domingo, 30 de outubro de 2011

Finados


            O dia de finados é uma homenagem aos que deixaram a vida objetiva do corpo físico.  Quem tem percepção subjetiva da vida verifica que não é somente uma afetividade dispensada à memória dos que faleceram, mas a certeza de que a vida que se manifestava através da roupagem carnal continua numa outra esfera vibrante que alcançamos com o pensamento, com os sentimentos.   É uma confiança, uma esperança, um conforto para a alma de quem ama, tem amizade, saudade...
            Allan Kardec questiona os Benfeitores da Humanidade da seguinte forma:  “Os Espíritos são sensíveis à lembrança que deles guardam os que lhes foram caros na Terra?  -- Muito mais do que podeis imaginar. Se são felizes, essa lembrança lhes aumenta a felicidade; se são infelizes, serve-lhes de lenitivo”.  “O dia da comemoração dos mortos tem algo de mais solene para os Espíritos? Eles se preparam para visitar os que vão orar sobre os seus despojos? – Os Espíritos atendem ao chamado do pensamento, tanto nesse dia como nos outros.” “O dia de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas? – Nesse dia, eles se reúnem em maior número nos cemitérios, porque maior é o número de pessoas que os chamam. Mas cada Espírito só comparece ali pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.”  Nota: questões 320, 321 e 321-a de O Livro dos Espíritos.
            Então, o que é essa tal de morte?  É uma transição, com o cessar da vitalidade física.  O finar é o esgotamento do combustível orgânico, pelas diversas circunstâncias: velhice, doença, ou, ainda, um destrambelhamento da equipagem por acidente, ou a autodestruição.
            Não existe a morte do Ser pensante, que é a alma do corpo, que passa a ser denominado de Espírito quando o deixa.  Esse Ser é viajante dos tempos, é vida infinita.   Vai e volta, isto é: reencarna e desencarna incontáveis vezes, entra novamente na matéria e a deixa até a depuração da essência divina que somos todos nós.
            De sã consciência ninguém homenageará o que  não acredita existir. Todos têm um sentimento inato da  imortalidade da alma,  que nenhum de seus entes amados deixaram efetivamente de existir. O espírito Dr. Bezerra de Menezes diz: “nossos familiares que partiram são invisíveis, mas não ausentes (...)”

