terça-feira, 16 de agosto de 2016

Paz do mundo e paz do Cristo

Paz do mundo e paz do Cristo

“A paz vos deixo, a minha paz vos dou; não vô-la dou como o mundo a dá.” - Jesus. (João, 14:27.)


É indispensável não confundir a paz do mundo com a paz do Cristo.

A calma do plano inferior pode não passar de estacionamento.

A serenidade das esferas mais altas significa trabalho divino, a caminho da Luz Imortal.

O mundo consegue proporcionar muitos acordos e arranjos nesse terreno, mas somente o Senhor pode outorgar ao espírito a paz verdadeira.

Nos círculos da carne, a paz das nações costuma representar o silêncio provisório das baionetas; a dos abastados inconscientes é a preguiça improdutiva e incapaz; a dos que se revoltam, no quadro de lutas necessárias, é a manifestação do desespero doentio; a dos ociosos sistemáticos é a fuga ao trabalho; a dos arbitrários é a satisfação dos próprios caprichos; a dos vaidosos é o aplauso da ignorância; a dos vingativos é a destruição dos adversários; a dos maus é a vitória da crueldade; a dos negociantes sagazes é a exploração inferior; a dos que se agarram às sensações de baixo teor é a viciação dos sentidos; a dos comilões é o repasto opulento do estômago, embora haja fome espiritual no coração.

Há muitos ímpios, caluniadores, criminosos e indiferentes que desfrutam a paz do mundo. Sentem-se triunfantes, venturosos e dominadores no século. A ignorância endinheirada, a vaidade bem vestida e a preguiça inteligente sempre dirão que seguem muito bem.

Não te esqueças, contudo, de que a paz do mundo pode ser, muitas vezes, o sono enfermiço da alma. Busca, desse modo, aquela paz do Senhor, paz que excede o entendimento, por nascida e cultivada, portas a dentro do espírito, no campo da consciência e no santuário do coração.

Obra: Vinha de Luz, Emmanuel, Francisco Cândido Xavier, cap. 105.

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Reflexão:  A paz, como a de Jesus, é construída na intimidade da Alma, no Céu de cada um. Não se perderá, sempre se ampliará, acompanhará quando retornar à espiritualidade, quer dizer quando morrer sob os olhos do Mundo, que fatalmente se morre fisicamente, liberando a Vida do corpo, que somos nós mesmos.

As convenções, os modismos, as presunções, o poder, enfim todas as vaidades do Mundo, no que há de negativo, somente avançará os sentimentos que disso resultar, geralmente nocivos aos interesses da paz daquele que a cultiva, muito embora, possa ter proporcionado uma sensação de paz enquanto ombreia os interesses passageiros da vida terrena. 

O olhar sobre a vida de agora apenas mirando o limite que o materialismo oferece, embora possa parecer infinito, sempre terá a amplidão que lhe dermos; no entanto, quando colocamos o componente espiritual na vida existe uma ampliação significativa dos horizontes do ser que pensa, que vive conscientemente uma realidade que passa, sem as ilusões que entorpecem o objetivo espiritual da vida, porque entende a razão de sua passagem pela vida material que momentaneamente exerce.

Quase sempre procurando a paz, como a entendemos na vida material, assim acumulando para o futuro motivos de sofrimento, porque a realidade que precisamos preservar para depois desta vida, sempre nos proporcionará incômodo, tirando-nos a zona de conforto, aquela que pensamos proporcionar paz, sendo que momentaneamente seja verdade, conquanto fugaz, que qualquer movimento que nos desagrade a dilui e desfaz. 

Muito embora, a construção da paz que perdurará pelos tempos a fora quase sempre proporciona desconforto, trabalho, esforço, superação e exigem desprendimento, compreensão, tolerância, perdão, renúncia e muita reflexão, o que quer dizer uma fé que raciocina, o amor que se movimenta, a caridade de todas as formas. É a construção que o mundo não vê,  o aplauso não existe, o elogio passa distante, com frequência paira a ingratidão, a crítica ácida, a desconfiança, a incompreensão. 

A instalação das virtudes, o patrimônio incorruptível, que alçará a Alma no Reino da Paz, esta sim não será a paz do Mundo, deste mundo do faz de conta, onde a ilusão impera, pela ausência de uma consciência de espiritualidade, um conhecer-se a si mesmo, o saber porque estou aqui, de onde vim e para onde vou, após a falência da carne.

Após a morte do corpo a Vida existe, permanecerá sempre, e terá paz, se a construirmos como Jesus indicou e não como o mundo a impôs.

O mundo a apresenta de acordo com a soma de suas imperfeições, seus vícios, seus interesses, atendendo as satisfações imediatas, sem perspectiva de longanimidade, porque é estanque, finito, terminável, tal como toda matéria.  

Jesus, através do Evangelho, mostra uma realidade transcendente aos limites da matéria, porque não terá fim, porque fala a realidade do Espírito, do que não é material, e transita pelos tempos infinitos, rumo ao fulcro essencial, a origem, que é Deus, onde a paz é permanente, imperecível.

Fiquemos com a paz do Cristo, embora não atenda aos interesses imediatos que o Mundo exige. O nosso olhar deverá ultrapassar as convenções deste momento...

Dorival da Silva 




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