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sábado, 28 de julho de 2018

Depois da ressurreição

Depois da ressurreição

Irmão X (Espírito)

Contou-nos um amigo que, logo após a ressurreição do Cristo, houve grande movimentação popular em Jerusalém. O fato corria de boca em boca. Sacerdotes e patriarcas, negociantes e pastores, sapateiros e tecelões discutiam o acontecimento. Em algumas sinagogas, fizeram-se ouvir inflamados oradores, denunciando a “invasão galileia”.
– Imaginem – exclamava um deles da tribuna, diante das tábuas da lei –, imaginem que a mulher mais importante do grupo, a que se encarregou da chamada mensagem de ressurreição, é uma criatura que já foi possuída por sete demônios. Em Magdala, todos a conhecem. Seu nome rasteja no chão. Como aceitar um acontecimento espiritual, através de pessoa desse jaez? Os galileus são velhacos e impostores. Naturalmente cansados da pesca, que lhes rende parcos recursos, atiram-se, em Jerusalém, a uma aventura de imprevisíveis consequências. É indispensável reajustar impressões. Moisés, o maior de todos os profetas, o salvador de nosso povo, morreu no monte Nebo, contemplando a Terra da Promissão sem poder penetrá-la... Por que motivo um filho de carpinteiro, que não foi um doutor da lei, alcançaria semelhante glorificação? Acaso, não foi punido na cruz como vulgar malfeitor? Se os grandes profetas da raça, que se mantêm sepultados em túmulos honrosos, não se fazem ver nos céus, como esperar a divina demonstração de um homem comum, crucificado entre ladrões, na qualidade de embusteiro e mistificador?
A argumentação era sempre ardente e apaixonada.
Na sinagoga em que se congregavam os judeus da Bataneia, outro orador tomava a palavra e criticava, acerbamente:
– Onde chegaremos com a ilusão do regresso dos mortos? Estamos seguramente informados de que o caso do carpinteiro nazareno não passa dum embuste de mau gosto. Soldados e populares viram os pescadores galileus subtraindo o corpo ao túmulo, depois da meia-noite. Em seguida, como é de presumir-se, mandaram uma certa mulher sem classificação começar a farsa no jardim.
E, cerrando os punhos, bradava:
– Os criminosos, porém, pagarão! Serão perseguidos e exterminados! Sofrerão o suplício dos traidores, no átrio do Templo! Apenas lamentamos que José de Arimateia, ilustre homem do Sinédrio, esteja envolvido no desprezível assunto. Infelizmente, o túmulo execrável situa-se em terreno que lhe pertence. Não fora isso, iniciaríamos, hoje mesmo, a lapidação de todos os culpados. Lutaremos contra a mentira, puniremos os que insultam nossas tradições veneráveis, honraremos a lei de Israel!
E as opiniões chocavam-se, em toda parte, como fogos acesos.
Os discípulos, para receberem as visitas espirituais do Mestre e anotar-lhe as sugestões, reuniam-se, secretamente, a portas fechadas. Por vezes, escutavam as chufas e zombarias que vinham de fora; de outras, percebiam o apedrejamento do telhado, circunstâncias que os obrigaram a continuadas modificações. Não fixavam o ponto de serviço. Ora encontravam-se em casa de parentes de Filipe, ora se agrupavam na choupana de uma velha tia de Zebedeu, o pai de João e Tiago.
Num meio tão vasto de intrigas e vaidades sem conta, era necessário esconder a alegria de que se sentiam possuídos, cultivando a verdade ao calor da esperança em épocas melhores.
Simão Pedro e os demais voltaram à Galileia, para “vender o campo e seguir o Mestre”, como diziam na intimidade. Estavam tocados de fervor santo. A ressurreição enchera-lhes a alma de energias sublimes e até então desconhecidas. Que não fariam pelo Mestre ressuscitado? Iriam ao fim do mundo ensinar a Boa Nova, venceriam trevas e espinhos, pertenceriam a Ele para sempre.
Reorganizaram, pois, as atividades materiais e regressaram a Jerusalém, a fim de darem início à nova missão. Instalados na cidade, graças à generosa acolhida de alguns amigos que ofereceram a Simão Pedro o edifício destinado ao começo da obra, consolidou-se o movimento de evangelização.
Os aprendizes, depois do Pentecostes, haviam criado novo ânimo. Suas reuniões íntimas prosseguiam regulares e as assembleias de caráter público efetuavam-se sem impedimento.
As fileiras intermináveis de pobres e infelizes, procedentes dos “vales de imundos”, lhes batiam à porta, recebendo carinhosa atenção e esse espírito de serviço aos filhos do desamparo conquistou-lhes, pouco a pouco, valiosos títulos de respeitabilidade, reduzindo-se, de algum modo, o número dos escarnecedores, compelidos então a silenciar, pelo menos até quando as autoridades favorecessem novas perseguições.
Todavia, continuava o problema da ressurreição. Teria voltado o Cristo? Não teria voltado?
Prosseguiam os atritos da opinião pública, quando algumas pessoas respeitáveis lembraram ao Sinédrio que fosse designada uma comissão de três homens versados na lei, para solucionar a questão junto dos discípulos. Efetuariam um interrogatório e exigiriam provas cabais.
Aprazada a ocasião, houve rebuliço geral. Agravaram-se as divergências e surgiram os mais estranhos pareceres. Por isso, no momento determinado, grande massa popular reunia-se à frente da modesta casa, onde os apóstolos galileus atendiam os sofredores e ensinavam a nova doutrina.
Os três notáveis varões, todos filiados ao farisaísmo intransigente, penetraram a residência humilde, com extrema petulância. E Simão Pedro, humilde, simples e digno, veio recebê-los.
Efetuado o preâmbulo das apresentações, começou o inquérito verbal, observado por dois escribas do Templo. Jacob, filho de Berseba, o chefe do trio, começou a interrogar:
– É verdade que Jesus, o Nazareno, ressuscitou?
– É verdade – confirmou Pedro, em voz firme.
– Quem testemunhou?
– Nós, que o vimos várias vezes, depois da morte.
– Podem provar?
– Sim. Com a nossa dignidade pessoal, na afirmação do que presenciamos.
– Isso não basta – falou rudemente Jacob, sob forte irritação. – Exigimos que o ressuscitado nos apareça.
Pedro sorriu e replicou:
– O inferior não pode determinar ao superior. Somos simples subordinados do Mestre, a serviço de sua infinita bondade.
– Mas não podem provar o fenômeno da ressurreição?
– A fé, a confiança, a certeza, são predicados intransferíveis da alma – aduziu o apóstolo, com humildade. – Somos trabalhadores terrestres e estamos longe de atingir o convívio dos anjos.
Entreolharam-se os três fariseus, com expressão de ira, e Jacob exclamou, trovejante:
– Que recurso nos sugere, então, miserável pescador? Como solucionar o problema que provocaram no espírito do povo?
Simão Pedro, dando mostras de grande tolerância evangélica, manteve imperturbável serenidade e respondeu:
– Apenas conheço um recurso: morram os senhores como o Mestre morreu e vão procurá-lo no outro mundo e ouvir-lhe as explicações. Não sei se possuem bastante dignidade espiritual para merecerem o encontro divino, mas, sem dúvida, é o único meio que posso sugerir.
Calaram-se os notáveis do Sinédrio, sob enorme estupefação. No silêncio da sala, começaram a ecoar os gemidos dos tuberculosos e loucos mantidos lá dentro. Alguém chamava Pedro, com angústia.
O amoroso pescador fitou sem medo os interlocutores e pediu:
– Deem-me licença. Tenho mais que fazer.
Voltou a comissão sem resultado algum, e a discussão continua há quase vinte séculos...

