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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

A nova geração em A Gênese


A nova geração em A Gênese *

                                                          Sandra Maria Borba Pereira

A temática da transição planetária está presente em nosso movimento espírita há algum tempo.  Eventos tratam do assunto, livros são publicados, palestras repetidas pelos quadrantes do país e fora dele.

Diante do quadro atual de violência em grande escala e fenômenos naturais destrutivos, ecoam as palavras: os tempos são chegados do fim do mundo!

Na quinta obra da Codificação Espírita, Kardec nos presenteia com o capítulo que encerra o livro, São chegados os tempos, nos oferecendo lúcidas e atuais reflexões em torno desse palpitante assunto para nos esclarecer e alertar, acalmar e motivar a nossa atitude perante a vida.

Sinais dos tempos

Partindo das previsões alarmantes de algumas denominações religiosas sobre os sinais dos tempos, assinalados por Deus, Allan Kardec, na sua natural argumentação dialética, começa por evitar posições antagônicas e radicais buscando compreender, antes de tudo, o sentido dessa expressão.  Homem de veia racional começa por tranquilizar o leitor -- espírita ou não – afirmando¹: se a nossa época está designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto.

O fio condutor de toda argumentação kardequiana diz respeito à lei à qual estamos todos submetidos: homens, sociedades, astros. É essa uma lei que atua tanto nas transformações físicas do nosso planeta quanto na depuração moral dos Espíritos, na sua destinação à perfectibilidade.  No campo mais propriamente material nos defrontamos com as sucessivas mudanças ocorridas em nosso orbe. No campo moral – e isso é por demais importante – algumas características revelam – ou poderão revelar – o alcance ou não de um certo progresso, a saber¹: desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes.

Não pensemos, porém, que esses progressos se deem de forma isolada. Na sua visão dialética, Kardec acentua que o homem é também artífice do progresso material do globo através de sua ação intelectual e pragmática, quando responsável e produtiva para as coletividades e para a própria Natureza. É o chamado de atenção para a educação ambiental já apresentada nos idos de 1868 pelo Codificador.

Analisando o tema, Kardec nos esclarece sobre o mecanismo da Lei do Progresso, situando-o em dois modus operandi¹: um lento, gradual e insensível e outro caracterizado por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido.

Entrelaçando Deus, as Leis Naturais e o Homem, nos esclarece o mestre lionês que o progresso da Humanidade se opera, no geral, obedecendo à Lei Divina e, nos detalhes, subordinando-se ao livre-arbítrio dos homens, o que explicaria a diversidade das consequências do progresso, de comunidade para comunidade.

Dizer que os tempos são chegados seria, pois, dizer que a humanidade está madura para subir um degrau¹.

Seguindo a linha de raciocínio kardequiano chegamos a um ponto fundamental da Lei do Progresso: a vontade divina, em meio aos desassossegos da Natureza e vontades/ações dos homens, é que mantém a Unidade do Universo ainda quando se nos apareçam destacadas as perturbações dos elementos naturais e desequilíbrios individuais e sociais, frutos das ações humanas na sua construção histórica.

A essa altura do texto situa o Codificador que a Humanidades terrena atingiu incontável progresso como resultado concreto do avanço da Ciência e das Artes, exigindo dos homens a enorme tarefa de realizar um outro progresso, o moral, que consiste em² fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral.

Destacando a necessidade de uma educação moral voltada para os bons sentimentos, afirma ainda²: Já não é somente de desenvolver a Inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho.

É essa a fase que devemos perseguir para assinalar de fato um novo período progressivo da Humanidade que deverá ser caracterizado por uma nova ordem social, caracterizada pelo progresso moral³, ou seja, por uma mudança radical na conduta moral dos homens.

Longe de condenar o bem-estar material (e nem o poderia dado ser o direito de viver o primeiro direito do Espírito encarnado e nisso está incluída a necessidade do bem-estar material, que não deve ser confundido com coisas supérfluas), Kardec esclarece que esse não basta para se garantir um mundo melhor. Segue-se à busca de um estado de bem-estar material a necessidade de se construir um bem-estar sociomoral.  O Codificador parecia ver o futuro que hoje nos mostra nações com alto nível de renda per capita e de riqueza em meio às drogas, ao suicídio, à pedofilia.

