Mostrando postagens com marcador cérebro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cérebro. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Educação moral, um paradigma para o Espírito

 Educação moral, um paradigma para o Espírito 

Os seres humanos são os senhores das eras; mergulham, de tempos em tempos, nas carnes que se preparam com o fundir de gametas, o que se denomina reencarnação. Trazem nas suas bagagens os valores que são os resultados de seus esforços.  

Assim surgem como homem ou mulher no berço dos lares, vencem os primeiros tempos, o equipamento carnal se desenvolve e vai permitindo a manifestação do seu morador. Primeiramente reflexos instintivos, a inteligência se apresenta represada porque o cérebro ainda não consegue decodificar, e a composição osteomuscular e a cardiorrespiratória não estão prontas para obedecer à ordem da vontade comandante. 

Instalado adequadamente no seu instrumento de manifestação, que caminha pela infância, adolescência, sendo que na fase adulta está maturado, permitindo o seu uso na integralidade. Assim ocorreu em outras vezes sem conta, que por ora não se lembra.  

É questionamento corrente: por que não se lembrar das vidas passadas -- isto é complexo --, mas de uma forma apenas indicativa, pode-se dizer que o cérebro do corpo da presente existência somente tem a capacidade para decodificar as lembranças daquilo dos quais participou; recordações anteriores podem ocorrer através dos sonhos e alguns estados de emancipação da alma muito específicos, capazes de alcançar registros de vidas passadas. Sendo que a vida do Espírito é uma só, entrar ou sair da vida material é oportunidade evolutiva. Os fatos vivenciados de todos os tempos estão na mente, pertencente ao Ser espiritual, portanto, é elemento extracorpóreo. Não se recordar de fatos de vidas passadas é um recurso Divino em favor da criatura, para que possa se refazer de erros que lhe proporcionaram tormentos. Com o esquecimento, pode-se conviver novamente com os desafetos de outros tempos, que em muitas oportunidades estão dentro do lar. Há, no entanto, aqueles que, por comodidade, falta de interesse ou mesmo a impossibilidade de encontrar trabalho remunerado, vivem às expensas de seus idosos. Isso é uma vergonhosa inversão de valores, salvo as exceções.  

O senhor Kardec, ao analisar as respostas dos Espíritos às perguntas que formulou, traz um despertar para o presente século: “(...).  Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Esse equilíbrio, porém, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. (...).” 

Sem desprezar o conhecimento geral, com que Kardec contribuía grandemente como professor de notório saber de múltiplas matérias, observou que a educação moral se faria substancial na caminhada evolutiva da Humanidade. Ele explica sua compreensão da educação moral, que não pode ser oficializada. Veja como ele ensina: “(...), é o conjunto dos hábitos adquiridos.; -- frisamos: hábitos morais. 

Destacamos a frase: “Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria”. Vejamos que o Codificador, mesmo estando 163 anos de distância do nosso tempo, tinha a percepção e lançava olhar para o futuro, prevendo que a economia sofria e ressentia com a ausência da educação moral. Observemos o excesso de leis para controlar a evasão de impostos, a corrupção, a criminalidade, que cresce vertiginosamente, exigindo mais aparatos humanos, tecnologia e recursos financeiros na tentativa de conter o ilícito. No entanto, a conclusão dessa análise confirma que a educação moral eliminaria a maior parte desses desvios comportamentais que parecem ter se naturalizado. O freio do mal precisa estar presente em cada indivíduo. Assim, eliminaríamos a maior parte do aparato legal, poupando o Estado de gastos que poderiam ser direcionados para a melhoria da vida das pessoas. O excesso de leis para disciplinar comportamentos demonstra a ausência da educação moral dos indivíduos. 

A experiência mostra ser indispensável que os valores morais venham antes, para isso se faz imprescindível que o Espírito tenha adquirido em vidas passadas -- que se faz refletir na vida presente, o que acontece com muitos -- ; ou,  que,  desde o berço,  os pais deem exemplos com seus comportamentos, no linguajar, nas atitudes do dia a dia, nas preferências culturais, de igual importância a moralidade do ambiente onde terá seu desenvolvimento social; nos tempos da tecnologia, saber como conduzir a criança ao acesso dos entretenimentos virtuais, sendo que estes nem sempre apresentam compromisso com a educação moral do público infantil. 