Do livro Lázaro Redivivo, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Página extraída do endereço:
https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2018/07/depois-da-ressurreicao-irmao-x-espirito.html

quinta-feira, 9 de julho de 2015

ORIGEM DAS TENTAÇÕES


ORIGEM DAS TENTAÇÕES

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria
concupiscência.” — (TIAGO, capítulo 1, versículo 14.)

Geralmente, ao surgirem grandes males, os participantes da queda imputam a Deus a causa que lhes determinou o desastre. Lembram-se, tardiamente de que o Pai é Todo-Poderoso e alegam que a tentação somente poderia ter vindo do Divino Desígnio.

Sim, Deus é o Absoluto Amor e tanto é assim que os decaídos se conservam de pé, contando com os eternos valores do tempo, amparados por suas mãos compassivas As tentações, todavia, não procedem da Paternidade Celestial.

Seria, porventura, o estadista humano responsável pelos atos desrespeitosos de quantos inquinam a lei por ele criada?

As referências do Apóstolo estão profundamente tocadas pela luz do céu.

“Cada um é tentado, quando atraído pela própria concupiscência.”

Examinemos particularmente ambos os substantivos “tentação” e “concupiscência”. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o fundo viciado e perverso da natureza humana primitivista. Ser tentado é ouvir a malícia própria, é abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha do exterior, somente se concretiza e persevera se com ele afinamos, na intimidade do coração.

Finalmente, destaquemos o verbo “atrair”. Verificaremos a extensão de nossa inferioridade pela natureza das coisas e situações que nos atraem.

A observação de Tiago é roteiro certo para analisarmos a origem das tentações.

Recorda-te de que cada dia tem situações magnéticas específicas.

Considera a essência de tudo o que te atraiu no curso das horas e eliminarás os males próprios, atendendo ao bem que Jesus deseja.


Caminho, Verdade e Vida - Psicografia de Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel, capítulo 129.


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Reflexão:

Observando e analisando os nossos interesses nos conheceremos interiormente, teremos consciência de facetas do patrimônio moral, que somos. Carregamos a história que como autor insubstituível a registramos em cores, com sons, cheiros, emoções..., no entanto, foi sendo escrita na esteira dos tempos; épocas que por agora não lembramos. Às vezes, como quando abrimos um álbum de fotografias de uma viagem, lembramo-nos os momentos e recobramos as imagens, as emoções e as sensações.

Não ignoramos que somos o resultado das nossas vivências, que sabemos são as várias existências em corpos diferentes, as chamadas reencarnações. Isto em virtude da Lei Natural do Progresso, e no gozo do livre-arbítrio, cultivamos significativamente experiências negativas, mais propriamente no rumo do sensualismo e dos ganhos de menores esforços.

Nesse trânsito de longo curso, angariamos, ajuntamos em nós, pelos usos e costumes: a indiferença, o malquerer, a inveja, o ódio, a cobiça, a desconfiança, a traição, ..., e logicamente, também, desenvolvemos numa dubiedade, os sentimentos, ainda, egoísticos, do amor aos nossos, os melhores sentimentos aos simpáticos aos nossos interesses, o sentimento de posse a qualquer preço, relativo entendimento de justiça e respeito para com o próximo, o semelhante.

Assim recobramos lembranças de vivências arquivadas quando instigados por estímulo externo, são os desejos de usufruir novamente as sensações de tempos passados, estimuladas por um fato ou uma circunstância no tempo presente, de algo que outrora teve importância, muito provavelmente negativa, mas que provocou satisfação. É um acumulado moral que estava adormecido e que o estímulo desperta. É um incômodo moral que quer atendimento e, agora, está aceso na nossa intimidade, é a tentação.

