Leitores, registramos abaixo mensagem psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, do espírito de uma moça, que, quando na vida física era sua conhecida, como relatado; posteriormente, na condição de desencarnada, retornou para esclarecer a sua situação de paralítica, muda e surda, numa existência de mais de meio século, com grande sofrimento.
Os fatos que ocasionaram a condição limitante do seu corpo físico na última existência terrena, originaram-se quando: “Dama vaidosa e influente da corte de Felipe II, na Espanha inquisitorial (...).”
A referência nos leva à pesquisa na enciclopédia Wikipédia, que registra o reinado de Felipe II no período de 1556 a 1598, portanto, no século XVI, sendo que aquele espírito renasceu com a problemática relatada, possivelmente no início do século XX, assim, foram transcorridos três séculos no mundo espiritual, pelo que se depara na narrativa, esse tempo elástico foi de sofrimento, liberando-se após uma vida em corpo limitado e com muitas dificuldades.
O título da mensagem é: “Ensinamento Vivo”, o que nos motivou colocá-la neste “blog”, para a reflexão que todos devemos fazer sobre a condução da nossa presente vida, sendo que, de acordo como vivemos, as consequências no futuro serão de paz ou de sofrimentos.
Boa leitura!
Dorival da Silva
Notas: 1. Mantivemos a ortografia válida à época do lançamento da
obra original (1957).
2. Mensagem
extraída da obra: Vozes do Grande Além, psicografia de Francisco Cândido
Xavier, páginas 77 e 78.
******************
Ensinamento Vivo
Maria da Conceição
Aqueles
que se entregam às lides espiritistas encontram, surpresas consoladoras e
emocionantes.
Visitáramos,
várias vezes, Maria da Conceição, pobre moça que renascera paralítica, muda e
surda, vivendo por mais de meio século num catre de sofrimento, sob os cuidados
de abnegada avó.
Nunca
lhe esqueceremos os olhos tristes, repletos de resignação e humildade, e que a
morte cerrou em janeiro de 1954, como quem liberta dos grilhões da sombra
infortunada criatura desde muito sentenciada a terríveis padecimentos. Pois, foi Maria da Conceição na nossa visitante, no encerramento das tarefas da noite de
30 de junho de 1955. Amparada por benfeitores da Espiritualidade, falou-nos em
lágrimas de sua difícil experiência.
****************
Filhos
de Deus, que a paz do Senhor seja a vossa luz.
Enquanto
permanecemos no corpo de carne, não conseguimos, por mais clara se nos faça a
compreensão da justiça, apreender-lhe a grandeza em toda a extensão.
Admitimos
a existência do Inferno que pune os transgressores e acreditamos no braço
vingador daqueles que se entregam ao papel de carrascos de quantos se renderam
ao sorvedouro do crime.
Raras
vezes, porém, refletimos nos tormentos que a consciência culpada impõe a si
própria, além-túmulo.
Fascinados
pelo mundo exterior, dormitamos ao aconchego da ilusão e não nos recordamos de
que, um dia, virá o despertar no mundo de nós mesmos.
A
morte arranca-nos o véu em que nos ocultamos e ai de nós quando não temos por
moldura espiritual senão remorso e arrependimento, vileza e degradação.
Achamo-nos
em plena nudez, diante do autojulgamento, e somente assinalamos os quadros e
gritos acusadores que nascem de nossa própria alma, exprimindo maldição.
Nossos
olhos nada mais vêem senão o painel das lembranças amargas, os ouvidos não
escutam outras palavras que não as do libelo por nós e contra nós, e, por mais
vagueemos com a ligeireza do pensamento, através de milhares de quilômetros no
espaço, encontramos simplesmente a nós mesmos, na vastidão do tempo, confinados
ao escuro e estreito horizonte de nossa própria condenação.
Os
dias passam por nós como as vagas no mar, lambendo o rochedo na solidão que lhe
é própria, até que os raios da Compaixão Divina nos dissipem as sombras,
ensejando-nos a prece como caridosa luz que nos clareia a furna da inconsciência.
É
então que a Bondade do Senhor interfere na justiça, permitindo ao criminoso
traçar mentalmente a correção que lhe é necessária.
E o
delinqüente sempre escolhe a posição das vítimas que lhe sucumbiram às mãos,
bendizendo a reencarnação expiatória que lhe faculta o reexame dos caminhos
percorridos.
Trazida
até aqui por nossos Benfeitores, falo-vos de minha experiência.
Sou a
vossa irmã Conceição, que volta a fim de comentar convosco o impositivo da
consciência tranqüila perante a Lei.
Administrais
o esclarecimento justo às almas desgarradas do trilho reto e determinam nossos
Instrutores vos diga a todos, encarnados e desencarnados, daquele
esclarecimento vivo que nos é imposto pelas duras provas da vida, quando não
assimilamos o valor da palavra enquanto é tempo!...
Paralítica,
surda, muda e quase cega, não era surda para as vozes que me acusavam, na
profundez de minhas dores da consciência, não era paralítica para o pensamento
que se movimentava a distância de minha cabeça flagelada, não era muda para as
considerações que me saltavam do cérebro e nem cega para os quadros
terrificantes do plano imaginativo...
Dama
vaidosa e influente da Corte de Filipe II, na Espanha inquisitorial, reapareci
neste século, de corpo desfigurado, a mergulhar nos próprios detritos, corpo
que era simplesmente a imagem torturada de minhalma, açoitada de angústia e
emparedada nos ossos doentes, para redimir o passado delituoso.
Durante
mais de cinqüenta anos sucessivos, por felicidade minha experimentei fome,
frio, enfermidade e desprezo de meus semelhantes... Em toda a existência, como
bênção de calor na carne devastada de sofrimento, não recebi senão a das
lágrimas que me escorriam dos olhos...
Mas a
doutrinação regeneradora que não recolhi da palavra de quantos me ampararam
noutro tempo, com amoroso aviso, fui constrangida a assimilá-la sob o rude
tacão de atrozes padecimentos.
Quando
a lição do Senhor é recusada por nossos ouvidos, ressurge invariável, em nós
mesmos, na forma de provação necessária ao reajuste de nossos destinos.
Dirigindo-me,
assim, a vós outro que me conhecestes o leito atormentado no mundo e a vós que
me escutais sem a vestimenta física, rogo devoção e respeito para com o socorro
moral de Jesus através daqueles que lhe distribuem os dons de conhecimento e
consolação.
Quem
alcança a verdade, sabe o que deve fazer.
Submetamo-nos
ao amor de Deus, enquanto há tempo de partilhar o tempo daqueles que mais
amamos, a fim de que a dor não nos submeta, implacável, obrigando-nos a
partilhar o tempo da dificuldade e da solidão.
Essa
tem sido para mim a mais severa advertência da vida.
Com o
Amparo Divino, entretanto, sinto que o meu novo dia nasceu.
Aprendamos,
pois, a ouvir e a refletir, sem jamais esquecer que o Amor reina, soberano, em
todos os círculos do Universo, recordando, porém, que a Justiça cumprir-se-á,
rigorosa, na senda de cada um.