quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Os mortos sairão dos túmulos

Os mortos sairão dos túmulos

(Revista Espírita, fevereiro de 1868 - Instruções dos Espíritos)

Povos, escutai!... Uma grande voz se faz ouvir de um extremo a outro dos mundos; é a do precursor, anunciando a vinda do Espírito de Verdade, que vem endireitar as vias tortuosas por onde o espírito humano se desgarrava em falsos sofismas. É a trombeta do anjo que vem despertar os mortos para que saiam de seus túmulos.
Muitas vezes tendes lido a revelação de João e vos perguntastes: Mas, o que quer ele dizer? Como, então, cumprir-se-ão essas coisas surpreendentes? E vossa razão confusa, mergulhava num tenebroso dédalo de onde ela não podia sair, porque queríeis tomar ao pé da letra o que estava expresso em sentido figurado.
Agora que chegou o tempo em que uma parte dessas predições vai cumprir-se, pouco a pouco aprendeis a ler nesse livro onde o discípulo bem-amado consignou as coisas que lhe tinha sido dado ver. Entretanto, as más traduções e as falsas interpretações ainda vos aborrecerão um pouco, mas com um trabalho perseverante chegareis a compreender o que, até o presente, tinha sido para vós uma carta fechada.
Compreendei apenas que se Deus permite que o véu seja levantado mais cedo para alguns, não é para que esse conhecimento fique estéril em suas mãos, mas para que, pioneiros infatigáveis, eles desbravem as terras incultas. É, enfim, para que eles fecundem com o doce orvalho da caridade os corações ressequidos pelo orgulho e impedidos pelos embaraços mundanos, onde a boa semente da palavra de vida não pôde ainda germinar.
Ah! Quantos encaram a vida humana como devendo ser uma festa permanente em que as distrações e os prazeres se sucedem sem interrupção! Eles inventam mil nadas para encantar os seus lazeres; eles cultivam o seu espírito, porque é uma das facetas brilhantes que servem para fazer destacar a sua personalidade; são semelhantes a essas bolhas efêmeras que refletem as cores do prisma e balançando no espaço atraem os olhares por algum tempo, depois as procurais... e elas desapareceram sem deixar traços. Assim, essas almas mundanas brilharam com uma luz de empréstimo, durante sua curta passagem terrestre, e dela nada restou de útil, nem para os seus seme­lhantes, nem para elas próprias.
Vós que conheceis o valor do tempo, vós a quem as leis da eterna sabedoria são reveladas pouco a pouco, sede nas mãos do Todo-Poderoso instrumentos dóceis servindo para levar a luz e a fecundidade a essas almas, das quais se diz: “Têm olhos e não veem, têm ouvidos e não escutam”, porque tendo-se desviado do facho da verdade, e tendo escutado a voz das paixões, sua luz não é senão trevas, em meio às quais o Espírito não pode reconhecer a estrada que o faz gravitar para Deus.
O Espiritismo é essa voz poderosa que já repercute até as extremidades da Terra; todos a ouvirão. Felizes aqueles que, não tapando voluntariamente os ouvidos, sairão de seu egoísmo, como o fariam os mortos de seus túmulos, e daí por diante realizarão os atos da verdadeira vida, a do Espírito, desembaraçando-se dos entraves da matéria, como fez Lázaro de seu sepulcro, à voz do Salvador.
O Espiritismo marca a hora solene do despertamento das inteligências que usaram de seu livre-arbítrio para se demorar nos caminhos pantanosos cujos miasmas deletérios infectaram a alma com um veneno lento que lhe dá a aparência da morte. O Pai celeste tem misericórdia desses filhos pródigos, caídos tão baixo que nem mesmo pensam na morada paterna, e é para eles que ele permite essas manifestações brilhantes, destinadas a convencer que além deste mundo das formas perecíveis, a alma conserva a lembrança, o poder e a imortalidade.
Possam esses pobres escravos da matéria sacudir o torpor que os impediu de ver e compreender até hoje; possam estudar com sin­ceridade, para que a luz divina, penetrando-lhes a alma, dela expulse a dúvida e a incredulidade.

JOÃO EVANGELISTA, Paris, 1866.
Copiado do Boletim Informativo do IPEAK, de 19.11.2014.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Entrevista de Divaldo Pereira Franco ao Jornal Tribuna de Minas



Entrevista de Divaldo Pereira Franco ao Jornal Tribuna de Minas, de Juiz de Fora, Minas Gerais, em 2 de setembro de 2014  - Publicada em sua edição de 14 de setembro de 2014.
 