Cabe ao portador refreá-la ou usufruí-la. As consequências advirão. Cabe a cada um, a reflexão amadurecida sobre tudo o que surge em nossas vidas. O "Orai e vigiai", de Jesus, é verdade permanente, deverá fazer parte da vida de todos. Ainda precisaremos substituir grande parte de nosso patrimônio moral, que é negativo, e influencia significativamente as nossas atuais escolhas. Por isso, a facilidade que temos de acolher sem maiores reflexões o que é negativo e prejudicial à nossa ascensão espiritual, proporcionando logo depois angústias, infelicidades, frustrações...


As tentações estão em nós mesmos!

                                           Dorival da Silva 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos além de Jesus (?)

O Espiritismo responde
Ano 8 - N° 370 - 6 de Julho de 2014
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI


 
Com a fidalguia que se espera de um espírita verdadeiro, três leitores de nossa revista – Leandro Cosme Oliveira Couto (Belo Horizonte, MG), Luiz Alberto Cunha da Silva (Viamão, RS) e Fernando Rosemberg Patrocínio (Uberaba, MG) –, conforme mensagens publicadas na seção de Cartas desta mesma edição, estranharam a resposta dada à leitora Zilma Dias Keown na edição 369 desta revista.
Eis a mensagem recebida da leitora:  
De: Zilma Dias Keown (Jacksonville – Flórida, Estados Unidos)
Sexta-feira, 20 de junho de 2014 às 14:27:33
Boa tarde! Gostaria muito de saber se Maria mãe de Jesus teve outros filhos além de Jesus. Li a respeito no livro A Gênese, mas, burrinha como sou, não entendi muito bem. Desde já agradeço-lhe pela atenção.
Zilma
Eis o que lhe foi respondido: 
“A questão proposta pela leitora não foi jamais examinada por Kardec nem, ao que sabemos, por nenhum autor espírita. Sempre que esse assunto vem à baila, dizemos o que está escrito em nota de rodapé constante da pág. 11 da edição do Novo Testamento publicada em 1980 por LEB – Edições Loyola, a saber: o Novo Testamento não conhece outros filhos de Maria, nem de José; nunca, em nenhuma passagem do NT, ninguém é chamado filho de Maria, a não ser Jesus, e nunca, em nenhum texto, de ninguém Maria é chamada mãe, a não ser de Jesus.”
A estranheza dos leitores acima citados prende-se ao fato de que o próprio Allan Kardec referiu-se no cap. XIV d´O Evangelho segundo o Espiritismo aos irmãos de Jesus, o que, para eles, é uma clara evidência de que José e Maria tiveram outros filhos. Além da referência feita a Kardec, os leitores mencionaram várias passagens do Novo Testamento em que se faz alusão aos irmãos de Jesus, fato que serviria como comprovação do que o Codificador do Espiritismo escreveu.
Não ignoramos que Kardec e o Novo Testamento fizeram referência ao termo “irmãos”, aludindo com isso a Jesus de Nazaré, mas é preciso convir, como dissemos inicialmente, que o Novo Testamento, em nenhum de seus livros, fala sobre “filhos” de Maria. E foi essa, exatamente essa, a questão tratada na resposta dada à leitora Zilma Dias Keown.
Ela não perguntou se Jesus teve “irmãos”: ela perguntou se Maria teve outros “filhos”, o que é coisa bem diferente.
Filhos de Jacó, José e Benjamim, cuja mãe se chamava Raquel, tinham dez irmãos e uma irmã de nome Dina. Raquel, porém, foi mãe apenas de dois filhos, visto que os outros filhos de Jacó e irmãos de José e Benjamim foram gestados por Bala (Dan e Nefthali), Zelfa (Gad e Aser) e Lia (Ruben, Simeão, Levi, Judá, Isacar e Zabulon).
O Novo Testamento faz, realmente, diversas referências aos “irmãos” de Jesus, como mostram os trechos abaixo: 
E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor. Gálatas 1:19
Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos. Atos 1:14
Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? 1 Coríntios 9:5-6
Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar. E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram, e estão lá fora. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? Marcos 3:31-33
E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: De onde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele. Marcos 6:2-3
