quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Vida, sempre a vida!

Especial
  
Ano 9 - N° 444 - 13 de Dezembro de 2015
GEBALDO JOSÉ DE SOUSA 
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)

 
Gebaldo José de Sousa
Vida,
sempre a vida!
“Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”
I Co 15-55.
Somerset Maugham – citado pelo escritor goiano Eli Brasiliense – refere-se a uma lenda oriental que ilustra o fatalismo da morte e a inutilidade de temê-la.
Na cidade de Bagdá, negociante envia servo ao mercado para comprar alimentos. Momentos após, retorna ele apavorado, pedindo um cavalo, para fugir rumo à cidade de Samarra, pois vira a morte, no meio da multidão, olhando-o com gesto ameaçador. O patrão o atende e ele parte, celeremente.
O próprio comerciante, indo às compras, encontra também a morte e indaga-lhe:
– “Por que ameaçaste meu servo?” –, ao que esta responde, com ar de inocência:
– “Eu?! Não o ameacei! Apenas demonstrei espanto de encontrá-lo em Bagdá, uma vez que temos encontro marcado hoje à noite, em Samarra”.(1)
Temor e dúvida quanto à sobrevivência do ser sempre inquietaram o ser humano. Ao longo dos milênios, pensadores e filósofos debruçaram-se sobre esse tema.
A Doutrina Espírita, desde a segunda metade do século XIX, lançou luzes que iluminam o entendimento do assunto, comprovando a sobrevivência do ser, com depoimentos daqueles que se apresentaram sob a denominação de Espíritos, afirmando haverem vivido na Terra, em corpos de carne, além de revelarem inúmeras verdades que o homem desconhecia e  comprovando outras, tais como: a existência de Deus, a reencarnação, as vidas sucessivas, a Lei de Causa e Efeito etc.
Allan Kardec, o Codificador dessa Doutrina, dissecou o assunto no livro O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo(2), cuja primeira edição se deu a 1º de agosto de 1865, em Paris, França.
Após nossa desencarnação, teremos alegria ou sofrimento. Se amamos e aprendemos, seremos felizes. Se orgulhosos, egoístas, ignorantes e maus, sofreremos. 
Em seguida à morte, a separação nunca é brusca 
Na segunda parte da obra a que nos referimos, intitulada “Exemplos”, Kardec enfoca o tema sob vários ângulos, em oito capítulos:
1 - A extinção da vida orgânica separa a alma do corpo: e essa separação nunca é brusca. Só é completa quando não mais houver um átomo do perispírito ligado a uma molécula do corpo (item 4, p. 167).
2 - Se na separação a coesão entre esses elementos está no auge da força, a morte é dolorosa. Assim, geralmente o Espírito sofre a decomposição do corpo em mortes trágicas: acidentes, assassinatos, suicídios etc.
3 - Se a coesão for fraca, a separação é fácil e sem abalo: na morte por velhice ou doença prolongada (item 5, p. 168).
4 - Nessa transição de uma vida (corporal) para outra (espiritual), o Espírito passa por uma perturbação; experimenta torpor que lhe paralisa as faculdades: “É como se disséssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro”.
Essa perturbação pode perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. A libertação desse estado é igual ao despertar de sono profundo; as ideias são vagas, confusas, até que o Espírito se conscientiza de sua condição. O despertar é calmo para uns, mas “(...) tétrico, aterrador e ansioso, para outros, é qual horrendo pesadelo”. (item 6, p. 168/9).
5 - O desprendimento é mais fácil ou difícil, conforme o estado moral da alma: o apego à matéria, ou aos gozos materiais, dificulta a separação e a torna dolorosa e prolongada. “Ao contrário, nas almas puras, que antecipadamente se identificam com a vida espiritual, o apego é quase nulo.” E os laços se rompem facilmente (item 8, p. 169). 
Há Espíritos que, embora desencarnados, não sabem disso 
Depende de nós, pois, tornar fácil ou penoso esse desprendimento. Purificar-se; eliminar más tendências; desapegar-se das coisas do mundo; sofrer com resignação e humildade – eis os meios de facilitar esse desenlace, tornando-o indolor.
Às vezes o Espírito acha que ainda está encarnado: julga material o seu corpo fluídico (perispírito). Conversa com um, com outro, ninguém responde. Irrita-se, quando devia orar, buscar ajuda de amigos espirituais e aceitar o fato consumado.
Referida obra traz, ainda, mensagens de Espíritos, agrupadas segundo sua natureza: Espíritos felizes; Espíritos em condições medianas; Espíritos sofredores; suicidas; criminosos arrependidos; Espíritos endurecidos; e de muitos que passaram por expiações terrestres. Merece estudada e meditada por todos nós, que já temos a passagem de retorno à pátria espiritual, embora ignoremos a data da partida.
A Doutrina Espírita é esclarecedora: estudá-la, compreendê-la, ajuda a nós mesmos, àqueles com quem convivemos e aos desencarnados. Por isso, os espíritas não vamos aos túmulos uma vez por ano. Oramos pelos desencarnados todos os dias, ou sempre que seu nome nos vem à lembrança, onde quer que estejamos, sem horário ou local determinado. O Amor dispensa quaisquer formalidades!
Em 1936, a publicação de Cartas de uma morta, obra ditada ao médium Francisco C. Xavier pelo Espírito daquela que foi sua mãe carnal, em sua mais recente encarnação, trouxe novas e inúmeras revelações.
Em 1944, a FEB edita Nosso Lar, do Espírito André Luiz, na psicografia de Francisco C. Xavier, e novos informes sobre a vida após a morte são trazidos ao conhecimento do grande público, tanto nesse como nos demais livros da mesma série. Tal como um repórter que vai a terra estrangeira, o autor fala de sua experiência no plano espiritual. 
Livros inúmeros tratam da morte e dos fatos que se seguem 
Em 1949, a FEB, com o livro Voltei(3), adita novos dados, não só quanto ao momento mesmo da “morte”, mas das experiências que se lhe seguem.
A partir de 1974, com o livro Astronautas do Além(4), editado pelo GEEM Editora, multiplicaram-se livros de consoladoras mensagens particulares, de Espíritos desencarnados a seus familiares, não só pelas mãos generosas do médium de Pedro Leopoldo, mas pelas de tantos outros.
