sexta-feira, 25 de abril de 2014

Evolução do Cristianismo


Evolução do Cristianismo

 

A história da evolução do Cristianismo é a saga do processo redentor da criatura humana.

A Constantino, imperador do Oriente, deve-se o ato gentil da liberação da prática da doutrina de Jesus em todo o império, eliminando qualquer tipo de perseguição ou limite.

Não havendo ele próprio conseguido lograr a convicção profunda dos conteúdos do Evangelho, tornou-se responsável pelos desmandos que surgiram, pelas interpelações e interpretações errôneas, bem como pela adoção de alguns cultos pagãos introduzidos na mensagem singela e pulcra do Homem de Nazaré.

Adorador de Mitra, o Deus-Sol do Zoroastrismo, mas também com outras interpretações, contribuiu grandemente para a idolatria, permitiu que os adeptos do Cristianismo em formulação, acautelados pela fortuna e outros bens materiais, perseguissem os antigos politeístas, transformassem os seus templos em catedrais faustosas.

Demolindo as antigas construções, mandavam erguer sobre elas, com nova indumentária arquitetônica, os santuários, nos quais os adeptos de Jesus deveriam reunir-se, com o olvido das pregações diante do altar sublime da natureza: nas praias, nas estradas, nas montanhas de Israel...

Logo contribuíram para que o imperador se transformasse no responsável pelo voto de Minerva, nos concílios, reuniões e discussões que se multiplicavam em abundância, em atendimento às paixões dos líderes denominados bispos, presunçosos uns, ignorantes outros, que se acusavam reciprocamente de heresias, em adulteração desrespeitosa aos ensinos de Jesus.

Constantino também se tornou responsável pela substituição dos mártires, tornados santos nos altares de ouro e de mármore dos antigos templos, em lugar dos ídolos pagãos.

Sua genitora, Helena, em viagem à terra santa, tornou-se responsável pela identificação da cruz em que morreu o Mestre, dos lugares em que Ele e os Seus apóstolos viveram, mandando erguer catedrais majestosas, iniciando o culto a relíquias, às quais atribuía poderes miraculosos e curativos, criando, pela rica imaginação, identificações, algumas delas muito longe da legitimidade...

Ainda no século IV, o papa Dâmaso convidou São Jerônimo para selecionar os textos considerados verdadeiros, canônicos, a cujo mister o patrístico aplicou vinte e cinco anos na gruta de Belém, comparando-os cuidadosamente com outros conceitos bíblicos, o que resultou na elaboração da Vulgata Latina.

A essa coletânea deu-se o nome de estudos canônicos, legítimos, reconhecidos como verdadeiros pela Igreja de então.

As demais anotações, mais tarde introduzidas por outros estudiosos em O Novo Testamento, os deuterocanônicos, vêm sendo avaliadas através dos séculos, nos sucessivos concílios que trouxeram mais danos que esclarecimentos em torno da palavra do Senhor.

Nesse mesmo século IV, disputavam entre si as autoridades imperiais e eclesiásticas, enquanto o bispo de Roma, Dâmaso, permitia-se o luxo e a extravagância que o cargo lhe concedia, semelhando-se aos grandes generais e governantes das imensas metrópoles, muitíssimo distante do Rabi galileu...

Roma exigia ser a capital cristã do mundo, sob a justificativa de que os apóstolos do mestre, Pedro e, a seguir, Paulo, elegeram-na para o holocausto das próprias vidas, e as missas, que então eram celebradas, sofreram a introdução dos cultos do Oriente, transformando o hábito singelo de orar em complicadas fórmulas, ora em grego, depois em latim, que as massas não podiam entender.

Posteriormente, surgiram os grandes dissídios, tais como os ortodoxos gregos, russos, que realizavam os seus cultos dentro das tradições dos respectivos países, os coptas e outros mais complicados...

Milão, que se tornara tão importante quanto Roma, tinha em Ambrósio o seu líder máximo, que, apaixonado, desviara-se completamente, logo depois do culto ao Senhor para o das imagens e para a venda de tudo quanto representasse a herança dos abençoados mártires, dando prosseguimento às alucinações da genitora de Constantino, que se atribuía o privilégio de haver encontrado, como já referido, a cruz em que Jesus morrera, com as palavras que lhe foram colocadas ironicamente pelos romanos, em refinada zombaria ao Sinédrio.

Logo depois, a mesma Helena atreveu-se a transformar alguns dos seus cravos em objeto de extravagância na coroa do filho, atribuindo-lhe proteção divina, o que dava lugar a superstições e desmandos acompanhados de falsificações e injúrias.

Cristãos, nessa época, passaram a matar pagãos, e quando Teodósio, mais tarde imperador de Roma, apresentou-se como cristão e desejou aplicar punições àqueles que cometeram hediondos crimes, Ambrósio exigiu-lhe retratação pública e humilhante para conceder-lhe o perdão.

A doutrina do amor e da compaixão, da misericórdia e da bondade estava crucificada!

