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quinta-feira, 21 de maio de 2020

Arte e vida


Arte e vida 

A Arte nos dias atuais, reservadas às exceções, causa preocupação, pois tem influenciado negativamente o estado espiritual da massa de gente que ainda carece de discernimento sobre a razão de sua existência na vida terrena.

Na época inicial da civilização as expressões artísticas naturais da dança, do som de instrumentos rudimentares, as pinturas de traços simples, o cantar sem a preocupação de técnica estudada eram riquezas próprias da ingenuidade espiritual daquele estágio.

Manifestava-se a Arte sem nenhum outro interesse, que não alegrar, motivar, adorar uma entidade de devoção, comemorar alguma vitória, colheita, uma caça ou pesca vantajosa, cura de doença...

 A contagem do tempo sempre avança e a humanidade vai conquistando inteligência, cultura, encontrando culminância na escultura, pintura, música, arquitetura...   Sendo que muitas obras estão expostas em museus, em praças, cidades e lugares tombados como Patrimônios Históricos Nacionais ou Internacionais, dispondo à Humanidade, conhecimentos e cultura, enaltecendo a elevação espiritual de muitas gerações.

Voltemos à preocupação assinalada no início desta página. A Arte da atualidade, em uma parte significativa, que atinge as massas de várias faixas etárias através da música, de filmes, novelas e outros que apresentam expressões sensualistas, sexistas, desconsiderações verbalistas e gestuais, a título de liberdade de manifestação, que numa análise mais acurada não fogem à libertinagem comportamental. 

Falta a consciência de que todos que estão transitando pela Terra são espíritos em oportunidade de conquistas nobres, mas também de expiação e resgate de experiências malsucedidas em vidas passadas com tais registros pormenorizados adormecidos na alma, no inconsciente, no entanto, exercem a sua força nessa nova experiência, influenciando a repetição de gozos que outrora foram perniciosos. 

As letras das músicas populares de baixo teor, com segundo sentido, quando não diretamente com ênfase às sensações obscenas, repetidas insistentemente, por artistas influenciadores que ignoram as responsabilidades diante da vida, considerando o que incute nas mentes viciadas ou naquelas insipientes de discernimento que carregarão as fantasias até que as frustrações e as loucuras tragam dor suficiente para o despertamento. 

Não se pode deixar de referir a filmes, novelas televisivas, literatura e programas chamados de entretenimento que exploram as misérias humanas, que, ao invés de alçar a alma para a real beleza da vida, mantém a mesmice comportamental, faceando a insensatez a título de arte. 

Longe de generalizar essas observações, entretanto, são elas que influenciam grandemente a criança e a juventude que inconscientemente respondem acatando a cultura do divertimento, sem reservas, que induzem às viciações de vários matizes, comprometendo a existência na carne e depois na vida espiritual, tendo que retornar em nova encarnação para repetir a lição e se corrigir no que não tinha necessidade de ter ocorrido. 

Perguntou-se ao Espírito Emmanuel¹: O que é a arte? “A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas.  Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação desse “mais além” que polariza as esperanças da alma.
O artista verdadeiro é sempre o “médium” das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alcançando-o da Terra para o Infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.”.