E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe. E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? Mateus 12:46-48
E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam, e diziam: De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto? Mateus 13:54-56
Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele. João 7:3-5 
Tantas passagens não permitem que se negue o fato. Mas – perguntamos – o termo “irmãos” usado por Paulo e pelos evangelistas teria o sentido estrito que damos usualmente a essa palavra?
Carlos Torres Pastorino estudou meticulosamente o assunto e chegou a uma conclusão diferente da opinião dos nossos três leitores.
Segundo Pastorino, como se pode ler em sua obra Sabedoria do Evangelho - Volume 2, os quatro personagens citados como “irmãos” de Jesus – Tiago, José, Simão e Judas – seriam, em verdade, primos-irmãos de Jesus, parentesco que costumava ser abreviado com a simples palavra "irmão".
Alguns pais da Igreja, como Orígenes, Epifânio, Gregório de Nissa, Hilário, Ambrósio e Eusébio, entendiam que eles fossem filhos de José, frutos de um primeiro matrimônio que o pai de Jesus teria tido, hipótese que Jerônimo refutou. Na obra de Pastorino a que nos reportamos, os interessados podem verificar as fontes em que Pastorino se baseou para expressar suas conclusões.
Registra o evangelista João, na parte final de suas anotações, uma passagem importante que dá apoio ao pensamento de Pastorino. Ei-la:
“E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena. Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.” (João 19:25-27.)
Eis os comentários feitos por Pastorino à passagem transcrita:
“Foi quando Jesus cônscio de si e com todas as Suas energias, percorreu o olhar pelas pessoas ali presentes, e proferiu as frases curtas e incisivas: Mulher, eis teu filho (gynai, híde ho huiós sou). Com isso nomeava João, o discípulo amado, como Seu substituto legal no afeto de Maria. Voltando-se, depois, para João, ratifica o mesmo legado: eis tua mãe (híde hê mêtêr sou). E o evangelista acrescenta: e desde essa hora, tomou-a o discípulo como coisa própria (eis tà ídia), ou a seu cargo.
(...)
Anotemos, de passagem, que se Maria tivesse tido outros filhos, ou mesmo enteados (filhos do primeiro matrimônio de José), esse gesto de Jesus tem ensanchas de magoá-los profundamente. Daí termos aceitado, desde o início, a hipótese da expressão ‘irmãos de Jesus’, como sendo seus primos irmãos.
(...)
João, a essa época, parece que contava cerca de 21 ou 22 anos. A partir daí, João manteve Maria a seu lado, tendo-a levado para Éfeso, segundo a tradição, onde ela veio a falecer muitos anos depois.” (Sabedoria do Evangelho, Volume 8, p. 154 a 158.) 
No cap. 5 do livro Boa Nova, psicografia de Chico Xavier, Humberto de Campos (Espírito) diz que Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cleofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do Senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas.
Quanto à informação de que Maria foi efetivamente morar em Éfeso com o evangelista João, o cap. 30 da mesma obra é recheado de preciosas informações, que vale a pena ler.
Eis alguns trechos do citado capítulo:
Maria deixou-se enlaçar pelo discípulo querido e ambos, ao pé do madeiro, em gesto súplice, buscaram ansiosamente a luz daqueles olhos misericordiosos, no cúmulo dos tormentos. Foi aí que a fronte do divino supliciado se moveu vagarosamente, revelando perceber a ansiedade daquelas duas almas em extremo desalento. “Meu filho! Meu amado filho!“ exclamou a mártir, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível.
O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes: “Mãe, eis aí teu filho!. . .“ E dirigindo-se, de modo especial, com um leve aceno, ao apóstolo, disse: “Filho, eis aí tua mãe!”
(...)
Após a separação dos discípulos, que se dispersaram por lugares diferentes, para a difusão da Boa Nova, Maria retirou-se para a Betaneia, onde alguns parentes mais próximos a esperavam com especial carinho. Os anos começaram a rolar, silenciosos e tristes, para a angustiada saudade de seu coração.
