segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Causalidade


Somos um mundo de causas, ao mesmo tempo em que somos mundo de efeitos. A doença e a cura. O mestre e o aluno. A origem causal do que somos.

O homem, na sua essência, é o produto mais perfeito da Natureza, depois de seu início, a criação Divina, a construção é sua. O ser espiritual é perfeito de origem, mas sutil e neutro, composto de todas as possibilidades, que estão adormecidas, aguardando ambiente espiritual adequado para eclodirem, tornarem-se causas.

O despertar é lento, percorre tempo infindável, as movimentações vão mostrando o que é bom e o que é ruim, no entanto, é uma descoberta que se faz com o resultado de cada ação, depois de compreendida e experimentada.

Em outro passo, essa verificação, vivida e maturada, desperta em relação aos outros, porque de mesma maneira observa o que é bom ou ruim, nos seus efeitos e consequências, que retornam para si mesmo.

Nenhum ser surgiu com um manual, conquanto a consciência, que sofre a tal construção, que será autônoma depois de saber discernir, mesmo que relativamente.

As orientações externas, daqueles que chamamos mais vividos, tais como nossos pais, tem a figura de nos chamar a atenção para aquilo que já vivemos em vidas passadas e não lembramos objetivamente, mas o que temos no eu profundo, que está encoberto, pelos recursos da reencarnação, em nosso proveito, para nos dizer tenha cuidado, isso você já viveu e não foi bom, é a observação do pendor negativo, vez que o certo e o justo sempre serão apoiados, pois o bem não precisa ser justificado diante da consciência. 

Precisamos atenção para perceber de como somos e o que estamos realizando, analisar os efeitos do que causamos aos outros, é o espelho da nossa imagem causal, que mostra a posição evolutiva, a nossa condição espiritual.

A responsabilidade aumenta conforme o discernimento desabrocha. É intimo. Por isso, a consciência dos atos torna-se juiz implacável, vez que conhece a causa e não aceita retrocesso, não aceita ignorar o que já foi revelado, percebido e compreendido. Daí que antes de qualquer ação deve anteceder a reflexão, nesse exercício buscamos todos os valores para precisar ou antever os resultados e seus desdobramentos, porque com todas as vivências dos tempos que não se contam, tem condições de avaliar se devemos ou não, se os resultados serão bons ou não, é a razão, é a consciência e a lucidez, mesmo que ainda um pouco embaçadas, mostrando a nossa própria direção na vida.

Deflui com isso que ninguém é responsável pelas nossas dores e nem pelas nossas felicidades, muito embora a influência de uns nos outros. Recolhemos o que nos toca, porque sempre os efeitos retornam à causa. São Francisco ensinou: “é dando que se recebe...”; é por isso que retornamos à origem da origem, à causa da causa primeira, que é Deus, mas nos aproximamos lentamente, através da esteira do tempo, de acordo com o crescimento espiritual, até chegarmos ao estado de sublimidade, onde a interação se faz grandiosa e definitivamente.

Dorival da Silva 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Condução da Vida


Quanto já se conquistou nesta vida. Existiram: esforço, oportunidade, dedicação; a soma de tudo isso resultou realizações no campo profissional, os filhos estão criados, parece que a tarefa está terminada.

Será verdade? 


Tantos labores para as conquistas materiais; será que estamos realmente realizados? Não está faltando alguma coisa que nos incomoda, que nos desassossega, mesmo não faltando nada para o conforto e para a despreocupação com as questões financeiras. Parece um vazio, uma parte de nós que não está satisfeita, uma lacuna que não foi preenchida. A isso se dá a denominação de vazio existencial, tem-se de tudo e não se conquistou o essencial, na presente vida.

Desenvolvemos inteligências, relacionamentos de interesses profissionais. Amizade mesmo muito pouco ou praticamente nenhuma. Estamos ficando à margem da vida, não atuamos nos negócios, todos os que nos cercavam mudaram de endereço, não temos mais o que interessava: o resultado, o lucro, ou pelo menos essa possibilidade.

O tempo passa e vamos entendendo que os muitos interessados em nós não se interessam mais, eram apenas postulantes materiais, que agora já não nos incomodam tanto, estamos fora do processo. 