Em outro momento² Emmanuel faz o apontamento: “(…),  porque os raciocínios propriamente terrestres sempre se inclinam para a materialidade em seu arraigado egoísmo.” 
Conhecendo, mesmo que rudimentarmente, facetas da vida no campo espiritual, em conta a grande quantidade de obras psicografadas pelos Espíritos de elevada condição moral, que são os prepostos de Jesus, responsáveis pela condução da massa dos reencarnados, sem intervir no livre-arbítrio de nenhuma individualidade, mas sabendo que todos terão de encarar a própria consciência quando retornarem àquela paragem depois da morte, fazemos esses registros a título de colaboração, o que também nos serve grandemente.
As justificativas de que o povo acolhe porque gosta daquilo que se apresenta, mesmo de teor e modos inadequados, ou, ainda, a questão econômica, porque se consome em quantidade muito lucrativa desenvolvendo o comércio, proporcionando empregos, o que não encontra amparo onde haja bom senso, quando se pensa que a passagem neste mundo é transitória, tendo-se a lucidez de que passados os limites do túmulo a vida terá a qualidade do que se implementou desde o berço.
A Arte com qualidade nobre é ferramenta que tem força para a elevação do espírito no sentido de vencer as tendências negativas que traz consigo, vícios materiais e morais, comportamentos prejudiciais para si e para a sociedade, que lhe infelicitaram em vidas anteriores. Com assertiva, se está nesta vida para corrigir muito das coisas que incomodam na intimidade da alma, embora não se lembre, mas que podem ser superadas com a conquista de novos conhecimentos de melhores teores.
O ser humano é uma autoconstrução, entretanto, busca no ambiente de sua vivência sob a sua responsabilidade o que deseja e renuncia a tudo o que não lhe convém, para isso tem que ter clareza dos objetivos da vida.  Enquanto essa virtude não se faz presente é oportuno que os meios sociais oferecidos sejam sempre os melhores em qualidade moral, porque quem busca e ainda não tem discernimento, existindo aqueles que oferecem “produtos” impregnados de desvarios, a qualquer título, ou a qualquer justificativa, assumirão as responsabilidades na proporção que a Lei da Vida atribuir.
Todos os Espíritos são solidários e responsáveis pelo progresso geral, aprendendo e ensinando. Em conta o egoísmo existente no Mundo não se compreende a fraternidade que é Universal, mas sendo clara para aqueles que fizeram o seu progresso espiritual.
As Artes, as Ciências, tudo o que exerce influência na vida do ser humano está inserido na Lei de Causa e Efeito, é a Lei Divina que está escrita na consciência de cada criatura, ela levará naturalmente a reparação de todas as consequências de suas intenções em qualquer tempo.
Todo cuidado é necessário com o que se realiza na Arte, em qualquer de seus ramos, tanto quanto na Ciência, na Filosofia, na Religião…
Vantagens ilícitas, fama criada em bases ilusórias, riqueza a qualquer preço e poder negativo sobre as massas podem ser considerados dívidas de difíceis soluções a prazo razoável, em conta a grande impregnação negativa das Almas que precisavam de bons exemplos e a influência de qualidades morais para serem melhoradas.
Numa ocasião, Amigo Espiritual num Grupo de Estudos Espírita soprou: “Para os grandes problemas, Deus reserva grandes soluções! ”
A vida é uma Arte!
                                                              Dorival da Silva
¹- Obra: O Consolador, questão 161, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ano 1940.
²- Obra: Caminho, Verdade e Vida, capítulo 156, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ano 1948.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

A nova geração em A Gênese


A nova geração em A Gênese *

                                                          Sandra Maria Borba Pereira

A temática da transição planetária está presente em nosso movimento espírita há algum tempo.  Eventos tratam do assunto, livros são publicados, palestras repetidas pelos quadrantes do país e fora dele.

Diante do quadro atual de violência em grande escala e fenômenos naturais destrutivos, ecoam as palavras: os tempos são chegados do fim do mundo!

Na quinta obra da Codificação Espírita, Kardec nos presenteia com o capítulo que encerra o livro, São chegados os tempos, nos oferecendo lúcidas e atuais reflexões em torno desse palpitante assunto para nos esclarecer e alertar, acalmar e motivar a nossa atitude perante a vida.

Sinais dos tempos

Partindo das previsões alarmantes de algumas denominações religiosas sobre os sinais dos tempos, assinalados por Deus, Allan Kardec, na sua natural argumentação dialética, começa por evitar posições antagônicas e radicais buscando compreender, antes de tudo, o sentido dessa expressão.  Homem de veia racional começa por tranquilizar o leitor -- espírita ou não – afirmando¹: se a nossa época está designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto.

O fio condutor de toda argumentação kardequiana diz respeito à lei à qual estamos todos submetidos: homens, sociedades, astros. É essa uma lei que atua tanto nas transformações físicas do nosso planeta quanto na depuração moral dos Espíritos, na sua destinação à perfectibilidade.  No campo mais propriamente material nos defrontamos com as sucessivas mudanças ocorridas em nosso orbe. No campo moral – e isso é por demais importante – algumas características revelam – ou poderão revelar – o alcance ou não de um certo progresso, a saber¹: desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes.

Não pensemos, porém, que esses progressos se deem de forma isolada. Na sua visão dialética, Kardec acentua que o homem é também artífice do progresso material do globo através de sua ação intelectual e pragmática, quando responsável e produtiva para as coletividades e para a própria Natureza. É o chamado de atenção para a educação ambiental já apresentada nos idos de 1868 pelo Codificador.

Analisando o tema, Kardec nos esclarece sobre o mecanismo da Lei do Progresso, situando-o em dois modus operandi¹: um lento, gradual e insensível e outro caracterizado por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido.

Entrelaçando Deus, as Leis Naturais e o Homem, nos esclarece o mestre lionês que o progresso da Humanidade se opera, no geral, obedecendo à Lei Divina e, nos detalhes, subordinando-se ao livre-arbítrio dos homens, o que explicaria a diversidade das consequências do progresso, de comunidade para comunidade.