Paralelamente, a partir da década de 60, livros escritos por médicos(as) e psicólogos(as) trouxeram a contribuição do lado profano, não religioso, através de relatos obtidos a partir da regressão de memória, que conduziam os sujets a mencionarem fatos ocorridos em encarnações anteriores vividas por eles, bem como de pessoas que passaram pela experiência da morte clínica, por poucos minutos. O estudo dessas experiências, vividas e narradas por centenas de indivíduos, enquanto sua morte clínica era confirmada, resultou na publicação de inúmeras obras sobre o intrigante e sedutor assunto.
A comparação desses relatos – de regressão de memória e de Experiência de Quase Morte (EQM) – com aqueles dos Espíritos desencarnados, através da psicografia, desde o século XIX, guarda espantosa concordância, pelas grandes semelhanças que apresentam.
Dentre eles, destacamos os contidos nalgumas obras: Vida Depois da Vida(5),A Luz do Além (6)Recordando Vidas Passadas(7)Voltar do Amanhã(8),Espiritismo e Vida Eterna(9) e Depois Desta Vida(10)
O que os Espíritos experimentam ao desencarnar 
O Espírito, ao desencarnar, segundo esses relatos de variadas origens, experimenta o seguinte:
1 – Vê-se fora do corpo.
2 – Não percebe o momento da transição desta para a outra vida: passa por estado de torpor, de sono profundo, de desmaio; uns veem entidade espiritual serena, fraterna, antes e/ou depois do sono.
3 – Experimenta sentimentos de paz e quietude, uns; de sofrimentos, outros.
4 – Vê-se num túnel.
5 – Passa por recapitulação da vida, na presença de Ser de Luz: revê toda sua última existência, nos mínimos detalhes. Desnuda-se diante de si mesmo. Avalia sua conduta, seus pensamentos e ações.
“Vi-me diante de tudo o que eu havia sonhado, arquitetado e realizado na vida. Insignificantes ideias que emitira, tanto quanto meus atos mínimos, desfilavam, absolutamente precisos, ante meus olhos aflitos, como se me fossem revelados de roldão, por estranho poder, numa câmara ultrarrápida instalada dentro de mim. Transformara-se-me o pensamento num filme cinematográfico misteriosa e inopinadamente desenrolado, a desdobrar-se, com espantosa elasticidade, para seu criador assombrado, que era eu mesmo.”(3)
“Nesta situação, a pessoa não apenas vê todas as ações por ela perpetradas, mas, também e de imediato, percebe os efeitos de cada uma delas sobre a vida dos demais. (...) se eu me vejo cometendo um ato odioso, (...) posso sentir sua tristeza, sua dor e seu pesar. (...) se pratico ato generoso, (...) sinto sua alegria e felicidade.”(6)
6 – Recebe ajuda de Espíritos, familiares e amigos; antes e/ou depois do sono profundo.
7 – Sente os reflexos da causa da morte do corpo material.
8 – Conscientiza-se do seu estado e da nova fase da vida que se lhe apresenta.
“A morte foi a melhor parte da viagem.” (Ele refere-se à regressão.) “Morrer era como ser libertado, voltar novamente para casa.”(7) 
Efeitos sobre a vida de quem passou pela experiência de quase morte 
Os efeitos são muitos e diversos:
1 – Não temem mais a morte. Todos mudaram para melhor. Acreditam na vida depois da vida.
2 – Todos aqueles que passaram por esta experiência (de “quase morte”) retornaram acreditando que a coisa mais importante da vida é o AMOR.
3 – Sensação de união com todas as coisas (interdependência = quando ferimos alguém é a nós mesmos que o fazemos).
4 – Valorização do conhecimento: para a maioria deles, a segunda coisa em grau de importância na vida é o conhecimento.(6)
5 – Têm novo conceito de responsabilidade: “A coisa mais importante que aprendi com esta experiência foi que sou responsável por tudo o que faço. Desculpas e outros subterfúgios eram impossíveis, enquanto estive lá, com ele (o ser de luz), recapitulando minha vida”.
6 – Apreço pela vida: eles afirmam que a “vida é preciosa, que são as ‘pequenas coisas’ que contam e que a vida é para ser vivida na sua plenitude. (...) os simples atos de bondade que vêm do coração são os mais importantes, porque são os mais sinceros”. “Ele desejava saber como era o meu coração, e não a minha cabeça.”
7 – Voltam-se para o lado espiritual: estudam e aceitam os ensinamentos espirituais.
8 – Mudam sua conduta e passam a ser:
– Mais brandas e a ter calor humano, bondade, bom humor.
– Mais desprendidas dos bens materiais.
– Mais sinceras e honestas.
“(...) vivo minha vida, sabendo que algum dia terei de submeter-me a uma outra revisão de todos os meus atos.”(6)
“Você pode dar e receber perdão. Pode libertar-se de vícios, apegos e raivas – isto é, de qualquer bagagem que você não deseje conduzir para um lugar onde tudo é Luz.”(8)
– Trabalham mais em benefício do próximo; são mais generosas e confiantes.
– Estudam mais. (“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”)(11)
– São mais otimistas e mais agradáveis; é boa a convivência com eles.
– Passam a se preocupar mais com os outros, em ouvi-los, em servi-los, em vê-los felizes.
Irmão X, na bela crônica “Treino para a morte”, dá-nos algumas dicas importantes sobre o assunto. É importante conhecê-las.(12) 
Os fatos comprovam que a imortalidade é inquestionável 
Diante do exposto, podemos deduzir algumas conclusões:
1 – o estado de felicidade ou infelicidade do Espírito depende:
– Do desprendimento da vida material.
– Da conduta moral, durante a vida na fase de encarnado.
– Do grau de elevação do Espírito e de possibilidades e faculdades do corpo espiritual.
– De atitudes e comportamentos de familiares encarnados, no velório e depois: prece, resignação, aceitação.
2 – A imortalidade da alma é inquestionável (a regressão de memória confirma sua continuidade).
3 – O homem não deve temer a morte; mas viver bem, sendo útil, fraterno, amoroso, estudioso.
4 – Todos os desencarnados são amparados por Espíritos familiares e amigos – os rebeldes, no futuro, quando se transformarem, ainda que após muitas encarnações. Deus a ninguém abandona.
Claramente, Jesus nos adverte: “(...) o Filho do homem (...) retribuirá a cada um conforme as suas obras”. (Mateus 16-27.)
Que temos feito de nossas vidas?
Aprendamos a valorizar cada minuto, cada oportunidade de sermos úteis. Vamos prestar contas de tudo, diante de nossa consciência. Busquemos ser dignos desse dom imperecível e maravilhoso que Deus nos concedeu: a vida! 

