segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DESENCARNAÇÕES COLETIVAS

           Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios?
          (Pergunta endereçada a Emmanuel por algumas dezenas de pessoas em reunião pública, na noite de 28 de fevereiro de 1972, em Uberaba, Minas Gerais.)

Resposta:

          Realmente reconhecemos em Deus o Perfeito Amor aliado à Justiça Perfeita. E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio.
          Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente.
          É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla.
* * *
          Invasores ilaqueados pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
          Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para facearmos unidos o ápice de epidemias arrasadoras.
          Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de partilha, aparentemente imerecida, em acontecimentos de sangue e lágrimas.
          Corsários que ateávamos fogo a embarcações e cidades na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.
* * *
          Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe as consequências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança. É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
* * *
          Lamentemos sem desespero quantos se fizeram vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram são igualmente nossos.
          Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor.

Emmanuel 

AS LEIS DA CONSCIÊNCIA

          A resposta de Emmanuel vem do plano espiritual e acentua o aspecto terreno da autopunição dos encarnados, em virtude de um fator psicológico: o das leis da consciência. Obedecendo a essas leis, as vítimas de mortes coletivas aparecem como as mais severas julgadoras de si mesmas. São almas que se punem a si próprias em virtude de haveremcrescido em amor e trazerem consigo a justiça imanente. Se no passado erraram, agora surgem como heroínas do amor no sacrifício reparador.
          As leis da Justiça Divina estão escritas na consciência humana. Caim matou Abel por inveja e a sua própria consciência o acusou do crime. Ele não teve a coragem heróica de pedir a reparação equivalente, mas Deus o marcou e puniu. Faltava-lhe crescer em amor para punir-se a si mesmo. O símbolo bíblico nos revela a mecânica da autopunição cumprindo-se compulsoriamente. Mas, nas almas evoluídas, a compulsão é substituída pela compaixão. 
           Para a boa compreensão desse problema precisamos de uma visão clara do processo evolutivo do homem. Como selvagem ele ainda se sujeita mais aos instintos do que à consciência. Por isso não é inteiramente responsável pelos atos. Como civilizado ele se investe do livre-arbítrio que o torna responsável. Mas o amor ainda não o ilumina com a devida intensidade. As civilizações antigas (como o demonstra a própria Bíblia) são cenários de apavorantes crimes coletivos, porque o homem amava mais a si mesmo do que aos semelhantes e a Deus. Nas civilizações modernas, tocadas pela luz do Cristianismo, os processos de autopunição se intensificam.
          O suicídio de Judas é o exemplo da autopunição determinada por uma consciência evoluída. O que ocorreu com Judas em vida, ocorre com as almas desencarnadas que enfrentam os erros do passado na vida espiritual. Para encontrar o alívio da consciência elas sentem a necessidade (determinada pela compaixão) de passar pelo sacrifício que impuseram aos outros. Mas o que é esse sacrifício passageiro, diante da eternidade do espírito? A misericórdia divina se manifesta na reabilitação da alma após o sacrifício para que possa atingir a felicidade suprema na qualidade de herdeira de Deus e co-herdeira de Cristo, segundo a expressão do apóstolo Paulo.
          Encarando a vida sem a compreensão das leis da consciência e do processo da reencarnação não poderemos explicar a Justiça de Deus – principalmente nos casos brutais de mortes coletivas. Os que assim perecem estão sofrendo a autopunição de que suas próprias consciências sentiram necessidade na vida espiritual. A diferença entre esses casos e o de Judas é que essas vítimas não são suicidas, mas criaturas submetidas à lei de ação e reação.
          Judas apressou o efeito da lei ao invés de enfrentar o remorso na vida terrena. Tornou-se um suicida e aumentou assim a sua própria culpa, rebelando-se contra a Justiça Divina e tentando escapar a ela.

