Alegria — uma construção
No mundo, há uma busca frenética pela alegria. Mas esse sentimento é fugidio. Parece estar nas festas entre amigos. Às vezes, acredita-se que poderá ser encontrado nos carnavais.
Buscam a alegria no casamento, depois, esperam-na com a chegada dos filhos e, ainda, a aguardam nos demais eventos da família. Ela faz pousos muito rápidos e vai saindo de mansinho, tornando-se imperceptível, até que já não se encontra mais.
Renovam eventos, adquirem algo almejado, implementam investimentos, e a alegria aparece como lampejo. Logo se apaga. Como em um círculo vicioso, buscam constantemente a alegria que estaria em algum lugar ou em alguma coisa, mas não a encontram; apenas, inopinadamente, ela surge por alguns instantes.
Grande parte das pessoas pensa na alegria como algo presente onde a risada é farta, onde haja gracejos e peraltices motivadoras de contentamento — como as fanfarrices do palhaço no circo, que mantêm o entusiasmo da plateia. Nem sempre aquele que faz rir está alegre; muitas vezes, intimamente, chora as dores que os demais desconhecem. Passado o calor do espetáculo, as risadas cessam e a alegria já se foi.
Muitos creem na alegria enganosa da bebedeira, da drogadição, das fantasias virtuais, da sexolatria… Ilusões de efeitos voláteis, mas de consequências reais de difíceis soluções.
Contudo, existe algo que precisamos dar atenção:
“(…) No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo;
eu venci o mundo.” — (João 16:33).
Quando Jesus Cristo, já nos momentos finais de sua existência, transmitia aos Apóstolos esses ensinamentos cruciais sobre o que esperar do mundo, também os estendia a toda humanidade. Têm grande relevância, pois estamos em um cadinho de experiências, provações e resgates.
As aflições não são difíceis de constatar; existem porque é imprescindível que o homem neutralize as suas matrizes. Quando o Senhor diz: “Tende bom ânimo.”, devemos entender: arregimente todas as suas forças, busque os meios possíveis e não deixe de buscar a Deus, fortalecendo-se na fé para vencer todas as suas limitações espirituais.
É preciso “vencer o mundo”, o que também necessita ser bem compreendido. Não se trata de vencer qualquer indivíduo, possíveis adversários ou coisas materiais, mas de vencer os preconceitos, os paradigmas que impedem o livre pensar, os hábitos e costumes arraigados e improdutivos para a elevação espiritual. Somente o estudo constante, as reflexões profundas sobre as razões da existência e a busca do entendimento do que virá depois desta vida conseguirão vencer o homem velho.
A alegria é algo que se estabelece na alma; ocorre com a elevação do padrão espiritual ao longo do tempo, sendo uma construção de várias existências e de exercícios constantes no bem.
No estágio em que a maioria dos habitantes da Terra se encontra, a alegria é algo fortuito, dependente de fatos ou circunstâncias que a proporcionem. Ainda não se trata de um sentimento estabelecido; carece de motivações externas.
Existem pessoas que são permanentemente alegres. Um fato ou outro desagradável pode causar algum lapso, passado isso, a alegria continua. Não é nada espalhafatoso, cheio de risadas ou outras demonstrações perceptíveis — é um estado interior. Quem possui tal conquista a vive sem se preocupar com isso, pois nem nota em si essa virtude.
Aqueles que ainda não alcançaram essa condição buscam-na; no entanto, ela é fragmentária, acontece ocasionalmente e é fugidia.
Tomando consciência disso, é hora do “bom ânimo” e de “vencer o mundo”, realizando o bem permanentemente para construir o sentimento de alegria definitivo no próprio espírito.
A alegria é construção de longo tempo — mas é para sempre.
Dorival da Silva.
Nota: As obras básicas da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese) podem ser baixadas gratuitamente do sítio da Federação Espírita Brasileira (FEB), através do endereço eletrônico abaixo: