Os Tempos são Chegados
-continuação 2/5
O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo incomensurável,
conduzido por um número não menos incomensurável de inteligências, um imenso
governo em que cada ser inteligente tem sua parte da ação, sob o olhar do
soberano Senhor, cuja vontade única mantém a unidade por toda a parte. Sob o império desse
vasto poder regulador, tudo se move, tudo funciona numa ordem perfeita; o que
nos parece perturbações são movimentos parciais e isolados, que só nos parecem
irregulares porque nossa visão é circunscrita. Se pudéssemos abarcar o seu
conjunto, veríamos que essas são apenas aparentes e que se harmonizam no todo.
A previsão dos movimentos progressivos da
Humanidade nada tem de surpreendente para os seres desmaterializados, que veem
o fim para onde tendem todas as coisas, alguns dos quais possuem o pensamento
direto de Deus, e que julgam, pelos movimentos parciais, o tempo na qual poderá
realizar-se um movimento geral, como se julga previamente o tempo necessário
para uma árvore dar frutos, como os astrônomos calculam a época de um fenômeno
astronômico pelo tempo requerido por um astro para fazer a sua revolução.
Mas, certamente, nem todos os que anunciam tais
fenômenos, os autores de almanaques que predizem os eclipses e as marés, por
exemplo, estão em condições de fazer os cálculos necessários. Não passam de
ecos. Assim, há Espíritos secundários, cuja vista é limitada, e que apenas
repetem o que aos Espíritos superiores aprouve lhes revelar.
A Humanidade realizou até agora incontestáveis
progressos. Por sua inteligência, os homens chegaram a resultados jamais
atingidos em relação às ciências, às artes e ao bem-estar material; resta-lhes
ainda uma imensidão a realizar; é fazer reinar entre si a caridade, a
fraternidade e a solidariedade, para assegurar o seu bem-estar moral. Não o
podiam com suas crenças, nem com suas instituições antiquadas, resquícios de
uma outra idade, boas numa certa época, suficientes para um estado transitório,
mas que, tendo dado o que comportavam, seriam hoje um ponto de parada. Tal uma
criança estimulada por móbiles, impotentes quando ela chega à idade madura. Já
não é apenas o desenvolvimento da inteligência que é necessário aos homens, é a
elevação do sentimento e, para tanto, é preciso destruir tudo quanto neles
pudesse excitar o egoísmo e o orgulho.
Tal o período em que agora vão entrar, e que
marcará uma das fases principais da Humanidade. A fase que neste momento se
elabora é o complemento necessário do estado precedente, como a idade viril é o
complemento da juventude; ela podia, pois, ser prevista e predita por
antecipação, e é por isto que se diz que os tempos marcados por Deus são
chegados.
Neste tempo não se trata de uma mudança parcial,
de uma renovação limitada a um país, a um povo, a uma raça; é um movimento
universal, que se opera no sentido do progresso moral. Uma nova
ordem de coisas tende a se estabelecer e os homens que a ela são mais opostos
nela trabalham mau grado seu; a geração futura, desembaraçada das escórias do
velho mundo e formada de elementos mais depurados, achar-se-á animada de ideias
e sentimentos completamente diversos da geração presente, que desaparece a
passos de gigante. O velho mundo estará morto e viverá na História, como hoje
os tempos medievais, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.
Aliás, cada um sabe que a ordem de coisas atual
deixa a desejar. Depois de haver, de certo modo, esgotado o bem-estar material,
que é produto da inteligência, chega-se a compreender que o complemento desse
bem-estar não pode estar senão no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança,
mais se sente o que falta, sem, contudo, poder ainda o definir claramente: é o
efeito do trabalho íntimo que se opera para a regeneração; tem-se desejos,
aspirações que são como o pressentimento de um estado melhor.
Mas uma mudança tão radical quanto a que se
elabora não pode realizar-se sem comoção; há luta inevitável entre as ideias, e
quem diz luta, diz alternativa de sucesso e de revés. Entretanto, como as
ideias novas são as do progresso e o progresso está nas leis da Natureza, estas
não deixam de triunfar sobre as ideias retrógradas. Desse conflito nascerão,
forçosamente, perturbações temporárias, até que o terreno esteja livre dos obstáculos
que se opõem à construção do novo edifício social. É, pois, da luta das ideias
que surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não de cataclismos, ou
catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais eram consequência do
estado de formação da Terra; hoje não são mais as entranhas do globo que se
agitam, são as da Humanidade.
- continua –
ALLAN KARDEC
Revista Espírita, outubro
de 1866.
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