Orador espírita fala sobre violência, perdão, céu e inferno
 
Reconhecido como um dos maiores médiuns e oradores espíritas da atualidade e o maior divulgador do Espiritismo por todo o mundo, o baiano de Feira de Santana, Divaldo Pereira Franco, chega aos 87 anos com números que impressionam: são mais de treze mil conferências, em cerca de duas mil cidades brasileiras e em sessenta e cinco países, em sessenta e sete anos dedicados à religião que abraçou. 
Como médium, publicou duzentos e cinquenta e cinco livros, com mais de oito milhões de exemplares, registrando-se duzentos e onze autores espirituais. Traduzidos para dezessete idiomas. A renda proveniente da venda dos livros e os direitos autorais foram doados a entidades filantrópicas e mantêm a Mansão do Caminho, instituição fundada por ele em Salvador e que hoje atende a cerca de três mil crianças e adolescentes de famílias de baixa renda. 
Aposentado como escriturário no antigo Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), em Salvador, Divaldo tem mais de seiscentos filhos adotivos e mais de duzentos netos e bisnetos. Mesmo com a idade avançada e após ter vencido um câncer e um infarto, o espírita não recusa convites para levar o conhecimento da doutrina codificada por Kardec a qualquer parte do mundo. Religião que, para ele, é ciência e filosofia de vida. No dia 2 de setembro, quando esteve na cidade para mais uma palestra, o orador recebeu a Tribuna e falou sobre perdão, violência, céu e inferno.
 
Tribuna – Onde o senhor encontra vitalidade para tantos compromissos?
 
Divaldo Franco - É a alegria de viver. Quando abraçamos uma doutrina que nos oferece a satisfação da vida, parece que o tempo não comporta as responsabilidades, os compromissos que abraçamos. O Espiritismo é uma ciência porque demonstra, em laboratório, a sobrevivência da alma, mas é também uma filosofia de vida. Todos nós temos problemas, conflitos, heranças de perturbações emocionais, a hereditariedade e os nossos próprios delitos. Através da filosofia espírita da reencarnação, sabemos que tudo isso tem uma razão de ser. Não existe efeito sem causa. Desde que haja uma causa inteligente, o efeito será inteligente. Então consideramos a dor não um ato punitivo, mas um fenômeno normal. O organismo é matéria, degenera, então a dor é inevitável. O emocional aspira, o ser psicológico deseja e nem sempre consegue, então tem conflito. O ser psíquico, às vezes, não tem resistência para enfrentar as vicissitudes e delira.
O Espiritismo nos ensina não o conformismo, em que nós cruzamos as mãos e aceitamos, mas uma resignação dinâmica:Isso está me acontecendo por tal razão. Eu vou lutar para superar. Porque tudo que nos acontece é pela permissão de Deus, e Deus nos ama, realmente. Eu já tive um câncer, uma parada cardíaca, mas nunca me deixei abater. Graças a isso, sinto uma imensa alegria em viver e tenho ainda a oportunidade de confortar as pessoas.
 
- Como não se deixar abater pelas desilusões?
 
- Quando eu guardo mágoa, ela me faz mais mal do que bem, e quem me ofendeu não está dando a menor importância. Quando eu perdoo, eu me liberto, mas quem fez o mal continua devendo às leis divinas. O perdão não é esquecer o mal que nos fizeram, porque isso é fenômeno da memória. É não devolver o mal que nos fizeram, ficar em paz. Se alguém não gosta de você, a pessoa é que tem conflito. Mas na hora em que nós não gostamos, o conflito é nosso. Hoje adotamos a psicologia do perdão. Necessitamos perdoar muita coisa aos outros, mas também a nós mesmos. Somos muito enérgicos conosco. Qualquer mal que fazemos, às vezes, escamoteamos, procuramos anular. Mas chega o dia em que ele volta. O que fazer? Dá-se o direito de ser uma criatura humana, errar e levantar-se.
 
- O que o Espiritismo entende como céu e inferno?
 
