terça-feira, 28 de julho de 2020

Fascinação!


Fascinação!

A vida é algo fascinante! Para alguns, pode ser. Existem os fascinados por carros, outros por viagens, pelas artes, esportes…  Há os que são fascinados por pessoas, sejam eles ou elas.

O dicionário define fascinação como uma atração irresistível, enlevo, encantamento, deslumbramento.

Trata-se de uma ilusão, parece bom, no entanto, leva o fascinado à ruína, que perceberá tardiamente, se vier a perceber. Os que estão à volta percebem a derrocada, mas o deslumbrado está num estado de sonho, enlevando-se ilusoriamente em meio aos destroços de si mesmo.

É preciso análise e reflexão em todas as atitudes da vida, o que deveria ser aprendido desde a meninice, a não fantasiar os episódios da vida, como é comum as fantasias inconsequentes na infância e na juventude, com novidades e experimentos considerados inocentes que se tornam vícios de consumo irrefreáveis, tanto os sensacionais como os emocionais.  “Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração¹.”.

O fascinado tem cegueira absoluta das circunstâncias em que está envolvido, vive uma realidade fora do alcance de qualquer observador, é irredutível da situação, pois, mesmo escutando, não ouve, e, mesmo vendo, não enxerga. O mundo ilusório criado para si lhe basta. O versículo evangélico anotado acima bem representa a situação.

Em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXIII, Allan Kardec trata da fascinação, na condição de obsessão, que é uma das mais graves e de solução difícil, pois o sofredor se compraz com essa situação. A fascinação tem consequências muito mais graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, (…). O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente. A ilusão pode mesmo ir até ao ponto de o fazer achar sublime a linguagem mais ridícula².”.
 
Aqui, nesse excerto, o Senhor Kardec se refere a um estudo sobre o médium psicógrafo (escrevente). No entanto, estamos fazendo uma observação de modo geral, pois, embora o médium seja considerado aquele que tem essa faculdade desenvolvida, as demais pessoas também têm sensibilidade, umas mais e outras menos, e são passíveis de sofrer influenciações de Espíritos desencarnados maléficos.

“Um homem é o produto de seus pensamentos. O que ele pensa, ele se torna.”. – Mahatma Gandhi  -  ³

Aproveitamos o ensinamento de Gandhi para dizer que todas as pessoas que estão no Mundo são espíritos encarnados e que, pelo pensamento, entram em contato com os desencarnados, sejam eles bons ou maus, amigos ou inimigos. São a qualidade do pensamento, a condição moral e as intenções alimentadas, mesmo que não expressas, que determinam a ligação, consciente ou não. Grande parte da população não sabe dessa relação com o invisível, vez que as religiões tradicionais não permitem essa análise ou a negam com veemência, impedindo a liberdade do conhecimento.

A fascinação é uma doença na alma, é uma permissão e conivência do padecente, porque atende aos seus gostos e interesses ilusórios, ocorre com sutileza, como raiz de planta daninha que vai invadindo o terreno mental e tomando conta dele, como nuvem escura que prenuncia uma tempestade.

O antídoto a essa situação está na evangelização, aquela buscada por livre vontade, com o intuito da autotransformação, conhecida como reforma íntima, que se analisa, faz crítica de suas atitudes e decide modificar-se, mesmo contrariando alguns interesses, hábitos e costumes de que se gosta tanto e que sua reflexão revela não serem convenientes diante de uma visão espiritual lúcida. São Paulo, o apóstolo, escreveu na primeira carta aos Coríntios, 6:12: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. ” -- este ensinamento é verdade incontestável, deve ser observada em qualquer tempo, pois ensinava ao espírito das massas de gentes, com visão das consequências para a vida eterna das individualidades, pois são autônomas.

Fizemos referência à evangelização. Muitos pensam que é somente para crianças, o que não é verdade. Existem as evangelizações para crianças, jovens e adultos também, o que significa que o trabalho de aprimoramento espiritual é permanente, nunca se esgota. Quanto mais conhece o Evangelho de Jesus, mais se conhece a si mesmo; quanto mais se espiritualiza, mais se aproxima das verdades do Senhor. Compreende-se a razão da vida, seus sofrimentos e possíveis alegrias, e a capacidade de suportar as contrariedades, tendo uma visão clara de estagiar em uma escola que retífica e embeleza a alma, vislumbrando recompensa dos próprios méritos ao longo do tempo, após as provas dessa existência.

