sexta-feira, 27 de abril de 2012

Valor da Meditação



Ao principiante, desabituado, parede difícil a saudável tarefa da meditação.

Certamente que todo labor em começo, passado o entusiasmo inicial, se apresenta de complexo prosseguimento.

Acostumado à variedade de pensamentos, especialmente os vulgares, que se alternam com celeridade substituindo-se de modo contínuo, é perfeitamente natural que a fixação de uma ideia edificante se apresente como verdadeiro desafio.

Indispensável, para o êxito do tentame, a motivação, cuja carga emocional canaliza com segurança o interesse do candidato.

O profano que tem as suas atrações nas questões mortas para o espírito, mais estimulado pelas sensações do que pelas emoções, após algumas tentativas infrutíferas, desiste da meditação, decepcionado.

Crê ser impossível de conseguir.

No inconsciente está a evadir-se da experiência nova, saudoso dos hábitos fortes a que se acostumara.

Bastaria, no entanto, que porfiasse no treinamento e os resultados o surpreenderiam agradavelmente.

***
Nunca, em qualquer outro tempo, o homem experimentou tanta necessidade de meditação quanto ocorre em nossos dias.

A luta pela sobrevivência, mais exaustiva e violenta, requer caracteres calmos e disciplinados, a fim de não sucumbir ante os fatores que comprimem a vontade ou a levam a explosões temperamentais danosas.
A meditação dulcifica a aspereza da luta, harmonizando o intelecto com o sentimento e acalmando o homem.

Não será, porém, por efeito de uma ou outra experiência mágica, de cujos resultados imediatos se beneficiará o indivíduo, antes, através de expressivo esforço.

A disciplina, a frequência do exercício, o conteúdo de que se reveste a temática, são essenciais ao êxito do empreendimento.

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Toma de uma página do Evangelho de Jesus, lê pausadamente, digerindo-lhe o significado, e concentra-te nela, fixando-a.

Retira todo o superior contingente de informações e reflexiona em cada mensagem que se te revele.

Insiste em evocar-lhe a forma, o sentido e como te poderá ser útil.

Analisa-a, sem pressa, após o que, medita em torno do seu conjunto, por fim, no espírito que te apresenta.

Habitua-te a este pequeno mister e estarás iniciando a meditação que te levará à paz de consciência e à alegria de viver.

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Meditando com regularidade, age com inteireza moral, sem afronta ao programa interior, assim evitando conflitos e confrontos entre o que constróis na área psíquica com aquilo que realizas no campo físico.

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Mesmo que disponhas de pouco tempo, utiliza-o para a meditação, descobrindo, logo depois, que, assim agindo, o tens dilatado, benéfico.

A meditação abrir-te-á as portas para a perfeita união com Deus que a oração te facultará.

Joanna de Ângelis, psicografia
Divaldo Pereira Franco, opúsculo
Momentos de Esperança, capítulo 1.

sábado, 21 de abril de 2012

Tempos auspiciosos

O homem vive dois tempos ao mesmo tempo no transcurso pelo mundo objetivo.  Ao mesmo tempo em que vive a vida orgânica, realizando objetivamente, vivencia a vida espiritual em todos os minutos, sem que tenha percebido, cumulando valores, que serão base para a continuidade evolutiva da alma.  Não existe exceção, todos os indivíduos vivem os dois planos ao mesmo tempo.

Existem os que estão na criminalidade, outros nos caminhos da educação, outros no atendimento social, outros cuidando da saúde pública, assim há diversidade em todos os segmentos da organização humana.  Cada indivíduo, conquanto o tempo cronológico seja igual para todos, vive tempo exclusivamente seu. Não se considera nesta condição somente o nível intelectual e cultural, mas o estágio moral, conquistado pelo pelos esforços de superação das dificuldades particulares, acrescido da caridade real.


O potencial para a espiritualização do ser é existente em todos indistintamente, embora embotado para a percepção do portador, mas muito fronteiriço ao estado de consciência, é força que não se apresenta porque o foco da atenção está direcionado para atender aos interesses mais imediatos, geralmente calcados na vaidade e no orgulho exacerbados.

O indivíduo quer se colocar exteriormente em vantagens, estar em evidência para percepção de outrem, quer ser reconhecido pelos seus feitos materiais – apesar de que nesse estágio também proporciona progresso, muito embora esse não seja permanente e se extingue com suas finalidades.