- Como estados de consciência. Na Idade Média, se podia compreender a existência do alto e do baixo. Mas hoje sabemos que o infinito não está nem acima e nem abaixo. Neste momento, poderíamos estar de cabeça para baixo, em outra posição. Mas, nessa realidade, concebeu-se que o baixo, inferior, era um lugar de desgraça. Inferno era aquele lugar de irrecuperação, e o alto era a misericórdia de Deus. Com a visão da física quântica, da cosmofísica, da psicologia, não podemos conceber um pai que castiga um filho, que é mais ignorante do que perverso, eternamente, por um crime que, às vezes é infantil. O indivíduo, por exemplo, comete um crime, assassinou o outro em um momento de fúria. Ele merece uma reeducação, e não uma punição permanente. O estado de consciência leva-nos à paz ou leva-nos à desgraça. Quando temos culpa, quando temos arrependimentos, estamos no inferno. Quando estamos bem com nossa consciência, estamos no céu. Consideramos que, após a morte do que nós vivemos, iremos para regiões felizes ou regiões infelizes transitórias. Porque o mundo é uma associação de energia. O universo é um conjunto de ondas concêntricas e excêntricas. De acordo com o nosso tônus vibratório, tanto podemos ascender qualitativamente como cair qualitativamente. Eis aí o mais fascinante: o Papa João Paulo II, um homem notável, reconheceu que céu e inferno são estados de consciência, como Allan Kardec o fez.
 
- Juiz de Fora vive hoje uma situação de violência, onde jovens matam uns aos outros. O que o Espiritismo tem a dizer para as pessoas que perderam entes queridos para a violência?
 
- Há uma falência da cultura, que é imediatista. O triunfo é você derrubar o outro para ocupar o lugar. Felicidade é você ter uma paixão, fruir e descartar depois a pessoa. O conceito ético e moral sofreu uma mudança terrível. E hoje o que vale é o individualismo, o consumismo, o erotismo. Quando o indivíduo se sente frustrado, não tendo resistências morais, apela para o crime. Seja contra o outro, seja contra o patrimônio, ou contra ele mesmo, no estado de desamor. É da Divindade a proposta de nos amarmos. Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Se eu não me amo, eu nunca amarei você. Eu terei um sentimento de paixão, de desejo, mas, na hora em que eu for contrariado, o amor se transforma em revolta. Não era amor, era desejo. Mas se eu me amo, se eu me respeito, se eu desejo evoluir intelectual e moralmente, eu compreendo o quanto é difícil para mim vencer certas tendências negativas. Então eu dou direito ao outro de também ter essas tendências negativas. Eu não posso impor o meu sentimento a outrem. Eu posso expor, mas se eu for rejeitado, muito bem, parto para outra. Dessa maneira, através da reencarnação, podemos mudar esse quadro de violência. A violência do indivíduo contra si mesmo, contra a sociedade. Quando não pode destruir o outro, então mata-se, num processo de vingança, para que o outro tenha conflito. A proposta de Jesus Cristo, como filósofo, pensador, como homem que mudou a cultura do mundo em todos os tempos, é de autoamar-se para amar e educar, porque através da educação, mudamos hábitos e daremos resistências. Oferecemos ao indivíduo a esperança de que o que hoje não deu certo é véspera do que vai ser acertado amanhã. E, para aqueles que ficam no sofrimento ante a perda, dizemos: Não se desespere. Os seres queridos vivem, voltarão e você terá contato com eles.
 
- E como os praticantes acreditam poder ajudar os Espíritos que desencarnam vítimas da violência?
 
- Através da prece, lembrar com carinho. Todo impacto nos produz um grande choque emocional, e quando algo de trágico acontece ficamos fixados na tragédia. Um dia, um materialista me disse uma coisa notável: Quando vem um paciente que perdeu um familiar, eu, como materialista, não tenho nada a dizer. Então, eu formulei uma frase. Lembre-se de tudo o que você viveu de alegria, de bom e de felicidade com o seu ente querido. Não se lembre da morte dele, lembre-se do período de alegria. Nem tudo será para sempre. Ele morreu, mas eu fui feliz durante um tempo X, e aceite isso. Eu achei notável. Porque o que importa não é ser feliz permanentemente, porque é impossível, chega o momento em que a felicidade se interrompe. Mas quando recordamos coisas boas, voltamos a vivê-la. Ah, mas terminou em uma tragédia! Eu digo: Não. Interrompeu naquele momento para continuar depois.
 
