bezerra poderia ficar com eles e “que gozasse deles e pagasse como e quando quisesse, que eles, credores, se sujeitariam aos prejuízos que pudessem ter”. O velho Bezerra, contudo, não aceitou tal decisão. Depois de muita discussão, resolveu que daquela data em diante seria simplesmente um administrador dos bens para seus credores. Passou a retirar apenas o extremamente necessário para o sustento da família e muita vez passou privações.
A essa altura, o menino Adolfo, último filho do casal, já estava terminando o então chamado curso preparatório. Os dois filhos mais velhos tinham-se formado em Direito e o terceiro ainda cursava o segundo ano na Faculdade de Direito de Olinda, Pernambuco. 

O pequeno Adolfo Bezerra de Menezes tinha sete anos de idade quando foi levado pela mãe para ser matriculado na escola pública da Vila do Frade. Em dez meses o menino aprendeu a ler, escrever e fazer contas simples. Quatro anos depois, quando o pai estava sendo alvo de perseguição política, a família mudou-se para o Rio Grande do Norte. O pequeno Adolfo “foi matriculado na aula pública de latinidade, que funcionava na Serra dos Martins e era dirigida por padres jesuítas” em Maioridade, hoje cidade de Imperatriz. Após dois anos, o rapaz tornou-se tão bom na matéria que chegou a substituir o professor. 

Aos 25 anos doutorou-se pela Faculdade de Medicina

Em 1846, o velho Bezerra voltou para a capital do Ceará, onde o pequeno Adolfo foi matriculado no Liceu, que era dirigido pelo seu irmão mais velho. Terminando seus estudos, mostrou a vontade de ser médico, e não advogado como os irmãos. Como não havia faculdade de medicina no Nordeste do país, o pai foi obrigado a mandá-lo para a então sede da Corte, a cidade do Rio de Janeiro. Contou-lhe então tudo que havia acontecido com os bens da família, explicando a pobreza por que passavam. Os parentes cotizaram-se e levantaram quatrocentos mil réis para pagar a viagem até o Rio. Foi assim que Adolfo Bezerra de Menezes pôde pegar o navio e chegar à então sede do Império.

O jovem Adolfo instalou-se em uma pensão, e foi com muita dificuldade que conseguiu alcançar o seu intento, porque sofreu muitas dificuldades para pagar seu alojamento e teve de prestar alguns serviços para conseguir manter o aluguel em dia. Entretanto manteve-se firme em seu propósito, continuou os estudos e conseguiu atingir seu propósito, realizando seu sonho de ser médico.
Aos vinte e dois anos, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Aos 25, no ano de 1856, doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes.

Como não tinha dinheiro para montar um consultório, entrou em acordo com um colega de faculdade que possuía mais recursos e passou a dividir uma sala no centro comercial da cidade. Durante os meses em que o consultório ficou aberto, quase não houve pacientes. Mas a casa onde morava o médico Bezerra ficava repleta de doentes. Começou a atender os componentes da família e depois os amigos. Sua fama correu pelo bairro e, com isso, os clientes apareceram; mas ninguém pagava, pois eram todos gente pobre e o dinheiro nunca foi mencionado. 

Foi então que um amigo e médico militar, Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, chefe do corpo de saúde do Exército, resolveu contratá-lo como médico militar. Dr. Feliciano era chefe da clínica cirúrgica do Hospital da Misericórdia, hospital esse onde Dr. Bezerra tinha sido praticante e interno em 1852, quando ainda cursava o segundo ano de faculdade.

Como Dr. Bezerra via a função de um médico

Em 1856, o governo imperial fez a reforma do Corpo de Saúde do Exército e nomeou o Dr. Feliciano como cirurgião-mor. Ele, então, chamou Bezerra para ser seu assistente e foi assim que, com um emprego remunerado estável, começou o caminho do médico dos pobres. 

Adolfo Bezerra de Menezes continuava atendendo gratuitamente aqueles que não podiam pagar. Sua fama continuava a se espalhar e o consultório do centro da cidade começou a ficar movimentado e frequentado por clientes que pagavam. O dinheiro que recebia no consultório era gasto com seus pobres em remédios, roupas e também, muitas vezes,  auxílio em dinheiro. 

O médico dos pobres tinha a função de médico no mais elevado conceito. Dizia ele:

"Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida”.

Com a vida mais organizada, resolveu casar-se. Ele encontrara seu amor na pessoa de D. Maria Cândida Lacerda e casaram-se em 6 de novembro de 1858. Nessa época, Dr. Bezerra tinha uma posição social estável: além de médico, era jornalista e escrevia para os principais jornais da cidade; e no meio militar era muito respeitado.

Não demorou muito até que lhe oferecessem um lugar na chapa de um partido para as eleições do Poder Legislativo. 

Por que Dr. Bezerra renunciou à carreira militar

D. Maria, sua esposa, foi uma das maiores incentivadoras da candidatura de Bezerra de Menezes. Os habitantes de São Cristóvão, bairro onde morava e clinicava, também queriam tê-lo como representante na Câmara Municipal. Foi então assim que em 1860 Dr. Bezerra se elegeu por um grupo de São Cristóvão. Surgiu na ocasião uma tentativa de impugnar seu diploma sob o pretexto de que um militar não podia ser eleito. Bezerra teve então de escolher entre a carreira militar e a política. Seguindo os conselhos da esposa, renunciou à patente militar e abraçou a vida política de vez. 

