quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário - 1ª parte

Especial Inglês Espanhol
Ano 9 - N° 437 -25 de Outubro de 2015
JOSÉ SOLA GOMES
josesolagomes@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

José Sola Gomes

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário
Ele viveu a filosofia e também a ciência, mas não se
esqueceu de praticar a caridade
Parte 1
 
Sinto-me prestigiado por uma oportunidade maravilhosa, entretanto, imerecida, pois terei que tecer alguns comentários a respeito de um missionário divino, pois o Espírito de Adolfo Bezerra de Menezes foi um missionário, conforme no-lo narra Humberto de Campos, em o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Nessa obra, Humberto de Campos, através das mãos de nosso inesquecível médium Francisco Cândido Xavier, nos informa que em uma reunião espiritual presidida pelo Anjo Ismael, este, após haver transmitido a todos sua palavra de paz e de amor encarecendo a importância de trabalharmos pela implantação do Evangelho de Jesus no país do Cruzeiro, lembrou que o Mestre dos Mestres houvera cumprido sua promessa quando nos afirmou que enviaria o Consolador, para permanecer eternamente conosco.
E, dirigindo-se a um dos discípulos de Jesus, que fazia parte da plêiade de Espíritos empenhados junto a Ismael no divino desejo de solidificar o Consolador prometido, que é o Espiritismo, incumbiu-o de reencarnar com a missão de unificar o movimento espírita no Brasil, pois as reuniões espíritas em seus primórdios não tinham ainda um roteiro de desenvolvimento, cada centro espírita tinha o seu método e cada um deles se julgava o portador da verdade, o que criava entre os espíritas a desunião e a adversidade.
Alguns de nós, espíritas, ainda servimos à causa, como um cumprimento do dever, uma necessidade de evoluir, tanto é assim que ainda sentimos a necessidade de tirar férias na realização do trabalho que desempenhamos na instituição espírita, alegando que estamos cansados, embora o trabalho que realizamos na casa espírita não nos deva cansar, visto que não é estressante, ou pelo menos não deveria ser. No meu entender, deveria ser algo que realizamos com prazer, não como uma obrigação.
Narra-nos Humberto de Campos que os olhos do discípulo, após haver sido incumbido da importante missão, derramaram lágrimas de gratidão a Deus e a Jesus, pela oportunidade bendita, que lhe foi outorgada por Ismael, de estar cooperando com a unificação do movimento espírita, o que deixa evidente que não entendeu o chamamento como uma imposição, mas como uma bênção, que é poder realizar algo a favor dos necessitados do espírito e da matéria, como veremos mais adiante. 
Em agosto de 1831 nascia Bezerra de Menezes 
Atento à lei de amor universal, esse discípulo de Ismael reencarnou no dia 29 de agosto de 1831, na pequenina Riacho do Sangue, no estado do Ceará, filho de Antônio Bezerra de Menezes, capitão das antigas milícias e então tenente-coronel da Guarda Nacional, e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra.
Antônio Bezerra era importante fazendeiro local que “nunca mediu sacrifícios, na hora de socorrer aqueles que lhe estendiam a mão”. Tanta generosidade acabou por levar sua fortuna material e, em determinado momento, a grandes dívidas, que atingiram níveis insuportáveis. 

Antônio foi então procurar cada um de seus credores, decidido a entregar seus bens para saldar as dívidas. Os credores, contudo, reuniram-se e decidiram que o coronel Bezerra continuaria com seus bens. Assinaram um documento que afirmava com força legal que o velho Bezerra poderia ficar com eles e “que gozasse deles e pagasse como e quando quisesse, que eles, credores, se sujeitariam aos prejuízos que pudessem ter”. O velho Bezerra, contudo, não aceitou tal decisão. Depois de muita discussão, resolveu que daquela data em diante seria simplesmente um administrador dos bens para seus credores. Passou a retirar apenas o extremamente necessário para o sustento da família e muita vez passou privações.
A essa altura, o menino Adolfo, último filho do casal, já estava terminando o então chamado curso preparatório. Os dois filhos mais velhos tinham-se formado em Direito e o terceiro ainda cursava o segundo ano na Faculdade de Direito de Olinda, Pernambuco. 