Tocada por grandes dissabores, observou que, em tempo rápido, as lembranças do filho amado se convertiam em elementos de ásperas discussões, entre os seus seguidores. Na Bataneia, pretendia-se manter uma certa aristocracia espiritual, por efeito dos laços consanguíneos que ali a prendiam, em virtude dos elos que a ligavam a José. Em Jerusalém, digladiavam-se os cristãos e os judeus, com veemência e acrimônia. Na Galileia, os antigos cenáculos simples e amoráveis da Natureza estavam tristes e desertos.
Para aquela mãe amorosa, cuja alma digna observava que o vinho generoso de Caná se transformara no vinagre do martírio, o tempo assinalava sempre uma saudade maior no mundo e uma esperança cada vez mais elevada no céu.
Sua vida era uma devoção incessante ao rosário imenso da saudade, às lembranças mais queridas. Tudo que o passado feliz edificara em seu mundo interior revivia na tela de suas lembranças, com minúcias somente conhecidas do amor, e lhe alimentavam a seiva da vida.
Relembrava o seu Jesus pequenino, como naquela noite de beleza prodigiosa, em que o recebera nos braços maternais, iluminado pelo mais doce mistério. Figurava-se-lhe escutar ainda o balido das ovelhas que vinham, apressadas, acercar-se do berço que se formara de improviso.
E aquele primeiro beijo, feito de carinho e de luz? As reminiscências envolviam a realidade longínqua de singulares belezas para o seu coração sensível e generoso. Em seguida, era o rio das recordações desaguando, sem cessar, na sua alma rica de sentimentalidade e ternura. Nazaré lhe voltava à imaginação, com as suas paisagens de felicidade e de luz. A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia de suas recordações.
A esse tempo, o filho de Zebedeu, tendo presentes as observações que o Mestre lhe fizera da cruz, surgiu na Bataneia, oferecendo àquele espírito saudoso de mãe o refúgio amoroso de sua proteção. Maria aceitou o oferecimento, com satisfação imensa.
E João lhe contou a sua nova vida. Instalara-se definitivamente em Éfeso, onde as ideias cristãs ganhavam terreno entre almas devotadas e sinceras. Nunca olvidara as recomendações do Senhor e, no íntimo, guardava aquele título de filiação como das mais altas expressões de amor universal para com aquela que recebera o Mestre nos braços veneráveis e carinhosos.
Maria escutava-lhe as confidências, num misto de reconhecimento e de ventura. João continuava a expor-lhe os seus planos mais insignificantes. Levá-la-ia consigo, andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho. Demorara-se a vir, explicava o filho de Zebedeu, porque lhe faltava uma choupana, onde se pudessem abrigar; entretanto, um dos membros da família real de Adiabene, convertido ao amor do Cristo, lhe doara uma casinha pobre, ao sul de Éfeso, distando três léguas aproximadamente da cidade.
A habitação simples e pobre demorava num promontório, de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.
Maria aceitou alegremente. Dentro de breve tempo, instalaram-se no seio amigo da Natureza, em frente do oceano. Éfeso ficava pouco distante; porém, todas as adjacências se povoavam de novos núcleos de habitações alegres e modestas.
A casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembleias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros.
Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Vezes inúmeras, a reunião somente terminava noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sitio singelo e generoso. A notícia de que Maria descansava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança por todos os sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas úlceras e necessidades. Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”. (Boa Nova, cap. 30.) 
Se Maria tivesse outros filhos, motivo nenhum haveria para ser levada para tão longe, seguindo o evangelista João, que para ali havia ido por imposição do Sinédrio, como é relatado em minúcias no livro Paulo e Estêvão, de autoria de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.
Esperamos que estas observações satisfaçam a todos aqueles que se interessam pelo assunto de que ora tratamos, conquanto não tenhamos a pretensão de haver esgotado o palpitante tema.
 
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