Dizer que os tempos são chegados seria, pois, dizer que a humanidade está madura para subir um degrau¹.

Seguindo a linha de raciocínio kardequiano chegamos a um ponto fundamental da Lei do Progresso: a vontade divina, em meio aos desassossegos da Natureza e vontades/ações dos homens, é que mantém a Unidade do Universo ainda quando se nos apareçam destacadas as perturbações dos elementos naturais e desequilíbrios individuais e sociais, frutos das ações humanas na sua construção histórica.

A essa altura do texto situa o Codificador que a Humanidades terrena atingiu incontável progresso como resultado concreto do avanço da Ciência e das Artes, exigindo dos homens a enorme tarefa de realizar um outro progresso, o moral, que consiste em² fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral.

Destacando a necessidade de uma educação moral voltada para os bons sentimentos, afirma ainda²: Já não é somente de desenvolver a Inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho.

É essa a fase que devemos perseguir para assinalar de fato um novo período progressivo da Humanidade que deverá ser caracterizado por uma nova ordem social, caracterizada pelo progresso moral³, ou seja, por uma mudança radical na conduta moral dos homens.

Longe de condenar o bem-estar material (e nem o poderia dado ser o direito de viver o primeiro direito do Espírito encarnado e nisso está incluída a necessidade do bem-estar material, que não deve ser confundido com coisas supérfluas), Kardec esclarece que esse não basta para se garantir um mundo melhor. Segue-se à busca de um estado de bem-estar material a necessidade de se construir um bem-estar sociomoral.  O Codificador parecia ver o futuro que hoje nos mostra nações com alto nível de renda per capita e de riqueza em meio às drogas, ao suicídio, à pedofilia.

Para a Humanidade terrena chegou uma nova fase: a fase adulta, que reclama a superação de seus erros e ilusões pelo crescimento moral, único caminho capaz de assegurar a felicidade aos homens. As ideias se renovam com a renovação das próprias gerações que, lentamente, amadurecem, modificando aspirações, superando necessidades e métodos, ampliando os horizontes do futuro. Nesse trânsito, um paradigma novo sobre a vida e seu sentido precisa ser definido pela consolidação das ideias alicerçadas sobre uma nova visão de Deus, na aceitação da existência e da sobrevivência dos Espíritos. Isso fará com que se destruam por si sós os preconceitos de castas, os antagonismos de seitas.

A Nova Geração

Nesse momento do texto Kardec chama a atenção para o movimento de resistência daqueles que se mantêm no egoísmo e no orgulho, desejosos de parar a marcha do progresso.

Para superar tal resistência será necessária e inadiável a formação de uma nova geração que será responsável pela fundação da era do progresso moral que se distinguirá por ter Inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas. 4   É essa geração que definirá um novo perfil para as coletividades e para a própria Terra, secundando o movimento regenerador do planeta.

Que se tranquilizem os apressados: esse movimento regenerador não será composto exclusivamente por Espíritos que já possuam processo consolidado anteriormente.  A nova geração pode se constituir tanto de novos Espíritos melhores como de antigos Espíritos melhorados, todos caracterizados pela disposição moral voltada para o bem e para o progresso, para a fé, a tolerância e a liberdade.

Lembrando a expressão crística do fermento na massa, essa nova geração terá a responsabilidade de levedar, com suas qualidades morais, a grande massa humana de insensatos, inseguros e imaturos, que tanto necessitam de exemplos e estímulos à superação de suas defecções morais.  

É essa nova geração que deverá fomentar, na massa social, os sentimentos de caridade, fraternidade, benevolência para com todos, tolerância para com todas as crenças, em substituição aos vícios que retardam o progresso da Humanidade 4: ciúme, apego às coisas materiais, sensualidade, cupidez, avareza e paixões degradantes.

“Há muito terreno a ser arroteado.

Mãos à obra!

Aremos!”

Ao concluir a leitura deste capítulo, restam-nos algumas questões que julgamos de capital importância:

·       Indicadas as características que deverá ter a nova geração fica a pergunta:  como proceder à sua educação?

·       Como nós, Espíritos imperfeitos e falíveis, podemos proceder a essa educação de Espíritos moralmente superiores a nós?

·       Que práticas educativas o Movimento Espírita poderá utilizar para o alcance desses elevados objetivos?

Em resposta à primeira questão já sabemos, conforme O Livro dos Espíritos, que será necessária uma educação moral baseada no exemplo e constituída por hábitos que exteriorizem sentimentos de elevação (ordem, previdência, respeito, solidariedade, fraternidade, autoconhecimento etc).  Se a nova geração encontrar esses encaminhamentos, encontrará também o solo propício para o desenvolvimento de suas boas sementes.

