Caridade
Estamos
vivendo os dias gloriosos da santificação de Irmã Dulce pela veneranda Igreja
Católica Apostólica Romana.
Santificada
foi toda a sua existência, em razão do seu inefável amor e socorro aos aflitos
que passavam pelos seus múltiplos caminhos ricos de misericórdia.
Conheci-a,
faz muitos anos. Éramos, então, muito jovens.
Foi
na década de 1950, aproximadamente, quando a vi atendendo a um enfermo que ajudava, quase o carregando sobre as costas
frágeis.
Ofereci-me
para ajudá-la e ela sorriu, agradeceu.
Não
a conhecia naquela época. Lentamente, os seus exemplos de santa foram-se
tornando populares, por atender especialmente os que se encontravam nas ruas
sob as marquises dos edifícios ou nos alagados do bairro do Uruguai.
O
seu vulto frágil e o seu sorriso angélico eram a presença de Jesus, junto aos
Filhos do Calvário.
Intimorata
e invencível, não se deixou abater pelos desafios do materialismo, pela
perversidade da noite das paixões asselvajadas, pelas enfermidades, pelo
descaso de muitos e sua indiferença, pela crueldade...
Com
a mansidão de cordeiro, sensibilizou milhares de pessoas por ela convidadas ao
amor, e com a luz da caridade iluminou e salvou vidas que se lhe entregaram em
totalidade.
Não
possuindo coisas, era detentora do amor de Jesus, que soube disseminar com
elegância e altivez, tornando-se porto de segurança aos nautas perdidos no
oceano tumultuado do abandono terrestre.
Visitei-a
mais de uma vez, a fim de banhar-me na suave claridade da sua ternura e
comovi-me com o seu exemplo de fé e abnegação, por sentir-me iniciante da vida
sem coragem para enfrentar os dissabores por amor à Humanidade.
Aprendi
a amá-la a distância, orando pelo seu holocausto em favor do mundo de paz e de
justiça, de fraternidade e de equilíbrio.
Nesses
passados anos, após a sua libertação do corpo, acompanhei as notícias da sua
beatificação e posterior santificação, conforme os cânones e leis da sua
Igreja.
Exemplo
moderno da caridade recomendada por Jesus Cristo e disseminada pelo Apóstolo
Paulo, ela superou as técnicas de assistência e serviço social, dignificando e
promovendo os nossos irmãos em agonia, recurso que somente o amor consegue
proporcionar.
Nestes
dias de angústia e de sofrimento generalizado, necessitamos de incontáveis
Santas Irmãs Dulce, a fim de que recuperemos a honra que abandonamos e vivamos
a ética do amor que pode salvar o ser humano da sua inferioridade moral.
Sirva-nos
a todos, cristãos, maometanos, judeus, indianos, religiosos e ateus, portadores
de crença ou vivendo sem ela, a lição que nos ofereceu com sua existência
ímpar, amando-nos e respeitando-nos, ajudando-nos reciprocamente, pois que Fora
da caridade não há salvação.
Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A
Tarde, coluna Opinião, em 17.10.2019
Em 23.10.2019.
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