Fé que transporta montanha
A fé
vem sendo tratada nos tempos modernos pelas vias massificadoras de comunicação
televisiva, radiofônica e pela rede internacional de computadores...
Permanece,
em maior parte, a prática incisiva de dominação da fé condicionada a alguém ou
a algum templo. Utilizam-se do nome
Jesus e do evangelho como moeda fácil, no afã de autenticidade e por fazer
valer interesses escusos fantasiam, teatralizam tentando fazer banalidades se
tornarem verdades irrefutáveis.
Todos
os dias se faz necessário apresentar algo fantástico para prender a atenção dos
incautos com promessas de efeitos extraordinários, ludibriando as massas
daqueles que se permitem, porque alimentam uma fé cega,
dependente de outrem, que como o cego ter um guia cego ambos cairão na
ribanceira.
“Vinde
a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de
coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o
meu fardo. ( Mateus, 11:28 a 30). ” -- “Entretanto, faz depender de uma condição a sua assistência e a
felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na lei por Ele [Jesus] ensinada.
Seu jugo é a observância dessa lei; mas esse jugo é leve e a lei é suave, pois
que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade.” (1).
A fé
que transporta montanha (de problemas da vida,
dificuldades normais da própria senda evolutiva, que afligem, pois, o homem
precisa vencer as suas limitações) é lucidez,
confiança na superação das próprias limitações, utilizando com sabedoria as
ferramentas que a vida lhe coloca às mãos.
Para se
alcançar na vida o alívio das aflições, Jesus fala que é necessário “tomar
sobre si o seu jugo” e que se aprenda com Ele a “brandura e a humildade de
coração” , assim a alma estará em repouso, no entanto, existe uma
condicionante “o seu jugo é suave e seu fardo é
leve”, “que apenas impõe como dever o amor e a caridade.”
O ensinamento
de Jesus não é ouvir prédicas, embora isso possa ser útil se quem ensina é
honesto e quem ouve passa o conteúdo pelo crivo da razão, através de meditação
rigorosa, descartando o que não seja útil para a evolução moral e espiritual.
Isto é a parte menor do processo evolutivo, falta a condição primordial: amor e
caridade.
A
verdadeira caridade moral, que também se extrai da caridade material, vez que
toda ação no bem exige a participação da emoção, da tolerância, da compreensão,
é a única condição a proporcionar as modificações íntimas da alma humana. A
brandura e a humildade de coração, de que Jesus se refere, é modificação
consciente do indivíduo, sabendo suportar as dificuldades que lhe são próprias
para a superação dos vícios, da ganância, da inveja, do ódio, do sensualismo,
do orgulho, da prepotência, do egoísmo... Sendo que em grande compreensão: a
caridade é o amor em ação.
A
condição: “que apenas impõe como dever o amor e a caridade” não é norma
de Jesus, porque a ela Ele também está submetido, é Lei Natural (Lei de Deus)
da qual o Mestre é o revelador.
Note-se
que sempre há uma ação, uma disposição, faz-se necessário a mão na obra. A
passividade, na expectativa que alguém fará a parte de cada um é um
engano. A solidariedade é sempre
bem-vinda, mas como apoio, e não deverá fazer a parte particular que compete a
cada pessoa. “A cada um segundo a suas obras.” Jamais se pagará pela
deficiência dos outros ou se gozará felicidades tendo por conta a virtude dos
outros. “Deus é Justo.”
Assim,
não é possível caminhar com as pernas que não sejam as próprias e nem encontrar
a paz e a felicidade às expensas de outrem.
A fé
transporta montanha, na medida da confiança que ela proporciona.
(1)-Evangelho
Segundo o Espiritismo – Capítulo VI – O Cristo Consolador, item 2.
Dorival da Silva