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quinta-feira, 17 de março de 2016

BENEFÍCIOS ADVINDOS DO SOFRIMENTO

Sem nenhuma apologia ao sofrimento, é incontestável o benefício de que ele se reveste no processo da evolução da criatura humana.

Herdando os hábitos ancestrais, normalmente aqueles que defluem da preservação da existência física, é natural que haja predominância em a sua natureza, aqueles instintos agressivos, responsáveis pela sobrevivência da espécie, que constituem o ego dominador e tenaz.

Esse ego é responsável pela presunção e prepotência que se manifestam no caráter moral como mecanismos agressivos, em detrimento dos sentimentos de compreensão e de solidariedade, que deveriam viger no seu íntimo.

Certamente surgem com o despertar da consciência, quando o Espírito começa a identificar os valores éticos indispensáveis a uma existência feliz, assinalada pela compreensão dos seus direitos, mas também dos seus valiosos deveres para consigo, para com o próximo, para com a sociedade e para com Deus.

Essa conscientização opera-se mediante a sua transformação moral para melhor, a sua necessidade da comunhão dos ideais com o próximo, a sua busca da convivência fraternal, em cujo comportamento são transformados os impulsos de dominação e de morte, nos de solidariedade e de vida.

Nada obstante a compreensão de que a evolução intelectomoral é processo que resulta do incomparável amor de Deus, remanescem no cerne do ser os mecanismos defensivos e agressivos, mantendo-o, não poucas vezes, arrogante e celerado, que se compraz em afligir e malsinar os demais, preservando o comportamento primário do qual procede.

Em face do inevitável processo da reencarnação, as experiências iluminativas apresentam-se diversificadas, proporcionando ajustamentos e recomposições que facultam o crescimento interior. Nesse capítulo, tem lugar a presença do sofrimento, como resultado dos atos praticados anteriormente e que deixaram marcas infelizes pelo caminho percorrido. É a dor que dobra a cerviz dos soberbos, demonstrando-lhes a fragilidade na qual operam, e que a força de que se parecem constituir, nada mais é do que capricho do egotismo que os elege como centro da vida, portanto, credores exclusivos de tudo em detrimento dos demais.

Nessa conceituação primária, ocultam-se muitos conflitos que não foram solucionados e pressionam o homem na direção da conduta presunçosa, em razão dos medos inconscientes que lhe remanescem, ora mascarados de poder e de querer.

Insinuando-se de maneira sutil a angústia e a melancolia, a solidão e a ansiedade se lhe instalam, fragilizando-o e empurrando-o para comportamentos patológicos, quando ainda não é possuidor de sentimentos relevantes, tornando-se mais perverso e insensato...

É nesse momento que as enfermidades orgânicas ou psíquicas se instalam produzindo os sofrimentos que supunha nunca teria que experimentar, demonstrando que é constituído da mesma argamassa daqueles aos quais vilipendia e maltrata.

Desacostumado ao flagício da aflição, porque escondido nos gozos aparentes e ilusórios, cerca-se de cuidados extravagantes e superlativos, sem que tenha diminuídos os gravames como qualquer outra pessoa a quem jamais considerou.

É inexorável a presença do sofrimento na criatura terrestre, em face dos fenômenos orgânicos de que se utiliza o Espírito no trânsito material.

Suscetível à degenerescência e à diluição, a aparência forte e bela, harmônica e invejável cede lugar à deformidade e às conjunturas deformantes, mantendo encarcerado o responsável pela sua ocorrência -- o Espírito endividado!

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Reflexiona em torno das existências perversas de ditadores e chefes cruéis que desfilam na História, e vê-los-ás, caso não tenham sido apeados do poder temporal pelos seus coetâneos, vivendo enfermidades prolongadas e deploráveis, anulando-lhes toda a prepotência e fereza.

Antes temidos e detestados, nessa fase inspiram compaixão e misericórdia, quando deploram os dias do passado que transformaram em cruz terrível para os outros, não fugindo, eles próprios, aos efeitos danosos da sanha doentia em que se compraziam.

Indivíduos que, uma dia, foram símbolos da beleza e do sexo, bajulados por verdadeiras multidões, atravessando períodos sombrios de sofrimentos silenciosos, fugindo para a drogadição e o vício, a fim de não enfrentarem as inesperadas situações que sobre eles se abateram.

Mulheres e homens milionários, que jamais se detiveram a pensar que eram humanos sujeitos à mesmas condições dos pobres e dos miseráveis, que nem se quer contemplaram durante a saga dos seus triunfos de mentira, reduzidos ao abandono, esquecidos e desconsiderados pelos antigos fanáticos que seguiam em delírio, afundando no poço de depressões terríveis ou evadindo-se do corpo através do nefando suicídio...

Artistas e executivos famosos que desfilavam nos veículos da fama e da glória, inesperadamente reduzidos à condição de párias pelas quedas nas bolsas e pelos problemas das crises financeiras que, periodicamente, demonstram a debilidade das construções econômicas do mundo, padecendo insuportáveis situações de desespero e revolta que os consomem.

Tudo, na Terra, é transitório, impermanente, abençoado curso para a aprendizagem e descoberta dos tesouros existenciais.

Sem o sofrimento se prolongariam as situações invejáveis de uns, enquanto outros choram, as terríveis jactâncias de muitos com olvido pelo trabalho daqueles que os sustentam, vivendo em situações penosas... A todos o sofrimento alcança e reduz-lhes a vaidosa conduta, despertando-os para a realidade do ser que são e não da situação em que se encontram.

Martelando incessantemente a sensibilidade obnubilada, o sofrimento exerce a função de buril que trabalha o envoltório grosseiro, a fim de fazer brilhar a gema preciosa que se lhe encontra oculta no cerne, facultando-lhe a luminosidade para a qual está destinada.

Bendito, pois, o sofrimento que a todos alcança e iguala, à semelhança do túmulo que devora a roupagem material e a todos reduz à condição inicial de humanidade.


Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco
Obra: Atitudes Renovadas, capítulo 29