Esse mesmo Ambrósio, que conseguira converter Agostinho de Hipona, em Milão, preocupava-se mais com detalhes e insignificâncias, considerando a virgindade feminina e masculina, como fundamental, como a conduta pulcra e sublime para a entrega a Deus, não havendo qualquer preocupação com o tormento mental e emocional dos clérigos e sacerdotes, assim como das viúvas, das jovens e dos rapazes que se dedicavam ao Senhor, e, para bem consagrar o novo impositivo que se tornaria dogma da religião nascente, introduziu o uso de indumentárias brancas e reluzentes, que significavam pureza, mesmo que o mundo interior fosse o sepulcro onde o cadáver das ansiedades pessoais descompunha-se.

Jerônimo, por sua vez, deixou-se também arrebatar pela loucura do mesmo século e tornou-se terrível adversário da palavra de Jesus, ao adulterá-la, fazendo-o com intercalações nefastas, intromissões que não se justificam, e mistura dos conceitos pagãos com os cristãos para o logro da dominação imperial.

O avanço do poder temporal deságua nas Cruzadas de rudes e perversas memórias, com os desastres e mortes de centenas de milhares de vidas de ambos os lados, cristãos e mulçumanos durante alguns séculos de horror, para a defesa da sepultura vazia que Ele deixara em Jerusalém...

Até o século XVI o tormento medieval, estabelecido pelos denominados Pais da Igreja (Patrística), corrompeu, desvitalizou e transformou a revolução sublime do Evangelho em cruz e fogueira, em morte e degradação, em poder temporal e mentira...

Novos tempos surgiram, porém, com Martinho Lutero e outros que não se submeteram às injunções poderosas do culto pagão.

A Reforma abriu espaços no estreito cubículo mental no qual foi encarcerada a doutrina do Mestre e ventos novos sopraram para retirar o mofo acumulado e derrubar algumas muralhas segregacionistas...

Logo depois, no entanto, surgiram as divisões e as controvérsias entre os discípulos de Lutero, ante a sua própria defecção, e apareceram as mais variadas denominações cada uma delas, como a verdadeira.

Nesse ínterim, quando a esperança não mais brilhava nas almas aflitas, chegou à humanidade o Consolador, e os imortais conclamaram os novos discípulos do Evangelho a voltarem às praias formosas do Genesaré, à natureza encantadora, aos abençoados fenômenos da compaixão e da misericórdia em que Jesus permanece como a figura máxima de humildade e sacrifício pessoal.

Investidas terríveis das hordas do mal novamente dão-se amiúde para prejudicar a reabilitação da criatura humana e a renovação da sociedade como um todo.

Começam a surgiu os primeiros disparates, os desrespeitos e impositivos egotistas de alguns profitentes, que elaboram e apresentam necessidades falsas para adaptações do pensamento espírita às paixões em predomínio, e surgem correntes de dissídio, as acusações recíprocas de lideranças, de médiuns, de Instituições, iguais ao mesmo fenômeno do passado que se repete...

*

Espíritas-cristãos, tende cuidado!

O mundo, o século são sedutores, fascinantes. As suas falácias sutis e declaradas são perversas, enganosas.

Tende tento! Não sois diferentes daqueles homens e mulheres que, num momento, se dedicavam a Jesus e, logo depois, corrompiam a Sua palavra.

Assumistes o compromisso, antes do berço, de restaurardes a paz íntima perdida, as lições sublimes que vós mesmos deturpastes no passado, quando contribuístes em favor do naufrágio da fé pura e racional...

O Centro Espírita merece respeito, fidelidade ao compromisso nele estabelecido: iluminar consciências e consolar sentimentos.

Obreiros invisíveis laboram incessantemente em vosso benefício. Como vedes somente o exterior, não tendes a dimensão do que se passa nele além das vibrações materiais.

Considerai-o, oferecei a esse núcleo de oração, a essa oficina que é um educandário, um templo, um hospital transcendental, o respeito e a dedicação indispensáveis que são exigidos para o fiel cumprimento das responsabilidades abraçadas.

A modesta estrebaria onde Jesus nasceu, a vergonhosa cruz em que Ele foi levado a holocausto, ou a radiosa manhã da ressurreição, devem, permanecer vivas em nossa memória, a fim de serem preservadas a Sua vida e o Seu amor pela humanidade.

Sois as mãos, a voz, o sentimento dEle no mundo moderno.

Vivei por definitivo conforme Ele o fez e ensinou a fazer, mantende cuidado com  as ilusões tão rápidas como luminosas bolhas de sabão que explodem ao contato do ar ou de encontro a qualquer objeto perfurante.

O Consolador triunfará, porque é o próprio Jesus de volta ao mundo para iluminá-lo e conduzi-lo no rumo da sua próxima regeneração.

 

Vianna de Carvalho.

Psicofonia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de 20 de janeiro de 2014, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, BA.

Em 17.4.2014.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Lei de retorno



“E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.” – Jesus. (João, 5:29.)

Em raras passagens do Evangelho, a lei reencarnacionista permanece tão clara quanto aqui, em que o ensino do Mestre se reporta à ressurreição da condenação.