Para a Humanidade terrena chegou uma nova fase: a fase adulta, que reclama a superação de seus erros e ilusões pelo crescimento moral, único caminho capaz de assegurar a felicidade aos homens. As ideias se renovam com a renovação das próprias gerações que, lentamente, amadurecem, modificando aspirações, superando necessidades e métodos, ampliando os horizontes do futuro. Nesse trânsito, um paradigma novo sobre a vida e seu sentido precisa ser definido pela consolidação das ideias alicerçadas sobre uma nova visão de Deus, na aceitação da existência e da sobrevivência dos Espíritos. Isso fará com que se destruam por si sós os preconceitos de castas, os antagonismos de seitas.

A Nova Geração

Nesse momento do texto Kardec chama a atenção para o movimento de resistência daqueles que se mantêm no egoísmo e no orgulho, desejosos de parar a marcha do progresso.

Para superar tal resistência será necessária e inadiável a formação de uma nova geração que será responsável pela fundação da era do progresso moral que se distinguirá por ter Inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas. 4   É essa geração que definirá um novo perfil para as coletividades e para a própria Terra, secundando o movimento regenerador do planeta.

Que se tranquilizem os apressados: esse movimento regenerador não será composto exclusivamente por Espíritos que já possuam processo consolidado anteriormente.  A nova geração pode se constituir tanto de novos Espíritos melhores como de antigos Espíritos melhorados, todos caracterizados pela disposição moral voltada para o bem e para o progresso, para a fé, a tolerância e a liberdade.

Lembrando a expressão crística do fermento na massa, essa nova geração terá a responsabilidade de levedar, com suas qualidades morais, a grande massa humana de insensatos, inseguros e imaturos, que tanto necessitam de exemplos e estímulos à superação de suas defecções morais.  

É essa nova geração que deverá fomentar, na massa social, os sentimentos de caridade, fraternidade, benevolência para com todos, tolerância para com todas as crenças, em substituição aos vícios que retardam o progresso da Humanidade 4: ciúme, apego às coisas materiais, sensualidade, cupidez, avareza e paixões degradantes.

“Há muito terreno a ser arroteado.

Mãos à obra!

Aremos!”

Ao concluir a leitura deste capítulo, restam-nos algumas questões que julgamos de capital importância:

·       Indicadas as características que deverá ter a nova geração fica a pergunta:  como proceder à sua educação?

·       Como nós, Espíritos imperfeitos e falíveis, podemos proceder a essa educação de Espíritos moralmente superiores a nós?

·       Que práticas educativas o Movimento Espírita poderá utilizar para o alcance desses elevados objetivos?

Em resposta à primeira questão já sabemos, conforme O Livro dos Espíritos, que será necessária uma educação moral baseada no exemplo e constituída por hábitos que exteriorizem sentimentos de elevação (ordem, previdência, respeito, solidariedade, fraternidade, autoconhecimento etc).  Se a nova geração encontrar esses encaminhamentos, encontrará também o solo propício para o desenvolvimento de suas boas sementes.

Quanto à segunda pergunta temos a considerar, a partir das elucidações kardequianas:

·       Somos educadores uns dos outros se entendemos por ação educativa a influência de um ser sobre outro, quer haja ou não uma supremacia, prevalecendo o caráter influenciador de nossas ações recíprocas.

·       Ainda que pequenos, espiritualmente falando, podemos, ao menos, não entravar a ação dos membros da nova geração. Podemos, por outro lado, colaborar, de forma ativa, pelo nosso esforço de renovação, pela ação evangelizadora que possamos desenvolver junto a esses Espíritos no lar, nas Casas Espíritas ou na sociedade. Embora pequenos, somos chamados à grande tarefa de evangelizar, educando, dando o testamento do trabalho redentor, oferendo ou recordando os subsídios evangélico-doutrinários aos irmãos que já galgaram outros degraus acima na escada evolutiva que nos aguarda a todos.

·       Não nos inibamos perante a nossa própria condição espiritual. Alegremo-nos. Sim, como o professor consciencioso se alegra diante do aluno prodígio que seguirá adiante, muito mais adiante que o mestre.

A última questão nos reporta a inúmeras mensagens ditadas pelos Espíritos enfatizando a tarefa educativa da Doutrina Espírita, com destaque para a página O Centro Espírita 5, da autoria espiritual de Djalma Montenegro de Farias, pela mediunidade de Divaldo Franco. Nela, o trabalhador do movimento espírita pernambucano caracteriza a casa espírita:  oásis, hospital, oficina, templo, escola. Em última instância: educação do corpo, da mente, da alma, das mãos, dos sentimentos.

O exemplo de dedicação e humildade de dirigentes e trabalhadores, a formação doutrinária sólida, o ambiente fraternal e instrutivo dos grupos de estudo e evangelização, a atmosfera de serviço redentor cooperativo, as possibilidades de integração em equipes de trabalho, os testemunhos de amor à causa do Bem são estratégias facilitadoras para a formação de uma nova geração nas fileiras espiritistas.

Evangelização Espírita Infantojuvenil

No quadro acima se destaca o trabalho da Evangelização Espírita Infantojuvenil destinado a todos, com vistas à formação do homem de bem, buscando, através de seus múltiplos núcleos, sensibilizar e esclarecer, amparar e iluminar, evangelizar e redimir, sem se preocupar exclusivamente com os da nova geração, confiante de que a semeadura pertence aos obreiros e o conhecimento sobre o tipo de solo e possibilidades de frutos pertence ao Senhor.

Preocupada com a mensagem espírita compreendida, sentida e vivenciada, a Evangelização Infantojuvenil e sua legião de trabalhadores anônimos, sem o aplauso do mundo, mas com a aprovação da própria consciência comprometida com a vivência evangélica, vem colaborando, há décadas, com a educação dos sentimentos junto à multidão de crianças e jovens que se aglutinam nos seus núcleos de trabalho.

Há muito o que fazer, conclui Kardec. Há muito terreno a ser arroteado. Mãos à obra! Aremos! Semeemos mas, sobretudo, procuremos dar o nosso testemunho pessoal de autoeducação moral, educando os nossos próprios sentimentos no Bem.

Utopia!** dirão alguns enfastiados pessimistas no plantão obscuro dos derrotados. Mas, o que será de nós sem a esperança, a utopia, o sonho?

Utopia hoje, sonho realizado... um dia...

Progresso sim, sempre, pela vontade de Deus... apesar dos homens, através da educação.



Referências:

1. KARDEC, Allan. A Gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro FEB,

    2002. cap. XVIII, item 2.

2. Op. cit.  cap. XVIII, item 5.

3. Op. cit. cap. XVIII, item 6

4. Op. cit. cap. XVIII, item28

5. FRANCO, Divaldo Pereira. Sementeira da Fraternidade   Por Espíritos Diversos. Salvador: LEAL, 2008,

     cap. 55.

(*) Capítulo constante do mais recente lançamento da FEP: Educação em Foco.

(**) Do grego ou+topos, lugar que não existe



Texto extraído do Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, agosto de 2019, número 1621, Curitiba (PR)

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Por que pensar em suicídio?

Por que pensar em suicídio? 

Com frequência temos visto na imprensa notícia de suicídio de pessoas comuns, de artista, modelo, criança, jovens e idosos... Pessoas, ainda, que matam para depois se matarem. Qual a razão para uma atitude definitiva em relação a vida do corpo? 

O Evangelho, em Mateus 6:21, recita: “Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”   Podemos entender, onde estiver o seu interesse, aí também estará a sua emoção. O interesse é fruto da vontade, por consequência qualifica a emoção. Tanto a vontade como a emoção são departamentos da consciência, a consciência é atributo da Alma, esta como um “Iceberg”quando atrelada a um corpo de carne mostra parte pequena de um continente interior enorme, no entanto, age e reage com todos os valores que possui, aqueles adquiridos na presente existência, tanto quando recebe a influência do patrimônio acumulado em todas as existências anteriores. Certamente que os pontos fortes são imperativos.  

A composição do patrimônio da Alma precisa iniciar-se deste a mais tenra idade, com os valores nobres cultivados pelos pais e com os pais, a religiosidade desenvolvida dentro do lar, a capacidade de dialogar nas diversas fases da vida, de forma útil e educada, o desenvolvimento da capacidade de reflexão, a busca do autoconhecimento, modificando os ímpetos negativos, os pensamentos escapistas, o temor para o enfrentamento de dificuldades, o medo de aceitar frustrações e impedimentos que se apresentam, às vezes ilusoriamente. 

A impulsividade e a ação extremada perturbam o discernimento. Não permite tempo para a reflexão, deixa que um estado perturbador tome conta de sua razão, dando vazão cega a forças destrutivas, que como uma avalanche arrasa corpos e almas. 

Sendo a presente vida uma oportunidade nova para a criatura, a religiosidade implementada em primeiro lugar na infância exerce com grandeza ação como a de um escudo intelectual e moral diante das circunstâncias que se apresentam danosas à sua existência, dando-lhe o ensejo de discernir as consequências daquilo que se apresenta.  É a Alma utilizando ferramenta de aquisição recente para  melhor decisão, tem tempo para decidir se “devo ou não devo”, “convém ou não convém”, quais são os desdobramentos disto?  É o tempo da reflexão, quando se mede a responsabilidade da atitude que deverá ser tomada ou não. Pensa em si, pensa nos outros. É ação do amor a si mesmo e  ao próximo.  

A evangelização, a religiosidade pode ser buscada a qualquer idade, quando adulto o pretendente precisa de decisão forte, pois terá de vencer barreiras criadas por si mesmo, pela educação que recebeu, pelos preconceitos e hábitos que cultiva.  Agora não se trata de educação inicial, será preciso ressignificar os valores morais que detêm, quase sempre em dissonância com os princípios evangélicos, o que exigirá esforço para superar as emoções antagônicas ao estado existente no indivíduo; no entanto, assim é o sacrifício de salvação. Muitos pretenderão que as verdades oferecidas pelo Evangelho de Jesus se adequem às suas canhestras concepções e atendam e justifiquem os seus interesses mesquinhos. Terão que entender que é preciso investir-se de humildade e permitir-se encharcar das verdades divinizadoras oferecidas pelo Divino Mestre, sendo que estas permanecerão eternidade afora.  

Todos morreremos e se fosse somente isto, se fosse puramente essa a constatação estaria tudo resolvido, não seria justo sentir dores, nem física nem emocional, nem aflições, seria o caso de fazer com que a máquina carnal cessasse e tudo estaria resolvido. Assim é o pensamento materialista, muito pobre! O corpo não é a vida, é instrumento de manifestação da vida. Quem sofre não é o corpo é a Alma que detém a consciência.  Os sofrimentos, as dificuldades que passa são inerentes ao seu estado evolutivo, às suas experiências desastrosas de outras reencarnações.  Os erros que cometeu, os malefícios que engendrou, comportamentos inconsequentes, deslealdades, traições e outros refletem no presente, em conta a consciência comprometida, porque distanciada da harmonia com a Lei Divina.  É certo que algum bem a Alma realizou na trajetória de milênios; no entanto, o saldo negativo diante da contabilidade universal ainda é muito grande. Somos devedores inveterados, sendo que o bem que realizamos ainda não é suficiente para anular as consequências de ações danosas empreendidas no passado.  

O suicídio não resolve, na verdade agrava substancialmente a situação do indivíduo (sua consciência), é uma rebeldia, uma inconformação à Lei de Deus, um desamor consigo mesmo, um desrespeito com os que o amam (pai, mãe, filhos...).  Muita vez o fato desencadeador é de pequena monta, sem significado para quem detém um princípio de evangelização na sua alma, para aqueles sem interesse pela espiritualidade torna-se a faísca que dá início ao incêndio devastador, extinguindo o corpo.  Logo após, encontrará uma grande frustração, quando perceber que não morreu, que tudo está presente e mais vivo ainda, o agravamento da perturbação é inevitável, as dores exacerbam. Até quer dar passo atrás, retornar à vida do corpo, impossível, a porta se trancou definitivamente, restam as lágrimas, as lamentações... 

Um dia chegará o remorso, o arrependimento, o socorro, quanto tempo transcorreu, serão dias, anos, décadas, quem poderá avaliar, cada caso é um caso e depende do próprio padecente.  

Para dar melhor ideia sobre o suicídio, vamos acrescer uma entrevista com o Espírito de um suicida, que se encontra na obra O Céu e o Inferno, 2ª parte, capítulo V,  que compõe o conjunto das obras básicas da Doutrina Espírita, que foi publicada em 1865, por Allan Kardec, quando acrescenta outras informações sobre mortes violentas, como segue: 