Por que isso ocorre? Vimos que esse vazio a preencher é o vazio existencial, que se torna, em muitas vezes, em depressão, busca-se a sua solução na orientação médica, ressalvadas exceções, não foge da clássica praxe. Em grande parte, é medida paliativa, porque a alma não se cura com fármacos, somente com a harmonia e tranquilidade da consciência. 

 E a solução?

O mais salutar é estender as mãos aos mais fracos, aos doentes, sejam emocionais ou não, aos abandonados, a colaboração efetiva às instituições que atendem as necessidades de parcela da sociedade. Assim vamos começar a entender a orientação de São Francisco: “é dando que se recebe...”, e, ainda, a mensagem de Jesus: “amar ao próximo como a si mesmo...”; e o lema da Doutrina Espírita: “fora da caridade não há salvação”. 

A partir da disponibilização em favor dos irmãos com menores condições no presente momento é que vamos preenchendo o vazio que nos desestabiliza emocionalmente e não conseguimos entender, apesar de possuirmos o suficiente meios materiais para viver tranquilamente nossos dias. 

Isso é-nos um alerta para que não releguemos em segundo plano, ou a plano nenhum, a nossa condição de “ser” espiritual e que somente o que preenche realmente a vida de paz é a consciência do dever cumprido com a fraternidade, são as dedicações e abnegações em favor do próximo, independentemente da nossa condição de riqueza ou não. 

Nem sempre as pessoas estão carentes de recursos materiais, as maiores carências são de afeto, compreensão, atenção, amizade verdadeira... 


Considerando as necessidades nossas, a condução da vida devem focar as preocupações naturais das construções do mundo material, que faz parte do mecanismo da Lei do Trabalho e do progresso geral; sem se esquecer as questões espirituais que da mesma forma deve receber atendimento durante a nossa vida.

Assim, visando não acontecer que estejamos satisfeitos com as conquistas materiais e vazios de recursos espirituais, de difícil preenchimento quando postergado demais o seu início dentro do contexto da vida, pois que requer exercício reiterado no longo da existência, de forma que se torne automatizado em nossa intimidade. 

Dorival da Silva

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Vida

A vida floresce sob tantas formas simples ou complexas. Vida é vida! Tem uma única fonte: Deus. 

Daí depreende-se que tem finalidade de ordem Divina. Está atrelada ao deotropismo, consciente ou inconscientemente segue para o Criador. 

A vida humana é um estágio mais avançado, tem inteligência, sentimento, consciência. Vida que carrega em si a sua história, demonstrando os degraus alçados de evolução. Nessa trajetória, onde as individualidades caminham juntas, pois a humanidade é composta da massa populacional dinâmica, em virtude das vivências de cada uma. Sabendo-se da existência dos estágios evolutivos, sendo que uma aprende com a outra, num processo para atendimentos às peculiaridades materiais e espirituais.

Como todas foram criadas simples e ignorantes, deverão conquistar inteligência e virtude em graus tais que se aproximariam muito do Criador, o que se dará nos futuros milhões de anos, de acordo com os esforços de cada uma, fazendo o caminho de retorno à origem, que é Deus, enriquecidas de valores morais. Isso sem perder a simplicidade, que agora com sabedoria, é iluminada. 

A vida é para ser vivida de forma justa e coerente, com o propósito de realidade espiritual. Fora isto o estado evolutivo estará estacionado na sua verticalização espiritual ou apenas estará em crescimento horizontal, em que imperam as questões materiais. O objetivo precisa ser atingido, em benefício da própria individualidade, que, apesar de não fugir ao desenvolvimento na horizontalidade, tem que desenvolver-se com melhor ênfase na verticalidade -- onde floresce o senso moral e espiritual, que exige esforços bem maiores --, pois que leva a individualidade ao altruísmo, um modo de esquecimento de si mesma. 

Esse esquecimento que é simbólico, pois sua atenção está voltada para a universalidade de sua atuação no Mundo, afinizando-se conscientemente as leis de Deus, como Jesus disse: “Eu e o Pai somos um...”; inexiste o desaparecimento da individualidade, mas a interação cooperativa nas ações em função do todo. Os interesses já não são particulares, egoístas, mas universais: “O Pai faz nascer o seu Sol e cair a sua chuva sobre justos e injustos...” A vida é para ser vivida com sabedoria... 

Dorival da Silva

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Libertar-se!

       O homem é inteligência e emoção, razão e sentimento, dependendo dos resultados da aplicação desses atributos origina-se a felicidade ou a infelicidade, tanto na presente vida, como na vida no plano espiritual. Relutar em buscar a harmonia, o equilíbrio, o conhecimento e a vivência justa é plantar dor para futura colheita de desespero, que permanecerão com o indivíduo até que expie e refaça a sua trajetória.

      Libertar-se quer dizer tornar-se melhor, dominar as tendências inferiores e substituí-las por pensamentos e atitudes nobres, transformadoras para o bem.

       Confunde-se liberdade com libertinagem, o que está muito em voga na sociedade, em parcela considerável, isto porque a liberdade tem correspondência com a responsabilidade. Quanto mais responsável, mais senhor de si, mais liberdade de ação, realizações de maior envergadura para si e à comunidade. A libertinagem é o exercício do egoísmo, busca irracional dos gozos primitivos, retorno às questões tribais de eras recuadas, onde o uso pelo uso, o gozo pelo gozo, desconsideração com os ingênuos ignorantes, na verdade é a perversão; traz consequências danosas de difícil solução, principalmente quando já se tem noção da precariedade moral dos atos ignominiosos: a sexolatria, a corrupção, os vícios voluntários -- pela busca do prazer incontido, gozos irrefreáveis --, trarão dores na mesma intensidade das forças despendidas para comprometimento da harmonia consciencial. 

       A entrega do indivíduo voluntariamente a essa barbárie, diante de tantas informações que as religiões têm apresentado incansavelmente trará, seguramente, desdobramento penoso, além das dificuldades no refazimento do caminho à clareza da alma.

      Quando no evangelho de Jesus ensina que se deve: “por as mãos na charrua e não olhar para trás...”, é para esquecer o homem velho, quer dizer: deixar os vícios, as concepções más, a selvageria, a corrupção moral, os crimes; devendo-se renovar-se, mesmo com as dificuldades para levar a vida, que certamente tem espinhos, pedrouços, trilhas escarpadas, abismos a serem vencidos, inimigos a espreitas, dores que parecem perpetuar. É o trajeto que o homem em renovação encontrará, àquele mesmo que plantou, por longos anos, décadas..., até que dos insuportáveis remorsos e conscientização das responsabilidades de seus atos e gozos irrefletidos não deixarão outro caminho, a não ser retomar o trecho prejudicado e limpá-lo com seus esforços, mesmo a custo de muita dor.

      Como ninguém, que sinceramente retoma trajetória de libertação está desamparado, surgem mãos amigas para auxiliar no bom ânimo, no encorajamento, na esperança, até a vitória final. 
  
         Libertar-se das mazelas que atrelam o homem a Terra, à materialidade, é tarefa constante, desde as pequenas coisas. Manter a inteligência e a consciência ativas, a disciplina na vida, respeito a si mesmo, ao próximo, educar-se cada vez mais, principalmente com base no evangelho de Jesus, que é a regra do bem viver – sem extremismo e sem fanatismo. O Evangelho bem compreendido é libertador de consciência. 

   A felicidade é o objetivo da vida, mas exige responsabilidade, esforços no bem, harmonia com a lei Divina, que passa pela vivência do amor desinteressado ou, seja, o amor-altruístico.

Dorival da Silva

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Nós! Quem Somos?!


    Qual a resposta? 

     Quem não quer conjecturar sobre tal questão? Numa das peças de marketing oficial diz: “a pergunta é mais importante que a resposta.” Não temos como discordar disso, sem o questionamento não se é possível qualquer resposta. 

     A indagação necessita de objetividade. A proposição pode ser invariável, no seu objetivo, no entanto, a resposta ou respostas nunca serão definitivas, dadas as reflexões e as muitas variáveis, considerando-se as morigerações possíveis, considerando a dinâmica filosófica.

    Nós!  Quem somos?! Poderíamos simplesmente dizer: somos Espíritos.  É verdade, mas há possibilidade de ampliação: que somos eternos; que fomos criados num certo momento, simples e ignorantes; que transitamos pelos reinos: mineral, vegetal, animal e, agora, chegamos ao reino hominal, e um dia chegaremos a Angelitude. Portanto, na esteira do tempo,  através de transformações, de reencarnação em reencarnação, por infindáveis experiências, que resultaram o que somos agora, como nos apresentamos,  nos relacionamos com os demais indivíduos... 

    O Criador de todos nós é o Incriado, conhecido no mundo cristão pelo termo designativo: Deus, que todos reconhecemos como “Inteligência Suprema e Causa Primeira de todas as coisas do Universo”. 

     Somos os seres que preponderamos sobre todos os demais reinos da Natureza na Terra, porque alcançamos grau de inteligência mais desenvolvido e postamo-nos com o despertamento da consciência, que seu desenvolvimento é fruto do livre-arbítrio, atribuído pelo Criador e exercido por todos nós, por milênios que nos ensejou discernir o certo do errado e assumirmos as responsabilidades e suas consequências, em qualquer tempo, seja ainda nesta ou em vida futura. A lei de Deus é justa e não permite que nenhum desvio, por desobediência, fique sem correção. Não vemos com frequência crianças que nascem com deficiência mental ou motora? Os complexos desequilíbrios mentais em adultos? Aleijões e todo tipo por acidentes fortuitos? Tudo isto resulta do ajuste que fazemos com a lei Divina no tempo, para que nossa consciência fique em paz, nos limpemos das consequências de nossas rebeldias de qualquer época.

Como ensina o Cura d’Arns, em o Evangelho Segundo o Espiritismo, em outras palavras: “antes de solicitar a Deus a cura de nossos males, de nossas deficiências físicas, deveríamos rogar primeiro a Deus a cura de nossa alma”, porque a cura dos nossos males físicos nos levará possivelmente a agravar a nossa consciência e aumentar os sofrimentos, há prevalência em mantermos nossos vícios e rebeldias, dado o acumulo de hábitos mal formados e que está estabelecido em nossa intimidade. Somente o desgaste das máculas que nos proporcionam sofrimentos, ajuda livrarmo-nos delas. Enfim, quem erra é o Espírito e não o corpo, que é apenas instrumento de manifestação da alma (o Espírito é denominado Alma enquanto está no corpo físico, pois é a vida, nele habitante).

Então somos Espíritos e temos toda uma história própria e que vai pela eternidade, pois que não terá fim.

Deus não criou nenhum de seus filhos (Espíritos) para que tenha fim, o corpo é apenas uma indumentária transitória e finita, somente para a experiência da reencarnação. 


Dorival da Silva

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Criança


         Oportunidade aguardada com grande expectativa por àqueles Espíritos que se encontram na erraticidade, para uns é aplacar suas dores, para outros modificação dos pendores negativos e, ainda, há àqueles que buscam ajustes junto de seus desafetos.

       Para os pais, o preenchimento de algo natural, o desejo da constituição da família consanguínea, a continuidade de espécie, o estabelecimento do futuro que desdobrará em tantas esperanças, a hereditariedade, a construção de homens e mulheres de bem.

        Espiritualmente tudo isso é um processo com atores e personagens reais, autônomos, que têm o livre-arbítrio, que trazem o seu cabedal individual, têm vontades, agem de acordo com os seus ímpetos, embasado no estado evolutivo, com seus defeitos e virtudes, onde tudo se desdobra em responsabilidades e consequências.

       Na criança está um momento especial, com um adormecimento da personalidade antiga, cansada, exaurida, para ir acordando com novas energias, como oportunidade de autoajuda, possibilitando tomar rumos novos, reconstruir sonhos, corrigir erros e vícios que o aturdiram, sendo que agora caiu num esquecimento proposital por mecanismo Divino, na reencarnação.

      Os pais colaboraram na constituição do corpo físico, fornecendo os elementos genéticos; o essencial, a vida, o ser pensante e emocional, que o comandará, já existia e aguardava o momento para entrar na carne novamente.

    Todos os seres humanos passaram por esse processo e passarão muitas outras vezes, pois é o instrumento evolutivo mais eficiente, vez que as necessidades orgânicas e emocionais são as grandes forças motrizes do crescimento espiritual.

       No transitar pela matéria, desde a criança frágil e dependente até a saída pelo túmulo, sopesados o tempo e as condições, resolvem-se muitas pendências e adquirem-se conhecimentos e vivências inestimáveis, conquanto a dor e as aflições que servem de limitadores, para que os riscos de desvio do objetivo sejam menores, com a compensação de paz e alegria quando mais sóbrios e comedidos nas ações. 