O pequeno Adolfo Bezerra de Menezes tinha sete anos de idade quando foi levado pela mãe para ser matriculado na escola pública da Vila do Frade. Em dez meses o menino aprendeu a ler, escrever e fazer contas simples. Quatro anos depois, quando o pai estava sendo alvo de perseguição política, a família mudou-se para o Rio Grande do Norte. O pequeno Adolfo “foi matriculado na aula pública de latinidade, que funcionava na Serra dos Martins e era dirigida por padres jesuítas” em Maioridade, hoje cidade de Imperatriz. Após dois anos, o rapaz tornou-se tão bom na matéria que chegou a substituir o professor. 

Aos 25 anos doutorou-se pela Faculdade de Medicina

Em 1846, o velho Bezerra voltou para a capital do Ceará, onde o pequeno Adolfo foi matriculado no Liceu, que era dirigido pelo seu irmão mais velho. Terminando seus estudos, mostrou a vontade de ser médico, e não advogado como os irmãos. Como não havia faculdade de medicina no Nordeste do país, o pai foi obrigado a mandá-lo para a então sede da Corte, a cidade do Rio de Janeiro. Contou-lhe então tudo que havia acontecido com os bens da família, explicando a pobreza por que passavam. Os parentes cotizaram-se e levantaram quatrocentos mil réis para pagar a viagem até o Rio. Foi assim que Adolfo Bezerra de Menezes pôde pegar o navio e chegar à então sede do Império.

O jovem Adolfo instalou-se em uma pensão, e foi com muita dificuldade que conseguiu alcançar o seu intento, porque sofreu muitas dificuldades para pagar seu alojamento e teve de prestar alguns serviços para conseguir manter o aluguel em dia. Entretanto manteve-se firme em seu propósito, continuou os estudos e conseguiu atingir seu propósito, realizando seu sonho de ser médico.
Aos vinte e dois anos, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Aos 25, no ano de 1856, doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes.

Como não tinha dinheiro para montar um consultório, entrou em acordo com um colega de faculdade que possuía mais recursos e passou a dividir uma sala no centro comercial da cidade. Durante os meses em que o consultório ficou aberto, quase não houve pacientes. Mas a casa onde morava o médico Bezerra ficava repleta de doentes. Começou a atender os componentes da família e depois os amigos. Sua fama correu pelo bairro e, com isso, os clientes apareceram; mas ninguém pagava, pois eram todos gente pobre e o dinheiro nunca foi mencionado. 

Foi então que um amigo e médico militar, Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, chefe do corpo de saúde do Exército, resolveu contratá-lo como médico militar. Dr. Feliciano era chefe da clínica cirúrgica do Hospital da Misericórdia, hospital esse onde Dr. Bezerra tinha sido praticante e interno em 1852, quando ainda cursava o segundo ano de faculdade.

Como Dr. Bezerra via a função de um médico

Em 1856, o governo imperial fez a reforma do Corpo de Saúde do Exército e nomeou o Dr. Feliciano como cirurgião-mor. Ele, então, chamou Bezerra para ser seu assistente e foi assim que, com um emprego remunerado estável, começou o caminho do médico dos pobres. 

Adolfo Bezerra de Menezes continuava atendendo gratuitamente aqueles que não podiam pagar. Sua fama continuava a se espalhar e o consultório do centro da cidade começou a ficar movimentado e frequentado por clientes que pagavam. O dinheiro que recebia no consultório era gasto com seus pobres em remédios, roupas e também, muitas vezes,  auxílio em dinheiro. 

O médico dos pobres tinha a função de médico no mais elevado conceito. Dizia ele:

"Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida”.