Uma ferramenta de alta importância para formar o conjunto de hábitos moralizados é estudar, apreender, aprender e viver o Evangelho de Jesus, na sua pureza. Esses ensinamentos precisam estar na vida dos indivíduos desde os primeiros movimentos da existência. Tudo o que vier depois encontrará na intimidade do Ser um escudo, como se fosse uma vacina moral. Quando alguma ocorrência divergir do que é bom e nobre, não será acolhida, haverá repulsa, porque o estado vibracional da alma moralizada é discordante daquelas ainda imorais, ou de fatos, ou de circunstâncias também desse teor. 

Do prefácio da monumental obra: Educação - Um tesouro a descobrir², transcrevemos os excertos: “(...). ‘A Comissão não resistiu à tentação de acrescentar novas disciplinas, como o conhecimento de si mesmo e dos meios de manter a saúde física e psicológica, ou mesmo matérias que levam a conhecer melhor e preservar o meio ambiente natural. Contudo, os programas estão cada vez mais sobrecarregados. É necessário, pois, optar, com a condição de preservar os elementos essenciais de uma educação básica que ensine a viver melhor, através do conhecimento, da experiência e da construção de uma cultura pessoal.’    

‘Finalmente, e trata-se, também neste caso, de uma realidade permanente, a tensão entre o espiritual e o material.  Muitas vezes, sem sequer se aperceber disso ou sem ter capacidade para o exprimir, o mundo tem sede de ideal ou de valores a que chamaremos morais, para não ferir ninguém. Cabe à educação a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradições e convicções de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, esta elevação do pensamento e do espírito para o universal e para uma espécie de superação de si mesmo. Está em jogo -- e aqui a Comissão teve o cuidado de ponderar bem os termos utilizados -- a sobrevivência da humanidade.’” 

Os elementos morais cultivados se estabelecem exclusivamente na alma do indivíduo e se expressarão naturalmente em todas as suas ações, seja na vida física ou no mundo espiritual. Voltando em Jesus, vamos encontrar o ensinamento síntese dos Seus postulados: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (Mateus, 22:34 a 40.)³ .  O Mestre Nazareno tinha por objetivo esclarecer o Ser Espiritual, na sua individualidade, porque seu ensinamento precisaria ser apreendido e vivenciado, o que corresponde a educação moral da criatura, uma das razões que quase sempre exemplificou primeiro, para elucidar depois, quando necessário. O exemplo nem sempre exige esclarecimento, é dedutível por si mesmo.  

O grande problema da Humanidade está em compreender que a vida do corpo é finita, instável e sem garantia de duração, e que as consequências de seus atos permanecerão com os responsáveis até que seus efeitos sejam resolvidos -- estamos falando das ações negativas, imorais e corruptas… Os reflexos destas atitudes e seus desdobramentos recairão sobre os envolvidos, mesmo que a justiça dos homens não tenha percebido ou mesmo acobertado. Pois, existem muitas leis que não corroboram à justiça, são frutos da premeditação de interesses ilegítimos em detrimento do que seria justo e moral. Todos somos Espíritos e respondemos a uma única lei que não foge à justiça e à verdade, a Lei Divina, que se acha bem instalada na consciência de cada indivíduo, porém, adormecida pela ignorância ou entorpecida pelo egoísmo e o orgulho, que despertará no ambiente moral que cultiva.  

A educação moral estará presente e será a norteadora da qualidade de vida da Humanidade da Terra, sem se esquecer que ora se está no corpo, ora se está na espiritualidade, a Humanidade é a soma de todos os Espíritos ligados ao planeta Terra. Através do processo da reencarnação entramos na vida corporal e com a exaustão da carne retornamos ao mundo daqueles que deixaram a sua indumentária no túmulo.  

É um paradigma para o Espírito vencer a sua obscuridade particular, superar os preconceitos religiosos, os pensamentos materialistas “desconstrutivos” do frágil senso de espiritualidade do ser humano. A ausência da fé racional, a crença dependente de outrem, esquecendo-se ou ignorando-se ser senhor de si mesmo, responsável pela condução da própria vida. Ainda, sem se descurar de que vive em sociedade com seus iguais, e que o compromisso moral é contribuir com o próximo, “é amar o próximo como a si mesmo”, é resguardar o direito do outro, assim, garantindo o direito de todos, aí está o ângulo maior da educação moral, muito pouco percebido pelos habitantes da Terra.  