Como entenderiam estas palavras os teólogos interessados na existência de um inferno ardente e imperecível?

As criaturas dedicadas ao bem encontrarão a fonte da vida em se banhando nas águas da morte corporal. Suas realizações do porvir seguem na ascensão justa, em correspondência direta com o esforço perseverante que desenvolveram no rumo da espiritualidade santificadora, todavia, os que se comprazem no mal cancelam as próprias possibilidades de ressurreição na luz.

Cumpre-lhes a repetição do curso expiatório.

É a volta à lição ou ao remédio.

Não lhes surge diferente alternativa.

A lei de retorno, pois, está contida amplamente nessa síntese de Jesus.

Ressurreição é ressurgimento. E o sentido de renovação não se compadece com a teoria das penas eternas.

Nas sentenças sumárias e definitivas não há recurso salvador. Através da referência do Mestre, contudo, observamos que a Providência Divina é muito mais rica e magnânima que parece.

Haverá ressurreição para todos, apenas com a diferença de que os bons tê-la-ão em vida nova e os maus em nova condenação, decorrente da criação reprovável deles mesmos.

Mensagem extraída da obra Pão Nosso, psicografia de Francisci Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel, cap. 127
A referida obra poderá ser acessada no endereço:
www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/principal.html

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O homem e a religião


EURÍPEDES KUHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)

 


 
Eurípedes Kühl

O homem e a religião
Parte 1

 
 