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Palavras a um cego



            Meus amigos, abençoe-nos Jesus!
            Somos velhos companheiros de jornadas espirituais, repetindo experiências que o tempo nos faculta.
     Ontem, conduzidos pelo desequilíbrio, assumimos compromissos que o presente nos impõe ressarcir.
      Viandantes dos longos caminhos, retornamos para experiências de sublimação, vitimados pela incúria.
    Assinalados pelo desequilíbrio, embarcamos no escafandro carnal para o mergulho na psicosfera terrena onde encontramos o solo abençoado para a sementeira do futuro.
          Um dia, ouvimos a palavra dos Profetas ensinando-nos o reino de Deus e, não obstante, descemos da montanha da meditação para os vales do desequilíbrio matando e vingando os nossos sonhos destruídos como abutres sobre os cadáveres das gerações fanadas.
          Escutamos a palavra dos filósofos e enriquecemos a nossa vida de sabedoria, mas não mudamos o nosso conceito de vivência moral.
     Apesar de nos considerarmos estóicos e éticos, assassinamos, mancomunados com o poder do totalitarismo arbitrário.
            Por fim, escutamos Jesus.
          A palavra do Benfeitor da Humanidade, no Sermão da Montanha, falou-nos das bem-aventuranças, mas não mudou a estrutura do nosso comportamento e, em dezenove séculos de Cristianismo, temos pregado paz, montados sobre bombas; falamos de amor, disseminando ódio; ensinamos tolerância sob o guante da perseguição; programamos a renovação da Terra sob os estigmas de nossas paixões.
           Até quando, amigos e irmãos, buscaremos a verdade, pontificando na treva; até quando lutaremos pelo bem, fomentando o desequilíbrio?
          É natural que a nossa colheita seja de espinhos, de pedregulhos e os espículos do sofrimento, cravados nas carnes de nossa alma, apontem-nos uma Estrela Polar, que é o nosso Senhor Jesus Cristo.
         Cumpre-nos hoje voltar para Deus, sem exterioridades, sem a preocupação atormentante da busca dos fatos e da visão exterior.  
        Se fôssemos acreditar somente no que vemos e no que apalpamos, a nada, a quase nada, ficaria reduzida a nossa crença.
        A maioria dos fatos, e quanto acreditamos, transcorre no campo da energia e nem sempre podemos perceber, senão, por deduções matemáticas ou por conceitos transcendentais.
          Amemos!
       Se não vos for possível acreditar na sobrevivência da alma, amai o companheiro do vosso caminho; se tendes dúvidas, quanto à continuação da Vida, utilizai-vos, corretamente, da vossa vida corporal e realizai o bem.
         E tu, filho querido, que no silêncio da meditação pela cegueira física, pedes-me que te diga uma palavra!  Pois eu darei, dizendo que são bem-aventurados os que caminham na estrada solitária, momentaneamente em sombras, sem deblaterar, porque eles terão o Céu do mundo interior salpicado de astros refulgentes.
           Preserva o teu bom ânimo!
        A cegueira, nem sempre é uma dura prova. Antes, é uma bênção quando a aceitamos.
          Considera aqueles que veem e que conduzem os pés para a criminalidade.
         Medita em torno daqueloutros que têm a visão externa e, por dentro, estão pejados de ódio, bracejando com sombra e com amargura.
         Reflexiona em torno da oportunidade que Deus te deu a fim de fazeres a vigem para dentro de ti mesmo.
      Antes, quando podias ver o mundo de fora, conquistavas o exterior.
        Da alma vazia, sentias-te insatisfeito e amargo.
        Hoje, que perdeste o contanto dos contornos pela visão deficitária, que se apagou, podes ver o mundo de bênçãos que está dentro de ti como uma verdadeira Via-láctea, apresentando-te paz.
       O importante, filho, não é o que vemos, e sim o que somos.
        Mais valioso do que ver, é ser pacífico e propiciar-se, interiormente, a alegria de viver.
          Vive, pois, e ama.
     Ensina com o teu exemplo a grandeza desta fé inominada.
     Leva, àqueles que ainda enxergam e tropeçam, a sabedoria da tua experiência, porque dia virá, quando o corpo estiver alquebrado, em que se rasgará para ti uma madrugada de bênçãos, na qual te sentirás pleno e feliz.
         Eu suplico ao Pai que te abençoe, cumulando-te de graça e de harmonia.
        A vós outros, que me concedeis a honra imerecida deste momento, eu peço a Jesus que nos abençoe, fazendo que a Sua paz, que não tem atavios, permaneça dentro de nós, dulcificando-nos.
            Deus nos abençoe, meus amigos, e nos pacifique!
            Com todo o carinho, o amigo paternal de sempre,
           
Bezerra de Menezes

Nota: A presente mensagem foi recebida psicofonicamente, ao término de uma entrevista radiofônica, em Porto Alegre, num Teatro com mais de 1.000 pessoas, sob a direção do Dr. Mendes Ribeiro, atendendo a um periodista que ficou cego e rogara ao Benfeitor Espiritual uma palavra de conforto. 
Mensagem extraída da obra: Terapêutica de Emergência,
capítulo 16, 6ª ed., Livraria Espírita Alvorada Editora, 
Divaldo   Pereira  Franco