Quanto à segunda pergunta temos a considerar, a partir das elucidações kardequianas:

·       Somos educadores uns dos outros se entendemos por ação educativa a influência de um ser sobre outro, quer haja ou não uma supremacia, prevalecendo o caráter influenciador de nossas ações recíprocas.

·       Ainda que pequenos, espiritualmente falando, podemos, ao menos, não entravar a ação dos membros da nova geração. Podemos, por outro lado, colaborar, de forma ativa, pelo nosso esforço de renovação, pela ação evangelizadora que possamos desenvolver junto a esses Espíritos no lar, nas Casas Espíritas ou na sociedade. Embora pequenos, somos chamados à grande tarefa de evangelizar, educando, dando o testamento do trabalho redentor, oferendo ou recordando os subsídios evangélico-doutrinários aos irmãos que já galgaram outros degraus acima na escada evolutiva que nos aguarda a todos.

·       Não nos inibamos perante a nossa própria condição espiritual. Alegremo-nos. Sim, como o professor consciencioso se alegra diante do aluno prodígio que seguirá adiante, muito mais adiante que o mestre.

A última questão nos reporta a inúmeras mensagens ditadas pelos Espíritos enfatizando a tarefa educativa da Doutrina Espírita, com destaque para a página O Centro Espírita 5, da autoria espiritual de Djalma Montenegro de Farias, pela mediunidade de Divaldo Franco. Nela, o trabalhador do movimento espírita pernambucano caracteriza a casa espírita:  oásis, hospital, oficina, templo, escola. Em última instância: educação do corpo, da mente, da alma, das mãos, dos sentimentos.

O exemplo de dedicação e humildade de dirigentes e trabalhadores, a formação doutrinária sólida, o ambiente fraternal e instrutivo dos grupos de estudo e evangelização, a atmosfera de serviço redentor cooperativo, as possibilidades de integração em equipes de trabalho, os testemunhos de amor à causa do Bem são estratégias facilitadoras para a formação de uma nova geração nas fileiras espiritistas.

Evangelização Espírita Infantojuvenil

No quadro acima se destaca o trabalho da Evangelização Espírita Infantojuvenil destinado a todos, com vistas à formação do homem de bem, buscando, através de seus múltiplos núcleos, sensibilizar e esclarecer, amparar e iluminar, evangelizar e redimir, sem se preocupar exclusivamente com os da nova geração, confiante de que a semeadura pertence aos obreiros e o conhecimento sobre o tipo de solo e possibilidades de frutos pertence ao Senhor.

Preocupada com a mensagem espírita compreendida, sentida e vivenciada, a Evangelização Infantojuvenil e sua legião de trabalhadores anônimos, sem o aplauso do mundo, mas com a aprovação da própria consciência comprometida com a vivência evangélica, vem colaborando, há décadas, com a educação dos sentimentos junto à multidão de crianças e jovens que se aglutinam nos seus núcleos de trabalho.

Há muito o que fazer, conclui Kardec. Há muito terreno a ser arroteado. Mãos à obra! Aremos! Semeemos mas, sobretudo, procuremos dar o nosso testemunho pessoal de autoeducação moral, educando os nossos próprios sentimentos no Bem.

Utopia!** dirão alguns enfastiados pessimistas no plantão obscuro dos derrotados. Mas, o que será de nós sem a esperança, a utopia, o sonho?

Utopia hoje, sonho realizado... um dia...

Progresso sim, sempre, pela vontade de Deus... apesar dos homens, através da educação.



Referências:

1. KARDEC, Allan. A Gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro FEB,

    2002. cap. XVIII, item 2.

2. Op. cit.  cap. XVIII, item 5.

3. Op. cit. cap. XVIII, item 6

4. Op. cit. cap. XVIII, item28

5. FRANCO, Divaldo Pereira. Sementeira da Fraternidade   Por Espíritos Diversos. Salvador: LEAL, 2008,

     cap. 55.

(*) Capítulo constante do mais recente lançamento da FEP: Educação em Foco.

(**) Do grego ou+topos, lugar que não existe



Texto extraído do Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, agosto de 2019, número 1621, Curitiba (PR)

quinta-feira, 16 de maio de 2019

É possível ter uma democracia de si mesmo?

É possível ter uma democracia de si mesmo? 

 

Como regra corrente, “democracia é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo”. Nós, os seres humanos, somos países de um único habitante, onde podemos exercer todos os nossos direitos sem o incômodo de compartilhar decisão, já que neste 'governo' não há concorrentes. Isso é verdade? 