Trarei para os leitores neste texto alguns respingos históricos sobre o Espiritismo. Antes, farei uma rápida reflexão sobre como e quando se iniciou o sentimento religioso na humanidade, até chegarmos à Codificação da Doutrina dos Espíritos, por Allan Kardec, no século XIX. 
8.000 a.C. – Supõem os historiadores, sem condições de confirmá-lo, que a crença no poder celestial teria surgido por volta do ano 8.000 a.C. A cada fenômeno da natureza criava-se um deus – via de regra autoritário (poder absoluto...), exigente (holocaustos...) e vingativo (causador até de mortes...). Igualmente, a cada atividade humana; depois, até mesmo os animais passaram a ser endeusados, sempre em linguagem simbólica.
Por séculos e séculos a humanidade viveu sob o politeísmo original, comandada por aqueles “deuses”, os quais seriam os responsáveis por tudo o que acontecia no mundo de então:
Deuses da natureza, um para cada um dos fenômenos geológicos, tais como:
– o raio, o relâmpago, o trovão, a chuva, o vento, o vulcão, inundações, terremotos etc.
Deuses dos atos humanos, de ação individualizada também, para:
– a caça, a pesca, a plantação, a colheita, a guerra, a cura de doenças, o nascimento, a morte etc.
Mais deuses, sempre individuais, para os animais:
– a íbis, o crocodilo, o gato, o boi etc.
Com o tempo, acoplando a data e a hora do nascimento à posição das estrelas, estabeleceu-se o horóscopo, dividindo-se a trajetória aparente do Sol em doze partes, cada uma com 30°. No horóscopo, o interesse pelo futuro era (como ainda é) estritamente individual. 
Os Profetas – Depois, vieram os Profetas... Sobrepuseram eles, às diversas crenças, a comunicação direta com Deus, segundo acreditavam. As profecias, todas, visavam ao bem coletivo.
A seguir, Espíritos missionários aportaram no planeta, com a incumbência de fundarem as religiões, que se reportariam (como se reportaram) ao estágio evolutivo de cada época. Todos esses Espíritos, sem exceção, trouxeram luzes para o futuro dos povos de então.
Focalizando agora nosso olhar na história das religiões, iremos sempre encontrar uma hierarquia social, induzindo os adeptos (promovidos a fiéis) – o povo, a rigor – à disciplina e submissão às classes dominantes. Isso, desde os imemoriais tempos do Egito, da Babilônia (país da Ásia antiga), Assíria e Roma.  Assim, unindo equivocadamente o Céu à Terra, muitos fiéis, desde há muito tempo, creem poder alcançar bens individuais em troca de sacrifícios, oferendas ou promessas outras. 
Jesus – O Cristo (ungido) de Deus, inegavelmente o maior de todos os missionários, legou à Humanidade o tesouro da Fé, por ter sido aquele que mais concedeu o Amor, de todos os tempos. Falou ao mundo do Reino de Deus, intangível e intocável na crença dos povos de então, arrastando milhões e milhões de Espíritos ao patamar em que reside a Esperança. Suas palavras, de duração eterna, tiveram, têm e terão o inigualável efeito de iluminar trevas externas e internas da mente. Necessário, apenas, ter “olhos para ver” e “ouvidos para ouvir”. Não criou nenhuma religião. Não deixou dogmas. A moral cristã, da primeira à última instância, fundamenta-se na Lei do Amor – amor a Deus e ao próximo. Por isso, acredito que Jesus é a maior de todas as incontáveis benesses que Deus, desde sempre, dispensa à humanidade inteira.
Darei agora rápido mergulho no passado da civilização, com o olhar voltado para o surgimento das religiões. Meu objetivo é chegar ao Espiritismo, caracterizando-o e às suas não poucas diferenças com o Candomblé e a Umbanda. Respeitáveis os três. Mas diferentes entre si! 
As Religiões – Vejamos o que a História registrou e o mundo de hoje nos mostra, quanto à relação criatura-Criador, filho-Pai, homem-Deus:
Judaísmo: Fundado no Oriente Médio pelo patriarca Abraão, por volta do séc. XVII a.C. O legislador de Israel foi Moisés. Para os judeus a Bíblia é formada unicamente pelos livros hebraicos e corresponde essencialmente ao Antigo Testamento dos cristãos. O judaísmo se fortaleceu ainda mais com a criação do Estado de Israel, em 1948. Possui fortes características étnicas, nas quais nação e religião se mesclam. O judaísmo é reconhecido como a primeira religião monoteísta da humanidade e cronologicamente a primeira das três religiões oriundas de Abraão, com o cristianismo e o islamismo. Adeptos: cerca de 14,8 milhões.
Hinduísmo (Bramanismo): Principal religião da Índia. Caracteriza-se pelo sistema de castas. Sucedeu ao vedismo (religião primitiva conhecida por quatro coleções de hinos – os Vedas –, entre 1.400 a.C. e o séc. VII a.C.). Reconhece a autoridade dos Vedas. O ser humano está sujeito ao sansara (sucessão de vidas e renascimento), regido pela lei do karma (ação e reação de toda ação, boa ou má). Posteriormente, incorporou o ideal de renúncia do budismo. Adeptos: 949 milhões.