         Tanto o exercício do bem como a da mazela trazem consequências e refletem nas outras pessoas, tanto um como outra trará resultado evolutivo, o bom senso nos diz que é melhor fazer sempre o bem, mas como conhecê-lo sem experimentar as vivências e saber as diferenças, como escolher se não conhece, por isto o livre-arbítrio e os erros e acertos. Na obra básica da Doutrina Espírita -- O Livro dos Espíritos -- na questão 632: O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal? Resposta dos Espíritos codificadores à Allan Kardec: "-- Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso. Assim não vos enganareis."  Diante disso, fica esclarecido de que não se é obrigado errar para aprender, o que se faz obrigatório é pensar antes das ações e ter a humildade de aceitar de que nem tudo convém.

         A responsabilidade dos pais é orientar e advertir, passar suas experiências, mostrar o que é bom e o que é ruim, levar a criança à educação de seus pendores negativos apresentados desde o berço, mas a decisão de acolhimento é de quem toma as rédeas da vida, que nem sempre dá atenção às orientações dos mais vividos, face ao orgulho, o egoísmo e a presunção, que traz arraigado em si mesmo, de existências anteriores.

         São Paulo norteia: Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.

Dorival da Silva

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Autismo: uma abordagem espírita

Crônicas e Artigos 
Ano 3 - N° 104 – 26 de Abril de 2009



AMÉRICO DOMINGOS NUNES FILHO
americonunes@terra.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Autismo:
uma abordagem espírita
 

