Fascinação!
A vida é algo fascinante! Para alguns, pode ser. Existem
os fascinados por carros, outros por viagens, pelas artes, esportes… Há os que são fascinados por pessoas, sejam eles ou
elas.
O dicionário define fascinação como uma atração irresistível, enlevo, encantamento,
deslumbramento.
Trata-se de uma ilusão, parece bom, no entanto, leva o
fascinado à ruína, que perceberá tardiamente, se vier a perceber. Os que estão
à volta percebem a derrocada, mas o deslumbrado está num estado de sonho,
enlevando-se ilusoriamente em meio aos destroços de si mesmo.
É preciso análise e reflexão em todas as atitudes da
vida, o que deveria ser aprendido desde a meninice, a não fantasiar os
episódios da vida, como é comum as fantasias inconsequentes na infância e na juventude,
com novidades e experimentos considerados inocentes que se tornam vícios de
consumo irrefreáveis, tanto os sensacionais como os emocionais. “Porque,
onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração¹.”.
O fascinado tem cegueira absoluta das circunstâncias em que
está envolvido, vive uma realidade fora do alcance de qualquer observador, é irredutível da situação, pois, mesmo escutando, não ouve, e, mesmo vendo, não enxerga. O mundo ilusório criado para si lhe basta. O versículo evangélico anotado acima
bem representa a situação.
Em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXIII,
Allan Kardec trata da fascinação, na condição de obsessão, que é uma das mais
graves e de solução difícil, pois o sofredor se compraz com essa situação. “A fascinação tem consequências muito mais
graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento
do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, (…). O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o
Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o
embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo
salte aos olhos de toda gente. A ilusão pode mesmo ir até ao ponto de o fazer
achar sublime a linguagem mais ridícula².”.
Aqui, nesse excerto, o Senhor Kardec se refere a um estudo sobre o médium psicógrafo (escrevente). No entanto, estamos fazendo uma observação de modo geral, pois, embora o médium seja considerado aquele que
tem essa faculdade desenvolvida, as demais pessoas também têm sensibilidade,
umas mais e outras menos, e são passíveis de sofrer influenciações de
Espíritos desencarnados maléficos.
“Um homem é o produto
de seus pensamentos. O que ele pensa, ele se torna.”. – Mahatma
Gandhi - ³
Aproveitamos o ensinamento de Gandhi para dizer que todas as
pessoas que estão no Mundo são espíritos encarnados e que, pelo
pensamento, entram em contato com os desencarnados, sejam eles bons ou maus, amigos ou inimigos. São a
qualidade do pensamento, a condição moral e as intenções alimentadas, mesmo
que não expressas, que determinam a ligação, consciente ou não. Grande parte
da população não sabe dessa relação com o invisível, vez que as religiões
tradicionais não permitem essa análise ou a negam com veemência, impedindo a
liberdade do conhecimento.
A fascinação é uma doença na alma, é uma permissão e
conivência do padecente, porque atende aos seus gostos e interesses ilusórios,
ocorre com sutileza, como raiz de planta daninha que vai invadindo o terreno
mental e tomando conta dele, como nuvem escura que prenuncia uma tempestade.
O antídoto a essa situação está na evangelização, aquela
buscada por livre vontade, com o intuito da autotransformação, conhecida como
reforma íntima, que se analisa, faz crítica de suas atitudes e decide modificar-se, mesmo contrariando alguns interesses, hábitos e costumes de que
se gosta tanto e que sua reflexão revela não serem convenientes diante de uma
visão espiritual lúcida. São Paulo, o apóstolo, escreveu na primeira carta aos
Coríntios, 6:12: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. ” -- este
ensinamento é verdade incontestável, deve ser observada em qualquer tempo, pois
ensinava ao espírito das massas de gentes, com visão das consequências para a vida
eterna das individualidades, pois são autônomas.
Fizemos
referência à evangelização. Muitos pensam que é somente para crianças, o que
não é verdade. Existem as evangelizações para crianças, jovens e adultos também, o que significa que o trabalho de aprimoramento espiritual é
permanente, nunca se esgota. Quanto mais conhece o Evangelho de Jesus, mais se
conhece a si mesmo; quanto mais se espiritualiza, mais se aproxima das verdades do Senhor. Compreende-se
a razão da vida, seus sofrimentos e possíveis alegrias, e a capacidade de
suportar as contrariedades, tendo uma visão clara de estagiar em uma escola que
retífica e embeleza a alma, vislumbrando recompensa dos próprios méritos ao longo do tempo, após as provas dessa existência.
Quando
se elaborava a codificação espírita, Allan Kardec perguntou aos Benfeitores
Espirituais, o que se registra na questão 476 de O Livro dos Espíritos, como
transcrito: “Não pode acontecer que a fascinação exercida por um mau
Espírito seja tal que a pessoa subjugada não perceba? Nesse caso, uma terceira
pessoa pode fazer que cesse a sujeição da outra? Que condição deve preencher
essa terceira pessoa? ”. Resposta: “Se for um homem de bem, sua vontade
poderá ajudar, apelando para o concurso dos bons Espíritos, porque quanto mais
se é um homem de bem, tanto mais poder se tem sobre os Espíritos imperfeitos,
para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair. Todavia, essa terceira pessoa
será impotente, se aquele que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso.
Há pessoas que se comprazem numa dependência que favorece seus gostos e
desejos. Seja, porém, qual for o caso, aquele que não tiver puro o coração não
poderá exercer nenhuma influência; os bons Espíritos o desprezam e os maus não
o temem. ”.
A
razão de ter feito uma abordagem sobre um tema tão complexo e desconhecido, mas
que se encontra nas diversas camadas sociais, é que o que importa são os
pensamentos e os interesses alimentados (negativos, imorais…), que se vinculam
a mentes desencarnadas com os mesmos interesses ou que utilizam desse meio para
vinganças de ofensas de outras épocas (vidas passadas), ou puramente por maldade. No entanto, a responsabilidade é sempre
daquele que se deixar iludir, por ignorância, fraqueza ou inconsequência.
Não
é demais prestar atenção à mensagem de Jesus: “Vigiai e orai, para que não
entreis em tentação: na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca. ”
– Mateus, 26:41. Orientação grandiosa para que estejamos atentos ao que
pensamos e desejamos em todos os instantes da vida e sabermos o que
escolher. “Poço! mas me convém? ” Quais são as consequências da minha escolha?
Sempre haverá um depois. Como será? O resultado será feliz ou será de tormentos
sem prazo para solução? As escolhas são pessoais, o que quer dizer que são
espirituais, porque é o ser pensante que decide, não é o corpo. As
consequências ultrapassam o tempo de duração do corpo, pois continuarão com o
sobrevivente após o umbral do túmulo.
A
fascinação existe, a escolha pertence a cada um, as responsabilidades também.
Pensemos
bem!
Dorival da Silva.
1. . Mateus, 6:21 “Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí
estará também o vosso coração.”.
2. O Livro dos Médiuns, questão 239, Allan Kardec.