- No livro Transição planetária, que o senhor psicografou, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, o autor diz que a Terra está passando por uma transformação, deixando de ser um planeta de provas e expiações para se transformar em um planeta de regeneração. Ou seja, só reencarnariam na Terra Espíritos que estão a caminho da evolução, que fizeram o bem. Pessoas que só fizeram o mal na Terra iriam reencarnar em outro planeta, de sofrimento e dor. Como as pessoas que não são espíritas podem entender essa situação?
 
- É o que pregam todas as doutrinas cristãs. A grande guerra do Armagedon, a batalha final. O Armagedon é uma região chamada Vale de Jericó, em Israel. Todas as batalhas se travavam ali, porque é uma passagem estreita. Hoje, com as armas inteligentes, não há guerra local. A guerra pode ser aqui, mas o navio pode estar do outro lado do Atlântico e mandar o míssil teleguiado de cinco mil quilômetros, e ele atinge esse hotel. É uma arma inteligente. O Armagedon é nosso estado de conflito. Nós vivemos numa sociedade conflitiva, as pessoas não se amam, se armam. Ao invés de amar umas às outras, armam-se umas contras as outras, um verdadeiro caos. Mas, concomitantemente, nunca houve tanta bondade no mundo. Estamos vendo a tragédia no Afeganistão, do Iraque, dessa intolerância do radicalismo, degolando pessoas, é trágico. Mas quantos milhares de pessoas boas. Evocamos Madre Teresa de Calcutá, Chico Xavier, pessoas anônimas, pais e mães generosos, abnegados por filhos ingratos e perversos. Cientistas notáveis, como os Médicos sem Fronteiras, contaminando-se pelo Ebola para salvar a Humanidade. Outros, em laboratórios, tentando encontrar antivírus para a AIDS, Ebola, infecções degenerativas. Creia que há muito mais gente boa do que má. Sucede que as pessoas perversas fazem muita zoada, e as pessoas boas são discretas, então passam desapercebidas. Está havendo uma mudança de conceito. Já nem todos estão satisfeitos, almejam um mundo melhor no qual não haverá dor, porque não haverá má conduta, não haverá essas enfermidades degenerativas porque já não necessitaremos sofrer. Teremos o amor como nosso norte

domingo, 2 de novembro de 2014

O que será depois?

GUARACI DE LIMA SILVEIRA
glimasil@hotmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil)
 
