No final do texto publicado neste Blog em 11.05.2018, com o
título: Pluralidade das existências, Allan Kardec solicita ver o parágrafo “Ressurreição da carne”, questão
1010 de O Livros dos Espíritos, que abaixo inserimos tanto como seu comentário
que amplia a compreensão desse tema. Considerando que a resposta da
questão 1010 é dada pelo espírito São Luiz.
Dorival
da Silva
_________________________________________________
RESSURREIÇÃO DA CARNE
1010. O
dogma da ressurreição da carne será a consagração da reencarnação ensinada
pelos Espíritos?
“Como quereríeis que fosse de outro modo? Conforme sucede
com tantas outras, estas palavras só parecem despropositadas, no entender de
algumas pessoas, porque as tomam ao pé da letra. Levam, por isso, à
incredulidade. Dai-lhes uma interpretação lógica e os que chamais livres pensadores
as admitirão sem dificuldades, precisamente pela razão de que refletem. Por
que, não vos enganeis, esses livres pensadores o que mais pedem e desejam é
crer. Têm, como os outros, ou, talvez, mais que os outros, a sede do futuro,
mas não podem admitir o que a ciência desmente. A doutrina da pluralidade das
existências é consentânea com a justiça de Deus; só ela explica o que, sem ela,
é inexplicável. Como havíeis de pretender que o seu princípio não estivesse na
própria religião?”
— Assim, pelo dogma da ressurreição da carne, a própria
Igreja ensina a doutrina da reencarnação?
“É evidente. Demais, essa doutrina decorre de muitas coisas
que têm passado despercebidas e que dentro em pouco se compreenderão neste
sentido. Reconhecer-se-á em breve que o Espiritismo ressalta a cada passo do
texto mesmo das Escrituras sagradas. Os Espíritos, portanto, não vêm subverter
a religião, como alguns o pretendem. Vêm, ao contrário, confirmá-la,
sancioná-la por provas irrecusáveis. Como, porém, são chegados os tempos de não
mais empregarem linguagem figurada, eles se exprimem sem alegorias e dão às
coisas sentido claro e preciso, que não possa estar sujeito a qualquer interpretação
falsa. Eis por que, daqui a algum tempo, muito maior será do que é hoje o
número de pessoas sinceramente religiosas e crentes.”
SÃO LUÍS
(Allan Kardec faz argumentação complementar ampliando
entendimento)
Efetivamente,
a Ciência demonstra a impossibilidade da ressurreição, segundo a ideia vulgar.
Se os despojos do corpo humano se conservassem homogêneos, embora dispersos e
reduzidos a pó, ainda se conceberia que pudessem reunir-se em dado momento. As
coisas, porém, não se passam assim. O corpo é formado de elementos diversos:
oxigênio, hidrogênio, azoto, carbono, etc. Pela decomposição, esses elementos
se dispersam, mas para servir à formação de novos corpos, de tal sorte que uma
mesma molécula, de carbono, por exemplo, terá entrado na composição de muitos
milhares de corpos diferentes (falamos unicamente dos corpos humanos, sem ter
em conta os dos animais); que um indivíduo tem talvez em seu corpo moléculas
que já pertenceram a homens das primitivas idades do mundo; que essas mesmas moléculas
orgânicas que absorveis nos alimentos provêm, possivelmente, do corpo de tal
outro indivíduo que conhecestes e assim por diante. Existindo em quantidade
definida a matéria e sendo indefinidas as suas combinações, como poderia cada
um daqueles corpos reconstituir-se com os mesmos elementos? Há aí
impossibilidade material. Racionalmente, pois, não se pode admitir a
ressurreição da carne, senão como uma figura simbólica do fenômeno da
reencarnação. E, então, nada mais há que aberre da razão, que esteja em
contradição com os dados da Ciência.
É
exato que, segundo o dogma, essa ressurreição só no fim dos tempos se dará, ao
passo que, segundo a Doutrina Espírita, ocorre todos os dias. Mas, nesse quadro
do julgamento final, não haverá uma grande e bela imagem a ocultar, sob o véu
da alegoria, uma dessas verdades imutáveis, em presença das quais deixará de
haver cépticos, desde que lhes seja restituída a verdadeira significação?
Dignem-se de meditar a teoria espírita sobre o futuro das almas e sobre a sorte
que lhes cabe, por efeito das diferentes provas que lhes cumpre sofrer, e verão
que, exceção feita da simultaneidade, o juízo que as condena ou absolve não é uma
ficção, como pensam os incrédulos. Notemos mais que aquela teoria é a consequência
natural da pluralidade dos mundos, hoje perfeitamente admitida, enquanto que,
segundo a doutrina do juízo final, a Terra passa por ser o único
mundo habitado.