quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário - 2ª parte

Especial Inglês Espanhol
Ano 9 - N° 438 - 1° de Novembro de 2015
JOSÉ SOLA GOMES
josesolagomes@gmail.com
São Paulo, SP (Brasil)

José Sola Gomes

Adolfo Bezerra de Menezes: o homem e o missionário
Ele viveu a filosofia e também a ciência, mas não se
esqueceu de praticar a caridade
 
Parte 2 e final
 
Havia transcorrido um ano da desencarnação de sua esposa e, em 1864, Bezerra de Menezes foi reeleito vereador e casou-se com D. Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã de sua primeira esposa. Com ela, teve sete filhos e permaneceram juntos até o momento de seu falecimento. Deu, então, continuidade à sua carreira política. Em 1867 foi aclamado e eleito deputado geral.
Manteve diversas lutas políticas, sendo conhecido como homem público que não comprometia seus princípios para colher favores ou posições. 
A exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu-se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio do pouco que possuía, a benefício desses necessitados.
Quando afastado provisoriamente da atividade política e dedicando-se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou-se na construção da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, tornou-se presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão.
Depois de breve afastamento, retornou à atividade política e foi, então, eleito vereador em 1876. Em 1878 foi reeleito e tornou-se presidente da Câmara Municipal (correspondente ao atual cargo de Prefeito Municipal) e líder do seu partido, permanecendo no cargo até 1881.
Alguns confrades espíritas, sabendo-me adepto da premissa das almas gêmeas, me questionaram na intenção de saber qual das duas mulheres seria a alma gêmea de Bezerra de Menezes: a que lhe foi a primeira esposa ou a segunda? 
Dr. Bezerra Menezes empresário 
Tenho respondido logicamente conforme o meu entender, pois Dr. Bezerra nunca apresentou algum comentário a esse respeito. Respondendo à pergunta, tenho dito que provavelmente nenhuma das duas, pois é provável que a alma gêmea de Bezerra já esteja vivendo uma evolução muito maior que ele, pois, embora não seja regra, as mulheres comumente evoluem mais rápido que os homens, como é o caso de Emmanuel e Lívia, ou de Carlos Kenaglan e Alcíone. Mas, o que não podemos esquecer é que não reencarnamos apenas com nossas almas gêmeas, pois vivemos várias reencarnações junto a outros Espíritos, por necessidade de ter outras experiências ou atraídos mesmo pela sensualidade do sexo oposto, pois somente acordamos para a concepção de que somos almas gêmeas quando nos maturamos no campo do sentimento e, mesmo assim, quase sempre esse acordar acontece pelo cadinho da dor.
Pelo que podemos ver, nosso amigo Bezerra de Menezes, além de médico, atuou também na área empresarial, foi político, enfim, viveu uma vida dinâmica, havendo sido mesmo presidente da Companhia Carril de São Cristovão. Dr. Bezerra ocupou cargos na política, foi deputado, foi presidente da Câmara, o que equivalia naquela época ao cargo de perfeito, tal qual conhecemos.
Ocorre que, quando citamos essas informações em seu currículo, alguns confrades menos avisados imaginam que Dr. Bezerra haja se demorado envolto em politicagem. Ora, não podemos confundir política com politicagem, pois a política é uma necessidade social, para se administrar um município, estado, ou nação. A política faz parte intrínseca da vida de um indivíduo. Mesmo quando dizemos a célebre frase “eu sou apolítico”, estamos defendendo um princípio político nosso e não aceitamos outros. Diferente disso, a politicagem prima em interesses partidários, em obter vantagens pessoais e financeiras, e o indivíduo se esquece por completo dos interesses comuns da sociedade.
Já houve, com certeza, muitos políticos honestos em nosso país, mas com certeza hoje está muito difícil encontrarmos alguns, embora haja um número infinitamente maior de políticos no Brasil do que havia na época em que viveu Dr. Bezerra. 
Augusto Elias da Silva e a criação da FEB 
Se nosso amigo Bezerra era dinâmico, realizador, operante em vários departamentos da vida, isso acontecia por manifestar seu amor em tudo o que fazia. Havendo acordado para a doutrina espírita, seu amor e sua dedicação foram infinitos, e esse amor pelo Espiritismo deu, como sabemos, ótimos frutos, vindo ele exercer papel fundamental no Movimento Espírita brasileiro.
Por essa época o Espiritismo no Brasil buscava organizar-se.
Em 1876 surgira a primeira sociedade espírita no Rio de Janeiro. Em 1883, Augusto Elias da Silva, interessado na difusão dos ensinos espíritas, fundara a revista “Reformador” e punha-se a procurar colaboradores. 
O Espiritismo sofria, no entanto, grandes perseguições e era combatido veementemente. A imprensa era fonte diária de críticas ferozes; os sermões enchiam os púlpitos de insultos e insinuações contra a doutrina. Elias da Silva foi então buscar em Bezerra de Menezes conselhos sobre como revidar toda a animosidade contra os espíritas e o movimento. A resposta dada pelo Dr. Bezerra foi o de não seguir o caminho do ataque, de não combater o ódio com o ódio, mas antes combater o ódio com o amor. A tônica desse conselho norteou toda a vida e o trabalho de Bezerra, dentro e fora do Movimento Espírita brasileiro.
Além dos ataques externos, reinava em 1883 um ambiente francamente dispersivo no seio do movimento espírita brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse, de certo modo, indestrutível.
A cisão era, então, profunda entre os chamados "místicos" e os "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico.
