quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Temperamento




        Christian Friedrich Samuel Hahnemann, nascido em 10 de abril de 1755, na Saxônia, um Estado alemão, foi o genial idealizador da Homeopatia, hoje reconhecida como especialidade médica em inúmeros países, inclusive no Brasil.

     Suas fórmulas dinamizadas atuam no perispírito, onde se origina a maior parte dos males humanos, conforme nos ensina a Doutrina Espírita.

       Hahnemann desencarnou em 2 de julho de 1843, aos 88 anos, após uma existência profícua, inteiramente devotada ao bem da Humanidade.

         Tão notável foi esse missionário da Medicina, que conquistou a honra de participar da Codificação da Doutrina Espírita, a partir das primeiras experiências de Kardec, em 1855, portanto apenas 12 anos após seu retorno à Espiritualidade.

          Em 1863, Hahnemann transmitiu, em Paris, breve e importante mensagem, inserida no capítulo IX, item 10, de O Evangelho segundo o Espiritismo (Ed. FEB), que transcrevo para apreciação do leitor:

        Segundo a ideia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados.

          É assim, por exemplo, que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo, acusando a Deus, dessa forma, de suas próprias faltas. É ainda uma consequência do orgulho que se encontra de permeio a todas as suas imperfeições.

         Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida a causa primordial da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo bilioso, será sempre pacífico, e que um Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando, somente a violência tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo próprio a lhe secundar a violência, a cólera tornar-se-á concentrada, enquanto no outro caso será expansiva. 

          O corpo não dá cólera àquele que não a tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nisso não pode atuar; mas, pode modificar o que é do Espírito, quando o quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as vossas vistas? Compenetrai-vos, pois, de que o homem não se conserva vicioso, senão porque quer permanecer vicioso; de que aquele que queira corrigir-se sempre o pode. De outro modo, não existiria para o homem a lei o progresso.

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             Hahnemann aborda uma questão vital: o temperamento, o conjunto dos traços psicológicos e morais que determinam a índole do indivíduo, o seu modo de ser.

            Por não aceitar a existência do Espírito – o ser pensante, que sobrevive à morte do corpo – as ciências médicas e psicológicas tendem a situar o temperamento comum fruto de condições orgânicas.

           A agressividade, a depressão, o suicídio, os transtornos mentais, os vícios, estariam relacionados com disposições neurocerebrais, como uma programação biológica a fluir nas iniciativas individuais.

            Até os deslizes extraconjugais entrariam nesse rol de calamidades atribuídas à Biologia. Segundo alguns cientistas, visando à perpetuação da espécie, nossos genes controlariam nossas ações, induzindo-nos ao adultério, visto que, quanto maior a promiscuidade, maior a possibilidade de gerar prole numerosa.

           Imagine, leitor amigo, a defesa para o adultério processado pela mulher que deseja o divórcio: -- Senhor juiz, não tenho culpa! São os genes que me atormentam! Induzem-me a prevaricar!

        No fundo tudo estaria relacionado com a genética, explicando até comportamentos anti-sociais, como roubo, assalto, assassinato, suicídio...

             Diante do delegado:

            -- Ah! Doutor, eu não queria ser assaltante, mas é incontrolável, está na minha natureza. Das profundezas de meu cérebro os neurônios repetem: Roubar! Roubar! Roubar!

             Algo semelhante ocorre com o comportamento vicioso.

           Pretendem alguns cientistas que o bebum tem na estrutura cerebral determinada área ativada, a estimular a tendência para o vício.

           Reclama o alcoólatra:

           -- Meu cérebro é uma esponja etílica! Se não o encharco de água que passarinho não bebe, não me dá sossego!

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         Hahnemann adverte que tais raciocínios são equivocados.

            O temperamento é um atributo do Espírito.

          E ainda que haja no corpo determinado arranjo genético que possa exercer certa influência, essa condição orgânica é efeito, não causa.

           O corpo não determina; apenas exprime.

          O mesmo acontece com relação às doenças que, geralmente, refletem problemas espirituais.

         No Espírito estão as causas mais frequentes de nossos desajustes físicos e psíquicos.

             A depressão, por exemplo, pode ter um componente genético, mas a origem do mal está no Espírito que, ao reencarnar, imprime na estrutura física algo de sua maneira de ser, resultante das experiências do pretérito, combinando no automatismo reencarnatório elementos hereditários compatíveis.

             Devemos, sim, tratar dos efeitos no corpo, buscando a Medicina da Terra.

            Mas é preciso, sobretudo, tratar das causas no Espírito, buscando a Medicina do Céu. Esta relaciona-se com a atividade religiosa, a partir de conceitos de ordem moral que trabalham em favor de nossa renovação.

          Nesse particular, o Evangelho é o grande compêndio médico da Alma, com prescrições perfeitas para mudar nossa maneira de agir, nosso temperamento, nossas tendências.

             Por falar nisso, leitor amigo, diante de problemas envolvendo ânimo exaltado e agressivo, desavenças e ressentimentos, doenças e limitações, pessimismo e desânimo, e tudo o mais que nos cause transtornos, você tem consultado o Evangelho?

            Talvez não haja nada disso com você.

           Se assim for, parabéns! Certamente houve engano das potestades celestes em localizá-lo neste vale de lágrimas.

            Mesmo assim, seria bom não dispensar uma reflexãozinha diária em torno das lições de Jesus, ainda que por mero exercício de discernimento.

          É o estímulo de que carecemos em favor de um comportamento capaz de sustentar a saúde da alma.

Richard Simonetti
(Transcrito da revista Reformador, FEB, ano 126, nº 2154, setembro de 2008)