O destino, porém, reservava-lhe uma difícil provação para o ano de 1863. Depois de uma doença rápida e repentina, sua esposa desencarnou em menos de vinte dias, deixando o marido com dois filhos: um com três anos e outro com um ano de idade.

O golpe da viuvez inesperada moveu os sentimentos religiosos que a dor sempre traz à tona. Em busca de consolação, Dr. Bezerra passou a ler a Bíblia com frequência. Verificava a expansão vertical que a dor oferece às almas dos que sofrem, ligando-os a Deus.

Nessa época, o Espiritismo estava se expandindo no mundo. Em 1869 desencarnara Allan Kardec em Paris, deixando consolidada para a humanidade a codificação espírita. As ideias de Kardec eram revolucionárias e atraíam a atenção dos investigadores e cientistas em todos os recantos do mundo. Desencarnado o Codificador, restava a obra, a arregimentar novos espíritas. 

No Brasil, principalmente na Capital, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, as influências europeias eram muito grandes. A homeopatia popularizava-se aos poucos, principalmente nos meios espíritas, e teve como um dos seus primeiros experimentadores o baluarte da República José Bonifácio de Andrada e Silva, que se correspondia com Hahnemann, o criador da Homeopatia. Como médico, as discussões sobre a terapêutica homeopática também interessaram ao Dr. Bezerra de Menezes e notícias de curas creditadas a essa terapêutica chegaram a seus ouvidos. 

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos Espíritos".

Como Dr. Bezerra conheceu a doutrina espírita

Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres:

"Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no ‘O Livro dos Espíritos’. Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".

O Espiritismo difundia-se, ajudado em muito pelas práticas dos médicos homeopatas e espíritas, que passaram a prestar a caridade também através de sua mediunidade. Um desses médicos era João Gonçalves do Nascimento e muitos colegas de Bezerra de Menezes falavam das curas realizadas através desse médium. E tanto falaram que um dia Bezerra resolveu pedir-lhe uma receita enviando um pedaço de papel que dizia apenas: “Adolfo, tantos anos, residente na Tijuca”. Não demorou e ele recebeu uma resposta com o diagnóstico correto de seu problema de estômago. 

Dr. Bezerra f
icou tão impressionado com a exatidão de seu diagnóstico, que resolveu pedir receitas também para pessoas que apresentavam problemas psíquicos – a loucura foi uma das áreas que Dr. Bezerra mais estudou.

Acompanhou o desenvolvimento do tratamento em seus pacientes e, depois de simplesmente assistir aos trabalhos desobsessivos, resolveu participar ativamente desse tipo de tratamento. Na visão da Doutrina Espírita, os portadores de doenças psíquicas são pessoas que podem apresentar problemas mentais devido às causas biológicas detectáveis pela ciência humana e também devido à influência de Espíritos desencarnados, também doentes. 
(Este artigo será concluído na próxima edição desta revista.)

Página colhida da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano9/437/especial.html

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

MANSOS DE CORAÇÃO

MANSOS DE CORAÇÃO

Quando Jesus proclamou a felicidade nos mansos de coração, não se propunha, de certo, exaltar a ociosidade, a hesitação e a fraqueza.

Muita gente, a pretexto de merecer o elogio evangélico, foge aos mais altos deveres da vida e abandona-se à preguiça e à fé inoperante, acreditando cultivar a humildade.

O Mestre desejava destacar as almas equilibradas, os homens compreensivos e as criaturas de boa vontade que, alcançando o valor do tempo, sabem plantar o bem e esperar-lhe a colheita, sem desespero e sem violência.

A cortesia é o primeiro passo da caridade.

A gentileza é o princípio do amor.

Ninguém precisa, pois, aguardar o futuro, a fim de possuir a Terra. É possível orientá-la hoje mesmo, detendo-lhe os favores e talentos, entre os nossos semelhantes, cultuando a bondade fraternal.

As melhores oportunidades de cada dia no mundo pertencem àqueles que melhores se fazem para quantos lhes rodeiam os passos. E ninguém se faz melhor, arremessando pedras de irritação ou espinhos de amargura na senda dos companheiros.

A sabedoria é calma e operosa, humilde e confiante.

O espírito de quem ara a Terra com Jesus compreende que o pântano pede socorro, que a planta frágil espera defesa, que o mato inculto reclama cuidado e que os detritos do temporal podem ser convertidos em valioso adubo, no silêncio do chão.

Se pretendes, pois, a subida evangélica, aprende a auxiliar sem distinção.

A pretexto de venerar a verdade, não aniquiles as promessas do amor. Abraça o teu roteiro, com a alegria de quem trabalha por fidelidade ao Sumo Bem, estendendo a graça da esperança, a benefício de todos, e, um dia, todos os que te cercam e te acompanham entoarão o cântico de bem-aventurança que o teu coração escreveu e compôs nos teus atos, aparentemente pequeninos de fraternidade e sacrifício, em favor dos outros, em tua jornada de ascensão à Divina Luz.


Mensagem extraída da obra O Evangelho por Emmanuel, psicografia, de Francisco Cândido Xavier, página 60, também consta da Obra: Escrínio de Luz, editada pelo O Clarim.