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DRAMÁTICAS CONTRADIÇÕES/CONSCIÊNCIA ESPÍRITA


      O recente episódio da matança de setenta e seis pessoas em Oslo, capital da Noruega,surpreendeu o mundo diante de tanta violência.
            Esse pequeno país do norte da Europa era, até então, um oásis de paz social, com um dos melhores índices de qualidade de vida.
            Dramática contradição!
            Nos últimos séculos outras contradições confundiram a mente coletiva da Humanidade.
            A Revolução Francesa, após a tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, em nome da liberdade, introduziu a guilhotina para decepar cabeças de oponentes.
       Léon Tolstoi, um dos mais notáveis escritores de todos os tempos, defensor da moralidade pública confessou, no fim da vida, ser um escravo de distúrbios sexuais aos 80 anos. Teve um filho ilegítimo e era violento com a esposa Sônia.
            Karl Marx, que renegou Deus e as religiões, em nome da justiça social e da dignidade dos seres, abandonou o próprio filho, adulterando com a empregada do seu lar Helen Demuth.
            Albert Einstein, um dos mais extraordinários cientistas, abandonou a filha que teve com a matemática sérvia Mileva Maric.  Eduard, outro filho do sábio, morreu louco em hospício, sem receber uma única visita do pai. Os papéis do seu divórcio com Elsa Löwentral citam agressões ficas.
            Sigmund Freud, criador da Psicanálise, desencarnou com um câncer bucal provocado pelos charutos que fumava. De nada adiantaram as dezenas de operações feitas.
            A distinta dama inglesa Betty William, prêmio Nobel da Paz em 1977, não hesitou em agredir policiais e incitar revolta em Londres. Acabou presa e humilhada.
            Católicos e protestantes continuam com suas batalhas ideológicas na Irlanda.
            Árabes e judeus matam-se impiedosamente, evocando a Torá e o Alcorão.
            Muçulmanos e hindus já travaram diversas guerras...
            Todos proclamam razões que os textos religiosos não sustentam.
            Jesus é a grande esperança!
            Templos, instituições e movimentos lembram seus feitos divinos. Ele está no inconsciente dos habitantes da Terra. Para ter paz e escapar das contradições impõe-se segui-lo em pensamentos, palavras e atos... mas, muitos de nós caminham distraídos dessas orientações.
            Em nosso caso particular, os espíritas, que tão ardentemente desejamos construir uma nova civilização, seria interessante lermos a página “Consciência espírita”, inserta no livro Cartas e Crônicas do Irmão X (Humberto de Campos), psicografado por Chico Xavier e editado pela FEB.
            É de impressionar!
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Editorial do jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná,
 setembro de 2011
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Inserimos adiante a página sugerida no final do texto acima:

CONSCIÊNCIA ESPÍRITA

            Diz você que não compreende o motivo de tanta autocensura nas comunicações dos espíritas desencarnados. Fulano, que deixou a melhor ficha de serviço, volta a escrever, declarando que não agiu entre os homens como deveria; sicrano, conhecido por elevado padrão de virtudes, regressa, por vários médiuns, a lastimar o tempo perdido... E você acentua, depois de interessantes apontamentos: “Tem-se a impressão de que os nossos confrades tornam, do Além, atormentados por terríveis complexos de culpa. Como explicar o fenômeno?”
            Creia, meu caro, que nutro pessoalmente pelos espíritas a mais enternecida admiração. Infatigáveis construtores do progresso, obreiros do Cristianismo Redivivo. Tanta liberdade, porém, receberam para a interpretação dos ensinamentos de Jesus que, sinceramente, não conheço neste mundo pessoas de fé mais favorecidos de raciocínio, ante os problemas da vida e do Universo. Carregando largos cabedais de conhecimento, é justo guardem eles a preocupação de realizar muito e sempre mais, a favor de tantos irmãos da Terra, detidos por ilusões e inibições no capítulo da crença.
            Conta-se que Allan Kardec, quando reunia os textos de que nasceria “O Livro dos Espíritos”, recolheu-se ao leito, certa noite, impressionado com um sonho de Lutero, de que tomara notícias. O grande reformador, em seu tempo, acalentava a convicção de haver estado no paraíso, colhendo informes em torno da felicidade celestial.
            Comovido, o codificador da Doutrina Espírita, durante o repouso, viu-se também fora do corpo, em singular desdobramento... Junto dele, identificou um enviado de Planos Sublimes que o transportou, de chofre, a nevoenta região, onde gemiam milhares de entidades em sofrimento estarrecedor. Soluços de aflição casavam-se a gritos de cólera, blasfêmias seguiam-se a gargalhadas de loucura.
            Atônito, Kardec lembrou os tiranos da História e inquiriu, espantado:
-- Jazem aqui os crucificadores de Jesus?
-- Nenhum deles – informou o guia solícito. – Conquanto responsáveis, desconheciam, na essência, o mal que praticavam. O próprio Mestre auxiliou-os a se desembaraçarem do remorso, conseguindo-lhes abençoadas reencarnações, em que se resgataram perante a Lei.
- E os imperadores romanos? Decerto, padecerão nestes sítios aqueles mesmos suplícios que impuseram à Humanidade...
- Nada disso. Homens da categoria de Tibério ou Calígula não possuíam a mínima noção de espiritualidade. Alguns deles, depois de estágios regenerativos na Terra, já se elevaram a  esferas superiores, enquanto que outros se demoram, até hoje, internados no campo físico, à beira da remissão.
-- Acaso, andarão presos nestes vales sombrios – tornou o visitante – os algozes dos cristãos, nos séculos primitivos do Evangelho?
-- De nenhum modo – replicou o lúcido acompanhante -, os carrascos dos seguidores de Jesus, nos dias apostólicos, eram homens e mulheres quase selvagens, apesar das tintas de civilização que ostentavam... Todos foram encaminhados à reencarnação, para adquirirem instrução e entendimento
            O codificador do Espiritismo pensou nos conquistadores da Antiguidade, Átila, Aníbal, Alarico I, Gengis Khan... Antes, todavia, que enunciasse nova pergunta, o mensageiro acrescentou, respondendo-lhe à consulta mental:
-- Não vagueiam, por aqui, os guerreiros que recordas... Eles nada saiam das realidades do espírito e, por isso, recolheram piedoso amparo, dirigidos para o renascimento carnal, entrando em lides expiatórias, conforme os débitos contraídos...
-- Então, dize-me – rogou Kardec, emocionado -, que sofredores são estes, cujos gemidos e imprecações me cortam a alma?
            E o orientador esclareceu, imperturbável:
-- Temos junto de nós os que estavam no mundo plenamente educado quanto aos imperativos do Bem e da Verdade, e que fugiram deliberadamente da Verdade e do Bem, especialmente os cristãos infiéis de todas as épocas, perfeitos conhecedores da lição e do exemplo do Cristo e que se entregaram ao mal, por livre vontade... Para eles, um novo berço na Terra é sempre mais difícil...
            Chocado com a inesperada observação, Kardec regressou ao corpo e, de imediato, levantou-se e escreveu a pergunta que apresentaria, na noite próxima, ao exame dos mentores da obra em andamento e que figura como sendo a Questão número 642, de “O Livro dos Espíritos”: “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?”, indagação esta a que os instrutores retorquiram: “Não; cumpre-lhe fazer o bem, no limite de suas forças, porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”
            Segundo é fácil de perceber, meu amigo, com princípios tão claros e tão lógicos, é natural que a consciência espírita, situada em confronto com as idéias dominantes nas religiões da maioria, seja muito diferente. 

