quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Obsessão pandêmica

Na atualidade sociomoral do planeta terrestre, dois fenômenos em torno dos relacionamentos humanos fazem-se assinalar de maneira expressiva: o coletivismo e o individualismo.
No primeiro caso, conforme assinalam diversos estudiosos da conduta, há uma necessidade de realizações coletivistas, nas quais o indivíduo perde a sua identidade, consumido pelas aspirações e sentimentos do mesmismo do grupo atuante. A sua capacidade de decidir e de opinar é asfixiada na avalancha opinativa do todo, eliminando a possibilidade de melhor aprofundar a investigação em torno das questões apresentadas, facilitando-se a sua divulgação apressada, não poucas vezes insensata...
Assumem-se idênticas posturas, laboram-se com semelhantes objetivos e as extravagâncias sobrepõem-se aos nobres projetos do idealismo saudável, seguindo-se a onda dominadora do tudo igual.
Rapidamente as novidades tomam corpo e são divulgadas, igualando os comportamentos e os hábitos sociais, lamentavelmente, nas suas expressões menos elevadas, no entanto, mais cômodas e prazerosas.
A globalização social padroniza  o que é certo e programa dentro dos seus esquemas de interesses negocistas o conveniente e sedutor, anestesiando as mentes sonhadoras e independentes que terminam por ser vencidas em face do volume da massa que triunfa e pela algazarra das vozes em desalinho...
Desaparece o espaço para a iluminação pessoal, a introversão edificante e a análise de situação diante dos acontecimentos que se sucedem rapidamente.
Tem-se a impressão de que o viver e o gozar agora são essenciais e que, logo mais, tudo mergulhará no caos...
Os hábitos sadios, a cidadania, o ético são nivelados ao espúrio e ao vulgar pelos multiplicadores de opinião, pelos líderes de audiência nos veículos de comunicação de massa, na insensatez e na alucinação dos sentidos.
São apresentados como legítimos os comportamentos anteriormente tidos como alienantes, mas que, de súbito, ganham prestígio, porque propostos por personalidades famosas, mas que alcançaram o destaque por meios pouco recomendáveis.
As conquistas coletivistas igualam executivos e trabalhadores, políticos e artistas, comerciários e juristas em padrões estranhos, que são aceitos, de forma a não os diferenciar, em cujos grupos são exaltados o egoísmo, o imediatismo, o poder de qualquer maneira, lícita ou desonestamente.
É certo que há significativas exceções, que se constituem modelos para o futuro da sociedade, quando soçobrar este período de avalanchas de desequilíbrio.
Os encontros sociais quase sempre são vazios de conteúdo, nos quais discute-se muito e ouve-se pouco, porquanto cada qual está fixado no seu próprio interesse, logrando-se realizar encontros volumosos com pessoas solitárias, evocando-se os grupos antigos que se reuniam nas hoje decadentes cortes, conforme as ambições, apoiando-se uns nos outros ou sorrindo e conspirando uns contra os outros, em insidiosas armadilhas propostas pela hipocrisia e pela desconfiança.
O segundo grupo, fugindo da balbúrdia, pretende que sejam evitados problemas individuais e gerais, refugiando-se na intimidade dos seus lares ou gabinetes, dos seus escritórios, suspeitosos e irascíveis, como utilizando-se de mecanismos protetores de defesa em que se encastelam.
Outros tantos indivíduos, escamoteando os transtornos sociofóbicos, recorrem à comunicação virtual e alienam-se da família, daqueles que se lhes afeiçoam, assim como dos demais companheiros de jornada, para as incursões doentias no fantástico e maravilhoso mundo da Internet, no qual ocultam as dificuldades pessoais e exibem os anelos frustrados de glória e de realização pessoal.
Olvidando-se do instinto gregário, que reúne todos os animais à volta uns dos outros, isolam-se, muito perturbando-se nos sombrios guetos em que se acolhem.