Confucionismo: Data do séc. V a.C. Foi uma tentativa de estabelecer regras de comportamento, numa agitada época do mundo chinês, onde vários principados se destruíam mutuamente. Respeito aos mais velhos, amor ao trabalho bem executado, moral severa – eis os traços do Confucionismo. Adeptos: cerca de 8,1 milhões.
Budismo: Religião nascida na Ásia, fundada pelo príncipe hindu Sidarta Gautama, o Buda (560 e 480 a.C.).  Ensinamentos: tudo é transitório; a realidade é mutável; não existe nada em nós de realidade metafísica, nada de indestrutível. O ser está submetido ao ciclo de nascimentos e mortes, enquanto a consequência da ação (karma) não for interrompida. A existência está sujeita ao infortúnio, que se manifesta pelo sofrimento, doença e morte. Tem por ideal a renúncia. É na Ásia que se concentra a maioria dos seus adeptos (cerca de 494,9 milhões).
Xintoísmo: Religião do Japão, na qual os deuses são a personificação das forças naturais e os espíritos dos antepassados são igualmente considerados como deuses. A partir do séc. VI os budistas anexaram as divindades xintoístas ao seu panteão e pouco a pouco se formou um sincretismo. No séc. XVII novas seitas xintoístas recusaram qualquer compromisso com religiões estrangeiras. No séc. XIX tornou-se uma espécie de religião do Estado (adoração do imperador-deus). Adeptos: 2,7 milhões.
Cristianismo: Conjunto das religiões organizadas com base na pessoa de Jesus Cristo e nos escritos que relatam suas palavras e seus pensamentos. O Cristianismo, nascido na Judeia e difundido inicialmente no Oriente, foi pregado no mundo mediterrâneo pelos Apóstolos, depois da morte de Jesus. O Cristianismo, em sua origem uma seita surgida do judaísmo, afirma-se como religião revelada,  isto é, de origem divina, mas com a particularidade de que Jesus, seu fundador, não era um simples intermediário entre Deus e a humanidade, mas o próprio Deus.
São 2,3 bilhões de cristãos no planeta. Assim, o Cristianismo é a religião que conta com o maior número de fiéis no mundo. No decorrer da história, o Cristianismo dividiu-se em três correntes principais: Igreja Católica, Protestantismo e Igreja Ortodoxa, além de outras linhas como a Igreja Anglicana e os credos chamados de “cristianismo de fronteira” (grupos que estão na intersecção entre o Cristianismo e outra doutrina, como por exemplo, a Igreja Adventista, Mórmons e Testemunhas de Jeová).
Islamismo: Religião e civilização dos mulçumanos, fundada por Maomé, tendo surgido no séc. VII, na península arábica, é a última das religiões monoteístas. Maomé recebeu de Deus a revelação corânica [O Corão ou Alcorão e o hadith (tradição do Profeta) formam a tradição, verdadeira constituição que serve de modelo imperativo para os mulçumanos]. Não existe um clero mulçumano. Dogma principal do Islã: a existência de Deus (Alá), ser supremo único, infinitamente perfeito, criador do universo e juiz soberano dos homens. Para os mulçumanos, Maomé é o enviado de Alá. Adeptos: 1,5 bilhão.
Religiões populares chinesas: Crenças e práticas que podem incluir divindades locais e elementos budistas, confucionistas e taoistas. Adeptos: 434,6 milhões.
Animismo e Xamanismo: Crença de que tudo o que existe – seres vivos, objetos inanimados, lugares e até fenômenos naturais – tem alma. Adeptos: 242,5 milhões.
Siquismo: Religião monoteísta criada no século XV, na Índia. Surge como uma dissidência do Hinduísmo. Adeptos: 24 milhões.
Há no mundo os que não seguem nenhuma religião: perfazem eles cerca de 813 milhões de pessoas. Quanto ao ateísmo – doutrina que nega a existência de qualquer divindade e dispensa a ideia de uma justificativa divina para a vida – seus adeptos somam 136,6 milhões. Um dos argumentos utilizados pelos ateus para sustentar sua posição é a suposta incompatibilidade da coexistência de Deus e do sofrimento humano.(1) 
Organização da Terra – Como assinalei anteriormente nestes meus comentários, de tempos em tempos aportam no planeta Espíritos missionários, com a tarefa específica de erigir colunas mestras da religação do homem a Deus. Todos, sem exceção, esclarecem que o comportamento humano – bom ou mau – terá sempre como resultante, respectivamente, aproximação ou afastamento da felicidade. Invariavelmente esses tarefeiros do Bem, prepostos de Jesus – tanto os que vieram antes quanto depois d’Ele – empunharam a bandeira do amor a Deus e ao próximo como principal via de acesso ao Reino Celestial.
Jesus, falando a um povo seguidor da religião dogmática da recuada época em que o Império Romano era o “dono do mundo”, não poderia dizer a esse povo coisas que naquele tempo não fariam sentido. Exemplos? Vejamos alguns. Antes, lembremo-nos do registro sobre o Mestre dos mestres feito pelo Espírito Emmanuel em “A Caminho da Luz”, Cap. I, p.17/18, 13ª Ed., 1985, FEB, RJ/RJ: Jesus participou da organização da Terra, desde quando o planeta ainda não existia. Com efeito, a Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos, nasceu de uma nuvem solar. De início não tinha forma regular. À proporção que atraiu maior quantidade de matéria, começou a tomar a forma esférica.
Isto posto, é de se perguntar:
– Será que Jesus, quando aqui esteve, encarnado, desconhecia a existência do continente americano, que só seria descoberto dali a 15 séculos, passando a ser lar de milhões de Espíritos? (2)
– A imprensa, a eletricidade, a aeronáutica, a eletrônica, a energia atômica, a informática, a biogenética e tantos outros avanços científicos: eram ou seriam desconhecidos de Jesus?...
De forma alguma! Todas essas questões, necessariamente, eram do conhecimento do Cristo. Mas como anunciá-las àquela época e àquele povo? Como? E quanto ao Espiritismo?
Com a previsibilidade própria de quem, do alto, descortina a paisagem à sua frente (o futuro), Jesus noticiou sim sobre o Espiritismo, por ele pedagogicamente denominado e avalizado como o futuro “consolador”, segundo João registrou (14:15,16,17 e 26).
No tempo (século XIX) e lugar (França) adequados, surge Allan Kardec, pseudônimo adotado por Hippolyte Léon Denizard Rivail, eminente pedagogo que não desejava fazer prevalecer a força de seu nome sobre o conteúdo da obra que lançava a público, fruto de uma meticulosa codificação das informações vindas dos Espíritos: sendo o primeiro, “O Livro dos Espíritos”, pedra fundamental da Doutrina dos Espíritos – seguido das outras obras.
O Espiritismo demonstra o Amor de Deus com a lógica irretorquível da reencarnação e da Lei Divina de Ação e Reação: sofrimentos, hoje, são frutos amargos de equivocada plantação, ontem. Aí, o sofredor compreende a razão do sofrer. E mais: sabendo-se em temporário resgate, consola-se e parte para reconstrução moral. Tal o aspecto consolador da Doutrina dos Espíritos!
Com Kardec cumpriu-se a previsão-promessa do Cristo! “O Consolador” aportou no plano terreno. Com efeito, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no sexto capítulo – O Cristo Consolador –, item 3, encontramos: “O Espiritismo vem, no tempo previsto, realizar a promessa do Cristo e o Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento”.
 Em “O Que é o Espiritismo” (no “Preâmbulo”) Allan Kardec definiu o Espiritismo e comentou:
– O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal;
– (...) o Espiritismo é, ao mesmo tempo, ciência de observação e doutrina filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações;
Na “Revista Espírita” de dezembro/1868, num longo discurso de abertura sobre o tema “O Espiritismo é uma religião?”, Allan Kardec explanou sua opinião, da qual pinçamos pequenas notas, extraídas das páginas 358 e 359:
– o Espiritismo não pode ser considerado “religião”, por não ter culto, casta sacerdotal, cerimônias e privilégios; todavia há nele o sentido nitidamente religioso quando estabelece um laço moral entre os homens, quando os une, como consequência da comunidade de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas.
Em “Obras Póstumas” (no capítulo “Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo”) anotou:
– o Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos (...) vai às bases de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo sacerdote.
Apenas por essas premissas já se vê como o Espiritismo não pode ser confundido com quaisquer outras correntes religiosas, conquanto todas as religiões (Judaísmo, Catolicismo, Confucionismo, Protestantismo, Teosofismo, Esoterismo, Budismo, Bramanismo etc.) sejam espiritualistas, isto é, aceitam a imortalidade do Espírito e a existência de Deus. Também não pode ser confundido nem mesmo entre aquelas que: a.) aceitam a reencarnação; b.) em suas práticas, marcadas pelo sincretismo, exercitam o mediunismo.
Tão logo o Brasil foi descoberto iniciou-se sua colonização. No caso, “colonizar” significou a vinda de portugueses, mandatários. E como quem manda precisa de quem obedeça, Portugal sequer pensou duas vezes: por três séculos providenciou a criminosa importação de “obedientes” criaturas, buscadas à força, na África.  Está em “Estatísticas Históricas do Brasil”/IBGE: vieram para o Brasil 4.009.400 escravos, entre 1531 a 1855.  Estarrecedor! (Continua na próxima edição desta revista.)
              Notas: 

(1) Os números de adeptos das diferentes religiões, com dados de 2010, foram extraídos do ALMANAQUE ABRIL-2013, p.130, Ano 39, Editora Abril, SP/SP; à p. 132 consta o número de espíritas no Brasil: 3.848.876, segundo o Censo Demográfico 2010/IBGE. 

(2) Nas Américas, hoje, estão cerca de 948,3 milhões de Espíritos encarnados (dados à p. 344 do ALMANAQUE ABRIL, já citado).
 
Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
              http://www.oconsolador.com.br/ano7/354/especial.html

 

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EURÍPEDES KUHL
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Ribeirão Preto, SP (Brasil)

 


 
Eurípedes Kühl

O homem e a religião
Parte 2 e final

 
 
Em face do poder da Igreja Católica, representantes das suas várias ordens religiosas vieram de Portugal, com a missão “oficial” de dar assistência religiosa aos colonizadores, além de catequizar e “salvar” os índios. Mas, aventureiros europeus, por vezes também em caráter oficial, para aqui vieram, com interesses...
Não é difícil depreender que no Brasil-criança passaram a conviver criaturas de costumes e sentimentos religiosos diferentes. E não só diferentes: conflitantes...  O caldeamento de raças foi inevitável...
Assim, durante e por cerca dos três primeiros séculos da nossa história, conviveram aqui no Brasil:
- colonizadores europeus (não apenas portugueses, mas também franceses, holandeses, espanhóis);
- padres (de várias ordens religiosas);
- indígenas (de várias tribos) e
- escravos africanos (de várias partes do grande continente).
Detentores do poder, os europeus impuseram sua religião (o Catolicismo) e isso explica porque o Brasil ainda hoje é majoritariamente um país católico.
Lendo sobre o Censo 2002 na Internet, no item “Religiões”, deparei-me com a informação de que nos censos do Brasil-colônia, todos os escravos africanos eram tidos como “católicos”.
Os escravos (bantos, sudaneses, nagôs e iorubanos) que mais tempo conviveram com seus senhores, à força assistiam e participavam dos cultos católicos, imposição gerando obediência... Mas tal obediência era por obrigação, não professavam aquela crença por devoção, já que na intimidade da senzala, às ocultas, é que extravasavam sua fé... E ali, o mediunismo, entre eles, era um antigo e singelo exercício espiritual aprendido e praticado desde os tempos na terra-mãe, agora lhes aliviando a cruel realidade — a escravidão. 
O Brasil-candomblé – Por acomodação parcial, a pouco e pouco os rituais, sacramentos, paramentos, imagens, altares etc. do Catolicismo foram agregados ao seu culto, porém sob roupagem própria, adequada, isto é, africana. Essa, a origem do chamado Brasil-candomblé.
Com a abolição da escravatura e com a liberdade constitucional de credo religioso, parte das pessoas que se identificavam com o Candomblé, no início do séc. XX, sem deixar parte dos seus fundamentos, a ele incorporaram novas práticas. Muitas dessas pessoas, tomando conhecimento da obra de Allan Kardec, passaram a frequentar Centros Espíritas, então emergentes no Brasil. Dentre esses, logo porém, houve quem se desligasse, indo fundar uma religião, agora, genuinamente brasileira: a Umbanda. E em 1941, no Rio de Janeiro, realizou-se o Primeiro Congresso Umbandista, visando estruturar uma prática religiosa já de trinta anos. Ali foram delimitados os elementos de cujo sincretismo surgiu a Umbanda nas suas diversas apresentações, sendo o imediatismo (a possibilidade do crente resolver seus problemas em curto prazo) uma delas.
O desligamento que citei talvez tenha decorrido da dificuldade ou desinteresse em seguir as recomendações espíritas de estudo permanente, mudança de comportamento (melhoria moral), ausência de quaisquer rituais, adereços, hierarquia, promessas etc. Mas, principalmente, porque o Espiritismo não se aplica a resolver problemas materiais, senão sim, educar, esclarecer e fortalecer ao Espírito, para que ele se renove e, apoiado na fé em Deus, cujo amparo é permanente, encontre, ele próprio, a buscada solução. 
Práticas estranhas ao Espiritismo – Fiel a Kardec, a Federação Espírita Brasileira, em reunião do Conselho Federativo Nacional de 02/05/1953 (Espiritismo Prático, Pedro F.Barbosa, p. 13 e 14, 4ª Ed., 1995, FEB, RJ/RJ), recomenda aos Centros Espíritas, para a prática espírita e em suas reuniões, a total ausência de:
- paramentos, ou quaisquer vestes especiais;
- vinho, ou qualquer bebida alcoólica;
- incenso, mirra, fumo, ou substâncias outras que produzam fumaça;
- altares, imagens, andores, velas e quaisquer objetos materiais como auxiliares de atração do público;
- hinos ou cantos em línguas mortas ou exóticas, só os admitindo, na língua do país, exclusivamente em reuniões festivas realizadas pela infância e pela juventude e em sessões ditas de efeitos físicos;
- danças, procissões e atos análogos;
- atender a interesses materiais terra-a-terra, rasteiros ou mundanos;
- pagamento por toda e qualquer graça conseguida para o próximo;
- talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos, escapulários ou quaisquer objetos e coisas semelhantes;
- administração de sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos;
- confeccionar horóscopos, exercer a cartomancia, a quiromancia, a astromancia e outras “mancias”;
- rituais e encenações extravagantes de modo a impressionar o público;
- termos exóticos ou excêntricos para a designação de seres e coisas;
- fazer promessas e despachos, riscar cruzes e pontos, praticar, enfim, a longa série de atos materiais oriundos das velhas e primitivas concepções religiosas.
A partir dessas recomendações, que nos reportam a práticas contrárias à Doutrina Espírita, entendemos quanto a Umbanda e o Candomblé – religiões espiritualistas e praticantes do mediunismo – diferem substancialmente do Espiritismo.
E mais: no Candomblé há sacrifício de animais. Na Umbanda, não: ela contempla os banhos de ervas e orações. Por tudo isso bem se vê que, embora espiritualistas, Candomblé e Umbanda não podem ser consideradas espíritas. E isso sem qualquer demérito, pois o Espiritismo – doutrina dos Espíritos – enaltece o livre-arbítrio, respeita e considera a autonomia de todas as religiões, jamais se julgando superior a qualquer delas. 
Metapsíquica e Parapsicologia – Estabelecidas as bases fundamentais que diferenciam o Espiritismo das sempre respeitáveis religiões do Candomblé e da Umbanda (como assinalei), passarei de agora em diante a caracterizar a Doutrina dos Espíritos. Antes, porém, permitam-me os leitores, se faz necessária uma pequena exposição sobre outras duas correntes “quase” religiosas do pensamento humano, as quais, de alguma forma, se aproximam do Espiritismo. Refiro-me à Metapsíquica e à Parapsicologia. Os leitores certamente hão de compreender que o espaço me induz à síntese, motivo pelo qual, em linhas gerais, referentes a ambas, apenas registro que:
a. Metapsíquica
- fundada por Charles Robert Richet (1850-1935), notável cientista francês, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina/1913 (Fisiologia). Visava à pesquisa e análise científica dos fenômenos mecânicos ou psicológicos de todos os tempos, ditos paranormais (mediunidade), devidos a forças que parecem ser inteligentes ou a poderes desconhecidos latentes na inteligência humana;
- assim, metapsíquica não é Espiritismo — é ciência puramente investigativa;