Bibliografia
01. BRASILIENSE, Eli. A Morte do Homem Eterno, 1 ed. Goiânia, Edição do Autor, 1970, p. 50.
02. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 37 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.
03. XAVIER, Francisco Cândido. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 7 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979.
04. PIRES, J. Herculano-Espíritos Diversos/XAVIER, Francisco Cândido. Astronautas do Além. 3 ed. São Bernardo do Campo: GEEM, 1974.
05. MOODY JR., Raymond. Vida Depois da Vida. São Paulo: Círculo do Livro.
06. MOODY JR., Raymond. A Luz do Além. 1 ed. Rio de Janeiro: NÓRDICA, 1988.
07. WAMBACH, Helen. Recordando Vidas Passadas. 1 ed. São Paulo: PENSAMENTO, 1978.
08. RITCHIE, George G. Voltar do Amanhã. 6 ed. Rio de Janeiro: NÓRDICA, 1980.
09. CAVERSAN, Ariovaldo. Espiritismo e Vida Eterna. 3 ed. Capivari: EME Editora, 1994.
10. ANDRADE, Geziel. Depois desta vida. 1 ed. Capivari: EME Editora, 1996.
11. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 105 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, p. 136.
12. XAVIER, Francisco Cândido. Cartas e Crônicas. Pelo Espírito Irmão X. 7 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988, cap. 4, p. 21-24.