Inserimos como fecho desse trabalho a última parte dos argumentos de Allan Kardec sobre o tema tratado nas questões acima referidas: “Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? 

Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos. 4” 

                 -- “Sem educação moral ninguém tem segurança”

                              Dorival da Silva 

  1. O Livro dos Espíritos - Trad. de Guillon Ribeiro - FEB

  2. Educação - Um tesouro da descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI - Jacques Delors - 6.ª ed.

  3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Trad. J. Herculano Pires - 43.ª ed.- LAKE

  4. O Livro dos Espíritos - Trad. de Guillon Ribeiro - FEB, final do esclarecimento das questões 685 e 685-a

    Nota: As obras de Allan Kardec, podem ser acessadas através do endereço:  https://kardecpedia.com/


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Iniciação mediúnica

Iniciação mediúnica

Assinalas contigo o fenômeno mediúnico e ante as emoções diferentes que te invadem o mundo íntimo, experimentas a perturbação e a dor...

Em vista disso, rogas orientação e socorro. Não olvides, porém, que o problema reside em ti mesmo e que não te reajustarás sem a própria cooperação.

O médico poderá ser competente e caritativo, entretanto não dispõe de recursos para salvar o enfermo que não deseja curar-se.

Se pretendes equilíbrio e segurança, antes de tudo, através da oração, solicita à Divina Providência te auxilie a policiar a própria mente, sustentando o bem a teu próprio favor.

Em seguida, trabalha na extensão desse mesmo bem, quanto estiver ao teu alcance, porque todos os processos de obsessão, quase sempre nascidos da força mediúnica inconsciente, crescem na medida de tuas horas inúteis.

Assim sendo, ainda mesmo com sacrifício cumpre teus deveres no lar ou no círculo de trabalho em que o Senhor te situou a existência, empregando o cérebro e o coração naquilo que possas realizar de melhor. E, além das obrigações naturais que te enriquecem a luta, refugia-te no estudo nobre e na caridade incansável, alavancas seguras de tua libertação.

O livro edificante opera o saneamento da alma, descerrando-te os mais elevados caminhos da Terra e o serviço prestado desinteressadamente ao próximo ampara-te com os valores da simpatia, angariando-te as bênçãos do Céu.

O doente a quem ajudas será remédio em tuas feridas e o desesperado a quem reconfortas será consolo em teu coração.

Não reclames do Cristo o milagre de teu reajuste. Pede ao Mestre Divino te conceda serviço e entendimento, para que restaures a ti próprio, enfileirando-te entre os servidores leais da luz.

Não te queixes dos adversários e perseguidores desencarnados. Eles são nossos próprios companheiros, afetos do nosso “ontem”, que deixamos à retaguarda, em muitas circunstâncias, envenenados por nossas próprias ações destrutivas.

Se aguardamos proteção e carinho dos benfeitores que se erguem na Altura, acima de nós, como fugir ao concurso aos nossos irmãos menos felizes, que sofrem, dementados, entre a delinquência e a miséria, para que se retirem do tenebroso vale das sombras, ao qual, muitas vezes, se arrojaram com o impensado impulso de nossas mãos?

Oferece-lhes, assim, o teu exemplo vivo na paciência e na abnegação, na fé e na caridade, na tolerância e no dever dignamente cumprido, para que leiam em tua vida a cartilha da própria transformação.

Não basta, pois, desenvolver a mediunidade que trazes, latente. É indispensável te aprimores, através do trabalho e da prece, com bases na fraternidade e no estudo, para que te faças operário do Cristo com que o Cristo possa contar.

Não percas tempo, entre o anestésico do desânimo e o fel da lamentação.

Devotemo-nos ao bem de todos, aprendendo e auxiliando, amando e servindo sempre.

Ser “médium” significa ser “medianeiro”.

Não vale, desse modo, apenas guardar o título. É imprescindível a nossa expansão no discernimento e no mérito, na compreensão e na bondade, com utilidade para os outros e aperfeiçoamento de nós mesmos, que nos habilitem a ser devotados artífices do amor e fiéis mensageiros da luz.