- o termo metapsíquica não foi bem aceito pelos pesquisadores; hoje, quase não é mais usado.
b. Parapsicologia
- impulsionada por Joseph Banks Rhine (1895-1980), teólogo e cientista norte-americano, que a atrelou ao campo das ciências e particularmente à Psicologia;
- dedicou-se Rhine, em particular, ao estudo do transe anímico na telepatia e na clarividência; pesquisou a “ESP” (extra sensory perception = percepção extrassensorial), termo que criou em 1935 e que é mundialmente empregado nos tratados sobre Parapsicologia;
- o termo parapsicologia é mais usado nos países anglo-saxônicos e germânicos;
- talvez seja possível dizer que a Parapsicologia procede como a Metapsíquica, sendo-lhe herdeira em vários aspectos.
c. Considerações gerais sobre a Metapsíquica e a Parapsicologia
- tanto uma quanto a outra, enquanto Ciência, seguiram os mesmos passos de todas as demais ciências, isto é, buscaram pelo método experimental definir leis de acontecimentos que observaram na natureza;
- deixaram de ser exponenciais porque o cientista só aceita um fenômeno como verdadeiro se puder explicá-lo e reproduzi-lo, desde que ofertadas as mesmas condições ambientais em que ele se deu — não conseguiram...
- surgiu-lhes intransponível barreira pelo fato de que a maioria dos fenômenos analisados caracterizam-se como mediúnicos, isto é, têm origem no Plano Espiritual (ação de Espíritos desencarnados), com manifestação no plano material, por meio da intermediação de médiuns (Espíritos encarnados). Ora, ação espiritual é algo que a ciência não consegue manipular numa proveta...
A mim, espírita, o que me causa pena é verificar que tais pesquisadores (poucos, hoje em dia) não se deram ou não se dão conta de que, na verdade, apenas se apropriaram de termos científicos para substituir a nomenclatura tão bem delineada, pioneiramente, por Allan Kardec. E mais: somente encontrarão o que procuram quando, com bom senso, se convencerem da impotência humana para explicar in vitro aquelas ocorrências que se originam in spiritus.  Aí, sem abandonar seus cuidados, irão ao humilde Centro Espírita, onde poderão verificar que ali há outra espécie de laboratório, ofertando novos aprendizados, àqueles que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. 
O Espiritismo – Passo agora a falar plenamente do Espiritismo, cujos códigos de moral, de ciência e de filosofia foram tão bem estruturados por Allan Kardec, em cinco obras: “O Livro dos Espíritos”/1857, “O Livro dos Médiuns”/1861, “O Evangelho segundo o Espiritismo”/1864, “O Céu e o Inferno”/1865 e “A Gênese”/1868.
Nós, espíritas, certamente devemos gratidão ao fenomenal trabalho kardequiano em estabelecer contato com médiuns de vários países, para deles receber as lições do Plano Espiritual, as quais eram meticulosamente filtradas e selecionadas, gerando a Codificação. Por isso é que se diz que Kardec codificou o Espiritismo. Tais mensagens foram os tijolos, com os quais o “grande edifício” Espiritismo foi erguido, qual farol, para permanentemente clarear caminhos.
Kardec era pedagogo por excelência, comprovando-se que o acaso não existe, eis que tão importante cometimento teria mesmo que aportar no plano material via uma inteligência invulgar, fluindo de inspiração celestial. E apenas com cinco livros! (Atualmente, a Literatura Espírita já editou cerca de dez mil títulos – sendo cerca de 412 via Chico Xavier e 202, por intermédio de Divaldo Pereira Franco, além de vários outros médiuns e escritores.)
Para melhor entendermos o conteúdo moral (revelações e ensinos) da Doutrina dos Espíritos — o Espiritismo —, nada melhor do que alinhavar suas premissas e abrangência. Em primeiro lugar, não como definição, mas apenas conceituando-o, podemos dizer que:
“O Espiritismo é o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec, constituindo tais obras o que se denomina Codificação Espírita”.
Uma vez conceituado, genericamente, vejamos suas particularidades morais:
Revelação – Revela o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da nossa existência e qual a justificada razão da dor e do sofrimento. E oferta à análise e reflexão, expondo consequências, conceitos novos e mais aprofundados a respeito de Deus, do Universo, dos Homens, dos Espíritos e das Leis que regem a vida. 
Ensinamentos – Deus (em primeiríssimo lugar das considerações) é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. É eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
E mais:
- o Universo: é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais;
- Leis Divinas: todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais; são inalteráveis, perfeitas, imutáveis no Universo todo;
- os mundos: além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados;
- Jesus: é o guia e modelo para toda a Humanidade — a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus;
- a moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade;
- evolução: no Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: iguais, mais evoluídos e menos evoluídos que os homens;
- os Espíritos: são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo:
a. são criados simples e ignorantes, como já citei (questão 115 de “O Livro dos Espíritos). Evoluem intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade;
b. preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação;
c. reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento;
d. evoluem sempre: em suas múltiplas existências corpóreas (reencarnações) podem estacionar, mas nunca regridem; a rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição;
e. os bons Espíritos nos atraem para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os imperfeitos nos induzem ao erro;
- o perispírito: é o corpo semimaterial que reveste o Espírito e une-o ao corpo material;
- o homem: é um Espírito (revestido de perispírito) encarnado em um corpo material:
a. tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas consequências de suas ações;
b. a vida lhe reserva penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus (Lei de Justiça, nesse caso caracterizando causa e efeito, ação e reação);
- a prece: é um ato de adoração a Deus. Torna melhor o homem. Está na lei natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a ideia da existência do Criador. Ao pedido feito com sinceridade Deus envia sempre a assistência dos bons Espíritos;
- mediunidade: o intercâmbio dos Espíritos com os homens sempre existiu.
Apenas por essas revelações e ensinamentos já se deduz que o Espiritismo abre uma nova era para a regeneração, primeiro, de uma minoria, mas, a seguir, da Humanidade inteira.
Há muito mais. O estudo das obras de Allan Kardec é fundamental para o correto conhecimento e a prática da Doutrina Espírita, dentro do princípio cristão de que Deus deve ser adorado em espírito e verdade. 
Conclusão – O Espiritismo não impõe os seus princípios e respeita, incondicionalmente, todas as religiões e seus adeptos.
Convida os interessados em conhecê-lo a submeterem os seus ensinos ao crivo da razão, antes de aceitá-los. Aí, entendendo o porquê de tudo que o cerca, em todas as suas atividades, o indivíduo se capacita a administrar com bom senso, compreensão e resignação as naturais dificuldades que se lhe apresentam – as provações ou expiações que o visitam na presente existência terrena. 

Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano7/355/especial.html