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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Jesus Cristo, mito ou realidade?

ANDRÉ LUIZ ALVES JR.
locutorandreluiz@hotmail.com
Curitiba, PR (Brasil)
André Luiz Alves Jr.


Jesus Cristo, mito ou realidade?

Frequentemente me deparo com o questionamento de alguns leitores acerca da existência de Jesus. "Não há registros concretos que comprovem a passagem do Nazareno na Terra", eles alegam. Para alguns, Cristo não seria uma personalidade histórica, mas sim uma figura mitológica criada em algum momento no passado.

O assunto é capaz de instigar discussões acaloradas e merece um estudo aprofundado, haja vista que tais questionamentos desafiam quase um terço da população mundial (2 bilhões de cristãos) e, também, a história da humanidade.  

O Surgimento do Cristo Mitológico Jesus nunca foi uma unanimidade e este fato não é novidade para ninguém. Desde o início de suas pregações Ele encontrou ferrenhos oponentes. Na medida em que seu ministério crescia, as investidas dos antagonistas se tornavam cada vez mais violentas, resultando em sua prisão e crucificação. Mesmo após o padecimento de Jesus no calvário, a perseguição aos cristãos continuou, mas nem sempre de forma violenta. Algumas centenas de cristãos foram martirizados nos circos romanos, outros ridicularizados pelos intelectuais que tentavam dissuadir o cristianismo. Os mais esclarecidos disseminaram a ideia de que Jesus foi uma figura mitológica, ou seja, nunca existiu. Mas, apesar dos esforços contrários, o movimento cristão resistiu e se perpetuou.

Quase dois milênios se haviam passado e por volta do ano de 1790, na era do Iluminismo francês, pensadores como Constantin François Volney e Charles François Dupuis ressuscitaram a ideia de que Jesus havia sido criado. Essas opiniões ficaram conhecidas como o "Mito de Cristo" ou "Jesus Mítico" (inexistência da figura de Jesus).

O Iluminismo foi um movimento cultural racionalista criado com o intuito de reformar o conhecimento herdado da tradição medieval. Esse conhecimento, até então, era ditado pela imperiosa Igreja romana, daí o surgimento da teoria do Mito de Cristo. Era uma forma de confrontar a razão e a fé.

Jesus Mítico não se propagou como apostavam os iluministas, a religiosidade da grande massa era maior. Apesar de não ganhar força, a teoria polêmica ainda é levantada por céticos na era moderna. Em 2002, o italiano Luigi Cascioli processou a Igreja por acreditar que aquela instituição alimentava a mentira da existência de Jesus. A ação judicial, após percorrer todas as instâncias, foi arquivada por falta de provas. 

Confrontando as ideias anticristãs - A primeira argumentação de um cético é a de que não há provas concretas da vida do Nazareno. "Jesus não deixou escrito sequer uma frase, não há vestígios arqueológicos e documentais que comprovem sua vida e seu apostolado", alegam.

Se analisarmos a questão por esse prisma, veremos que Sócrates, por exemplo, também não documentou suas ideias, mas nem por isso deixou de ser um dos maiores e mais conhecidos filósofos da antiguidade, pois seus pensamentos foram anotados e difundidos por seus discípulos, dentre eles, Platão. Exatamente como aconteceu com Jesus e seus apóstolos.

Vejamos outros questionamentos levantados pelos não cristãos: 

1) Relatos Bíblicos: Os mais religiosos rebateriam as críticas relacionadas a Jesus referenciando o Novo Testamento, entretanto, para os opositores do Nazareno, a Bíblia não é um registro histórico aceitável. A justificativa seria que os quatro evangelhos canônicos teriam sido formulados muito depois da crucificação do Salvador. Além disso, dois dos evangelistas (Lucas e Marcos) sequer conheceram o Carpinteiro de Nazaré, portanto suas escrituras são baseadas em relatos de terceiros. Outro aspecto relevante do ponto de vista anticristão é de que os pergaminhos originais foram editados diversas vezes pela Igreja, até chegar ao formato atual, além de terem sido copiados e traduzidos para outros idiomas, o que pode adulterar significativamente a essência dos textos.
De fato, existem contradições entre os evangelhos do Novo Testamento, todavia a existência de Jesus é uma unanimidade entre eles, inclusive nos evangelhos apócrifos (que não estão na Bíblia). Boa parte dos estudiosos acredita que menos de 20 por cento do que lemos nos evangelhos são os dizeres originais do Messias. Nem mesmo os pesquisadores mais incrédulos refutam a ideia de o "Filho de Deus" ser um personagem histórico.