FRANCISCO CANDIDO XAVIER
CARTAS E CRÔNICAS
( Ditadas pelo Espírito Irmão X)
Cap. 07.

sábado, 15 de outubro de 2011

Criança e Família


            Sempre que se tenha em pauta a discussão do futuro da Humanidade, a questão vital, que de imediato ressalta, diz respeito à criança.
            Não se podem estabelecer programas de ação para o provir, sem que se cuide dos elementos básicos para esse mister.
            Em qualquer empreendimento humano que objetive a sociedade do amanhã, é indispensável não nos esquecermos da realidade dos dias atuais, cuidando-se de dignificar os que transitam na infância, ora desarmados de recursos éticos e de apoio emocional, carentes de amor e arrojados aos despenhadeiros das sensações grosseiras, que os debilitam e esfacelam.
            Não nos referimos aqui, apenas ao menor carente, àquele que padece das ásperas quão infelizes conjunturas socioeconômicas e que constituem os milhões  de vítimas dos processos políticos impiedosos, geradores dos cânceres morais da ganância, da arbitrariedade e da prepotência a que se submetem os inditosos fomentadores do poder desvairado.
            Tampouco analisamos a situação dolorosa dos pequeninos sem pais, que são atirados, sem maior preocupação, às Instituições, onde se transformam em um número para representações estatísticas, ou nas quais são exibidos para inspirar a compaixão de uns, enquanto se exaltam outros sob os rótulos da solidariedade, da filantropia ou da caridade...
            Detemo-nos a examinar o problema da criança, no contexto da família moderna, quando os sentimentos do amor e do dever se fazem substituídos pelas fórmulas simplistas e pelas ações fáceis, mercantilizadas, de assistência moral e educacional.
            Tornando-se vítima, insensivelmente, do processo tecnológico avançado, o homem vem cedendo aos automatismos que o vencem, em detrimento das realizações com que se felicitaria, não se permitisse exageros na pauta das ambições do ganho e do gozo.
            Dizendo-se vítima das pressões de vária ordem, em decorrência dos impositivos do momento, a criatura entrega-se, em faina extenuante ou aventureira, à conquista dos valores amoedados, transitórios, elaborando mecanismos escapistas para o prazer, com os quais espera fugir às neuroses, não possuindo tempo nem paz para os deveres gratificantes da família, do lar, da prole.         
            Os cônjuges, em decorrência desse aturdimento, saturam-se com rapidez, engendrando técnicas de liberação ou desfazendo os vínculos matrimoniais, que foram estabelecidos à pressa, atendendo a caprichos infantis, possessivos, ou a interesses outros, subalternos, aos quais arrojam, sem melhor exame, o destino e a responsabilidade.
            Outras vezes, em face ao desgaste resultante dos excessos de qualquer porte, adotam atitudes extravagantes, de demasiada permissividade, ou de irritação e desmando, dando curso a estados instáveis e emocionalmente inseguros, em que os filhos se desenvolvem, entre indiferenças, desagrados, mimos impróprios e complexidades emocionais, geradores de futuros distúrbios do comportamento.
            Quando afloram os problemas, na difícil convivência doméstica, recorre-se, apressadamente, a soluções de psicólogos ou psicanalistas, ou educadores talvez sem vivência dessas dificuldades, honestamente interessados, é certo, que deverão realizar em breves horas, adrede marcadas, o que se malbaratou nos demorados dias da convivência familial.
            Os frutos de tal sementeira são, sem dúvida, amargos ou precipitadamente amadurecidos, quando não despencam da haste de segurança, em lamentável processo de  deterioração.
            Ocorre que a família é o núcleo de maior importância no organismo social.
            Quando se desajusta, a sociedade se desorganiza; quando se estiola, a comunidade se desagrega; quando falha, o grupo a que dá origem sucumbe.
            Santuário dos pais, escola dos filhos, oficina de experiências, o lar é a mola mestra que aciona a humanidade.