Esta página poderá ser acessada na Revista Eletrônica "O Consolador", através do endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano9/444/especial.html

sábado, 19 de dezembro de 2015

O NATAL DE JESUS

          O Natal que se comemora é o de Jesus, portanto, Ele precisará estar presente em nossas vidas.  Não poderá ser mais uma notícia, uma lembrança histórica, uma referência bíblica. A realidade que se deseja é a vivência de sua lição-essência, a verdade compreendida e implementada em nossas ações, ainda, mesmo que rudimentarmente. Esse Natal precisará ser de todos os instantes, melhorando a nossa condição de Alma em aprimoramento. Assim poderemos comemorar o Natal de Jesus, porque estaremos nos compatibilizando com Sua mensagem de verdades imperecíveis. 
                       Feliz Natal...
Dez/2015

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CUIDADO DE SI - NÃO ESQUEÇA DE ORAR


CUIDADO DE SI

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas;
porque, fazendo Isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te
ouvem.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, capítulo 4, versículo 16.)

       Em toda parte há pelotões do exército dos pessimistas, de braços cruzados, em desalento.

    Não compreendem o trabalho e a confiança, a serenidade e a fé viva, e costumam adotar frases de grande efeito, condenando situações e criaturas.

  As vezes, esses soldados negativos são pessoas que assumiram a responsabilidade de orientar.

    Todavia, embora a importância de suas atribuições, permanecem enganados.

  As dificuldades terrestres efetivamente são enormes e os seus obstáculos reclamam grande esforço das almas nobres em trânsito no planeta, mas é imprescindível não perder cada discípulo o cuidado consigo próprio. É indispensável vigiar o campo interno, valorizar as disciplinas e aceitá-las, bem
como examinar as necessidades do coração. Esse procedimento conduz o espírito a horizontes mais vastos, efetuando imensa amplitude de compreensão, dentro da qual abrigamos, no íntimo, santo respeito por todos os círculos evolutivos, dilatando, assim, o patrimônio da esperança construtiva e
do otimismo renovador.

      Ter cuidado consigo mesmo é trabalhar na salvação própria e na redenção
alheia. Esse o caminho lógico para a aquisição de valores eternos.

    Circunscrever-se o aprendiz aos excessos teóricos, furtando-se às edificações do serviço, é descansar nas margens do trabalho, situando-se, pouco a pouco, no terreno ingrato da critica satânica sobre o que não foi objeto de sua atenção e de sua experiência.

Mensagem extraída da obra: Caminho, Verdade e Vida, psicografia de Emmanuel, médium: Francisco Cândido Xaiver; capitulo: 148


NÃO ESQUEÇA DE ORAR

    A oração não altera os desígnios de Deus, ou seja, o funcionamento da Lei; entretanto, nos predispõe a receber ajuda espiritual.

    Os mensageiros do Bem estão sempre a postos para servir, socorrendo-nos em nossas necessidades ou quedas, porém, é indispensável que se faça ligação entre a nossa mente e a esfera em que eles vivem.
    Quando você eleva os seus sentimentos em prece, sua alma se torna sensível às vibrações do Alto.
     Não esqueça de orar, orar sempre, conforme recomendou Jesus. 