No dia 27 de dezembro de 1883, Augusto Elias da Silva promoveu uma reunião com os 12 companheiros que o ajudavam no “Reformador”. Nesse encontro, eles decidiram fundar uma nova instituição, que não fosse nem mística, nem científica, mas ideologicamente neutra.
Assim, no dia 1° de janeiro de 1884, foi fundada a Federação Espírita Brasileira (FEB), que promoveria a doutrinação, a disciplina e o intercâmbio de experiências entre os diversos centros já existentes.  
O Dr. Bezerra Menezes jornalista 
Bezerra foi um dos primeiros a ser convidado para assumir a posição de presidente da organização, mas não aceitou, por não se considerar capaz de tamanha responsabilidade. Seu primeiro presidente foi o Marechal Ewerton Quadros e a revista “Reformador” tornou-se o órgão oficial da FEB.
Em 1887 o Médico dos Pobres passou a escrever uma série chamada “Espiritismo – Estudos Filosóficos”, que saía aos domingos no jornal “O País”, com o pseudônimo de Max. Vale lembrar que na época esse era o jornal mais lido no Brasil. Continuaria a série de artigos até o Natal de 1894. Escreveria depois, com o mesmo pseudônimo, em outros dois jornais, sempre em defesa dos postulados do Cristo Jesus, calcado na visão espírita. 
Em 1888, logo no início da série de artigos, Dr. Bezerra perdeu dois filhos. Reagiu e continuou trabalhando. Durante cinco anos escreveu sobre a Doutrina, elucidou muitas pessoas e arrebanhou outras tantas para as fileiras espíritas.
Encontramos alguns confrades que sentem ojeriza quando ouvem falar em “polêmica”; entretanto não podemos esquecer que Bezerra de Menezes foi um missionário da doutrina espírita no Brasil, tão relevante foi a sua atuação no movimento espírita, que nós os espíritas atribuímos a esse espírita maravilhoso o cognome de “Kardec brasileiro”. Bezerra de Menezes foi humilde durante toda a sua vida, infinitamente caritativo, não polemizava por ostentação, mas porque desejava esclarecer a verdade. Quem desejar ter conhecimento dessas polêmicas, deve adquirir os Estudos Filosóficos, tomo 1 e tomo 2, publicados pela FEB, pois não me é possível transcrevê-las. Conhecendo-as, verão como eram as polêmicas travadas com muita propriedade por parte de Bezerra com os sacerdotes e bispos da época, o que será muito útil a todos aqueles que acreditam que polemizar é perlengar.
Em 1889 o Marechal Ewerton Quadros foi transferido para Goiás, ficando impossibilitado de permanecer à frente da FEB. Para substituí-lo, foi eleito Dr. Bezerra de Menezes, que, cerca de três anos atrás, havia chocado a sociedade carioca com a notícia de sua conversão ao Espiritismo. Ao elegê-lo, a intenção dos confrades febianos era colocar uma pessoa de prestígio e força moral na presidência, a fim de fortalecer o processo de unificação. 
Dr. Bezerra dizia que era espírita de nascença 
Bezerra de Menezes anunciou publicamente sua conversão ao Espiritismo, tão grande era a emoção que sentia na alma – e não podemos nos esquecer de que naquela época o Espiritismo sofria uma perseguição intensa por parte da imprensa, tanto quanto da Igreja Católica Apostólica Romana.
Realmente, é preciso reconhecer: Dr. Bezerra não havia errado quando, ao ler “O Livro dos Espíritos”, disse a si mesmo que era espírita de nascença.   
À frente da Federação Espírita Brasileira, ele tentou a todo custo promover a união de todos os espíritas, inspirado principalmente por mensagem ditada mediunicamente por Allan Kardec em janeiro daquele ano, por intermédio do médium Frederico Júnior, chamada “Instruções de Allan Kardec aos Espíritas do Brasil”. 
Ele lutou muito no intento de eliminar as diferenças que aconteciam no meio espírita e seu propósito era promover uma liderança que abrigasse todos os espíritas do Brasil. Quanto mais aumentavam as dissensões, mais aumentava seu esforço e seu trabalho. 
Por faltarem pregadores espíritas cristãos, assumiu ele próprio a função. Iniciou, assim, no dia 23 de maio de 1889, uma sessão semanal na Federação para o estudo de “O Livro dos Espíritos” e os resultados obtidos foram os melhores possíveis, com o grande número de pessoas que ali compareciam ávidas de conhecimento e saber.
Dedicado à causa, realizava também conferências e reuniões em uma casa espírita chamada “União”. Fundara uma casa chamada “Centro”, para promover o estudo do “Evangelho” e de “O Livro dos Espíritos”, na tentativa de conciliar as diferentes correntes de pensamento espírita. E participava, ainda, em outra casa, dos trabalhos de desobsessão. 
A mensagem “Instruções”, de Kardec, fornecera as diretrizes para o trabalho do Dr. Bezerra. A certa altura Kardec pergunta: “Onde está a escola de médiuns?” e essa pergunta ficou gravada na mente de Bezerra. Na realidade, ele não encontrou uma escola de médiuns em parte alguma. A solução encontrada foi fundar ele mesmo a tal escola. 
Muitos se opuseram à ideia, mas ele terminou por instalar a “Escola de Médiuns” no Centro. Como, infelizmente, ninguém gostava de estudar, ele se viu só, pois nem mesmo os próprios membros da diretoria da instituição frequentavam a escola. Ele apresentou um convite a todos, mas ninguém comparecia. 
O movimento espírita prosperava, contudo, em outras áreas. A Federação Espírita Brasileira inaugurava o seu período áureo, preparando-se para o futuro glorioso que a aguardava, iniciando uma caminhada que estaria a solidificá-la como a Casa-Máter do Espiritismo no Brasil.
Jamais ignoremos os exemplos do Dr. Bezerra 
Instituiu-se o serviço filantrópico de “Assistência aos Necessitados”, que atraiu muita gente e era o complemento de um dos três aspectos do Espiritismo, o aspecto moral, pois como poderia realmente ser o Consolador prometido, indiferente à dor e à necessidade alheia?        