2) Conspiração Romana: Para alguns teólogos, a criação da história de Jesus teria sido uma estratégia política dos romanos para pacificar os ataques violentos dos judeus que viviam na Palestina da época. Essa argumentação é contraditória, pois a sociedade romana era politeísta e socialmente segregada. A personalidade Nazarena (que defendia um único Deus misericordioso e a igualdade entre os homens) diverge das convicções religiosas e sociais daquela civilização. Os Deuses da mitologia romana eram temperamentais e um patrício jamais aceitaria ser comparado a um escravo.

3) A construção do mito pelos cristãos primitivos: Outro argumento levantado é que o Mito Jesus fora criado pelos cristãos pioneiros. Seria possível um grupo de modestos trabalhadores idealizar uma personalidade grandiosa como Jesus? E como um mito poderia ter atravessado períodos históricos sem ser esquecido? É improvável que grande parte da humanidade viveria todo esse tempo acreditando em uma figura alegórica. Se Jesus não existiu, deve-se imaginar como um mito poderia alterar tanto a história da humanidade.

Evidências históricas sobre Jesus - Antes de mais nada, é necessário responder à seguinte indagação: O que difere uma figura mitológica de uma personalidade histórica?
Para os historiadores comprovarem a existência de um personagem histórico é necessário buscar três razões primárias: documentos de historiadores antigos,impacto histórico e outras evidências históricas e arqueológicas. Convenhamos, essas lacunas são inteiramente preenchidas por Cristo. 

Documentos de Historiadores: O primeiro documento histórico que apresentaremos é intitulado "Antiguidades Judaicas", do ano 93 d.C, de autoria do historiador Flávio Josefo, nascido poucos anos após a crucificação de Jesus:

“Naquele tempo viveu Jesus, um homem santo, se ele pode ser chamado de homem, pois realizou trabalhos poderosos, ensinou os homens, e recebeu com prazer a verdade. E ele foi seguido por muitos judeus e muitos gregos [...]"(Flávio Josefo - Antiguidades Judaicas)

Para os historiadores modernos, Flávio Josefo é considerado uma importante referência sobre a história de Jesus por ser um estudioso considerado imparcial, ou seja, não pertenceu ao movimento cristão, o que evidencia a existência do Cristo histórico.

Outro historiador referenciado é o romano Gaio Suetônio Tranquilo. Este também possui grande credibilidade em função de suas biografias sobre os doze Imperadores Romanos, de Júlio César a Domiciano. A obra denominada De Vita Caesarum, escrita provavelmente durante o período de Adriano, faz menção sobre os cristãos:

"Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica.(Gaio Suetônio - De Vita Caesarum)

Por último e não menos importante, vamos encontrar Cornélio Tácito, nascido 25 anos antes da crucificação de Jesus e que também cita o enviado de Deus em seu último trabalho histórico de nome "Anais":

"Christus, o que deu origem ao nome cristão, foi condenado à extrema punição [i.e crucificação] por Pôncio Pilatos, durante o reinado de Tibério; mas, reprimida por algum tempo, a superstição perniciosa irrompeu novamente, não apenas em toda a Judeia, onde o problema teve início, mas também em toda a cidade de Roma." (Cornélio Tácito - Anais)

Além desses historiadores mencionados existe a confirmação de pelo menos 19 escritores seculares antigos que fizeram referência a Jesus como uma pessoa real. As fontes que aludem ao Messias são inúmeras. Existem mais livros sobre Ele do que qualquer outra personalidade histórica, o que seria impossível para uma figura mitológica.