Com a vida mais organizada, resolveu casar-se. Ele encontrara seu amor na pessoa de D. Maria Cândida Lacerda e casaram-se em 6 de novembro de 1858. Nessa época, Dr. Bezerra tinha uma posição social estável: além de médico, era jornalista e escrevia para os principais jornais da cidade; e no meio militar era muito respeitado.

Não demorou muito até que lhe oferecessem um lugar na chapa de um partido para as eleições do Poder Legislativo. 

Por que Dr. Bezerra renunciou à carreira militar

D. Maria, sua esposa, foi uma das maiores incentivadoras da candidatura de Bezerra de Menezes. Os habitantes de São Cristóvão, bairro onde morava e clinicava, também queriam tê-lo como representante na Câmara Municipal. Foi então assim que em 1860 Dr. Bezerra se elegeu por um grupo de São Cristóvão. Surgiu na ocasião uma tentativa de impugnar seu diploma sob o pretexto de que um militar não podia ser eleito. Bezerra teve então de escolher entre a carreira militar e a política. Seguindo os conselhos da esposa, renunciou à patente militar e abraçou a vida política de vez. 

O destino, porém, reservava-lhe uma difícil provação para o ano de 1863. Depois de uma doença rápida e repentina, sua esposa desencarnou em menos de vinte dias, deixando o marido com dois filhos: um com três anos e outro com um ano de idade.

O golpe da viuvez inesperada moveu os sentimentos religiosos que a dor sempre traz à tona. Em busca de consolação, Dr. Bezerra passou a ler a Bíblia com frequência. Verificava a expansão vertical que a dor oferece às almas dos que sofrem, ligando-os a Deus.

Nessa época, o Espiritismo estava se expandindo no mundo. Em 1869 desencarnara Allan Kardec em Paris, deixando consolidada para a humanidade a codificação espírita. As ideias de Kardec eram revolucionárias e atraíam a atenção dos investigadores e cientistas em todos os recantos do mundo. Desencarnado o Codificador, restava a obra, a arregimentar novos espíritas. 

No Brasil, principalmente na Capital, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, as influências europeias eram muito grandes. A homeopatia popularizava-se aos poucos, principalmente nos meios espíritas, e teve como um dos seus primeiros experimentadores o baluarte da República José Bonifácio de Andrada e Silva, que se correspondia com Hahnemann, o criador da Homeopatia. Como médico, as discussões sobre a terapêutica homeopática também interessaram ao Dr. Bezerra de Menezes e notícias de curas creditadas a essa terapêutica chegaram a seus ouvidos. 

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos Espíritos".

Como Dr. Bezerra conheceu a doutrina espírita

Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres:

"Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no ‘O Livro dos Espíritos’. Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".

O Espiritismo difundia-se, ajudado em muito pelas práticas dos médicos homeopatas e espíritas, que passaram a prestar a caridade também através de sua mediunidade. Um desses médicos era João Gonçalves do Nascimento e muitos colegas de Bezerra de Menezes falavam das curas realizadas através desse médium. E tanto falaram que um dia Bezerra resolveu pedir-lhe uma receita enviando um pedaço de papel que dizia apenas: “Adolfo, tantos anos, residente na Tijuca”. Não demorou e ele recebeu uma resposta com o diagnóstico correto de seu problema de estômago. 

Dr. Bezerra f
icou tão impressionado com a exatidão de seu diagnóstico, que resolveu pedir receitas também para pessoas que apresentavam problemas psíquicos – a loucura foi uma das áreas que Dr. Bezerra mais estudou.

Acompanhou o desenvolvimento do tratamento em seus pacientes e, depois de simplesmente assistir aos trabalhos desobsessivos, resolveu participar ativamente desse tipo de tratamento. Na visão da Doutrina Espírita, os portadores de doenças psíquicas são pessoas que podem apresentar problemas mentais devido às causas biológicas detectáveis pela ciência humana e também devido à influência de Espíritos desencarnados, também doentes. 
(Este artigo será concluído na próxima edição desta revista.)

Página colhida da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano9/437/especial.html