            Nele caldeiam-se os sentimentos, limam-se as arestas da personalidade, acrisolam-se os ideais, sacrificam-se as aspirações, depuram-se as paixões e formam-se os caracteres, numa preparação eficiente para os embates inevitáveis que serão travados, quando dos relacionamentos coletivos na comunidade.
            Isso, porém, quando o lar, por sua vez, estrutura-se sobre os alicerces ético-morais dos deveres recíprocos, cimentado pelo amor e edificado com o material da compreensão e do bem.
            Sem tal argamassa, desmoronou-se, facilmente, embora permaneça a casa onde se reúnem e se agridem as pessoas, em beligerância contínua, dando início, pela sucessão dos conflitos travados, às grandes lutas que assolam as comunidades, inspirando as guerras a que se atiram as Nações.
            O lar é o suporte imaterial da família, que se constrói na casa onde residem as criaturas, independendo dos recursos financeiros ou dos requintes exteriores de que esta última se revista.
            São o comportamento, as atitudes, as expressões de entendimento fraternal e de responsabilidade que edificam o lar, formando a família, pouco importando as condições físicas do lugar em que toma corpo.
            A criança, que vive na psicosfera de um lar harmônico, no seio de uma família que se compreende e se ajuda, transforma-se no elemento seguro de uma futura humanidade feliz.
            Todo investimento de amor que ora se dirija à criança é de emergência. Sem embargo, de igual necessidade é a educação dos adultos antes que assumam a responsabilidade da progênie, impedindo-os de transferir as suas inseguranças, descontroles, imaturidades, conflitos com que condenam o futuro a imprevisíveis desastres, de que já se têm mostras, a todos arrastando a irreversível situação de dor, que se alongam depois do desgaste físico, nos largos cursos da vida espiritual.
            Tarefa desafiadora para educadores e sociólogos, psicólogos e demais estudiosos do comportamento e da personalidade humana, o grave problema da dissolução da família e o consequente abandono de que vai relegada a prole.
            Adultos caprichosos e desajustados projetarão suas emoções nos filhos, formação de estruturas psicológicas, que lhes assimilarão as agressões e os conflitos, originando-se uma reação em cadeia que explodirá, volumosa, mais tarde, no organismo social.
            É lamentável e dolorosa a situação das crianças que não dispõem de recursos e foram de cedo arrojadas à carência, à orfandade. Não menor, porém, nem menos grave é o futuro incerto dos que padecem famílias desequilibradas, vivendo um presente inditoso, sob a tutela de pais egoístas, agressivos e neuróticos que se alienam, desgovernados e irresponsáveis, pensando em fruir as paixões irrefreáveis, que terminam por consumi-los na voragem da própria insânia.
            Ao Espiritismo, com a sua visão cristã e estrutura filosófica superior, cabe a tarefa imediata de voltar os seus valorosos recursos para a família, trabalhando o homem e conscientizando-o das suas responsabilidades inalienáveis perante a vida, quando informando-o sobre a finalidade superior da sua existência corporal.
            Demonstrando-lhe a indestrutibilidade do ser, bem como preparando-o para as vitórias sobre si mesmo, o conhecimento espírita fará que se esforce por agir com acerto, recuperando-se, na convivência de que a reencarnação ora lhe faculta, dos erros transatos, enquanto lhe oferece as oportunidades superiores para o seu futuro ditoso.
            Com o homem renovado e responsável, surge o lar equilibrado e sadio, onde se formará a criança enobrecida, rumando para uma sociedade melhor.
              Pensando-se, portanto, em termos de futuro, a criança deverá ser sempre a preocupação primeira, e a família, a modeladora inevitável que a trabalha, preparando-a para o amanhã, o que constitui o grande desafio que nos cumpre atender com elevação e dignidade.
            Parafraseando Jesus, repetimos:
            -- “Deixai que venham a mim os pequeninos”... porque à família feliz e nobre pertencerá o reino dos Céus.    