Impacto Histórico: É evidente o impacto que a personalidade Nazarena causou na história da humanidade. Poderíamos enumerar uma centena deles, a começar pelo calendário ocidental, que é contado a partir de seu nascimento na Terra. Nosso tempo é dividido em antes de Cristo (a.C) e  depois de Cristo (d.C), este fato por si só dispensa explicações.

Outras evidências: Vários especialistas em história (e que não se comunicam entre si) utilizam-se das mesmas fontes para afirmar que Jesus é uma figura real. Os estudiosos defendem que o Messias fora, na pior das hipóteses, um pregador judeu da Galileia. Entre os mais descrentes, Ele era visto como um curandeiro carismático, um filósofo, ou um reformista igualitário. Esses argumentos convergem com as ideias de religiões não cristãs, dentre elas o Judaísmo, principal religião na época de Jesus.

A corrente dominante do judaísmo rejeita a proposta de Jesus ser o Messias, por não ter nem realizado as profecias messiânicas do "Tanach", nem apresentar as qualificações pessoais do Messias, o que não contradiz sua existência. Os judeus reconhecem em Jesus um bom judeu, que transmitiu os ensinamentos religiosos, éticos e morais que recebeu do Judaísmo.

Outra doutrina religiosa importante na região da peregrinação do Cristo é o Islamismo. O Islã considera Jesus um mensageiro de Deus e o Messias enviado para guiar as tribos de Israel através de novas escrituras, o Evangelho. A crença no Nazareno, e em todos os outros mensageiros de Deus, faz parte dos requisitos para ser um muçulmano. O Alcorão menciona o nome de Jesus vinte e cinco vezes, mais do que o próprio Maomé, e enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal como todos os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a mensagem de Deus.

A ampla documentação da vida de Jesus por escritores da época, seu profundo impacto histórico e a evidência tangível e confirmadora da história persuadiram os estudiosos de que Jesus de fato existiu.

Jesus para o Espiritismo - Inúmeras obras espíritas descrevem a vida de Cristo e seu extraordinário legado, a começar pelos livros da codificação. As referências partem da própria espiritualidade:

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? Vede Jesus. Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava.  (Allan Kardec - O Livro dos Espíritos.)

Para a Doutrina Espírita, Jesus é o modelo e guia, o Espírito mais evoluído que o Criador enviou à Terra, para servir de referência aos homens ainda imperfeitos, como demonstrado no trecho acima, retirado da obra base do Espiritismo.

Outro opúsculo que destaca a existência de Jesus como figura histórica surgiu por meio da psicografia do médium brasileiro Chico Xavier. O livro "Há Dois Mil Anos", do autor espiritual Emmanuel, retrata a história de uma de suas reencarnações, quando viveu como senador romano nos tempos de Jesus. Publius Lentulus Cornelius é o autor da famosa carta endereçada a César descrevendo a figura de Jesus. Talvez essa seja a única referência documentada da fisionomia de Cristo.

Emmanuel ainda oferece ao mundo mais um livro rico em detalhes históricos a respeito de Jesus. "Paulo e Estêvão" é uma narrativa da vida de Saulo de Tarso, um juiz do sinédrio que perseguia os cristãos e que, após uma visão de Jesus às portas da cidade de Damasco, converteu-se à doutrina do Cristo, mudando o nome para Paulo de Tarso e tornando-se um dos maiores apóstolos do Cristianismo.

Paulo, após a sua conversão, desenvolveu um trabalho extraordinário, levando a palavra de Jesus para as comunidades que ainda não conheciam o Mestre. Fundou igrejas e escreveu suas famosas epístolas. Alguns historiadores defendem que suas cartas foram os primeiros registros elaborados referenciando a vida do Carpinteiro de Nazaré.

O convertido de Damasco não conheceu Jesus pessoalmente, mas se tornou muito próximo de Simão Pedro e outros apóstolos que forneceram anotações e dados importantes sobre Ele. Pelo menos seis das treze epístolas atribuídas a Paulo tiveram sua autenticidade comprovada pelos historiadores, o que remete à veracidade de um Jesus Histórico.

Para o Espiritismo não há dúvidas de que Jesus foi uma personalidade real, que passou pela Terra para demonstrar, com seus exemplos, o caminho para o progresso moral. As opiniões contrárias constituem as diferenças da individualidade de cada Espírito, mas cedo ou tarde os incrédulos reconhecerão sua importância, como Emmanuel reconheceu:

[...] encontras, hoje, um ponto de referência para a regeneração de toda a tua
vida. Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns
milênios. 
(Jesus dialogando com Publius Lentulus, no livro Há dois mil anos, psicografia de Chico Xavier.) 

Referências: 
Anais - Cornélio Tácito.
Antiguidades Judaicas - Flávio Josefo.
A Pesquisa do Jesus Histórico - Giuseppe Segalla.
O Livro dos Espíritos - Allan Kardec.
Há Dois Mil Anos - Chico Xavier pelo Espírito de Emmanuel.
Paulo e Estêvão - Chico Xavier pelo Espírito de Emmanuel.


Página extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano8/362/especial.html 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Decadência da Ética


Analisando-se a situação socioespiritual do planeta na atualidade, não há como negar-se a presença da destrutiva onda de pessimismo e utilitarismo que domina as criaturas humanas em toda parte.

Apoiados no niilismo, embora os comportamentos rotulados de religiosos de alguns dos seus segmentos sociais, o cinismo, das pessoas e a decadência da ética dão-nos a dimensão do desespero que avassala as mentes e os corações atormentados.

Em consequência, a violência e o despautério, a drogadição e o erotismo substituem as aspirações de enobrecimento dos seres, como mecanismos escapistas para preencher o vazio existencial e o desencanto que se apossam do século XX, que se desenhava com perspectivas iluministas, libertadoras, ricas de anseios de felicidade e de beleza.

A amargura toma conta dos indivíduos que se sentem coisificados, enquanto a revolta arma as multidões desvairadas que se levantam contra os abusos do poder, as injustiças sociais, os desregramentos dos dominadores, a desonestidade dos legisladores que perderam o respeito moral, a liberdade e o direito de viver com o mínimo de honorabilidade que seja...

Pode-se afirmar que a aparente calma que ainda paira sobre algumas nações não esconde os paióis de explosivos prestes a deflagrar o estouro prenunciador das tragédias que produz.

Não se trata, porém, de uma ocorrência inesperada, quando se observam as suas raízes plantadas no fim do século XVIII, por ocasião da Revolução Francesa, quando a tirania substituiu os ideais dos filósofos da liberdade, instaurando os dias do terror.

Em desesperada tentativa de manter a ordem na França, Robespierre, chamado “o incorruptível”, que lutara pelos ideais da fraternidade, da liberdade e da igualdade, não teve forças morais para resistir às pressões do desespero das massas e de outros pensadores, mantendo a guilhotina a funcionar sem trégua, ao ponto de tornar-se ultrajante ditador e sanguinário. Vítima de um golpe dos seus adversários da Convenção, foi preso e também guilhotinado.

Nesse período difícil, a morte de Deus foi anunciada, e a revolta retirou os vestígios da Sua presença no país, inclusive mudando os nomes de ruas, boulevards e praças que os tivessem de santos ou denominações religiosas, assim como os objetos de culto das igrejas, tentando apagar a lembrança da fé e da crença espiritual no território francês.

Logo depois, com o retorno de Deus da Concordata de 1802, firmada por Napoleão Bonaparte com o Vaticano, permaneceram os ódios e resquícios do período de revolta e de perseguições inclementes, dando lugar a um amortecimento ético dos sentimentos.

O Iluminismo em declínio favoreceu o Positivismo em ascensão, enquanto as ideias pessimistas e destrutivas de Arthur Shopenhauer espalhavam-se por toda parte, proclamando a desnecessidade de Deus e de qualquer formulação religiosa no comportamento humano.

À medida que o materialismo tomava conta da cultura, a amargura doentia de Friedrich Nietzsche passou a comandar as mentes e os corações desesperados, amparados no ceticismo científico das Academias, que asseverava ser a alma uma sudorese cerebral que desaparecia com a morte do encéfalo. Nessa paisagem de morbidez e desencanto, o ateísmo tornou-se a diretriz comportamental dos indivíduos, que logo depois se atiraram à guerra perversa de 1869-1870, que ressurgiu entre 1914-1918 e retornou calamitosa entre 1939-1945, com as mais inacreditáveis cargas de ódio e destruição de que História tem notícia.

Muito contribuíram para essa tragédia as ideias do super-homem do referido Nietzsche e o pensamento de Heidegger, que muito influenciou o surgimento do nazismo, partido ao qual ele se filiou por algum tempo, embora rompendo depois, quando da perseguição aos professores judeus da Universidade de Freiburg, onde era reitor...

A ética do mais forte substituiu a dos direitos humanos e da dignidade, em face da aristocracia do poder totalitário e insano de alguns governantes...

Heidegger influenciou filosoficamente Jean-Paul Sartre com o seu pensamento sobre o ser, servindo de inspiração para o existencialismo e total desinteresse pelos valores ético-morais que conduziram a civilização ao largo dos séculos. Viver agora e fruir ao máximo, não poucas vezes sem qualquer respeito pelos direitos dos outros, cultivar o prazer até a exaustão, passaram a ser os comportamentos aceitos e divulgados como recursos valiosos para a preservação da vida e das experiências de alegria e de bem-estar.

Lamentavelmente, as religiões ortodoxas, incapazes de oferecer resistência filosófica e ética aos absurdos da nova ordem, por se manterem fiéis aos programas medievais totalmente ultrapassados, foram desprezadas e consideradas responsáveis pela miserabilidade do ser humano, pelos seus desaires, pelas suas amarguras.

Carregado pelas heranças teológicas do pecado e da culpa, o ser humano rompeu com as tradições enganosas e preferiu arrostar as consequências da sua liberdade, derrapando na libertinagem.

Sucede que, toda vez quando se arrebentam as algemas da escravidão de qualquer tipo, a ânsia de liberdade é tão grande que, por desconhecimento dos seus limites, aquele que a aspira tomba nos resvaladouros da irresponsabilidade, da agressividade aos direitos alheios, do abuso desrespeitoso...

Assim ocorrendo, desaparece a ética da conduta para apresentar-se o direito de exceção, colocando-se o indivíduo acima da lei, da ordem e de qualquer restrição.

Os avanços da Ciência, demitizando algumas das informações e dogmas religiosos, os milagres de Jesus, que passaram a ser observados do ponto de vista das doutrinas psicológicas e parapsicológicas, reduziram a cultura ao materialismo, desde 1859, quando Charles Darwin, através do Evolucionismo, aplicou o golpe de misericórdia no mitológico Criacionismo bíblico, servindo de suporte para a vitalização do ateísmo...

A contribuição da Tecnologia, alargando e aproximando os espaços e as distâncias, facultando a demonstração dos postulados científicos através das experiências dos fatos, foi fundamental para a indiferença humana pelos códigos de dignidade e de valorização da própria vida.

O século XX, portanto, herdeiro da revolução filosófico-científica do passado, rapidamente aceitou o novo comportamento que se consolidou durante a revolução hippieísta dos anos 60, quando se deram as grandes mudanças de conduta, e as tradições nobres como a família, o casamento, a dignidade, a ordem passaram a ser instituições ultrapassadas.

Irrompendo em avalancha avassaladora, tomou conta da juventude, que se sentia castrada pela intolerância e pelo poder dominador, passando a constituir um novo mundo, um modo diferente de vida...

O aborto, a eutanásia, o suicídio, a agressividade, passaram a ser éticos na linguagem nova, que iria culminar nos homens e mulheres bombas, nos atentados terroristas, no crime organizado, na violência urbana, no alcoolismo exacerbado, no tabagismo, na drogadição e no sexo destituído de qualquer sentido moral e afetivo.

Dando-se largas aos instintos primários, o nadaísmo, estimulando o erotismo, coisificou os seres humanos, que passaram a vender-se no mercado da luxúria sem qualquer pudor, sob o disfarce de experiências artísticas, desde que economicamente rentáveis.

Nesse comércio hediondo, em que pouquíssimos logram alcançar os patamares elevados, multidões de jovens inexperientes são devoradas pelas máfias que o administram, passando os tratores da indiferença sobre os corpos e as almas mutiladas daqueles que ficaram vencidos durante as tentativas iniciais.

Inevitavelmente, houve uma total decadência ética da cultura e da civilização, que passaram a adorar os novos deuses do prazer e do engodo, da utopia e da mentira, embora vivendo-se o vazio existencial que leva à depressão e ao suicídio.

Nada obstante, nesse ínterim, surgiu o Espiritismo em 1857, revitalizando a ética moral, baseada nas lições insuperáveis de Jesus, que foram corrompidas pelas ambições e conchavos humanos através dos séculos, desde o dia em que se uniram ao Império Romano, passando de perseguidas a perseguidoras.

Como a revelação dos imortais, a vida passou a ter sentido profundo e significado psicológico indiscutível, como decorrência da proposta filosófica erguida pelos pilotis dos fatos demonstrativos da imortalidade da alma, da vida futura, da justiça divina e da Lei de Causa e Efeito, responsável por todos os fenômenos humanos.

A partir de então, embora lentamente, vem sendo restaurada a proposta do amor como sendo a fonte inexaurível para a felicidade, em razão dos seus conteúdos otimistas e realistas, que dignificam a espécie humana, proporcionando-lhe os necessários estímulos para desenvolver-se e atingir as culminâncias da iluminação pessoal.

A falência do novo comportamento niilista encontra-se em toda parte, porque a sua doutrina enganou os seus adoradores, conduzindo-os às aflições superlativas e às angustias dantes jamais vivenciadas.

Aturdidas, essas multidões decepcionadas e sem rumo buscam, mesmo sem o saber, retornar às origens do bem e da alegria, ao encontro da pureza de sentimentos e de convivência nobre, sentindo falta da fraternidade que deve sempre viger entre os seres humanos, sequiosos de paz e de esperança.

Ninguém pode viver em equilíbrio sem a bênção confortadora da esperança que abre perspectivas formosas para o futuro.

O Espiritismo, portanto, possuindo os paradigmas que foram deixados para trás pelo anarquismo e ceticismo, apresenta-os como propostas que levam à ética do dever e da harmonia, propiciando ventura.

A crença em Deus, a crença na imortalidade da alma, a crença na comunicabilidade dos Espíritos, a crença na reencarnação, a crença na pluralidade dos mundos habitados e as propostas ético-morais de O Evangelho segundo o Espiritismo, que proporciona uma releitura das lições insuperáveis de Jesus, conforme as conhecemos em as narrativas dos evangelistas, são as novas diretrizes para a construção do ser humano feliz e da sociedade ditosa que todos aspiram.

Não há outra alternativa, exceto a coragem para superar a crise moral que domina praticamente toda a sociedade contemporânea, reflexionando e vivendo a vigorosa ética espírita, que resume as mais grandiosas formulações da ancestral diante das novas necessidades que tomaram conga da sociedade.

Revigorada, a ética lentamente ressurge e passará a comandar os destinos humanos na direção da paz e da alegria de viver mediante o correto culto dos deveres.

Vianna de Carvalho


(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, em Boca Raton, Flórida, EUA, na manhã de 24 de junho de 2009.) “Extraído da revista REFORMADOR, FEB, Ano 127, nº 2166, setembro 2009”