Isto ocorre, dessa maneira, em vista persistir no direcionamento para os interesses objetivos; no entanto, diante de fato irremediável, como a ausência da saúde, ou a morte de ente querido, ou derrocada econômica; mesmo que se demore na revolta, contra tudo e todos, não deixará de verticalizar o seu interesse, buscando arregimentar recursos que não são materiais, pois que a necessidade que agora é emocional, é interior, não tem visibilidade e sim a busca de calmante para dores da alma, que não se amenizam com os meios e conquistas materiais.


Por isso, vive-se tempos auspiciosos quanto ao despertamento espiritual, mesmo considerado, aos olhos da maioria, momentos trágicos, diante de tantos conflitos, entre pessoas e consigo mesmo, entre grupos pelos seus interesses imediatos, ou de povos...; as dores e as consequências penosas nesses embates, mesmo que demorados, desaguarão na busca da espiritualização; que é uma fatalidade, pela origem, que todos têm que é a origem Divina.  Compreendam-se isto ou não, a meta do Espírito é  retornar ao Criador, de onde saiu simples e ignorante, pleno de conhecimento e entendimento, conquista das vivências nos tempos de cada indivíduo.  É com essa visão que se encontram os vários estágios evolutivos no mesmo grupamento social, com realizações das mais diversas, e estágios inúmeros de condições materiais, intelectuais e morais.


Há as convulsões sociais das mais variadas modalidades, enumeram-se as mortes por motivos banais, por vinganças, motivos passionais, autodestruição para destruir..., são os tempos, individuais ou coletivos, sofrem-se as consequências, expiam-se com as sequelas morais e provam-se em novas possibilidades se as lições tiradas dessas vivências estão consolidadas e se podem ir mais adiante, nas questões evolutivas. São os tempos de cada um e coletivos com suas derrotas e vitórias. 


Quanto mais se busca a espiritualização voluntariamente mais se distância das dificuldades inerentes à materialidade, apesar de se carregar ainda um mescla claro-escuro nesse tempo de transitoriedade, sendo que a vivência da essência espiritual bem compreendida leva à amenização do que está escuro com a ampliação do que é claro, que nada mais é que a prática do bem que aprimora o ser – como: “a caridade cobre uma multidão de pecados” (1) – é a iluminação espiritual daquele que luta para se burilar, tornando-se melhor, capaz de arregimentar recursos espirituais para alçar-se à faixa vibratória mais depurada, onde impera a felicidade real, àquela mesma citada por Jesus Cristo (2), que não é a deste Mundo.


Os tempos atuais são auspiciosos, cada um sofre o seu cadinho, mesmo parecendo um verdadeiro caos, nada mais é que processo de oportunidade aos Espíritos em desenvolvimento de suas potencialidades, exercendo o livre-arbítrio, construindo novos caminhos e desconstruindo outros que as experiências mostraram não serem os melhores, porque trouxeram dores e infelicidades, mas mostraram que existem outras possibilidades com resultados novos e melhores.
                                                                                              
                                                                                      Dorival da silva

(1)   I Pedro, 4-8) – (também traduzida por: “o amor cobre uma multidão de pecados).
(2)   – João, 14-27. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Maior Desafio


Sem dúvida, não há maior desafio para o homem, na Terra, que o de sua própria renovação.

Não é fácil a vivência evangélica no cotidiano. Muito difícil deixar de ser o homem velho; difícil, porquanto o homem velho simboliza hábitos cultivados ao  longo de muitos séculos; difícil, porque o homem velho representa o peso do pretérito sobre o presente...

No entanto é indispensável que o sincero adepto do Evangelho nas bênçãos da Doutrina Espírita persevere no seu esforço de transformação moral.  A Vitória de cada dia representa muito para a vitória definitiva que procuramos ao longo do tempo.

A abnegação de cada instante, o devotamento de cada minuto começa a modificar o homem em sua intimidade nas dimensões mais profundas do ser. Os que cruzam os braços permanecerão indefinidamente estacionados... É imperioso que o homem trabalhe, a cada dia, conquistando espaços dentro de si mesmo, acendendo luzes no escuro da própria personalidade, abrindo clareiras na floresta quase indevassável de  suas imperfeições e mazelas.

O testemunho diário é extremamente penoso; reconhecemos que perdoar é tarefa para aqueles que já conseguem ser maiores do que são; renúncia é empreendimento de titãs do espírito; servir é decisão dos que lograram despertar para as realidades transcendentes da Vida!...

É importante que o homem saia do lugar comum; é preciso que fuja ao círculo vicioso em que se encadeia ao longo das vidas sucessivas; é indispensável que, de maneira consciente, o homem se decida, se emprenhe na sua própria edificação espiritual, se liberte do mundo e das circunstâncias que o escravizam ao imediatismo, fuja às sugestões do interesse material, quebre as algemas do egoísmo que o encarceram na busca insaciável do que lhe é de interesse exclusivo...

Sem que o homem inicie esse movimento de autolibertação, a partir de suas próprias entranhas, ele permanecerá vassalo dos próprios sentidos, algoz dos próprios anseios de ordem inferior a  se lhe transfigurarem em pesadelos constantes...

Que o homem pare de correr, afrouxe o pé no acelerador do carro da ambição desmedida e introjete-se, palmo a palmo, conhecendo-se melhor, sempre inspirado nas indeléveis palavras do Cristo: “Brilhe a vossa luz; sede perfeitos como perfeito é vosso Pai celestial; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”...

Difícil a vitória sobre si mesmo, penosa é a luta, árdua é a subida, repleta de espinhos a caminhada; no entanto, a partir do momento em que o  homem tomar consciência de que é o arquiteto de sua própria felicidade, o construtor do destino, experimentará n’alma a alegria indelével dos grandes mártires e luminares que tomavam sobre os ombros a cruz e partiram determinados, monte acima!...

Irmão José
Extraído do livro: Mediunidade, Corpo e Alma.
Médium: Carlos A. Baccelli

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Você Gostaria de ser abortado?

Você Gostaria de ser abortado?

Estão em análise no Congresso Nacional modificações na Lei que descriminaliza legalmente o aborto, ampliando-se a sua autorização para diversas circunstâncias, com as justificativas possíveis somente em base materialista. Onde está o respeito à vida? O Brasil não é o maior país cristão do Planeta? Se cristão, deverá seguir as pegadas do Mestre; e Ele norteia: “Amar ao próximo como a si mesmo; fazer aos outros como quereria que nos fizessem”. O Congresso Nacional não representa os habitantes do País? Então não deveria destoar do sentimento predominante de respeito à vida.

A justificativa em primeira pauta, pelo que se denota na imprensa, é a de saúde pública, porque a mulher pobre que não pode recorrer a hospitais regulares buscam as clínicas clandestinas ou parteiras improvisadas para se livrar  da gravidez indesejada.  Fato que não se justifica, apenas mostra a falta de compromisso com a realidade, é o caminho de menor esforço para solução de problema grave.  Invés de corroborar com o crime daqueles que por irresponsabilidade ou ignorância -- dizemos daqueles, porque a mulher não gera gravidez sem a participação do homem --, assim todos que participam ou colaboram são criminosos diante da Lei Natural, independentemente de autorizações judiciais. Por que não gastem suas energias para desenvolver programas aplicáveis de forma a intensificar a educação para que não haja mais gravidez indesejada? 

Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, questiona os Espíritos de Escol, como registrado em O Livro dos Espíritos: “No caso em que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?”.  “É preferível sacrificar o ser que ainda não existe a sacrificar o que já existe.” (1)  Essa é a única possibilidade. Assim mesmo a intensidade do ato se medirá, na consciência dos envolvidos, de acordo com o que resultou o risco.  Foi inconsequência, vício, invigilância e outras irresponsabilidades, ou a ocorrência se deu inteiramente alheia a vontade das partes, que tudo fizeram para que chegasse a bom termo. O peso não é pelo que aparenta ou se faz aparentar, mas pela verdade existente na intimidade da consciência. Aí que a Lei imutável de Deus está presente e faz justiça.

Lembrando que todos somos Espíritos, que já reencarnamos inumeráveis vezes, que novamente retornaremos no futuro. Será que também não poderemos sofrer o aborto?  Colhemos o que plantamos, é da Lei Divina -- “a cada um segundo as suas obras”.  O Espiritismo demonstra a lei das afinidades, a lei do retorno, da causa e efeito. Será que é preciso sofrer para aprender, sendo que todas as forças da vida estão dizendo o que é certo e o que é errado?

Os Congressistas existem para trabalhar pela melhoria do povo, proporcionar a elevação da consciência da massa, tendo como norteadoras as normas Divinas, que estão exaradas desde Moisés, no Decálogo. Com Jesus, que demonstrou a aplicação do amor, para enriquecimento da vida. Atualmente as religiões sérias que respeitam e buscam levar os adeptos a que respeitem a vida.