A facilidade da convivência  fraternal, os júbilos dos encontros amigos, os diálogos edificantes entre aqueles que se estimam, o intercâmbio de ideias no calor da vivência com o seu próximo cedem lugar às fugas espetaculares, que permitem ampliar o medo da morte, da doença, do desemprego, da traição, mas principalmente os medos absurdos da vida e do amor.
Temem amar, receando não serem correspondidos, o que representa insegurança pessoal e desequilíbrio emocional, por impedir-se a inefável alegria de intercambiar sentimentos dignificantes.
Ambos os grupos, a pouco e pouco, em distanciando-se, perdem a faculdade do relacionamento saudável, do calor da convivência, da emoção resultante da permuta de ideias e de aspirações.
Naturalmente permanece expressiva e inatacável faixa de mulheres e homens saudáveis, que se sustentam na comunicação pessoal acolhedora, nas buscas de mais adequadas soluções para os problemas e desafios do momento, interessados no bem-estar de todos e certamente no progresso individual e social.
Nos referidos grupos coletivistas e individualistas, mesmo quando parecem viger sentimentos religiosos, ei-los adstritos aos significados egoísticos que abraçam, insensíveis às necessidades da Humanidade que sofre e aguarda ajuda para desenvolver-se.
Como a vida pertence ao Espírito, encontrando-se no corpo ou fora dele, os seus sentimentos e pensamentos mesclam-se em perfeito intercâmbio com aqueles que lhes são afins.
Predominando as paixões inferiores na grande maioria dos reencarnados e desencarnados que povoam o orbe planetário e o seu entorno, é compreensível que terminem identificando-se psíquica e moralmente, dando lugar às infestações e obsessões tanto individuais quanto coletivas.
Sutilmente, participando dos interesses dos incautos na viagem corporal, seus inimigos desencarnados instilam-lhes ideias doentias até apossarem-se do seu raciocínio, fazendo-os tombar inermes nas suas hábeis armadilhas.
Noutras ocasiões, agridem-nos com violência, produzindo-lhes surtos de morbidez que os avassalam, arrastando-os indefesos aos seus objetivos infelizes.
Geram-se transtornos emocionais, psíquicos e com igual intensidade enfermidades simulacros.
Os fluidos morbíficos, ingeridos psiquicamente pelo reencarnado, misturam-se aos complexos mecanismos das neurocomunicações cerebrais, da mitose celular, dando lugar a desorganizações fisiológicas, agredindo o sistema imunológico através do qual agentes destrutivos da fauna microbiana atacam o organismo, instalando enfermidades reais ou provocando sintomas perturbadores.
A Divindade sempre proporciona os recursos hábeis para a precaução ao terrível flagelo e para a sua recuperação quando já instalado.
Desatentos, porém, e comprazendo-se na inferioridade dos sentimentos, perseguidores e perseguidos optam pelo combate inglório da ignorância, ampliando a área dos vitimados pela obsessão.
Os estímulos exagerados ao prazer e não ao comedimento abrem as comportas morais para a simbiose emocional e se torna difícil estabelecer a fronteira separativa do que é lícito e se pode fazer em relação ao tudo conseguir devendo o máximo fruir.
O espetáculo, pois, da obsessão pandêmica choca e comove, sensibilizando o inefável amor de Jesus, que promove as reencarnações de nobres Mensageiros para o esclarecimento da sociedade a respeito da angustiante situação, através da reconquista ética do amor, do dever, da fraternidade, do perdão, da oração e da caridade.
As trombetas do Além soam e convocam os servidores do Bem a que bradem e cantem o poema da saúde e da paz, embora a algazarra generalizada, conseguindo sensibilizar muitos que ainda podem ser despertados e liberados da situação deplorável.
O  vigiai e orai torna-se de incomum significado terapêutico, neste momento, a fim de prevenir a sociedade a respeito da infeliz pandemia, assim como para libertar os ergastulados nas amarras e prisões da momentânea enfermidade moral-espiritual.

Manoel Philomeno de Miranda
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 11 de julho de 2007, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.) – Extraída da revista Reformador (FEB) de junho de 2008.