Volta à gentileza
Infelizmente, as notáveis conquistas da ciência
aliada à tecnologia ainda não lograram facultar ao ser humano o retorno à
gentileza. Propiciaram, sim, fantásticas contribuições para o conforto e o
esclarecimento de incontáveis enigmas que o vinham atormentando através dos
séculos, sem, no entanto, proporcionar-lhe sentimentos que vêm desaparecendo
nos relacionamentos sociais, que lamentavelmente se tornam cada vez menos
frequentes.
O individualismo, que resulta de muitos instrumentos
técnicos de comunicação, embora facilitando a existência, tem isolado os
indivíduos no mundo de cada qual, sempre mais distante da convivência
fraternal, retirando o calor da afetividade. Vai-se ficando indiferente ao
contato pessoal, à conversação calorosa, ao distanciamento uns dos outros.
Pequenos gestos de gentileza vão sendo substituídos
pelo silêncio e pelo aborrecimento quando o indivíduo se sente convidado à
participação de qualquer atividade pessoal, exceto naqueles de interesse
imediato. Diversos princípios éticos são esquecidos propositalmente e
substituídos por carrancas que desanimam qualquer pessoa que deseje uma
comunicação verbal agradável.
Tem-se a impressão de que se deseja distância que
favoreça dificuldade de gerar trabalho ou favores não desejados.
As saudações, que demonstraram grau de cultura e
civilização, vão desaparecendo, e a preocupação apenas consigo leva ao
atropelamento dos outros pelos caminhos, sem a mínima preocupação de
solicitar-se escusas. Os demais parecem antipáticos e se evitam novos
relacionamentos, bastando-se com os jogos, os desafios e diversos recursos do
iPhone.
O ser humano tem necessidade de convivência com a
natureza, a flora, a fauna, os ideais de engrandecimento e a presença de outros
de sua espécie. Com esse estranho comportamento, muito fácil se instalam
transtornos de conduta, distúrbios emocionais e distância da beleza, da arte,
da vida religiosa, do bem-estar. Surgem, então, a depressão e outras patologias
afligentes.
Pessoa alguma existe que seja tão plena que não
necessite de outra para relacionar-se, conviver, discutir e até mesmo
discordar. O estar vivo é movimentar-se, lutar, construindo melhores situações
para si próprio, para a Humanidade. Muitas pessoas vivem angustiadas pelo tempo
vazio de que dispõem e passam horas queixando-se do nada fazer, de sua vida não
ter sentido.
Entretanto, leituras edificantes aguardam mentes
interessadas, trabalho fraternal em favor do próximo abre-se convidativo para
quantos desejam honestamente ser felizes.
Os solitários vagueiam inditosos ou enchem as casas
de repouso, tornando-se espectros tristes da sociedade que deles se esqueceu.
Bem provável que foram eles que se olvidaram do grupo social quando eram jovens
e podiam produzir fraternidade bem como edificar mundo melhor.
Mesmo neste momento de desamor e egoísmo pode-se
reverter a situação, passando-se a ser solidário e iniciar novas experiências
sempre enriquecedoras.
Multiplicam-se organizações de ajuda à natureza
assim como à Humanidade, aguardando cooperadores. Seja você aquele que tem a
coragem de voltar à gentileza e reumanizar-se, pois que ainda é tempo.
Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 16.5.2019.
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