Dr. Bezerra continuava esquecido no “Centro”, mas, mesmo assim, manteve firme seu propósito. A situação chegou a um ponto em que a despesa e os gastos da instituição tornaram-se insustentáveis, e Bezerra já não podia dispor de seus próprios recursos. Convocou por carta cada um dos membros da diretoria, para buscar a solução do problema, mas ninguém atendeu ao chamado. Na semana seguinte, convocou-os novamente. Ninguém compareceu. Foi à casa de um por um para convocar uma última reunião. Nem mesmo assim eles atenderam. Bezerra foi então, sozinho, procurar abrigo em outra casa espírita, onde foi bem recebido. A boa acolhida, porém, não durou muito tempo, já que apareceriam novamente as dissensões entre as correntes de pensamento espírita. O movimento espírita demorava-se carente de união.
Espíritas, por mais difícil que pareça a situação do Espiritismo, vamos ter como exemplo esse Espírito maravilhoso, que em momento algum se deteve diante das dificuldades e lutou destemido confiando na vitória da luz sobre as trevas.
Vamos pugnar, por nossa vez, no intento de preservarmos a lídima e pura doutrina espírita, vivendo pela causa com todo o amor, como exemplificou Dr. Bezerra, pois o Espiritismo é a religião universal do amor e da sabedoria que palpita no coração de cada criatura, o encontro marcado com as lições do Cristo de Deus, como nos diz Emmanuel.
Apliquemo-nos para desmistificar aqueles que acreditam que o Espiritismo deva ser apenas uma ciência, ou uma filosofia, pois o Espiritismo é, acima de tudo, uma como síntese da moral divina, da moral ensinada pelo Cristo, pois não podemos esquecer que Jesus foi o médium de Deus na Terra, não incorporando o Ser Supremo do universo, mas traduzindo para nós as Leis Divinas, que expressam o pensamento do Criador a manifestar-se na vida, ao longo da eternidade.
Não nos esqueçamos, por fim, de que Dr. Adolfo Bezerra de Menezes viveu a filosofia, e também a ciência, mas não se esqueceu de praticar a caridade, pois de que nos vale uma cabeça cheia de sonhos quando nos demoramos com as mãos desocupadas? Quando faltamos com a caridade, demonstramos que somos ainda imaturos no campo do sentimento e do amor.  

Página colhida na Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano9/438/especial.html