Irmão Saulo (J. Herculano Pires)

Livro:  Chico Xavier Pede Licença – Um Aparte do Além nos Diálogos da Terra Cap.19
            Francisco Cândido Xavier, por Espíritos Diversos, J. Herculano Pires


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

TECNOLOGIA e RESPONSABILIDADE


           À medida que surgiram as primeiras conquistas tecnológicas, em decorrência do processo evolutivo e das avançadas aquisições científicas, temeu-se que os relevantes serviços apresentados viessem destruir a ingenuidade, a comunicação fraternal, a amizade, os valores morais entre as pessoas, dando lugar à mecanização da vida humana. 
Durante o século XX, no qual as admiráveis invenções tecnológicas alteraram totalmente a sociedade, as máquinas foram substituindo os seres humanos em inúmeros setores de atividades, com resultados excelentes, infelizmente dando lugar ao desemprego de grande massa de trabalhadores, diminuindo-lhes a autoestima.
Nesse capítulo, a robótica tornou-se terrível adversário de milhões de pessoas que foram dispensadas dos seus estafantes serviços, produzindo mais intensamente, sem nenhum descanso, e aumentando a renda das empresas, que se libertaram de muitas responsabilidades para com os seus servidores, agora atirados praticamente ao abandono.
Por outro lado, a comunicação virtual vem facultando um infinito elenco de oportunidades para ampliar-se o conhecimento, para adquirirem-se recursos fabulosos, para encontrar-se orientação para muitos males, para proporcionar divertimento, alegria e intercâmbio rápido de ideias... Nada obstante, o mesmo veículo tem sido utilizado de maneira perversa, por pessoas destituídas de sentimentos éticos, de dignidade, psicopatas graves abrindo as comportas das suas paixões servis e desencaminhando pessoas inexperientes mediante intercâmbio devasso, corruptor, mentiroso, abrindo as comportas para inumeráveis crimes que vêm sendo catalogados por especialistas preocupados com a verdadeira pandemia de pedófilos, de depressivos que se permitem o suicídio, a anorexia, a bulimia, exteriorizando conflitos perturbadores que são assimilados por outros indivíduos insensatos.  Pessoas inescrupulosas, denominadas hackers penetram os segredos de entidades militares e bancárias, assim como de outras pessoas, produzindo prejuízos incalculáveis, ao mesmo tempo que se utilizam de senhas e números de cartões de crédito ou de débito, infernizando a vida dos seus legítimos possuidores.
Simultaneamente, diminuiu as distâncias, facilitou a comunicação entre as criaturas que se encontram geograficamente separadas por  milhares de quilômetros, facultando as grandiosas experiências com satélites artificiais e bólides outras que sondam os espaços siderais, estudando os fenômenos cósmicos, a origem da vida e do universo.
Sem a tecnologia, conforme se apresenta, o processo de crescimento da sociedade e da evolução da Terra estaria nos limites medievais, na estreiteza da ignorância, lamentavelmente em fase de estagnação.
O problema, portanto, não é da valiosa tecnologia de ponta, mas da criatura humana, em si mesma, que a pode utilizar para salvar milhões de vidas, assim como para disparar armas inteligentes que as ceifariam aos milhares de uma só vez.
Enquanto não haja correspondente desenvolvimento ético-moral, enfrentar-se-ão graves mutilações nas estruturas da sociedade, com os danos advindos do mau uso desse valioso instrumento  que não pode ficar ignorado.
Para onde se volte, o ser humano na atualidade defrontará as notáveis conquistas tecnológicas, facilitando-lhe a existência ou, infelizmente, criando-lhe situações lamentáveis.
*****
Antes dos incomparáveis inventos tecnológicos, a ignorância predominava nos grupamentos humanos, o isolamento da sociedade era desafiador, as viagens muito difíceis e perigosas, as epidemias dizimavam periodicamente grande parte da humanidade, a escuridão predominava em toda parte, a higiene era relegada a plano secundário, o desconhecimento dos recursos de preservação da vida era vasto e a superstição dominava até mesmo os recintos acadêmicos...
À medida que se pôde penetrar na interpretação da eletricidade e domá-la, canalizando-a para fins úteis, houve uma nova descoberta do fogo, assim como a identificação da flora e da fauna microbiana, com os seus poderosos recursos de manutenção e destruição da vida, é como se novamente houvesse sido inventada a roda...
De conquista em conquista, os desafios que sombreavam a cultura e ameaçavam a existência dos seres vegetais, animais e humanos, cederam lugar à compreensão dos grandiosos dons da vida, facultando o seu prolongamento, a diminuição das dores, a alegria de viver, as bênçãos do intercâmbio e as facilidades para as viagens prolongadas.  O rádio, o cinema, a televisão motivaram milhões de pessoas a se tornarem mais saudáveis e sensíveis à beleza, que deixava de pertencer às classes privilegiadas para alcançar número incontável de cidadãos, contribuindo para o seu processo de evolução.