O autismo se caracteriza por um grave transtorno do desenvolvimento da personalidade, revelando uma perturbação característica das interações sociais, comunicação e comportamento. De uma maneira geral, a pessoa tem tendência ao isolamento, olhando de forma dispersa, sem responder satisfatoriamente aos chamados e demonstrando desinteresse pelas pessoas. O indivíduo, sem apresentar nenhum sinal físico especial, ostenta prejuízo severo de várias áreas da performance humana, acometendo principalmente as interações interpessoais, da comunicação e do comportamento global.
Descrito pela primeira vez em 1943, pelo psiquiatra Leo Kanner, até hoje suas causas permanecem desconhecidas, havendo forte indício de fatores genéticos.
O paciente apresenta um sistema nervoso alterado, sem condições psico-neurológicas apropriadas para um adequado recebimento dos estímulos necessários, afetando seriamente seu desenvolvimento, exibindo incapacidade inata para o relacionamento comum com outras pessoas, como também desordens intensas no desenvolvimento da linguagem.
O comportamento do portador do transtorno autista é caracterizado por atos repetitivos (rotinas e rituais não funcionais, repertório restrito de atividades e interesses) e movimentos estereotipados, bem elaborados e intensos (saltos, balanceio da cabeça ou dos dedos, rodopios e outros). Podem, igualmente, ser observados alguns sintomas comportamentais como a hiperatividade, agressividade, inclusive contra si próprio, impulsividade e agitação psicomotora.
Esse distúrbio, permanente e severamente incapacitante, associado a algum grau de deficiência mental e acometendo mais o sexo masculino, ainda é enigmático para a ciência, sem explicação convincente de sua causa e ausência de tratamento específico. Enquanto os pensadores se debatem em mil argumentos e justificativas, completamente envolvidos nas teias compactas da problemática síndrome, qual a contribuição que pode ser concedida pela ciência do Espírito?
A Doutrina Espírita ensina que somos artífices do nosso próprio destino (o acaso não existe). Quando nascemos com alguma deformidade, em verdade a mesma já existia antes em Espírito, porque a criamos dentro de nós, em determinada vivência física. Então, o Espírito é responsável por tudo que pensa e faz, pois subordinado à Lei de Causa e Efeito, divina por excelência. Se tivermos algo a expiar, a distonia arquivada, em nosso envoltório espiritual, propiciará a escolha da fita compatível e sua posterior gravação. Então, plasmamos em nosso ADN a informação codificada que trazemos em Espírito; sendo, portanto, nossas deficiências originadas de nós mesmos, nunca obra do acaso e muito menos predeterminadas por uma divindade vingativa. Somos hoje o que construímos ontem: “A cada um segundo as suas obras’’.
Ninguém nasce autista por acaso. A Justiça Divina é misericordiosa por excelência, propiciando ao infrator as benesses da retificação espiritual. Algumas teses espiritualistas relatam que o comportamento autista é decorrente do fato de o Espírito não ter aceitado sua reencarnação. O Livro dos Espíritos, na questão 355, ensina que a aliança do Espírito ao corpo não é definitiva, porquanto os laços que ao corpo o prendem são muito fracos, podendo romper-se por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Portanto, o Espiritismo instrui que, nos casos de não-aceitação da reencarnação, mediante o seu livre-arbítrio, a entidade se retira e acontece um aborto, denominado, pela ciência, de espontâneo.
Os déficits cognitivos severos, associados às profundas alterações no inter-relacionamento social, caracterizam o autista, apresentando uma forma de identificação profundamente diferente, resultante do mau uso das faculdades intelectivas, em existências anteriores, errando o ser, exatamente na dissimulação das emoções, estabelecendo relações afetivas baseadas no engodo, no fingimento, para manter suas posições sociais abastadas, no campo do poder social, igualmente na sedução sexual, utilizando o disfarce, a aparência enganadora, cobrindo com uma máscara psicológica a sua verdadeira personalidade, representando uma personagem falsa, enganando os circunstantes para auferir vantagens. Quantos indivíduos, exercendo cargos religiosos, políticos, militares e policiais, sem a preocupação de ajudar o próximo, assoberbados de vantagens pessoais, preocupados apenas com o seu próprio bem-estar, apresentam-se como falsos líderes, ludibriando a muitos, mas não conseguindo enganar a si próprios.
Na Parábola dos Talentos, Jesus alude aos que usaram seus dons, atributos, sem benefício para os semelhantes e, atormentados, posteriormente, pelo remorso, refletem um sofrimento que parece não ter fim (imagem simbólica do “fogo eterno”), recebendo a sentença que ressoa nos refolhos mais íntimos da consciência: ”até o pouco que têm lhes será tirado“.
O indivíduo autista representa alguém necessitado de muita atenção, carinho e amor, vindo ao mundo físico, em uma reencarnação essencialmente expiatória, totalmente desprovido do controle de suas emoções, com prejuízo acentuado na interação social, não desenvolvendo relacionamento eficaz com seus pares, fracasso marcante no contato visual direto, na expressão facial, na postura corporal, na tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas. Está agora sujeito às consequências de seus atos impensados do pretérito. De tanto não conceder o devido respeito às pessoas e de não conceber que os seres pensam e têm sentimentos, retorna com déficit e prejuízo da empatia, com intensa dificuldade de construir vínculos, sem se sentir atraído pelas pessoas e sem interesse em tentar falar, considerando o rosto humano muito complexo e confuso, difícil de olhar. No pretérito, a todo o custo, buscava a fama, a glória, o entusiasmo dos aplausos, o ardor dos cumprimentos e abraços; hoje, com aparência desorientada devido a uma expressão sem emoção, vivencia experiências caóticas, com dificuldade imensa de estar fora do seu casulo particular, principalmente quando ouve o ruído de um grupo de pessoas, causando acentuada confusão nos seus sentidos, sem saber distinguir os estímulos e, muitas vezes, aguçada dificuldade em relação à sensibilidade tátil, sentindo-se sufocado com um simples aperto. Contudo, “Deus é Amor”, proporcionando ao Espírito imortal, diante da eternidade, a oportunidade da redenção espiritual.
Quando retornar à dimensão extrafísica, apresentar-se-á curado, sem mais o remorso lhe assenhoreando o íntimo, vivenciando a paz e agradecendo a valiosa oportunidade, dispensada a si próprio, de agora poder valorizar a utilização dos dons da comunicação e o talento do carisma, visando o bem-estar do próximo e o seu próprio crescimento espiritual. A chance de ter tido uma existência difícil, quando se entretinha, enfileirando brinquedos e objetos, particularmente, pauzinhos, caixinhas, peças coloridas para encaixe, despertou dentro de si o potencial da humildade. Captando paulatinamente as vibrações amorosas de seus pais, familiares, amigos e abnegados terapeutas, assimilando-as intensamente, a carapaça da empáfia desabou e descobriu em plenitude o amor.
Afinal, somos herdeiros do infinito e estamos ainda iniciando nossa jornada evolutiva no rumo das estrelas grandiosas e incomensuráveis do Universo.


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A mensagem acima foi copiada da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: