sexta-feira, 28 de março de 2025

Julgamento!

                                                           Julgamento! 

Vivemos um tempo em que os fatos da vida estão exacerbados e constantemente expostos -- às vezes, voluntariamente; outras, aleatoriamente, à vontade daquele que sofre a ocorrência, seja ela agradável ou não. Há, também, muita invasão de privacidade, quando se leva a público uma situação que não era o desejo da pessoa exposta. Na área judicial, existe a necessidade da divulgação conforme as normas legais; no círculo político, a publicidade é uma exigência intrínseca à atividade. Como nos sentimos diante de tantos acessos às redes de informação e a conteúdos tão tóxicos para os nossos sentimentos? 

O que queremos analisar é como tais exposições, voluntárias ou não, são recebidas pelos expectadores. Vejam que qualquer exposição pode alcançar pessoas em diveɓrsas partes do mundo. Toda manifestação pessoal ou divulgada pelos meios de comunicação é uma emissão vibratória, com a qual alguém -- ou uma multidão -- interagirá também por meio de seus pensamentos e, portanto, com suas vibrações. Quando essa comunicação ocorre diretamente entre indivíduos, ela se torna uma conexão ponto a ponto, em que as vibrações ressoam entre si -- sejam boas ou ruins. Quando ocorre de maneira aberta, todos os que se interessarem se conectarão, formando uma teia infinita por onde percorrem os estados vibracionais de todo tipo -- concordantes e discordantes --, gerando desarmonia para todos os vinculados à situação.  

Se fosse uma teia vibratória de teor harmonicamente concertante, constituiria um verdadeiro paraíso de paz. No entanto, o que impera é o conflito, pois as partículas desse mundo vibratório são os espíritos inarmônicos, movidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, pela presunção, pela hipocrisia e por tantas outras misérias morais. Nessa condição, eles se comprazem na sua própria destemperança. Essa é uma das razões de Jesus Cristo ter dito: “A cada um segundo as suas obras.”-- Mateus, 16:27. Se Ele veio trazer à humanidade ensinamentos de melhoria espiritual nesta vida planetária, visando à paz e à felicidade quando da volta da criatura ao mundo espiritual -- com a morte do seu corpo --, é porque existe a continuidade da vida no estado em que se vive: desequilibrado agora, desequilibrado depois. 

Assim, tudo que chega ao conhecimento dos indivíduos encontrará o seu estado espiritual conforme cultivado e, possivelmente, gerará um julgamento baseado em seu estado emocional de conflitos.  Todas as análises tendem a satisfazer o ponto de vista pessoal. Dessa forma, os julgamentos dos indivíduos tornam-se uma ampliação dos próprios conflitos. Mesmo diante do óbvio da impropriedade do assunto em questão, alguns preferem contrariar as evidências para manter o conflito, que, em muitas vezes, causa sofrimento, mas, paradoxalmente, traz satisfação ao próprio sofredor. 

Trata-se de doença moral que ainda afeta grande parte da população do planeta, porque falta a humildade para lidar com os fatos que lhe dizem respeito, deixando para os responsáveis aquilo que não lhe compete. Muitos querem noticiar e tirar vantagem de tudo, enquanto outros querem se locupletar com tudo o que surge em seu campo de atenção. Julga-se tudo, sem nenhum proveito para si, apenas acumulando sujidades emocionais dispensáveis.  

Isso demonstra um total desconhecimento de si mesmo e a ausência de consciência sobre a responsabilidade individual diante da vida. Nota-se, assim, um estado de materialidade reinante no pensamento dos indivíduos, que os prende a tudo aquilo que lhes dá uma falsa liberdade de expressão e manifestação -- mesmo que essa seja ineficaz, pois nada produz além da perda de tempo. Todos somos seres espirituais e responsáveis exclusivos pela velocidade de nosso desenvolvimento moral e intelectual. Precisamos considerar que grande parte do que se noticia e publica não passa de lixo emocional.  

Compete a cada um escolher o que melhor atende à formação de seu patrimônio espiritual enriquecido, o qual se manterá mesmo depois da morte do corpo, proporcionando o sentimento do dever cumprido. 

O grande problema é que, quase sempre, se deseja julgar questões de terceiros, que não dizem respeito a quem julga. São fatos aleatórios, preocupações inúteis para a própria vida.  

Neste tempo tecnológico em que vivemos, em que a oferta de informações é abundante, torna-se indispensável, para uma vida equilibrada, a seletividade de conteúdos, de vínculos e de atitudes -- “passando tudo pelo crivo da razão” -- e dando importância apenas ao que contribui para o aprimoramento de nossa vida intelectual e moral.  Sem o equilíbrio dessas “duas asas”, não há como alçar voo espiritual para as regiões mais felizes dos céus.  

Os fatos perturbadores podem estar por toda parte, mas a nossa intimidade espiritual é uma seara particular. Somos senhores desse espaço, desde que ajamos como tal, com discernimento e a vigilância ativos. Uma consciência lúcida e dinâmica constitui defesa intransponível. 

O melhor e o mais produtivo julgamento é aquele que fazemos sobre nossos próprios pensamentos e atos, corrigindo-os a tempo, para evitar qualquer comprometimento moral e espiritual.  

                                Dorival da Silva. 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Vida tempestuosa

                                                            Vida tempestuosa 

Ao acessar os meios de comunicação de massa, constantemente as referências são bombásticas, muitas são espetaculares e algumas mentirosas. Uma nuvem pessimista, de dor, de alarmismo, de indignação, de insegurança e medo paira no ambiente psicológico do espectador, afetando seu estado emocional e seu modo de vida.  

Parte são trabalhos bem realizados, apesar de noticiarem fatos negativos e, às vezes, horripilantes, tais como guerras, incêndios de grandes proporções, eventos climáticos de efeitos destrutivos e mortes, acidentes com muitas vítimas e outras ocorrências de consequências negativas.  

Por outro lado, há um amontoado de inutilidades transmitidas pelos meios de comunicação aos lares e demais ambientes, entorpecendo os aficionados por tais conteúdos que em nada acrescentam ao melhoramento de suas vidas.  Raramente se vê alguma publicação sobre algo realizado para a promoção do bem e a melhoria das condições de vida das pessoas.  

Com isso, dependendo do estado emocional e moral de certos indivíduos, a vida é constantemente uma tempestade de emoções, gerando inseguranças consigo mesmos, com o trabalho, com a vida familiar e, inclusive, com a saúde financeira.  

Quando se cultiva um hábito religioso, independentemente de qual seja a preferência, desde que praticado seriamente, existe um anteparo emocional capaz de neutralizar, em parte, tais influências perniciosas dessa onda de inutilidade perturbadora que alcança os indivíduos por diversos meios.  

Na passagem em que Jesus Cristo é questionado sobre se deveriam pagar os tributos ao imperador romano, Ele sabiamente se livra da armadilha engendrada para sua condenação pelas autoridades do Templo, dizendo: “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Mateus, 22:21). Nos dias atuais, também devemos considerar essa sabedoria de Jesus diante das muitas armadilhas emocionais a que estamos sujeitos e que entram em nossas casas. Isso equivale a destinar consideração àquilo que realmente tem valor e acrescenta algo positivo às nossas vidas; e avaliar criticamente o que se apresentar apenas como artigos supérfluos, que muitas vezes se equiparam a “lixos emocionais” que nada acrescentam a nosso favor.  

Quando estamos cientes das razões de estarmos nesta vida material e confiantes de que, depois dela, continuaremos com os resultados emocionais do bem realizado, somos capazes de viver equilibradamente, mesmo que o ambiente onde vivemos seja tumultuado, desde que, em nossa intimidade, permaneçamos em paz.

Nessa vida tumultuosa que grassa por quase todas as partes do mundo, gerada por preocupações noticiadas que dizem respeito às expectativas de fatos que poderão acontecer, apontados por analistas ou órgãos governamentais, calcados geralmente em divergências políticas ou interesses econômicos que ocorrem nas esferas nacionais ou internacionais, além de muitas outras estimativas, como as variantes climáticas que poderão afetar a vida das pessoas e, ainda, o aumento, em certos lugares, da violência urbana, tudo, embora se trate de perspectivas, é entendido como real e generalizado, tumultuando presentemente a vida dos indivíduos.  

Existem muitos sofrimentos que se tornam doenças emocionais crônicas apenas porque o filtro de interpretação do que se lê, vê e ouve não funciona; falta a análise e a crítica de tudo o que chega. No dizer de Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita: “É preciso passar tudo pelo crivo da razão.”   

Isso também ocorre, em grande parte, com os ensinamentos religiosos de todos os credos: aceita-se e acredita-se no que foi recebido, sem o trabalho da análise e da crítica.  

A vida tumultuada acontece por falta de ordem; não se sabe o que se está fazendo e qual o objetivo a alcançar. Veja que estamos tratando de questões emocionais, portanto, espirituais. 

O indivíduo precisa estar bem espiritualmente; para isso, ele precisa saber o que está fazendo nesta vida, que tem um período de existência finito e indefinido quanto ao tempo. Não adianta estar bem financeira e economicamente, ter poder e relevância social, se mantém uma vida tumultuada. As consequências danosas não tardam. O único remédio possível é buscar a harmonia consciente da vida.  

Vejam este ensinamento de Jesus: “Buscai primeiro o reino dos Céus e tudo o mais vos será acrescentado”.(Mateus, 6:33) É preciso entender o que é buscar o reino dos Céus! Podemos entender isso, mesmo que superficialmente, como: buscar a educação intelectual e moral; compreender a existência de Deus em tudo — já que nada pode ocorrer sem a sua permissão -- e praticar a Sua lei de amor e justiça, que foi revelada por Jesus Cristo.  Se em todas as nossas ações no mundo estiverem presentes os ensinamentos morais trazidos por Jesus, assim estamos buscando o reino dos Céus.  

A vida tumultuada dos dias atuais é causa das doenças emocionais, físicas e comportamentais reinantes. Seu antídoto é a ordem, a disciplina moral, o respeito a si mesmo e ao próximo, à natureza, a religiosidade e a consciência de que somos espiritualmente imortais.  

Para reforçar as argumentações acima, incluo um fragmento de mensagem do espírito Emmanuel, constante no capítulo 155 — “Entre os cristãos” -- da obra “Caminho, Verdade e Vida”, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, publicada em 02/09/1948, como segue: (…). “Cristo, porém, inaugurou uma nova época. A humildade foi o seu caminho; o amor e o trabalho, o seu exemplo; o martírio, a sua palma de vitória. Deixou a compreensão de que, entre os seus discípulos, o princípio de fé jamais será o da conquista fácil de favores do céu, mas o de esforço ativo pela iluminação própria e pela execução dos desígnios de Deus, através das horas calmas ou tempestuosas da vida.” (…). 

                                      Dorival da Silva 

 

Nota: As obras básicas da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese) podem ser baixadas gratuitamente do sítio da Federação Espírita Brasileira (FEB), através do endereço eletrônico abaixo:  

 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Desalentados na fé

                                                                Desalentados na fé 

Embora haja uma infinidade de templos religiosos e de inúmeras denominações, grande parte dessa população religiosa se encontra desalentada na fé.  Enchem-se os templos, realizam suas devoções, seus ritos, fazem suas rezas e atendem aos deveres propostos pelo credo escolhido; no entanto, os indivíduos se sentem vazios de fé.  