 
Guaraci de Lima Silveira
O que será depois?
Há os que dizem nada haver após a morte do corpo. Há os que acreditam nalguma forma de vida, há os que entendem que após cumprido o ciclo terreno vamos nos juntar a um todo, perdendo nossa individualidade. Milenar são essas indagações ou conclusões doutrinárias, filosóficas ou mesmo individuais. O Dr. Raymond Moody, psiquiatra, psicólogo, parapsicólogo e filósofo, natural de Porterdale, Geórgia, Estados Unidos da América, publicou em 1975 o best seller: Vida Depois da Vida.  É um sucesso até nossos dias e o será sempre por se tratar de um assunto de extrema importância dentro do ideário humano. Ele inicia assim o primeiro capítulo do livro: “Como é que é morrer? Essa é uma questão sobre a qual a humanidade se tem debruçado desde que existem seres humanos. Durante os últimos anos tive oportunidade de levantar essa questão diante de um número considerável de audiências”... Demonstrou com isto que seu trabalho de pesquisa foi longo e bem fundamentado. Complementando seus apontamentos naquela Obra o autor nos diz: “Não posso pensar em nenhuma outra resposta senão mais uma vez indicar a preocupação humana universal com a natureza da morte. Acredito que qualquer luz que possa ser lançada sobre a natureza da morte é para o bem”.
A Doutrina Espírita vem desde 1857 tratando desse assunto com grande propriedade. O que será depois que desencarnarmos? Inferno, purgatório ou céu? A grande maioria das mentes ainda está acostumada com esta tríade do bem ou do mal. Muito confusa e estranha foi colocada goela abaixo dos crentes desde os primórdios da igreja católica. Não vai aqui nenhuma crítica pejorativa. Era o que se tinha, era o que se comentava. Allan Kardec bem o tratou em seu livro: O Céu e o Inferno, com lúcidos comentários e profícuas conclusões. Este estudo está em pauta permanente nos compêndios dos grandes ensinos iniciáticos das grandes civilizações passadas. Cada qual o tratava à sua maneira. Os que acreditavam em vida após a morte física faziam suas celebrações a favor dos antepassados, pedindo-lhes, inclusive, ajudas em suas decisões e, muitos só as tomavam, após terem certeza de que foram devidamente orientados pelos entes desencarnados. Ainda hoje se vê em residências ou templos um local definido para o culto aos antepassados, atestando, assim, a plena convicção de que eles continuam vivos. 
As festas dos bons Espíritos 
Havia na Europa antiga um curioso cerimonial durante o séquito que acompanhava o desencarnado até a sepultura ou cremação. Um grupo vinha ao encontro usando máscaras que imitavam fisionomias dos entes desencarnados. Em festa vinham receber o familiar, introduzindo-o a uma nova dimensão da vida. Interessante esta forma teatral de conviver com a morte. Aliás, o teatro imita a vida daí que os dramas e tragédias apresentados num palco podem representar o que de fato esteja acontecendo com o público ali presente, em parte ou como um todo. A argúcia do autor e diretor do espetáculo, aliada a interpretações pujantes dos atores, podem levar o público a um raciocínio sobre sua vida, seu momento. Pensando assim, aquela manifestação teatral no momento em que o morto era levado ao seu destino final, bem poderia ter a conotação de lembrar a todos que a morte física é um processo irreversível para os encarnados. Contudo, ela não é o fim, pois que os que o antecederam vinham-no receber.
Aqui, dada a semelhança do que citamos acima, vamos buscar importante comentário do Espírito Felícia, desencarnada e que, atendendo a uma evocação do seu esposo, ditou através da Sra. Cazemajoux em Bordéus – França – uma página por ela intitulada de “Festas dos Bons Espíritos”. Está na edição de maio de 1861 da Revista Espírita, publicada por Allan Kardec. E ela começa dizendo: “Também temos nossas festas e isto acontece com frequência, porque os Bons Espíritos da Terra, nossos bem-amados irmãos, despojando-se do invólucro material, nos estendem os braços e nós vamos, em grupo inumerável, recebê-los à entrada da estância que, daí em diante, vão habitar conosco”. Bela e confortadora esta informação de Felícia. Dá-nos uma sensação de continuidade e, mais que isto, coloca-nos a par do que realmente acontece após o desenlace físico. Às vezes, na hora extrema das despedidas, quando o féretro prossegue rumo à morada final daquele corpo, vemos desesperos, choros convulsos, lamentações... Sem dúvida é muito difícil aquele momento. Contudo, poderia ser mais ameno se nos preparássemos para ele. 
Na capela mortuária deve reinar a paz 
“Ainda em nossos dias o respeito aos mortos está envolvido numa forma velada de repulsa e depreciação. A morte transforma o homem em cadáver, risca-o do número dos vivos, tira-lhe todas as possibilidades de ação e, portanto, de significação no meio humano. “O morto está morto”, dizem os materialistas e o populacho ignaro”. Este texto está contido no capítulo primeiro do livro do Professor José Herculano Pires, intitulado: Educação para a Morte. Os que não conseguem enxergar a vida após esta vida transformam o momento do velório num réquiem que mais mata que consola. Felícia continua a nos acalentar quando diz: “Nessas festas (de recepção do desencarnado querido) não se agitam, como nas vossas, as paixões humanas que, sob rostos graciosos e frontes coroadas de flores, se ocultam a inveja, o orgulho, o ciúme, a vaidade, o desejo de agradar e de primar sobre rivais nesses prazeres fictícios, que não o são”.