Quando se elaborava a codificação espírita, Allan Kardec perguntou aos Benfeitores Espirituais, o que se registra na questão 476 de O Livro dos Espíritos, como transcrito: “Não pode acontecer que a fascinação exercida por um mau Espírito seja tal que a pessoa subjugada não perceba? Nesse caso, uma terceira pessoa pode fazer que cesse a sujeição da outra? Que condição deve preencher essa terceira pessoa? ”. Resposta: “Se for um homem de bem, sua vontade poderá ajudar, apelando para o concurso dos bons Espíritos, porque quanto mais se é um homem de bem, tanto mais poder se tem sobre os Espíritos imperfeitos, para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair. Todavia, essa terceira pessoa será impotente, se aquele que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso. Há pessoas que se comprazem numa dependência que favorece seus gostos e desejos. Seja, porém, qual for o caso, aquele que não tiver puro o coração não poderá exercer nenhuma influência; os bons Espíritos o desprezam e os maus não o temem. ”.

A razão de ter feito uma abordagem sobre um tema tão complexo e desconhecido, mas que se encontra nas diversas camadas sociais, é que o que importa são os pensamentos e os interesses alimentados (negativos, imorais…), que se vinculam a mentes desencarnadas com os mesmos interesses ou que utilizam desse meio para vinganças de ofensas de outras épocas (vidas passadas), ou puramente por maldade.  No entanto, a responsabilidade é sempre daquele que se deixar iludir, por ignorância, fraqueza ou inconsequência.

Não é demais prestar atenção à mensagem de Jesus: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca. ” – Mateus, 26:41. Orientação grandiosa para que estejamos atentos ao que pensamos e desejamos em todos os instantes da vida e sabermos o que escolher.  “Poço! mas me convém? ”  Quais são as consequências da minha escolha? Sempre haverá um depois. Como será? O resultado será feliz ou será de tormentos sem prazo para solução? As escolhas são pessoais, o que quer dizer que são espirituais, porque é o ser pensante que decide, não é o corpo. As consequências ultrapassam o tempo de duração do corpo, pois continuarão com o sobrevivente após o umbral do túmulo.

A fascinação existe, a escolha pertence a cada um, as responsabilidades também.

Pensemos bem!

                               Dorival da Silva.

1.    . Mateus, 6:21 “Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”.
2.    O Livro dos Médiuns, questão 239, Allan Kardec.


quarta-feira, 22 de julho de 2020

Chegar, viver e retornar!


Chegar, viver e retornar!

         Todos precisamos ter um rumo e objetivos na vida.  Perguntas existem que precisam ser respondidas sobre nós mesmos.  Algumas: Quem sou eu? De onde vim?  Para que estou aqui?  E depois, para aonde vou?

         Uma certeza tenho, não vim do ventre de minha mãe, ali tomei o trem, o bonde, o metrô, o avião, na verdade, entrei num veículo que se construía para uma viagem espetacular, a bagagem era eu mesmo.

         Se tomei um veículo é porque não sou o veículo, aí me reconheço existir antes dele, então existe outra estação, outro país, outra cidade, outro mundo.  De lá vim, do outro mundo, que se imbrica com este em que me acho, deve ser assim esse entrelaçamento, como viria?

         Cheguei! Estou consciente de ser um viajante, encontro outros viajantes, como as águas do rio, vamos juntos, mas sei que eu sou eu, ele é ele, aquele é aquele.  Seguimos próximos, às vezes bem juntos, mas eu sou eu. Preciso ter clareza disto. 

         Vem um ano, mais outro, outro… e o tempo passa, ora parece devagar, ora mais rápido; têm umas turbulências esse carreiro, surge agregação, dizem casamento: se procuram, se gostam, se unem; há derivações, aparecem frutos, esses se amadurecem e dão outros frutos, os netos… 

         É preciso uma força extraordinária para vencer esse veraneio especial, de muitas novidades, às vezes tristes, de outras alegres, surgem dores também, conosco mesmo, com os nossos, com os outros, até com muita gente que não se conhece.

         Essa força é a fé, parece esquecida, ou não bem compreendida, fé de palavra, demonstrada, de insígnia, de vestimenta, de legião…  Parece não atender bem aos que as comungam, pois, há tantos desencontros. Sofrimentos sem conta, vidas que se perdem, muitas vezes interrompem a viagem antes do ponto final.  

         Acredito que os viajantes da vida não compreenderam bem essa força para garantir a viagem.  Ela é a bagagem mais preservada, não grita, não ralha, não! Ela aquece a alma, potencializa a confiança, dá certeza para vencer as dificuldades e encontrar as vitórias pelo caminho, mesmo que seja tortuoso. Aproxima o vivente d’Aquele que deu o veículo e preparou o Mundo a ser conhecido, as lições a serem aprendidas, os desafios a serem superados, as essências da vida a serem extraídas e absorvidas na bagagem que se faz maior, conquanto não mais pesada, apesar do veículo cansado pelo pelejar do traçado.

         Tem-se a intuição do porquê chegar aqui. Certeza se encontra no final da jornada, quando pode-se olhar o caminho percorrido, as lutas travadas, as derrotas são lembranças, mas as vitórias são a prova que se concretiza, têm sabores, cores vivas, perfumes… 

         Depois da estação derradeira, paz e felicidades. Se as merecer!

                                        Dorival da Silva