O mundo está desassossegado!
“Mas, buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas.” — Mateus, 6:33
A presunção e a arrogância, sendo dois males terríveis na humanidade, que deveriam ser combatidos desassombradamente, têm tomado conta dos dias atuais -- com o agravante de estarem estabelecidas em várias lideranças, instigando seus liderados, pelo mau exemplo, a comportamentos igualmente despóticos.
Os mais fortes submetem os mais fracos ao talante de interesses por mais poder e consequentemente mais riqueza. Há ausência de fraternidade e total afastamento da Lei Divina de amor ao próximo.
Além das dificuldades próprias de cada pessoa -- pois não há quem não tenha seus problemas particulares, que pedem atenção e dedicação para serem resolvidos -- existem as dificuldades nos grupamentos familiares, que também devem merecer esforços para sua solução.
As doenças orgânicas se manifestam desde as células que formam os órgãos; da mesma forma, as doenças sociais nascem do desiquilíbrio de seus indivíduos. Quanto mais se demora a busca pelos equacionamentos dos problemas existenciais, mais complexas se tornam as perturbações, que, sendo alimentadas, se multiplicam.
A finalidade de nosso nascimento neste mundo é o próprio melhoramento, em todos os sentidos: na educação, na cultura, na política, nas relações sociais e científicas.
As relações sociais, esgarçadas pela desonestidade, pela indignidade e pelo desrespeito ao próximo, geram a criminalidade, a deslealdade, os choques por extremismos ideológicos que maltratam toda uma geração -- tando daqueles alinhados com esses desvios morais quanto dos que são indiferentes a tais purulências sociais --, até mesmo prejudicando a parcela da população que luta contra todas as adversidades para trilhar um caminho de dignidade e de respeito por si mesma e pelos demais.
Essas circunstâncias nos mostram o quanto estamos distantes do que espera o planejamento Divino para os seus filhos.
A lógica comum, que a própria vida nos ensina, demonstra que os objetivos de nos encontrarmos numa nova existência carnal -- o que se chama reencarnação -- têm por finalidade que nos elevemos espiritualmente em virtudes, para que a paz e a felicidade estejam ínsitas, naturalmente, em nossa intimidade espiritual.
No entanto, para seguirmos nesse objetivo, faz-se necessário o cultivo da riqueza que se almeja. Mas os indivíduos, por mais inteligentes que sejam, buscam propositalmente o desassossego, o tumulto social, o sofrimento que impede a chegada à meta espiritual relevante: a paz e a felicidade.
Além disso, colocam pedras e espinhos no caminho evolutivo por onde serão obrigados transitar no retorno, quando estiverem mais conscientes de que a evolução espiritual exige caminhada em sentido contrário a tudo o que, irrefletidamente, realizaram, atormentando-se.
O mundo em que vivemos é uma das moradas da Casa do Pai (Deus) -- como ensina Jesus Cristo -- e, nesse contexto evolutivo, temos a liberdade, o livre arbítrio. Mas, como o Senhor, Criador de Todas as Coisas, rege tudo por meio de Suas leis de amor e justiça, atribuiu a responsabilidade pela harmonia e o equilíbrio do livre-arbítrio às intenções e atos de cada um de Seus filhos.
Assim, cada uma de Suas criaturas receberá a cobrança por seus atos negativos exatamente de acordo com a clareza de seu estado de consciência; e, da mesma forma, receberá a paga dos méritos na mesma proporção de sua iluminação.
Nunca haverá injustiça!
O registro de Mateus, no versículo em destaque, onde Jesus ensina: “(…), buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça (…)”, ainda não foi compreendido, sendo que o Reino de Deus é um estado de espírito --próprio de um espírito que conquistou virtudes e se iluminou -- e a justiça Divina é a paz e a felicidade, na proporção do mérito.
Na segunda parte do versículo: “(…) e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”, podemos entender como sendo a abertura de um novo contexto de vida, uma ampliação do nosso horizonte espiritual, sobrepondo-se aos limites e peias materiais, proporcionando uma liberdade num estágio por ora inimaginável.
No entanto, os habitantes do mundo, em parte substancial, estão assoberbados com o materialismo e a descrença.
A esperança tornou-se apenas um vocábulo, o seu sentir não se encontra, nem nas mentes nem nos corações, pois não se espera mais o futuro. O desejo é que tudo se inicie e termine agora. É o imediatismo! Uma cegueira espiritual.
Os movimentos sociais, políticos, econômicos e científicos causam aflições pela insegurança e medo, gerando conflitos entre os interesses e visões antagônicas, proporcionando um desassossego generalizado.
Conquanto a serenidade e a temperança sejam frutos de uma fé substancial em Deus -- oferecendo a resistência moral que se sobrepõe a todos os vendavais emocionais, às tentações e aos oferecimentos materialistas --, essa condição, para ser alcançada, depende de uma fé que raciocina, que permite a compreensão do ser na sua integralidade: vida material e vida espiritual.
A compreensão da espiritualidade num aspecto mais amplo, além de uma confiança inabalável em Deus, é fundamental para uma vida emocionalmente equilibrada e espiritualmente produtiva.
O desequilíbrio espiritual grassa na geração atual.
É preciso que analisemos sobre isso -- para não sermos, também, um desassossegado.
Dorival da Silva
Nota: As obras básicas da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese) podem ser baixadas gratuitamente do sítio da Federação Espírita Brasileira (FEB), através do endereço eletrônico abaixo: