Criança. O que é a criança?
Como comumente se pensa, a construção da família, a
perpetuação da espécie, algo muito esperado, uma novidade…
Ter filho é uma necessidade orgânica e
emocional, portanto, da Natureza da raça humana, em grande parte muito desejado
pelos casais que se formam sob as palmas do amor, da responsabilidade com a
vida, que se estua com o senso de doação, para a melhor formação de homem ou
mulher capaz de contagiar com seus valores intelectuais e morais no meio social
onde estiver inserido.
Por outro lado, existe a criança que
surge da irresponsabilidade, nem foi desejada, foi ato inconsequente, no
entanto, aparecem no Mundo. Por quê?
Nem todas que nasceram no berço de amor,
apesar de todos os esforços e da formação proporcionada, resultam indivíduos dados à retidão moral, que possa gozar de confiança daqueles que convivem com ela, em
detrimento de irmãos que tiveram as mesmas possibilidades e seguem caminho
comportamental regular.
A Criança que nasceu de encontro fortuito
de seus pais, muitas vezes criada na pobreza e até mesmo por terceiros, em
situação paupérrima, vencendo toda espécie de carência, nem sempre se desviará
e se perderá na vida, sendo adulto com responsabilidade e produtivo para a
vida. Por que será?
Concebida amorosa ou inconsequentemente,
surge para a vida, em muito caso, criança com problemática de difícil solução
ou mesmo irreversível. Doença congênita, como o câncer de diversa
etiologia, deformação e degenerescência neurológica e psicológica de tratamento
de longo curso e sem solução definitiva, salvo exceção. Por quê?
Mesmo os casais metódicos, que planejam a
prole e realizam os pré-natais, não apresentam nenhuma evidência que aponte qualquer
possibilidade de intercorrência com as gestações, fato inesperado surge no
desenvolvimento de um dos nascituros, quando não, percebido somente algum tempo
do nascimento, ou ainda, no transcorrer da infância ou já na adolescência. Por quê?
A Ciência, através dos profissionais da
saúde, reservadas as exceções, mas em percentual considerável, dado o
materialismo ainda existente, notada alguma má formação do feto, que não seja
possível o reparo em intervenção intrauterina, sugere a interrupção da
gravidez, o que espiritualmente é um erro enorme, que compromete os pais, os intervenientes e influenciadores que colaborarem para tal feito.
Por quê?
E os porquês?
Antes precisamos dizer o que é a criança.
Ente que surge no Mundo com a participação genética dos pais, que se fundem
gerando uma estrutura carnal, que vem à luz após nove meses de gestação, é um
Espírito. Existia antes da concepção, tem experiências milenares, muitos
acertos e muitos erros guardados na memória espiritual; que carece de ajuda
para se preparar adequadamente para assumir as rédeas da vida quando chegar à
fase adulta desta existência. Em alguns casos, o recém-chegado pode superar os
Espíritos dos pais em sabedoria, mesmo podendo ser muito mais velho que eles. O que quer dizer que o renascente já viveu
muitas vezes, como os genitores também viveram, provavelmente conviveram
proximamente, como parentes, amigos, inimigos… em incontáveis ocasiões, sem, no
entanto, descartar a possibilidade de ser totalmente desconhecido seus.
Lembramos que os pais, os avós e todas as
gerações anteriores apareceram no Mundo como crianças, tendo cada indivíduo sua
particularidade exclusiva, o que demonstra desde os primeiros movimentos no
berço, com generosidade ou agressividade, sendo que a sua personalidade se
mostrará autêntica quando a organização física estiver mais desenvolvida e os
recursos cerebrais permitirem expressar-se espiritualmente com toda pujança.
Anotamos que todas as informações registradas nesta página têm por base a Doutrina Espírita e as obras complementares,
o que não faremos referência ponto a ponto para que a leitura não fique pesada,
mas nada aqui existe sem fundamentação espiritual.
“Que
seria de nós, se fôssemos obrigados a viver sob o tropel das pungentes
recordações de antigos e medonhos erros?¹”. Em razão dessa situação que renascemos como
criança, ficando resguardado o passado no inconsciente, dando a cada indivíduo
a oportunidade do recomeço.
Apesar do esquecimento das experiências
das vidas passadas, manifestamos com os valores que possuímos, que estão armazenados,
que fluem diante das circunstâncias e desafios da presente existência com as afinidades e familiaridades existentes no próprio espírito.
Não é difícil de se verificar, observando-se as tendências das crianças em suas
ações desde muito pequenas, umas são dóceis e calmas, outras agressivas e
irritadiças. Umas têm facilidade com as ciências exatas ou com as humanas, e
outros com os esportes… As tendências falam das vivências de vidas passadas.
É desde os primeiros dias de vida que os
pais podem ajudar o Espírito a se corrigir ou diminuir a intensidade de suas
tendências negativas, ajudando-o à reeducação de seus hábitos de outros tempos,
como a tendência à violência, à viciação, à maldade, ao sensualismo… A postura positiva dos pais é da maior
relevância para o espírito que busca melhorar-se, conquistando experiências
nobres e modificando àquelas que perturbaram a sua consciência espiritual,
antes de reingressar no novo corpo.
Há alguns anos, depois de ter assistido a um filme sobre a vida de uma personalidade artística, que teve muitos altos e baixos em sua vida, em conta as facilidades sociais oferecidas pela cidade em que vivia e também familiares que lhe permitiram, vindo a desencarnar muito cedo. Fiquei pensativo sobre as condições daquele Espírito,
que com suas capacidades intelectuais e os meios de vida abundantes
demonstrados não foram favoráveis à sua presente reencarnação, tanto que morreu
por seus excessos. Passados alguns dias, o Espírito do artista manifestou-se
voluntariamente em nossa reunião mediúnica, quando o identifiquei, e
no diálogo que travamos, num certo ponto lhe disse: agora que está ciente de que
os excessos vividos e a liberdade desenfreada não foram favoráveis à melhor
condução de sua vida no corpo, certamente procurará, quando for oportuno, o
renascimento em uma família onde tenha pais enérgicos e lhe deem limites. Ele
humildemente me respondeu que reconhecia a sua condição e que sabia que tinha
perdido o direito de ter uma família, que na sua próxima jornada iria nascer em uma condição paupérrima e seria abandonado, sendo criado em alguma instituição
de acolhimento, em vida contida e mais favorável ao aprimoramento espiritual
(diálogo nesse sentido, mas com outras palavras).
Essa lembrança vem ao encontro do que as
obras mediúnicas sérias comprovam, em inúmeras narrações de experiências na
vida de reencarnado e depois no mundo dos espíritos, ou vice-versa, mostrando
os modos de vida e suas consequências, que não são ficções, são realidades vividas,
se existe alguma nesga de felicidade, também existem tempestades de lágrimas, que
poderiam ser evitadas se a educação fosse a adequada para rendimento da alma e
não para o atendimento às convenções do mundo material, às conveniências
passageiras do meio social hodierno.
Sobre: aleijão, síndrome mental,
demência, cegueira, surdez, mudez e outras deformações, que se apresentam nos
nascimentos são resultados do estado de consciência do Espírito, consequências
de suas atitudes contra terceiros ou contra si mesmo. Crime hediondo, traição, vingança, ódio
alimentado por muito tempo, suicídio… têm desdobramentos espirituais terríveis.
Maculam a consciência, o que quer dizer ferem a Lei Universal, a Lei de Deus,
então, é necessário expiar o mal que lhe perturba, e a passagem pelo corpo
destrambelhado é o melhor remédio para libertar a alma do sofrimento. No
entanto, é preciso sofrer com resignação e tirar o melhor aprendizado do
sofrimento; a revolta, a mágoa, o ressentimento agrava a aflição e não
produz efeito favorável para o padecente.
Poderia se perguntar ainda: o que os pais
têm a ver com isto? É difícil dizer, mas não podemos fugir à verdade: nós, os pais, somos comprometidos com a situação
que se apresenta em nosso lar, porque participamos do fato, influenciamos
atitudes ignóbeis ou fomos omissos diante do mal que poderíamos ter evitado.
Sempre seremos herdeiros de nós mesmos. Trazemos para a reencarnação o nosso
patrimônio que há milênios estamos construindo, temos o bem e o mal que realizamos,
o bem não exige justificativa, o mal impõe correção, em qualquer época, porque
a vida do Espírito é infinita. Existe
exceção, casais ou mães que assumem situações complexas por amor ao próximo,
porque são altruístas.
Todos fomos crianças incontáveis vezes e
seremos crianças em incontáveis oportunidades, eduquemos bem os filhos de
hoje, sendo que poderemos ser filhos desses rebentos e receberemos os ecos da
educação que lhes demos.
A criança traz nos seus registros
espirituais uma grande história de verdades da qual a história de cada um dos
pais se entrelaçam, embora cada qual sabe o que lhe pertence, espiritualmente
falando.
Criança! Quem a conhece?
1.
Obra: Diálogo com as
sombras, escritor: Hermínio C. Miranda, pág. 253, 13.ª edição.
Dorival da
Silva.