Fausta lição ela nos dá. Diz-nos que há festas de recepções, mas que são compostas de verdades, de harmonia, de luminescências que partem de corações livres das agruras remanescentes em muitos, ainda. Ela cita rostos graciosos e frontes coroadas de flores. Apenas aparência. E, será que naquele momento dos choros e desesperos ante o féretro que sai também não estamos escondidos sob máscaras, agindo de tal forma apenas para impressionar? Felícia faz esta citação em sua mensagem possivelmente para nos alertar quanto aos nossos procedimentos naquele local onde o espírito está se despedindo do corpo. Na capela mortuária deve reinar a paz, mesmo perante a dor. A harmonia mesmo perante os dias que se seguirá sem a presença física do ente que de nós se despede. A paz e a harmonia juntas dão-nos a serenidade que nos faculta bem conduzir-nos perante qualquer situação difícil. Aliás, Deus permite que elas aconteçam para nos fazer amadurecer principalmente a fé em Seus Sábios Desígnios. 
A vontade de Deus a nosso respeito 
Se do lado de cá a tristeza pode invadir corações vejamos a seguir o que comenta nossa irmã Felícia sobre os acontecimentos do lado de lá: “Aqui reinam a alegria, a paz, a concórdia; cada um está contente com a posição que lhe é designada e feliz com a felicidade de seus irmãos. Então, meus amigos, com esse acordo perfeito que reina entre nós, nossas festas têm um encanto indescritível. Milhões de músicos cantam em liras harmoniosas as maravilhas de Deus e da Criação, com acentos mais deslumbrantes que vossas mais suaves melodias. Longas procissões aéreas de Espíritos volitam como zéfiros, lançando sobre os recém-chegados nuvens de flores cujo perfume e variadas nuanças não podeis compreender”.
Evidente que fatos assim acontecem para aqueles que venceram com galhardia suas provas terrenas. E aqui nos abre uma suave discussão acerca da Vontade de Deus a nosso respeito. Na Oração Dominical Jesus foi enfático quando disse: “Seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu”. Ocorre, porém, que repetimos diuturnamente esta oração e fazemos valer sobre o céu e a terra a nossa vontade. Egoica vontade que alimenta o ego inferior, nosso velho companheiro de jornada, nosso velho ancião a ditar-nos sabedorias. Sabedorias ou textos antigos que guardamos em nossos altares íntimos e que já estão fora de moda? E o que de fato sabemos sobre a vida e a morte? Sobre os planos espirituais? André Luiz abriu-nos a janela do Nosso Lar, mas, ele mesmo disse que existem milhares de colônias, vilarejos, grupamentos e cada qual alinhado com os desejos dos seus habitantes. Diz-nos ainda o sábio mentor que dois terços da humanidade da Terra, cerca de vinte bilhões de Espíritos ainda transitam nas faixas inferiores do planeta reclamando ajustes, educação e mudanças de rumos a favor do bem em si. O velho sábio arquetípico, instalado em nós desde os primórdios da razão humana não consegue vislumbrar o que se passa além da sua caverna. Daí que dizemos a todo pulmão: eu não acredito nisto! Esta história não tem sentido! Morreu, morreu, acabou e pronto! Aproveita enquanto está vivo! E por aí vão os ditos populares ou individuais alimentando a ignorância enquanto Deus nos criou para a liberdade que o infinito contém.   
Os Espíritos não são mortos nem defuntos 
Os que assim pensam, corrompem corrompendo-se. Mentem quais crianças, entregam-se a prazeres grosseiros e primitivos jurando que são modernos e descolados. Ditam para si as mais obscuras linhas de comportamentos nos quais o materialismo atinge culminâncias pegajosas formando monturos psíquicos de difíceis erradicações. Acham que a vida é esta e nela tudo devemos fazer para flutuarmos soberanos sobre a matéria que passa e se transforma. A Terra nos é um plano de estudos ainda para iniciantes. Após ela, muitos outros astros desfilarão à nossa frente ofertando-nos suas hospitalidades, ensinamentos e propostas de trabalhos cada vez mais incríveis e sem a necessidade de executá-los em troca da sobrevivência. Aliás, tal fato aqui acontece unicamente porque o homem não conseguiria progredir se tudo lhe viesse gratuitamente às mãos. Seus esforços por conseguir o necessário, colocam-no junto ao progresso que, por Lei Divina, acontece em todos os ångströms do universo. 