Mensagem esta extraída da obra: Minutos de Luz, capítulo 35, pelo espírito: Pastorino, psicógrafo: Ariston S. Tales.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O ponto de vista

O ponto de vista

       A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. À morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor.
       Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhe afiguram reais. A perda do menor deles lhe ocasiona causticante pesar; um engano, uma decepção, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que seja vítima, o orgulho ou a vaidade feridos são outros tantos tormentos, que lhe transformam a existência numa perene angústia, infligindo-se ele, desse modo, a si próprio, verdadeira tortura de todos os instantes. Colocando o ponto de vista, de onde considera a vida corpórea, no lugar mesmo em que ele aí se encontra, vastas proporções assume tudo o que o rodeia. O mal que o atinja, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos seus olhos. Àquele que se acha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens que ocupem as altas posições, como os monumentos. Suba ele, porém, a uma montanha, e logo bem pequenos lhe parecerão homens e coisas.
       É o que sucede ao que encara a vida terrestre do ponto de vista da vida futura; a Humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perde-se na imensidade. Percebe então que grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra; que proletários e potentados são da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas efêmeras a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que
por tão pouco tempo conservarão. Daí se segue que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura.
       Se toda a gente pensasse dessa maneira, dir-se-ia, tudo na Terra periclitaria, porquanto ninguém mais se ocuparia com as coisas terrenas. Não; o homem, instintivamente, procura o seu bem-estar e, embora certo de que só por pouco tempo permanecerá no lugar em que se encontra, cuida de estar aí o melhor ou o menos mal que lhe seja possível. Ninguém há que, dando com um espinho debaixo de sua mão, não a retire, para se não picar. Ora, o desejo do bem-estar força o homem a tudo melhorar, impelido que é pelo instinto do progresso e da conservação, que está nas Leis da Natureza. Ele, pois, trabalha por necessidade, por gosto e por dever, obedecendo, desse modo, aos desígnios da Providência que, para tal fim, o pôs na Terra. Simplesmente, aquele que se preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa importância e facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda.
        Deus, conseguintemente, não condena os gozos terrenos; condena, sim, o abuso desses gozos em detrimento das coisas da alma. Contra tais abusos é que se premunem os que a si próprios aplicam estas palavras de Jesus: Meu reino não é deste mundo.
         Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquele cujos pensamentos se concentram na vida terrestre assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera.
        O Espiritismo dilata o pensamento e lhe rasga horizontes novos. Em vez dessa visão, acanhada e mesquinha, que o concentra na vida atual, que faz do instante que vivemos na Terra único e frágil eixo do porvir eterno, ele, o Espiritismo, mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador. Mostra a solidariedade que conjuga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Faculta assim uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma por ocasião do nascimento de cada corpo torna estranhos uns aos outros todos os seres. Essa solidariedade entre as partes de um mesmo todo explica o que inexplicável se apresenta, desde que se considere apenas um ponto. Esse conjunto, ao tempo do Cristo, os homens não o teriam podido compreender, motivo por que Ele reservou para outros tempos o fazê-lo conhecido.


Extraído de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, capítulo II – Meu Reino não é deste Mundo – Tradução: Guillon Ribeiro 131ª edição - FEB

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

No futuro

No Futuro

“E não mais ensinará cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: – Conhece o Senhor! porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.” – Paulo. (Hebreus, 8:11.)

Quando o homem gravar na própria alma
Os parágrafos luminosos da Divina Lei,
O companheiro não repreenderá o companheiro,
O irmão não denunciará outro irmão.
O cárcere cerrará suas portas,
Os tribunais quedarão em silêncio.
Canhões serão convertidos em arados,
Homens de armas volverão à sementeira do solo.
O ódio será expulso do mundo,
As baionetas repousarão,
As máquinas não vomitarão chamas para o incêndio e para a morte,
Mas cuidarão pacificamente do progresso planetário.
A justiça será ultrapassada pelo amor.
Os filhos da fé não somente serão justos,
Mas bons, profundamente bons.
A prece constituir-se-á de alegria e louvor
E as casas de oração estarão consagradas ao trabalho sublime da fraternidade suprema.
A pregação da Lei
Viverá nos atos e pensamentos de todos,
Porque o Cordeiro de Deus
Terá transformado o coração de cada homem
Em tabernáculo de luz eterna,
Em que o seu Reino Divino
Resplandecerá para sempre.


Mensagem extraída da obra:  Pão Nosso, psicografia de Francisco Cândido Xavier, pelo espírito: Emmauel.