                                                 Emmanuel

Do livro Temas da Vida, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Esta mensagem também pode ser acessada através do endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano10/489/emmanuel.html


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Ciência em Kardec - Parte 1

NUBOR ORLANDO FACURE                                              
lfacure@uol.com.br                                            
Campinas, SP ( Brasil)

Nubor Orlando Facure

A Ciência em
Kardec
Parte 1

Na segunda metade do Século XIX, quando Allan Kardec codificou a Doutrina Espírita, a Ciência humana recebia o trabalho gigantesco de sábios ilustres, Espíritos de elevada estatura que vieram até nós para modificar nossa compreensão sobre importantes fenômenos da natureza. O método científico já estava discutido e divulgado por filósofos da estatura de Descartes e Bacon. Agora, a experimentação iria se estabelecer como a melhor forma de produzir conhecimento.
Vale a pena fazermos uma revisão histórica desse momento vivido por Kardec e pinçarmos, nos seus textos, a contribuição que a Doutrina Espírita estava trazendo para a Ciência naquela época. Com o que conhecemos hoje, temos certeza de que o cientista daquele século não tinha informações suficientes para compreender tudo o que estava sendo revelado mediunicamente para Allan Kardec. Fica, também, a certeza de que até aos dias de hoje ainda não temos alcance para abrangermos cientificamente toda a obra da codificação. Há nela informações que a Ciência humana levará tempo para confirmar e compreender. 

O obscurantismo medieval 

O século de Kardec estava saindo definitivamente do ranço obscurantista que dominava a Ciência da época. Até o final da Idade Média acreditava-se que a “idade da Terra” não passava de 4.600 anos; que os fósseis não tinham nenhuma ligação com o nosso passado; que o homem fora criado num paraíso que ele desrespeitou comendo o fruto proibido e, mesmo assim, ainda ocupava um lugar privilegiado entre todos os seres criados por Deus; que a vida podia nascer na água empoçada ou no meio de roupas velhas; que a madeira se queimava pela presença nela de um “flogístico”; que a eletricidade era tida como um fluido que podia se deslocar obedecendo a forças de atração e repulsão, assim como a água se desloca dos lugares mais altos para os mais baixos; que a luz se deslocava pelo Éter; que a matéria era formada por substâncias, umas elementares outras complexas, que se misturavam obedecendo a leis de afinidade ainda desconhecidas; que algumas substâncias, chamadas de “orgânicas”, só poderiam ser produzidas pelos organismos vivos; que os corpos pesados caíam em decorrência de sua tendência de ficar na Terra.         

Início das descobertas  

Na época de Kardec a Ciência ainda não produzira seus grandes avanços tecnológicos. Até 1834 uma das maiores descobertas feita por um cientista tinha sido o para-raios desenvolvido por Benjamim Franklin.
Entretanto, as Leis fundamentais que permitiriam o nascimento da Ciência moderna já tinham sido descobertas:
Galileu conseguiu comprovar a teoria heliocêntrica de Copérnico e enunciava as primeiras Leis do movimento.
Newton descobrira a matemática da gravidade, explicou o vaivém das marés, a oscilação do pêndulo, a queda dos corpos, a órbita dos astros, e fragmentou a luz sugerindo sua propagação por partículas.
Lavoisier começara a esclarecer a química da respiração e estabelecera leis de conservação da matéria.
Charles Lyell iniciou o estudo da estratificação de áreas geológicas expandindo a idade da Terra em alguns milhares de anos.
Cuvier inaugurava os estudos da paleontologia. 
Na filosofia, René Descartes introduzira a reflexão, analisou a conveniência da dúvida, destacou a importância do pensamento racional e separou o estudo do corpo e da alma.
Vessálius revolucionou a anatomia do corpo humano que ele dissecava como uma máquina cujas peças podiam ser desmontadas à semelhança dos relógios e dos moinhos.
Mesmer defendeu a existência do magnetismo animal e fez surgir o sonambulismo provocado.
Galvani se encantara com a eletricidade nas patas de uma rã e Volta descobriu a química que produziria a eletricidade numa pilha rudimentar.
Na Inglaterra, o filósofo Francis Bacon ensinara como observar e experimentar com a natureza, reunindo os fatos, organizando as ideias e produzindo leis gerais a partir do raciocínio indutivo. 
Vultos iluminados 
Curiosamente, no mesmo momento em que a espiritualidade inspirava Kardec na produção do seu grande trabalho espiritual, a humanidade recebia pela mão de cientistas excepcionais um volume considerável de descobertas no campo das Ciências da matéria.
Charles Darwin e Alfred Wallace divulgaram seus trabalhos sobre a origem e a evolução das espécies.
Richard Virchow, patologista alemão, afirmava que toda célula viva provém de outra célula.
Na Inglaterra, Faraday ampliou nossos conhecimentos sobre a eletricidade e Maxwell reuniu em suas leis a eletricidade e o magnetismo, conseguindo incluir a luz entre os fenômenos eletromagnéticos.
No laboratório de fisiologia, na França, Claude Bernard descobriu a importância da estabilidade dos elementos químicos do sangue e Louis Pasteur iniciou suas pesquisas com a fermentação, invalidou a geração espontânea e, mais tarde, inaugurou a vacinação contra a raiva.
Em 1804, Franz Gall revolucionou a interpretação do cérebro criando a frenologia (citada por Kardec na Revue Spirite de julho de 1860, p. 198, Frenologia e fisiognomia) e em 1864 Paul Broca descobriu a área do cérebro relacionada com a fala. 
Tópicos de Ciência em Kardec 
Vamos fazer agora uma coleta de informações científicas em duas obras da codificação – O Livro dos Espíritos (1857) A Gênese (1868). A Ciência de hoje está a um século e meio distante dessas obras e só agora começamos a atinar com a importância dos seus textos. Vamos abordar apenas alguns poucos tópicos que nos pareceram instrutivos. 
A origem do Universo - Na época de Kardec a Ciência não tinha qualquer proposta para a origem do Universo. Foi só em 1927 que a teoria da grande explosão – o Big Bang –  começou a ser enunciada. Uma grande concentração de energia, surgida do nada, teria provocado, há 13 ou 15 bilhões de anos, a explosão que produziu toda a matéria contida no Universo. Um efeito popular dessa teoria é que ela sugere um início para o mundo em que vivemos e satisfaz a visão teológica dos que admitem o momento bíblico da Criação quando “Deus fez a luz”.
Mais recentemente, a física quântica introduziu o conceito de antimatéria e levantou a possibilidade de existir outros Universos além da realidade física em que transitamos.
Nas lições que os Espíritos nos deixaram, a criação é eterna, renova-se permanentemente, e nossa inteligência não está em condições de apreender qualquer início para o Universo – “não desapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe, reconstruídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno” (A Gênese cap. VI, item 17).         
Elementos do Universo - A Ciência de hoje vive alguns dilemas contraditórios. Só admite a existência da matéria, enquanto suas mais recentes teorias propõem que o que existe é energia e a matéria é uma de suas transformações. Não aceita a existência de um mundo imaterial, mas reconhece a necessidade da mente para a percepção da realidade física. E não sabe de onde se origina essa energia nem consegue ter certeza do que é a mente.
Na Filosofia, as substâncias do Universo foram sempre uma preocupação importante. Tales de Mileto considerava que tudo procede da água. Empédocles adotou os quatro elementos, que passaram a fazer parte do conhecimento ocidental por dois milênios – a terra, a água, o ar e o fogo. Tomás de Aquino acrescentou-lhes uma substância espiritual. René Descartes considerava dois elementos – o res cogitans (o sujeito pensante) e o resextensa (o objeto, a matéria). Espinoza falava em apenas uma substância e Leibnitz criou a ideia de infinitas mônadas, sendo a Alma a maior dessas mônadas.
Para a Doutrina Espírita existem “dois elementos, ou, se quiserem, duas forças regem o Universo: o elemento espiritual e o elemento material. Da ação simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais” (A Gênese, Introdução). Acrescenta, ainda, que “não há, em todo o Universo, senão uma única substância primitiva” – o fluido cósmico universal. 

A vida Dois momentos do século passado marcaram definitivamente nossa compreensão sobre a vida. A conferência sobre “O que é vida?” que Erwin Schroedinger proferiu em fevereiro de 1943 em Dublin e a publicação de Francis Crick e James Watson de seus estudos relativos à descoberta do DNA em 25 de abril de 1953 – “o oitavo dia da criação”.