No livro citado, encontramos a indagação: “O aborto provocado é um crime, seja qual for a época da concepção?  -- Há crime toda vez que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou qualquer outra pessoa, cometerá crime sempre que tirar a vida de uma criança antes do nascimento, pois está impedindo uma alma de suportar as provas de que serviria de instrumento o corpo que estava se formando.”(2).  Nenhuma peripécia política, conveniências quaisquer, tirará o caráter criminoso do aborto, ressalvada apenas a condição de se salvar a mãe, que corre risco em virtude da gravidez.

Todas as demais situações, muito embora dolorosas e emocionalmente difíceis não são legítimas para resguardar a tranquilidade da alma, porque a dívida não fica quitada e ainda amplia o peso da consciência.  Isto considerando que diante da Lei Natural não existe injustiça, mesmo que alegue que o feto apresenta anomalia, foi estupro...    Estamos envolvidos no processo evolucionista de causa e efeito. É a justiça perfeita, queiramos ou não!  Ela acontece em qualquer tempo, encontra o infrator inequivocamente, exigindo o ajuste necessário. Trata-se da harmonização da consciência através da expiação e do resgate, sofrendo as penalidades que a vida proporciona, vivenciando as consequências, resultantes de nossos feitos passados.

Com tudo que temos sobre a preservação da vida, como as das florestas, da vida marinha...; como fazer lei com a finalidade de negar a vida ao nascituro indefeso?  Isso se daria sem consequência? Passaria sem a resposta devida da Natureza? É isso que leva a sermos sempre vítimas de nós mesmos. 

Assim é em qualquer época, porque a Lei Divina aguarda que a criatura amadureça e se sinta encorajada a ressarcir a própria consciência daquilo que, mesmo legalmente, serviu de mote para o crime, sabendo que não devia cometê-lo. Somos seres imortais, quer dizer que trocamos de corpo, mas na essência, em todos os corpos que viermos a habitar somos nós mesmos com todo o cabedal acumulado nos milênios transcorridos.

A paz futura é resultado do que estamos construindo agora e da educação que estamos realizando presentemente, porque educamos o que temos adquirido anteriormente, em vidas passadas, não poderemos educar o que ainda não existe em nós, estamos vivendo uma sucessão de acumulados educáveis dependendo dos esforços de cada um e das ferramentas colaborativas apresentadas pela sociedade organizada, através de seus organismos.  Sofremos as influências ambientais, onde vivemos, por isso existem as dificuldades coletivas, temos as mazelas particulares e as sociais.

A existência de lei que autoriza o aborto é comprometimento social, é coletivo, pois o poder legislador “emana do povo”, mas a decisão de utilizar da liberalização legal é problema pessoal, todos estão comprometidos e responderão adequadamente no momento próprio, porque a Lei Natural é justa.

1.     O Livro dos Espíritos, questão 359, Allan Kardec, tradução: Evandro Noleto Bezerra, FEB.
2.     Idem, questão 358.

                                                                                                         Dorival da Silva

sábado, 7 de abril de 2012

VIDA VIRTUAL


Todos estão apressados, tudo acontece num átimo. As decisões são repentinas, avançar, cancelar, transmitir, informar e ser informado, tudo à velocidade do relâmpago. Ótimo! É a modernidade, a inteligência avançada do homem. São as satisfações e as frustrações instantâneas. Produz-se mais, com mais facilidade, com menos tempo. O quê se faz com o tempo excedente pelas facilidades? Será que vem sendo utilizado com utilidade? Pelo que se denota em grande parte é utilizado com bagatelas, que se não existisse não alteraria a vida. A tecnologia é recurso por demais importante e fluiu dos Planos Maiores da Vida para ajudar o homem imprimir mais condições evolutivas tanto no mecanismo de suas atribuições materiais, como e, principalmente, realçar suas condições evolutivas espirituais.

Somente a ampliação do modus tecnológico não proporciona a felicidade do Ser, embora a habilidade seja exercício do Espírito. O que proporciona a melhoria da condição espiritual e leva o Ser à felicidade são as suas iniciativas de aprimoramento do fator moral. Lucidez é exercício de atitudes nobres. A percepção dos atributos positivos e negativos, os primeiros para que sejam cultivados, os segundos para serem corrigidos com a tolerância e os esforços para o entendimento daqueles que nos cercam com as imensas pendências morais.

Diante de tantas sinalizações proporcionadas pelos responsáveis pela condução evolutiva da população espiritual do Planeta, é irresponsabilidade do homem desleixar-se na condução de sua espiritualização. Independentemente de credo religioso, a realidade espiritual está evidenciada nos mais diversos segmentos sociais, observa-se nas ciências ordinárias, nas artes, na filosofia. O que se espera é que reflexione sobre as evidências. O homem já tem a inteligência bem desenvolvida e grau cultural considerável, preciso é exercitar a humildade.

Será que todas as facilidades permitidas nas últimas décadas para diminuir os esforços físicos dos homens são sem objetivos? Será que seria somente para folgar os Seres, sem nenhuma outra necessidade? O que existe sem nenhuma finalidade na Natureza? Àquele que cria em favor da criatura permitiria ao homem a ociosidade, estimulo à futilidade? Jamais! Não é condizente com a Sua perfeição absoluta, não é para isso que permitiu a inteligência e consciência a Sua criatura.

Os atributos do ser humano são para seu crescimento constante e infinito, regido pela lei irrevogável e justa do mérito. A ausência de crescimento por desleixo, imprevidência, irreflexão, apesar de todas as indicações Divinas, resta o sofrimento próprio correspondente à infração.

Os mecanismos de distração utilizados em escala relevante, pela sociedade nos dias que se correm, são a má utilização do tempo disponibilizado. O sensualismo, a drogadição, o uso estapafúrdio do físico humano são os desforços para a insensatez. A deterioração da sociedade, a corrupção de toda ordem, as intemperanças, os mais variados tipos de crimes; os resultados disso são os rios de lágrimas, os arrastamentos pelo tempo das misérias a ser resgatado até a limpeza da consciência individual e coletiva.

O planeta Terra é como uma ilha no oceano Universal, os homens são como os náufragos que precisam se salvar. O tempo urge e o barco salvador é o estado de consciência, que exige o dever cumprido. Seja a tecnologia o recurso que proporciona e amplia a oportunidade para a melhoria inadiável do homem. Caso não seja possível, para os inadvertidos sobrará “o choro e o ranger de dentes, nas sombras exteriores...” O tempo tem seu ritmo, os ciclos são contados, lágrimas ou felicidades são por conta de cada um.

A mensagem de Jesus, ampliada por sua promessa, através da Doutrina Espírita, é para todos indistintamente. A sinalização se faz vista em toda parte, a apreensão é para os que se tornam humildes, capazes de renunciar àquilo que não serve para o engrandecimento do Ser espiritual.

Dorival da Silva

terça-feira, 3 de abril de 2012

O QUE ENSINA O ESPIRITISMO


Há criaturas que perguntam quais são as conquistas novas que devemos ao Espiritismo. Em razão de não haver dotado o mundo com uma nova indústria produtiva, como o vapor, concluem que nada produziu. A maior parte dos que fazem tal pergunta, por não se terem dado ao trabalho de o estudar, só conhecem o Espiritismo de fantasia, criado para as necessidades da crítica, e que nada tem de comum com o Espiritismo sério. Não é, pois, de admirar que perguntem qual pode ser o seu lado útil e prático. Tê-lo-iam descoberto se o tivessem ido buscar em sua fonte, e não nas caricaturas que dele fizeram os que têm interesse em denegri-lo.

Numa outra ordem de ideias, ao contrário, alguns impacientes acham a marcha do Espiritismo muito lenta para o seu gosto. Admiram-se de que ainda não tenha sondado todos os mistérios da Natureza, nem abordado todas as questões que parecem ser de sua alçada; gostariam de vê-lo diariamente ensinar coisas novas, ou enriquecer-se com alguma descoberta recente. E, porque ainda não resolveu a questão da origem dos seres, do princípio e do fim de todas as coisas, de essência divina e de algumas outras da mesma importância, concluem que não saiu do á-bê-cê, que não entrou na verdadeira via filosófica e que se arrasta em lugares-comuns, já que prega incessantemente a humildade e a caridade. “Até hoje, dizem, o Espiritismo nada nos ensinou de novo, porque a reencarnação, a negação das penas eternas, a imortalidade da alma, a gradação através de períodos da vitalidade intelectual, o perispírito não são descobertas espíritas propriamente ditas; então é preciso marchar para descobertas mais verdadeiras e mais sólidas.”

A propósito, julgamos por bem apresentar algumas observações, que também não serão novidades, pois há coisas que é útil repetir sob diversas formas.

É verdade que o Espiritismo nada inventou de tudo isto, porque somente as verdades verdadeiras são eternas e, por isto mesmo, devem ter germinado em todas as épocas. Mas não é alguma coisa havê-las tirado, se não do nada, ao menos do esquecimento? de um germe ter feito uma planta vivaz? de uma ideia individual, perdida na noite dos tempos, ou abafada sob os preconceitos, ter feito uma crença geral? ter provado o que estava no campo das hipóteses? ter demonstrado a existência de uma lei naquilo que parecia excepcional e fortuito? de uma teoria vaga ter feito uma coisa prática? de uma ideia improdutiva ter tirado aplicações úteis? Nada é mais verdadeiro que o provérbio: “Nada existe de novo debaixo do sol.” E até esta verdade não é nova. Assim, não há uma só descoberta cujos vestígios e o princípio não se encontrem nalguma parte. À vista disso, Copérnico não teria o mérito de seu sistema, porque o movimento da Terra tinha sido suspeitado antes da era cristã. Se a coisa era tão simples, dever-se-ia encontrá-la. A história do ovo de Cristóvão Colombo será sempre uma eterna verdade.

Além disso, é incontestável que o Espiritismo ainda tem muito a nos ensinar. É o que não temos cessado de repetir, pois jamais pretendemos que ele tenha dito a última palavra. Mas do que ainda resta a fazer, segue-se que não tenha ainda saído do á-bê-cê? As mesas girantes foram o seu alfabeto; e, depois, ao que nos parece, tem dado alguns passos; parece mesmo que deu passos bem grandes em alguns anos, se o compararmos às outras ciências, que levaram séculos para chegar ao ponto em que estão. Nenhuma chegou ao apogeu de um salto só; elas avançam, não pela vontade dos homens, mas à medida que as circunstâncias apontam novas descobertas. Ora, ninguém tem o poder de comandar essas circunstâncias, e a prova disto é que, todas as vezes que uma ideia é prematura, aborta, para reaparecer mais tarde, em tempo oportuno.

Mas em falta de novas descobertas, os homens de ciência nada terão a fazer? A química não será mais a química se diariamente não descobrir novos corpos? Os astrônomos serão condenados a cruzar os braços por não encontrarem novos planetas? E assim em todos os outros ramos das ciências e da aplicação daquilo que se sabe? É precisamente para dar aos homens tempo de assimilar, de aplicar e de vulgarizar o que sabem, que a Providência põe um freio na marcha para frente. Aí está a História ascendente contínua, ao menos ostensivamente. Os grandes movimentos que revolucionam uma ideia não se operam senão em intervalos mais ou menos distanciados. Assim, não há estagnação, mas elaboração, aplicação e frutificação daquilo que se sabe, o que é sempre progresso. Poderia o Espírito humano absorver incessantemente novas ideias? A própria terra não precisa de um tempo de repouso antes de reproduzir? Que diriam de um professor que diariamente ensinasse novas regras aos seus alunos, sem lhes dar tempo para se exercitarem nas que aprenderam, de com elas se identificarem e de as aplicarem? Então Deus seria menos previdente e menos hábil que um professor? Em todas as coisas as ideias novas devem apoiar-se nas ideias adquiridas; se estas não forem suficientemente elaboradas e consolidadas no cérebro, se o espírito não as assimilou, as que aí se querem implantar não criam raízes: semeia-se no vazio.

Acontece a mesma coisa com o Espiritismo. Os adeptos aproveitaram de tal modo o que ele até hoje ensinou, que nada mais tenham a fazer? São mais caridosos, desprovidos de orgulho, desinteressados e benevolentes para com os seus semelhantes? Terão moderado as paixões, abjurado o ódio, a inveja e o ciúme? Enfim, são tão perfeitos que de agora em diante seja supérfluo pregar-lhes a caridade, a humildade, a abnegação, numa palavra, a moral? Essa pretensão, por si só, provaria quanto ainda necessitam dessas lições elementares, que alguns consideram fastidiosas e pueris. Entretanto, somente com o auxílio dessas instruções, se as aproveitarem, é que poderão elevar-se bastante para se tornarem dignos de receber um ensinamento superior. O Espiritismo contribui para a regeneração da Humanidade: isto é um fato constatado. Ora, não podendo essa regeneração operar-se senão pelo progresso moral, resulta que seu objetivo essencial, providencial, é o melhoramento de cada um; os mistérios que pode nos revelar são a parte acessória, porquanto, ao nos abrir o santuário de todos os conhecimentos só estaremos mais adiantados para o nosso estado futuro se formos melhores. Para nos admitir no banquete da suprema felicidade, Deus não pergunta o que sabemos, nem o que possuímos, mas o que valemos e o bem que fizemos. Portanto, é acima de tudo pelo seu melhoramento individual que todo espírita sincero deve trabalhar. Só aquele que dominou suas más tendências aproveitou realmente o Espiritismo e receberá a sua recompensa. É por isso que os bons Espíritos, por ordem de Deus, multiplicam suas instruções e as repetem até à saciedade; só um orgulho insensato pode dizer: não preciso de mais. Só Deus sabe quando serão inúteis, e só a ele cabe dirigir o ensino de suas mensagens e de proporcionar ao nosso adiantamento. Contudo, vejamos se, fora do ensinamento puramente moral, os resultados do Espiritismo são tão estéreis quanto pretendem alguns.

1º - Antes de mais nada ele dá, como todos sabem, a prova patente da existência e da imortalidade da alma. Não é uma descoberta, é verdade, mas é por falta de provas sobre este ponto que há tantos incrédulos ou indiferentes quanto ao futuro; é provado o que não passava de teoria que ele triunfa sobre o materialismo e previne suas funestas consequências para a sociedade. Tendo mudado em certeza a dúvida quanto ao futuro, o Espiritismo opera toda uma revolução nas ideias, cujos resultados são incalculáveis. Se aí se limitasse exclusivamente o resultado das manifestações, quão imensos seriam esses resultados!

2º - Pela firme crença que desenvolve, exerce poderosa ação sobre o moral do homem; impele-o ao bem, consola-o nas aflições, dá-lhe força e coragem nas provações da vida e lhe desvia do pensamento o suicídio.

3º - Retifica todas as ideias falsas que se tivessem sobre o futuro da alma, sobre o céu, o inferno, as penas e recompensas; destrói radicalmente, pela irresistível lógica dos fatos, os dogmas das penas eternas e dos demônios; numa palavra, descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme à justiça de Deus. É ainda uma coisa que tem muito valor.

4º - Dá a conhecer o que se passa no momento da morte; este fenômeno, até hoje insondável, não mais tem mistérios; as menores particularidades dessa passagem tão temível são hoje conhecidas. Ora, como todos morrem, este conhecimento interessa a todo o mundo.

5º - Pela lei da pluralidade das existências, abre um novo campo à filosofia; o homem sabe de onde vem, para onde vai e com que objetivo está na Terra. Explica a causa de todas as misérias humanas, de todas as desigualdades sociais; dá as próprias leis da Natureza como base dos princípios de solidariedade universal, de fraternidade, de igualdade e de liberdade, que só se assentavam na teoria. Enfim, projeta luz sobre as mais árduas questões da metafísica, da psicologia e da moral.

6º - Pela teoria dos fluidos perispirituais, torna conhecido o mecanismo das sensações e das percepções da alma; explica os fenômenos da dupla vista, da vista a distância, do sonambulismo, do êxtase, dos sonhos, das visões, das aparições, etc.; abre novo campo à fisiologia e à patologia.

7º - Provando as relações existentes entre o mundo corporal e o mundo espiritual, mostra neste último uma das forças ativas da Natureza, um poder inteligente e dá a razão de uma porção de efeitos atribuídos a causas sobrenaturais, e que alimentaram a maior parte das ideias supersticiosas.

8º - Revendo o fato das obsessões, faz conhecer a causa, até aqui desconhecida, das numerosas afecções, sobre as quais a Ciência se havia enganado em prejuízo dos doentes, e dá os meios de os curar.

9º - Dando-nos a conhecer as verdadeiras condições da prece e seu modo de ação; revelando-nos a influência recíproca dos Espíritos encarnados e desencarnados, ensina-nos o poder do homem sobre os Espíritos imperfeitos para os moralizar e os arrancar aos sofrimentos inerentes à sua inferioridade.

10º - Tornando conhecida a magnetização espiritual, que era desconhecida, abre novo caminho ao magnetismo e lhe traz um novo e poderoso elemento de cura.

O mérito de uma invenção não está na descoberta de um princípio, quase sempre conhecido anteriormente, mas na aplicação desse princípio. Sem dúvida a reencarnação não é uma ideia nova, como o perispírito descrito por São Paulo sob o nome de corpo espiritual também não o é, e nem mesmo a comunicação com os Espíritos. O Espiritismo, que não se gaba de ter descoberto a Natureza, procura cuidadosamente todos os traços que pode encontrar da anterioridade de suas ideias e, quando os encontra, apressa-se em os proclamar, como prova em apoio ao que avança. Aqueles, pois, que invocam essa anterioridade visando depreciar o que ele faz, vão contra o seu objetivo e agem desastradamente, porque isto levaria à suspeição de uma ideia preconcebida.