Benedita Fernandes,
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
extraída da obra: Terapêutica de Emergência, capítulo 13, 6ª ed.,

Livraria Espírita Alvorada Editora.  

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

REENCARNAÇÃO - A LEI DO AMOR

REENCARNAÇÃO

“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.” — Jesus. (MATEUS, capítulo 18, versículo 8.)

Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do sofrimento e do destino. Em muitas ocasiões, falou-nos Jesus de seus belos e sábios princípios.
Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.
É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade estagnada, quase morta.
No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem atividade espiritual edificante, de alma endurecida e coração paralítico. A expressão “melhor te é entrar na vida” representa solução fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoas humanas? Referia-se, porém, o Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentro da qual todo espírito despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.
Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos Jesus o motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.
Quanto à imagem do “fogo eterno”, inserta nas letras evangélicas, é recurso muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a viver com o Cristo, será impelida a fazê-lo, através de mil meios diferentes; se a rebeldia perdurar por infinidade de séculos, os processos purificadores permanecerão igualmente como o fogo material, que existirá na Terra enquanto seu concurso perdurar no tempo, como utilidade indispensável à vida física.
Extraído da obra: Caminho, Verdade e Vida, cap. 108, Francisco Cândido Xavier/ Emmanuel, FEB


A Lei do Amor
Lázaro
Paris, 1862

            O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avança e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento.  Não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior, que reúne e condensa em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas.  A lei do amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais.  Feliz aquele que, sobrelevando-se à humanidade, ama com imenso amor os seus irmãos em sofrimento! Feliz aquele que ama, porque não conhece as angústias da alma, nem as do corpo! Seus pés são leves, e ele vive como transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou essa palavra divina, -- amor – fez estremecerem os povos, e os mátires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
            O Espiritismo, por sua vez, vem pronunciar a segunda palavra do alfabeto divino. Ficai atentos, porque essa palavra levanta a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação,  vencendo a morte, revela ao homem deslumbrado o seu patrimônio intelectual.  Mas já não é mais aos suplícios  que ela conduz, e sim à conquista do seu ser, elevado e  transfigurado. O sangue resgatou o Espírito, e o Espírito deve agora resgatar o homem da matéria.
            Disse que o homem, no seu início, tem apenas instintos. Aquele, pois, em que os instintos dominam, está mais próximo do ponto de partida que do alvo. Para avançar em direção ao alvo, é necessário vencer os instintos a favor dos sentimentos, ou seja, aperfeiçoar a estes, sufocando os germes latentes da  matéria. Os  instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos. Trazem consigo o progresso, como a bolota oculta o carvalho. Os seres menos adiantados são os que, libertando-se lentamente de sua crisálida, permanecem subjugados pelos instintos.
            O Espírito deve ser cultivado como um campo. Toda  a riqueza  futura depende do trabalho atual. E mais que os bens terrenos, ele vos conduzirá à gloriosa elevação. Será então que, compreendendo a lei do amor, que une a todos os seres, nela buscareis os suaves prazeres da alma, que são o prelúdio das alegrias celestes.  

Extraído de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XI, item8, 43ª ed., LAKE

Nota: Juntamos as duas mensagens por serem complementares, dando-nos a idéia da justiça das reencarnações e os objetivos da vida na matéria.