O SUICIDA DA SAMARITANA 

A 7 de abril de 1858, pelas 7 horas da noite, um homem de cerca de 50 anos e decentemente trajado apresentou-se no estabelecimento da Samaritana, de Paris, e mandou que lhe preparassem um banho. Decorridas cerca de 2 horas, o criado de serviço, admirado pelo silêncio do freguês, resolveu entrar no seu gabinete, a fim de verificar o que ocorria. 
Deparou-se-lhe então um quadro horroroso: o infeliz degolara-se com uma navalha e todo o seu sangue misturava-se à água da banheira. E como a identidade do suicida não pôde ser averiguada, foi o cadáver removido para o necrotério. 
1. Evocação. (Resposta do guia do médium.) — Esperai, ele aí está. 
2. Onde vos achais hoje? — R. Não sei... dizei-mo. 
3. Estais numa reunião de pessoas que estudam o Espiritismo e que são benévolas para convosco. — R. Dizei-me se vivo, pois este ambiente me sufoca. 
“Sua alma, posto que separada do corpo, está ainda completamente imersa no que poderia chamar-se o turbilhão da matéria corporal; vivazes lhe são as ideias terrenas, a ponto de se acreditar encarnado.” 
4. Quem vos impeliu a vir aqui? — R. Sinto-me aliviado. 
5. Qual o motivo que vos arrastou ao suicídio? — R. Morto? 
Eu? Não... que habito o meu corpo... Não sabeis como sofro!... 
Sufoco-me... Oxalá que mão compassiva me aniquilasse de vez! 
6. Por que não deixastes indícios que pudessem tornar-vos reconhecível? — R. Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à tortura. 
7. Tendes ainda os mesmos motivos para ficar incógnito? 
— R. Sim; não revolvais com ferro candente a ferida que sangra. 
8. Podereis dar-nos o vosso nome, idade, profissão e domicílio?  
— R. Absolutamente não. 
9. Tínheis família, mulher, filhos? — R. Era um desprezado, ninguém me amava. 
10. E que fizestes para ser assim repudiado? — R. Quantos o são como eu!... Um homem pode viver abandonado no seio da família, quando ninguém o preza. 
11. No momento de vos suicidardes não experimentastes qualquer hesitação? — R. Ansiava pela morte... Esperava repousar. 
12. Como é que a ideia do futuro não vos fez renunciar a um tal projeto? — R. Não acreditava nele, absolutamente. 
Era um desiludido. O futuro é a esperança. 
13. Que reflexões vos ocorreram ao sentirdes a extinção da vida? — R. Não refleti, senti... Mas a vida não se me extinguiu... minha alma está ligada ao corpo... Sinto os vermes a corroerem-me. 
14. Que sensação experimentastes no momento decisivo da morte? — R. Pois ela se completou? 
15. Foi doloroso o momento em que a vida se vos extinguiu? 
— R. Menos doloroso que depois. Só o corpo sofreu. 
16. (Ao Espírito S. Luís.) — Que quer dizer o Espírito afirmando que o momento da morte foi menos doloroso que depois? — R. O Espírito descarregou o fardo que o oprimia; ele ressentia a volúpia da dor.  (Para ampliar entendimento, acrescentamos: O Espírito percebia o reflexo da dor) 
17. Tal estado sobrevém sempre ao suicídio? — R. Sim. O Espírito do suicida fica ligado ao corpo até o termo dessa vida. A morte natural é a libertação da vida: o suicídio a rompe por completo. 
18. Dar-se-á o mesmo nas mortes acidentais, embora involuntárias, mas que abreviam a existência? — R. Não. 
Que entendeis por suicídio? O Espírito só responde pelos seus atos.” 

Esclarecimentos de Allan Kardec: 
Esta dúvida da morte é muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas que, durante a vida, não elevam a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente. 
Se a um indivíduo, pela primeira vez sonambulizado, perguntarmos se dorme, ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na linguagem comum, a ideia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do vocábulo. Eis a razão por que responde não, até que se familiariza com essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto, e isto afirmando até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e dá ao Espírito uma tal ou qual ansiedade. No exemplo supra ela constitui verdadeiro suplício pela sensação dos vermes que corroem o corpo, sem falarmos da sua duração, que deverá equivaler ao tempo de vida abreviada. Este estado é comum nos suicidas, posto que nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. A sensação dos vermes e da decomposição do corpo não é privativa dos suicidas: sobrevém igualmente aos que viveram mais da matéria que do espírito. Em tese, não há falta isenta de penalidades, mas também não há regra absoluta e uniforme nos meios de punição.”

Observação:  grafamos na cor verde o que é argumentação de Allan Kardec e azul o diálogo entre Allan Kardec e o Espírito S. Luís”.    São Luís foi o mentor de Allan Kardec. 

No capítulo V da Obra acima citada existem mais oito casos analisados de suicídios, onde fica bem caracterizado as dificuldades para o Espírito nessa condição, mostrando porque esse ato extremo é um grande erro, que somente a ignorância sobre a vida espiritual pode levar uma pessoa a tal fatalidade, que ainda trará a necessidade de resgate e provação nas vidas futuras, sofrendo todos os percalços que desse ato derivar. 

Por que pensar em suicídio? Seria buscar o desespero, a dor, o comprometimento com a restauração demorada da consciência em várias existências, causando sofrimentos aos que amam, ingratidão que também precisa ser recomposta junto aos que sofrerem em consequência do ato extremado. 

Suicídio nunca!


                                                           Dorival da Silva