O genial físico Erwin Schroedinger propôs que a hereditariedade seria transmitida por um cristal aperiódico, o que permitiria seu estudo com métodos radiológicos. A partir daí, Crick e Watson descobriram a química da dupla hélice que contém nossos genes. Schroedinger sugeriu, também, que a vida exige um aporte externo de energia para conservar sua baixa entropia, o que corresponde a uma alta organização. A termodinâmica dos seres vivos pressupõe a ordem a partir da desordem.

O Espiritismo ensina que a matéria orgânica assume propriedades especiais quando nela atua o “princípio vital”. É no fluido cósmico universal que reside o princípio vital que tem a capacidade de dar “origem à vida dos seres e a perpetua em cada globo” (A Gênese, cap. VI, item 18). É nessa matéria “vitalizada” pelo princípio vital que irá se desenvolver o “princípio inteligente”. 
A origem do homem - O homem atual é classificado como uma espécie única denominada Homo sapiens. Ele habita a Terra há cerca de 200 mil anos e é procedente da evolução de hominídeos e outras espécies do gênero Homo cujos achados fósseis já se contam às dezenas.
Há duas correntes que tentam explicar a presença da nossa espécie em lugares tão variados da Terra. Para alguns, nós tivemos uma origem única em território africano e para outros é possível que tenhamos tido origem em diversos pontos do globo. Kardec aborda a origem do homem no capítulo XI de A Gênese e sugere que o corpo humano teria tido origem em diversos pontos da Terra; quanto ao Espírito humano, ele se desenvolveu tanto no planeta como migrou de outros mundos do nosso Universo.         
A origem e evolução das espécies - Charles Darwin publicou “A origem das espécies” dois anos após a primeira edição de O Livro dos Espíritos. Darwin sugere a evolução biológica para explicar a variedade das espécies, enquanto Kardec apresenta a evolução espiritual como princípio fundamental para justificar os propósitos da vida.
Darwin veio comprovar que todas as espécies vivas têm uma origem comum. O homem deixa de ser criatura que já nasce pronta nos jardins do Éden, para percorrer junto com todas as outras espécies a mesma  árvore da vida, obedecendo no percurso de milênios a transformações adaptativas.
Já ensinam, claramente, os Espíritos superiores que orientavam Kardec, que “o Espírito não chega a receber a iluminação divina que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização” (A Gênese, cap. VI, item 19).   
Ideias inatas - Essa discussão esteve provocando os filósofos durante milênios. Platão considerava que a alma, ao nascer, já traz conhecimentos que adquiriu no mundo das ideias. No mito da caverna ele sugere que nossa vida material é apenas o reflexo de um mundo verdadeiro pré-existente, e fonte de todo conhecimento. Seu discípulo Aristóteles atribuía o aprendizado à experiência e acreditava que todo conhecimento provém dos sentidos. John Locke também via a mente como uma “tábula rasa”. René Descartes, pelo contrário, defendia a existência de ideias que nos são inatas, como a noção de Deus, as ideias matemáticas e as verdades eternas.
Atualmente essa polêmica envolve, principalmente, a biologia e a neuropsicologia. A descoberta dos genes permitiu-nos conhecer mais profundamente a extensão das nossas heranças e a discussão se estabeleceu em torno de quanto nosso conhecimento é aprendido através da experiência e quanto os genes programam nossos comportamentos. O dilema ganhou fama dividindo ambientalistas e geneticistas na expressão “nature versus nurture” (ambiente versus hereditariedade; aprendizado versus instinto). Nos dias de hoje, ninguém mais duvida da participação tanto dos genes como da estimulação do ambiente na produção do conhecimento.
Na questão 218–a, de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se a teoria das ideias inatas não seria apenas uma quimera. Os Espíritos nos ensinaram que “os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Durante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém, a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse assim, teria que recomeçar constantemente”. (Continua na próxima edição desta revista.) 
 

Nubor Orlando Facure é médico neurocirurgião e diretor do Instituto do Cérebro de Campinas-SP. Ex-professor catedrático de Neurocirurgia na Unicamp (Universidade de Campinas), é escritor e expositor espírita.

Texto extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano7/336/especial.html