A descoberta da reencarnação e do perispírito não pertence, pois, ao Espiritismo; é coisa resolvida. Mas, até ele, que proveito a Ciência, a moral, a religião haviam tirado desses dois princípios, ignorados pelas massas e ficados em estado de letra morta? Ele não só os expôs à luz, os provou e faz reconhecer como leis da Natureza, mas os desenvolveu e faz frutificar; deles já fez saírem numerosos e fecundos resultados, sem os quais não se faz compreender outras novas e estamos longe de haver esgotado esta mina. Considerando-se que esses dois princípios eram conhecidos, por que ficaram improdutivos por tanto tempo? Por que, durante tantos séculos, todas as filosofias se chocaram contra tantos problemas insolúveis? É que eram diamantes brutos, que deviam ser lapidados. É o que fez o Espiritismo. Ele abriu uma nova via à filosofia ou, melhor dizendo, criou uma nova filosofia, que diariamente ocupa seu lugar no mundo. Então estes resultados são de tal modo nulos que devemos apressar a marcha para descobertas mais verdadeiras e mais sólidas?

Em resumo, de um certo número de verdades fundamentais, esboçadas por alguns cérebros de escol e conservadas, em sua maioria, como que em estado latente, uma vez que foram estudadas, elaboradas e provadas, de estéreis que eram tornaram-se uma mina fecunda, de onde saíram uma multidão de princípios secundários e aplicações, e abriram um vasto campo à exploração, novos horizontes à Ciência, à filosofia, à moral, à religião e à economia social.

Tais são, até hoje(1865), as principais conquistas devidas ao Espiritismo, e não temos feito mais do que indicar os pontos culminantes. Supondo que devessem limitar-se a isto, já nos poderíamos dar por satisfeitos, e dizer que uma ciência nova, que dá tais resultados em menos de dez anos, não pode ser acusada de nulidade, porque toca em todas as questões vitais da Humanidade e traz aos conhecimentos humanos um contingente que não é para desdenhar. Até que esses únicos pontos tenham recebido todas as aplicações de que são susceptíveis, e que os homens os tenham aproveitado, ainda se passará muito tempo, e os espíritas que os quiserem pôr em prática para si próprios e para o bem de todos, não ficarão desocupados.

Esses pontos são outros tantos focos de onde irradiarão inumeráveis verdades secundárias, que se trata de desenvolver e aplicar, o que se faz todos os dias, porque diariamente se revelam fatos que levantam uma nova ponta do véu. O Espiritismo deu sucessivamente e em alguns anos todas as bases fundamentais do novo edifício. Cabe agora aos seus adeptos pôr em obra esses materiais, antes de pedir outros novos. Deus saberá bem lhos fornecer, quando tiverem acabado sua tarefa.

Dizem que os espíritas só sabem o á-bê-cê do Espiritismo. Seja. Que aprendamos, então, a silabar esse alfabeto, o que não será o caso de um dia, porque, mesmo reduzido a estas proporções, passará muito tempo antes de haver esgotado todas as cominações e colhido todos os frutos. Não restam mais fatos a explicar? Aliás, os espíritas não devem ensinar esse alfabeto aos que o ignoram? Já lançaram a semente em toda parte onde poderiam fazê-lo? Não resta mais incrédulos a convencer, obsedados a curar, consolações a dar, lágrimas a enxugar? Há fundamento em dizer que nada mais se deve fazer quando não se terminou a tarefa, quando ainda restam tantas chagas a fechar? São nobres ocupações que valem bem a vã satisfação de as saber um tanto mais e um pouco mais cedo que os outros.

Saibamos, pois, soletrar o nosso alfabeto antes de querer ler fluentemente no grande livro da Natureza. Deus saberá bem no-lo abrir, à medida que avançarmos, mas não depende de nenhum mortal forçar sua vontade, antecipando o tempo para cada coisa. Se a árvore da Ciência é muito alta para que possamos atingi-la, esperemos, para sobrevoá-la, que as nossas asas estejam crescidas e solidamente pregadas, para não virmos a ter a sorte de Ícaro.

Allan Kardec
(Revista Espírita, agosto, de 1865)