A educação ampliou infinitamente, em relação ao passado, as possibilidades de melhorar a cultura e os valores de enobrecimento, favorecendo a conquista dos direitos humanos,  embora ainda pouco respeitados, enquanto as possibilidades de crescimento intelectual tornaram-se indiscutíveis.
Com o advento da informática, da robótica, da computação, o mundo diminuiu o seu volume e a humanidade passou a viver em contínuo contato virtual com as mais distantes nações, comunicando-se e negociando com facilidade imensa, sem o risco das grandes viagens, nem o perigo dos desastres...
É imensa a lista das vantagens defluentes da ciência e da tecnologia a serviço da sociedade terrestre.
Simultaneamente, porém, à medida que a ignorância e a superstição cederam lugar após os conhecimentos avançados, surgiram novos mitos, filhos das paixões desportivas, do erotismo, da música perturbadora, do excesso de informação que a mente não consegue decodificar e nem os sentimentos absorver.
Diferente solidão, a psicológica substituiu a anterior decorrente das distâncias geográficas, a perda dos contatos pessoais, o medo do futuro, que se apresenta ameaçador, como se as máquinas viessem substituir os seres humanos, a violência arrebata milhões de criaturas desajustadas, os crimes hediondos permanecem, novas epidemias surgem, embora controladas com rapidez, os suicídios apresentam índices alarmantes, o suborno, a difamação e a crueldade dão-se as mãos em espetáculos de horror, que surpreendem e desencantam os futurólogos sonhadores e programadores do mundo de felicidade material...
O paradoxo do século atual está no choque entre as inescrutáveis conquistas dessas duas vertentes do conhecimento que são a ciência e a tecnologia, em relação aos sentimentos humanos desgastados pelo impositivo dos instrumentos de uso, cada vez mais complexos, que isolam e atiram ao esquecimento as gerações anteriores que sofrem dificuldade em atualizar-se...
Lentamente a perda do sentido existencial, pelo tudo já realizado e concluído,  vai instalando-se em muitos comportamentos que derrapam na indiferença pela vida, na depressão, na revolta surda contra aqueles que se apresentam felizes e fazem crer que são triunfadores...
Há, portanto, um imenso contraste entre os seres humanos, dividindo-os naqueles que tudo possuem e noutros que apensas olham e não dispõem das mesmas possibilidades.
As gloriosas conquistas da inteligência, respeitáveis e valiosas, ainda carecem das aquisições morais, a fim de tornar o ser humano realmente ditoso e pleno, o que certamente ocorrerá, embora ainda não haja sucedido...
*****
Ao evangelho de Jesus, desvestido das indumentárias luxuosas e equivocadas com que o sombrearam através dos séculos, cabe a tarefa de oferecer o amor como solução para os graves problemas que aturdem e desorientam as massas.
Administradas as notáveis conquistas da inteligência pela suavidade dos sentimentos enobrecidos, que a todas as criaturas unirá como irmãs, as lições insubstituíveis do Sermão da montanha preencherão o vazio existencial e reunirão os seres humanos numa grande família, apesar das suas diferenças compreensíveis, dando lugar ao mundo de regeneração que se aproxima.
Respeitando, desse modo, os incomparáveis tesouros da ciência e da tecnologia, aguardamos a ocorrência dos valores sublimes do amor, gerando a bioética que preserva a vida em qualquer circunstância e a torna mais digna de ser exercida.
Joanna de Ângelis
Extraído do livro: Entrega-te a Deus, psicografia de
Divaldo Pereira Franco, páginas 115/120, 1ª edição.

-robótica: ciência e técnica da concepção, construção e utilização de robôs.
-pandemia: enfermidade epidêmica amplamente disseminada.
-anorexia: falta ou perda de apetite.
-bulimia: distúrbio do apetite com episódios incontroláveis em que se ingere uma quantidade excessiva de alimento, seguidos por processo radicais para que não ocorra o consequente ganho de peso.
-hacker:  termo vulgarizado para denominar o especialista em informática que usa seu conhecimento para interesses ilícitos; contudo, dentro do meio computacional, hacker  tem uma acepção positiva, identificando um perito; nessa área, quem pratica atividades  ilegais, usando do seu grande conhecimento, é chamado cracker.
-bólide: corpo que se desloca em grande velocidade.
-hediondo: pavoroso, repulsivo.
-paradoxo: contradição.
-inescrutável: incompreensível, insondável.
-ditoso: feliz.