Felícia prossegue em sua dissertação: “Depois o banquete fraterno a que são convidados os que com felicidade terminaram suas provas, e vêm receber a recompensa dos seus trabalhos”. Sim, aqueles libertos das paixões terrenas e dos apegos aqui empreendidos vão conhecer novas opções, novas entidades benfazejas, novos instrutores, mentores, novas dependências da Casa Paterna. Que belo deve ser! Que alegria surge naquelas almas vencedoras! Felícia conclui sua mensagem dizendo: “Oh meu amigo! Tu desejarias saber mais, mas a vossa linguagem é incapaz de descrever essas magnificências. Eu vos disse bastante, a vós que sois os meus bem-amados, para vos dar o desejo de as aspirar...”
Vamos refletir sobre esta última frase. Os Espíritos queridos, despojados das vestes físicas não são mortos, cadáveres, defuntos ou coisas assim. São Espíritos libertos dando plena continuidade em suas vidas. E eles nos querem também livres. Eles desejam preparar-nos uma festa de recepção naquele dia em que todos estarão tristes, consternados e nós e eles, felizes pelo retorno. Quanto ainda necessitamos saber sobre os mecanismos da vida!  
Quando eu era menino, falava como menino... 
Voltamos ao livro: Educação para a Morte do Prof. José Herculano Pires e vamos encontrar no capítulo quatorze que ele intitulou de Dialética da Consciência uma sábia colocação: “O estudo de um tema como o da educação para a morte exige incursões difíceis no pensamento antigo, moderno e contemporâneo, para o estabelecimento das conexões orientadoras. Não se pode entrar no labirinto sem o fio de Ariadne nas mãos, pois o Minotauro pode estar à nossa espera. Numa fase de transição cultural como a deste século o problema da morte exige de todos nós um esforço mental muitas vezes atordoante. Mas temos de fazer esse esforço, para que a vida não fracasse em nós”.
Certa feita, quando criança, vi um ente muito querido sendo velado na sala da sua casa. Olhei-o. Estava hirto, desfigurado como mármore. Antes, aquelas faces eram morenas e por elas a vida se transbordava através do seu sorriso franco e sua fala graciosa além de um olhar penetrante. Ali, estava imóvel, entregue e deitado sobre uma madeira coberto de flores que mais assustavam que enfeitavam.
– Esta é a realidade da morte. Pensei. Tudo acaba aqui.
Eu era apenas um menino. Hoje cresci e devo me lembrar de Paulo de Tarso, quando disse em sua primeira carta aos coríntios no capítulo 13 – versículo 11: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. É uma reflexão que a humanidade necessita fazer acerca da morte. Gradativamente ela desaparecerá dentre nós. A palavra “morte” vem do latim mors, significando óbito, que por sua vez vem igualmente do latim: abitus, significando: ir embora, passagem para fora, egresso. Fácil então verificarmos que morte não significa fim já na origem da própria palavra. O que ocorre com a maioria das pessoas é o mesmo que ocorreu comigo. Eu vi um corpo inerte e sem vida e achei que o espírito era ele, portanto também morto! 
O que será depois está em nossas mãos decidir  
Na questão número 27 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga: “Haveria assim dois elementos gerais do Universo, a matéria e o espírito?” Respondendo, os Espíritos dizem que acima deles está Deus O Criador, pai de todas as coisas. Desta forma é-nos necessário separar as coisas: o que é matéria é matéria, o que é Espírito é Espírito e este não morre jamais. Na questão 149 do mesmo livro, Allan Kardec pergunta: “Em que se transforma a alma no instante da morte?” E como resposta obtém: “Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos que ele havia deixado temporariamente”. Na questão seguinte, a de número 150, os Espíritos Superiores nos esclarecem dizendo que a alma jamais perde a sua individualidade e coloca-nos para pensar quando nos propõe esta questão “o que seria dela se não a conservasse?” Kardec insiste no tema e pergunta na questão 150-a: “Como a alma constata a sua individualidade se não tem mais o corpo material?” Como resposta obtém: “Tem um fluido que lhe é próprio, que tira da atmosfera do seu planeta e que representa a aparência da última encarnação: seu perispírito”. A palavra perispírito vem de peri significando: “em torno de” e espírito. Desta forma todos somos Espíritos revestidos com uma representação fluídica que nos acompanha após o desencarne e o corpo físico do qual nos utilizamos quando estamos encarnados. Então, não existe morte. Existe um deixar o corpo físico e retornar aos planos espirituais, que são nossos planos de origem.
Assim, podemos responder a nós que o que será depois, está em nossas mãos decidir. Ainda no livro Educação para a Morte, o prof. José Herculano Pires o encerra com uma indagação: “De que elementos dispomos para rejeitar a nossa própria sobrevivência? Que contraprovas podemos opor ao nosso próprio direito de superar a morte — a destruição total do ser humano num Universo em que nada se destrói?” Eduquemos para a morte como nos propõe este insigne professor e façamos valer a nossa vontade de realizar o bem, aprimorando-nos para sermos recebidos com festas como a descrita por nossa irmã Felícia. Será muito bom, não acham? Afinal há vida e ela está em nós e por nós no infinito de Deus!

Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:   http://www.oconsolador.com.br/ano8/387/especial.html