 

Certamente gostaríamos que assim a banda tocasse. 

 

No caminho evolutivo, quando somos muito ignorantes, medos, insegurança e os conflitos tornam-se grandes concorrentes, gerando perturbação neste 'país' de um único habitante.   Uma confusão de quereres, de não quereres, ora avança ora retrocede em suas ações. A dúvida sobrepõe, como nuvem escura, a clareza das ideias que desejam se estabelecer e florir. É luta de si consigo mesmo. 

 

O direito existe, no entanto, o seu exercício convoca o dever.  Antes de se pensar no gozo do direito, o dever existia, aguardando em silenciosamente para ser exercido, mas só foi lembrado quando o direito foi desejado. O direito é uma conquista do dever cumprido, então precisa vir depois. Primeiro se cumpre com o dever e o direito estará resguardado, assim é nesse país de si mesmo. 

 

Para que esse governo tenha clareza, é imprescindível conhecer este 'país de si mesmo'. Quem o conhece o suficientemente bem pode governá-lo com segurança, visando a melhor produção. O progresso de qualquer país depende da quantidade e da qualidade de sua produção nos diversos setores da vida. Relembremos alguns setores dessa economia: Saúde, educação, segurança, inteligência, sentimento, moral, discernimento, respeito, religiosidade, ainda, existem outros; depois todos se subdividem em especialidades, numa tessitura de sintonia fina. 

 

Quem governa este 'pais'? Qual é o regime de governo? Quais são os recursos que permitem a produção e as conquistas? 

 

É necessário conhecer esse governante; ele se confunde com o próprio 'país', embora seja independente e livre, apesar de ter uma ligação temporária com a parte visível para os outros 'países', como qualquer governo. Embora externamente se expresse com uma pequena parte de sua produção, ainda assim, é possível avaliar a qualidade e a sua capacidade de governar. 

 

Quem exerce a governança tem um nome e é conhecido por vários termos: alma, espírito, "persona", eu...  Há muitos nomes e denominações.  Ele possui um território com área estabelecida, que se apresenta com altura, peso e limites. O governante tem halo vinculante, com as mesmas características da parte visível, que se desprende sem desvirtuar nenhuma das qualidades do país conhecido, quando materialmente este fica incapaz e perde a vitalidade. 

 

Os recursos que utiliza para a produção são comuns a todos os 'países': a vontade, o objetivo, a ação, a persistência. 

As conquistas são a inteligência, o equilíbrio emocional, as virtudes, a lucidez, enfim, o cumprimento do dever, que lhe proporciona a paz e a felicidade. 

 

Quando a sua 'terra' está desvitalizada e não é mais perceptível para os outros países, como o governante desfruta de suas conquistas? Para quem ele mostra os seus valores? 

 

O governante, ao deixar o vínculo material (pois tudo o que é matéria é finito), mantém o essencial, que é permanente, como uma herança que não se perde, e se estabelece em uma estância vibracional compatível com o patrimônio conquistado. A quantidade e a qualidade desse patrimônio irão dizer de seu governante, pois é ele mesmo, estão nele, não há como se enganar, todos os demais saberão, mesmo que não queira mostrar. O Governador tem pleno conhecimento do que fez e do que deixou de fazer, traz a paz e a felicidade, se o dever foi cumprido; caso contrário, sobrarão a frustração, o arrependimento, a amargura. 

 

Tudo acabou?  Não será possível expandir o que foi conquistado? O que acontece com aqueles que faliram?  Nem para um, nem para os outros, a trajetória terminou, já que a meta é a perfeição, que ainda está distante. Então, o gestor procura novo país, em época diferente, novamente mergulha em terra nova, com todas as experiências adquiridas para, outra vez, mais experiente, governar, se governando, visando enriquecer o seu patrimônio, sabendo da regra democrática de cumprir primeiramente o dever, garantindo consequentemente os direitos. Esgotados os recursos do país, analisa-se os resultados, a recompensa é conhecida: paz e felicidades, ou não. 

 

É essencial caminhar, recapitular e se reconhecer. 

 

Todos os 'países', seguindo essa trajetória, inevitavelmente alcançarão grandes conquistas, e o lugar de todos, o Mundo, estará em paz. 

 

A quem deve ser mostrados os seus valores? Aqueles que alcançaram a sublimação da vida, pois os seus valores são parte da pureza de sua consciência. Neste contexto, o 'pais' é a própria criação do indivíduo. 

 

Democracia... um conceito que também pode ser aplicado à jornada de autodescoberta e autogoverno do indivíduo.