As tradições religiosas, ao longo dos milênios, sempre tiveram, em suas denominações, um líder a quem se atribuí a representação de Deus para os seus crentes. Isso é, puramente, uma questão de tradição -- uma autodenominação de guia da Divindade ou, ainda, uma atribuição dada por alguém que se julga investido de tal poder.  

Devemos respeitar as tradições religiosas e suas concepções, pois elas serviram, de algum modo, para a construção da organização social que conhecemos. No entanto, o mundo se encontra em um novo momento, nos pródromos de uma nova era, na qual os indivíduos precisam assumir sua responsabilidade espiritual. Faz-se necessário abandonar o comodismo e ser autônomo diante da vida espiritual, que não se findará, mas lhe atribuirá aquilo que for de seus méritos. Não é plausível ser guiado por alguém tão falível como si mesmo -- quando não em condições morais inferiores. “Cego guiando cegos, assim há a possibilidade de que todos caiam em um precipício.”  

Não é impeditivo que existam as agremiações religiosas, mas que os seus confitentes devem carregar suas próprias luzes e não depender de ninguém, embora tais entidades possam ter coordenadores e organizadores de trabalhos, de forma que todos caminhem juntos, sem atribuir a esse ou àquele a obrigação de ser intermediador entre os seus membros e a Divindade.  

Cada indivíduo é um mundo próprio que pode e deve fazer a conexão com Deus pessoalmente. Ele, o Senhor, é o criador de todos nós, portanto, Pai.  

Como o filho pródigo, que, após percorrer grande distância e durante um tempo demasiadamente longo, desperta quando suas forças morais se esgotam e ele recorda da casa de seu pai, onde até mesmo os servidores mais simples tinham suas necessidades atendidas, enquanto ele estava faminto de tudo¹. 

O filho pródigo despertou da subjugação do seu próprio egoísmo e dos iludidos gozos esperados da vida materializada. Não precisou de nenhum intermediário; foi um retorno decido por si mesmo. Isso é uma tomada de consciência e a assunção da responsabilidade sobre sua própria vida espiritual.  

Jesus, na parábola do filho pródigo, utiliza elementos comuns das vivências cotidianas daquela época para retratar, para as gerações futuras, as experiências espirituais daqueles que despertam para a vida espiritual e assumem as rédeas de suas vidas, indo voluntariamente para Deus.  

Esse momento de desalento espiritual vivido por grande parte das pessoas no mundo é semelhante ao momento crucial vivido pelo filho pródigo da mensagem de Jesus. Trata-se de um vazio íntimo, na alma, que não se preenche com o que o mundo oferece sob nenhum aspecto. É uma sede, uma ânsia cujo objeto é desconhecido. Certamente, essa sede e essa ânsia são causadas pelo distanciamento de Deus.  

A hora do despertamento chegará, pois as necessidades emocionais sadias se tornarão uma força irresistível, rompendo as barreiras das próprias resistências criadas pelas mesmices da fé do homem velho. Uma das razões das dores existentes, que provocam problemas emocionais de várias etiologias, são as depressões, os transtornos de pânico, as obsessões, os vícios, outras doenças incuráveis e as muitas formas de loucura -- algumas destas, inclusive, aplaudidas por aqueles inconscientes de suas responsabilidades, em vista dos gozos ilusórios que proporcionam.  

Os desalentados na fé, embora se traduza em sofrimentos generalizados, é o prenúncio que mudanças espirituais significativas estão próximas para uma massa de indivíduos acomodados e que demoram a compreender que eles são os únicos responsáveis por si mesmos diante de Deus. Portanto, ligar-se a Deus é pensar Nele. Respeitar a Deus, é viver dignamente e tornar-se melhor a cada momento de sua existência. 

¹. Lucas, 15:11-32 

                                         Dorival da Silva 

Nota: As obras básicas da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese) podem ser baixadas gratuitamente do sítio da Federação Espírita Brasileira (FEB), através do endereço eletrônico abaixo: