Alguém fez uma viagem definitiva!
Há bom tempo vi um filme
que não lembro o nome, neste um menino que sofria de doença terminal perguntava
para o seu médico se ele sabia como era morrer, o médico desviava o assunto,
mas o garoto insistia e explicava: quando dormimos no sofá e alguém nos leva
para a cama, nós dormimos num lugar e acordamos em outro, morrer é a mesma
coisa, adormecemos aqui e acordamos do outro lado desta vida. Essa
analogia infantil revela grande verdade.
Neste ano e alguns
meses de pandemia quantas famílias viram seus entes entrarem num sono e não
despertarem deste lado da vida.
Filhos e filhas,
mães e pais, avós... não se encontram presentes em seus lares, no Brasil passam
de quinhentos mil e no Mundo mais de quatro milhões, num átimo de tempo
deixaram seus afazeres, seus planos, os seus amores, cessaram as rotinas
diárias na jornada terrena.
Para todas as
pessoas amorosas pelos seus, essas ocorrências são muito difíceis de vivenciar,
no entanto, ficam mais doloridas para aquelas que não conhecem o mecanismo da
morte, após fechados os olhos e aquietados os sinais vitais do corpo. Não
é fácil conceber que aquela pessoa que amamos a partir desse ponto não é o
corpo que permitia a sua proximidade, demonstrava as reações e realizava as
suas tarefas sob nossas percepções. Em conta disso que se diz que o corpo de
fulano foi inumado, e não que o tal fulano foi enterrado. Pois, não se
leva para o cemitério o nosso familiar querido e sim o seu corpo, em conta o
respeito que devemos àquele que o habitava.
A vida é sempre uma
continuidade, é certo que existe um tempo de adaptação à nova realidade, às
vezes aprender como se vive sem o corpo pesado, liberar-se dos reflexos de
hábitos que se tornaram comuns no dia a dia da vida material, encaminhar-se
para trabalhos novos, relacionamentos sociais diferentes, sem, no entanto,
esquecer daqueles que ficaram, porque a saudade não acontece somente para os que permanecem, do outro lado isso pode ser bem mais intenso.
É preciso que
tenhamos consciência que a vida normal do Espírito é aquela que dizemos do
outro lado desta vida, fora do corpo físico. Existe um equívoco de
entendimento, a vida que conhecemos no corpo é passageira, todos sabemos. A
vida do Espírito não se interrompe. O Ser espiritual entra num corpo, quer
dizer, passa pelo processo de reencarnação, através da gravidez, que requer a
coparticipação do pai e da mãe, como recurso evolutivo.
A inteligência se
desenvolve mais rapidamente com as necessidades que o mundo material impõe,
tanto quanto desenvolve o senso moral com as vivências oportunizadas em cada
fase da vida. O objetivo fatal do indivíduo é chegar a um estado de perfeição,
o que acontecerá com seus próprios esforços, livrando-se de retornar a um
corpo pesado. Em conta disso, as inumeráveis reencarnações. Se não fosse
esse processo de evolução constante, embora na velocidade que cada um se impõe,
estaríamos ainda na idade da pedra.
Os nossos amores vão, ou nos antecipam na viagem definitiva à presente experiência que
todos estamos vivendo, assim, todos iremos. Aqueles que nos anteciparam,
estarão nos aguardando o retorno, como os que anteciparam àqueles também os
aguardavam.
A estrutura social que
conhecemos aqui no mundo material, como diz algumas obras psicografadas, é
cópia um tanto desfigurada da estrutura social do mundo espiritual,
correspondendo ao estado evolutivo em que nos encontramos. Como as necessidades
do Espírito, em relação às questões materiais mudam significativamente, mas com
relação às condições emocionais e espirituais há continuidade, os reflexos dos
condicionamentos da vestimenta carnal e dos hábitos exigem
acomodação.
Para atender essas
necessidades, existem colônias e cidades organizadas com hospitais e todos os
departamentos especializados nas questões da saúde espiritual, dispõem de
escolas e universidades (certamente não com estas denominações) que
proporcionam a melhor formação e especialização de diversas Ciências, tanto
quanto diversos segmentos nos variados níveis evolutivos intelectuais e
morais.
Jesus, o Cristo,
sendo Mestre e Guia da Humanidade, o que quer dizer, de todos os que estamos
envergando por ora um corpo de carne e aqueles que estão na vida espiritual,
assim se compõe a Humanidade do nosso Planeta, deixou claro: “A cada um
segundo as suas obras.” Como se trata de verdade
inderrogável, não há dúvida que existem Espíritos felizes e outros que nem
tanto, e até mesmo muitos que são infelizes nas paragens espirituais. Isto se
pode constatar na nossa própria comunidade no dia a dia, no outro lado da vida
não é diferente.
A comunicação entre o
aqui e o acolá da vida se dá pelo pensamento, este é o celular do Espírito, assim podemos grosseiramente comparar. O
pensamento quando bem utilizado, com equilíbrio, sobriedade e amoroso
proporciona alegria, esperança, motivação nobre àquele que o recebe, de
lá e de cá. Quando em desalinho moral, desequilibrado, agressivo, impertinente
causa mal-estar, angústia, revolta, ódio proporcionando desconforto o que
poderemos considerar uma obsessão (influência persistente exercida por espírito inferior, malfazejo).
A Doutrina Espírita
tem em seus postulados o lema: “Fora da caridade não há salvação.”, o que
congrega respeito ao próximo, respeitando as condições morais e
intelectuais, mesmo que divergentes, exercitando a benevolência para com todos
e perdão das ofensas. Assim, cabe respeitar àquele que deixou a
matéria, com a morte do corpo, independente do seu histórico de vida, cabendo a
oração a seu benefício, porque todos temos algum ajuste a fazer diante da
própria consciência, por isso, ainda, não somos perfeitos.
O Evangelho de Jesus
tem a finalidade de aclarar os caminhos do Espírito na sua jornada evolutiva,
tanto faz se está envergando a indumentária carnal ou posteriormente na
vida espiritual, porque Jesus ensinou ao Espírito, mas, desejoso de que, quando
do lado de cá se preparasse adequadamente para chegar no outro lado desta
jornada em melhor condição, se possível, apto a galgar outro estágio
evolutivo, porque o êxito de Seus esforços como Governador da Terra é a
melhoria espiritual de todos os que estão sob o seu comando. Qual mestre
não se sentiria realizado vendo que seus alunos venceram um estágio e se habilitaram para outro patamar evolutivo mais complexo?
A morte do corpo
libera o seu habitante para retornar ao lar espiritual, de onde veio, lá
permanecerá se preparando por um certo tempo, que poderá ser de curto prazo e
até por período secular, visando nova jornada reencarnatória (em novo
corpo), dependendo das necessidades e do estado de consciência de cada
indivíduo, em grande parte é o próprio Espírito que requer o seu retorno à vida
material, pois é nela que se refaz de seus pesares, conserta os seus erros,
reverte as antipatias e se harmoniza com a própria consciência.
É natural ter
receio da morte, trata-se da preservação da vida -- até os irracionais têm
esse temor, tanto que lutam com todos as suas forças para manter a sua
existência --, e desejar a morte, mesmo que esteja em estado terminal, é
contrassenso, pois, em alguns minutos ou poucas horas num corpo em estado de
dificuldades extremas o Espírito poderá resolver problemas espirituais de
séculos, libertando-se definitivamente de certas peias morais que o
infelicitavam.
A saudade dos que
viajaram para a espiritualidade é laço de amor, proporciona alegria e renova a
motivação para a caminhada que não termina, vez que a perfeição ainda está
distante e a vida é para sempre.
Dorival da Silva