O Museu do Rio de Janeiro
Todos nós, brasileiros, lamentamos profundamente o esperado incêndio do
museu histórico do Rio de Janeiro, responsável por duzentos anos de
brasilidade, sob vários aspectos.
Narra a imprensa que a questão de segurança vinha sendo debatida desde
há muito, sem que as necessárias providências fossem tomadas com seriedade, o
que facultou a terrível catástrofe.
Enquanto as labaredas consumiam parte da nossa história, não nos foi
possível ficar indiferentes àquela consumpção decorrente da irresponsabilidade
humana. Recordo-me de quando Hitler em 1933 celebrou com os seus asseclas a
queima dos livros escritos por judeus, iniciava, dessa forma, a futura cremação
de seres humanos nos seus campos de trabalhos forçados e câmaras de gás...
Visitando Dachau, lembro-me de uma frase de grande poeta ali exposta: Quando se queimam livros, mais tarde se
queimarão seres humanos. Era uma profecia macabra que se fez real e chocou
a humanidade.
A história de uma nação é a sua alma, são os seus feitos, suas glórias e
quedas, suas experiências vitoriosas ou infelizes, páginas vivas que
contribuirão em favor do seu e do futuro do povo.
Milhões de documentos valiosos transformaram-se em cinza, e hoje
permanece o esqueleto carbonizado do edifício grandioso, que um dia foi
residência da família real que governou o País.
Nunca mais será possível recuperar-se qualquer peça, porque nenhuma
providência foi tomada, mesmo durante o incêndio, para ser salva.
Os que viram o fogaréu ficaram imobilizados...
Tive ocasião de visitar Oradour, cidade francesa que os nazistas
destruíram durante a Segunda Guerra Mundial, por falso motivo de receber e
esconder partisans (guerrilheiros patriotas), não deixando vivas sequer as
plantas. A cidade fora cercada e aniquilada com todos os seus habitantes e
animais. Posteriormente, o general Charles de Gaulle, ao tornar-se presidente
da França, tornou-a patrimônio da humanidade através da UNESCO, como lição viva
da barbárie humana.
Quantos extraordinários documentos desapareceram para sempre,
fotografias, pinturas, trabalhos científicos e peças de arte foram consumidos,
deixando-nos ignorantes da própria história.
As futuras gerações estarão órfãs desde agora de poderosas e legítimas
fontes de informações a respeito do belo país em que renasceram.
O Brasil, dizem muitos notáveis periodistas, é um país sem história, o que se torna lamentável, considerando-se a
sua grandeza e o seu destino espiritual e cultural.
Que a infeliz ocorrência pelo menos sirva de advertência às autoridades
responsáveis por outros patrimônios vivos desta grandiosa pátria do Cruzeiro do
Sul, fadada à construção de uma sociedade justa e plenamente feliz.
Divaldo Pereira
Franco.
Artigo publicado no
jornal A Tarde, coluna Opinião, em 6.9.2018.
Em 6.9.2018.