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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Há esperança...

                                                                    Há esperança...

No final do ano os meios de comunicação fazem retrospectiva dos fatos ocorridos, dando ênfase ao que foi relevante em cada mês, em maior parte são fatos desastrosos e muito doloridos para muitos, enxameando a sociedade de lembranças que revivem sofrimentos de feridas ainda não cicatrizadas.

Olhando para o futuro, como alguém que está em mar revolto, tal como náufrago rodeado por entulhos que se movem ao sabor do turbilhão e vagas impedem a visão do continente que parece destacar-se ao longe, como notícia de provável salvação.

No tumulto governativo, que se alinha à perturbação da inconstância dos ventos que sopram furiosos, sem preocupação com o essencial que em parte soçobra incontinenti, aos estertores ouve-se à distância que existe possibilidade de salvamento, a vacina.

Sempre há esperança que algo se suceda quando as alternativas conhecidas parecem se esgotarem, intuitivamente todos sabem que sempre haverá um depois, embora nem todos acreditem, porque desconhecem de que são Espíritos e um de seus atributos é viver para sempre.

Mas não se está sozinho! O mundo não está à matroca! Todos os conscientes não querem morrer por um vírus e não desejam isso para outrem. Muitos corpos morreram e outros também sofrerão com esse mal, mas não a totalidade da população do mundo.

Cada época tem suas lições, mas que não são nem para os corpos vivos e menos ainda para os mortos, mas para os seus ocupantes, ou para os ex-ocupantes, são vivências para os Espíritos que passam ou passaram pela experiência, considerando que na atualidade, direta ou indiretamente, toda a população do planeta vive expectativa de contaminação, então a lição é geral e de amplo aspecto.

É momento de reflexão, como tudo neste mundo passa, essa pandemia também irá embora, em algum momento a vacina estará à disposição de todos em que pese as divergências governamentais, tecnológicas, interesses políticos ou particulares, o progresso da humanidade independe dos mortais, conquanto ofereçam resistência, má vontade, incompetência, insuficiência...  Como uma avalanche o Progresso sempre superará os impedimentos, não há força capaz de contê-lo em seus passos. É Lei Natural, atemporal.

Os sofrimentos, as aflições das mais variadas sociedades da Terra são grandes; pura verdade, mas toda mudança comportamental, reajuste das concepções morais, aprimoramento governamental nos diversos níveis não ocorre sem a quebra das estruturas estabelecidas, àquelas forjadas na corrupção e na imoralidade. A mudança para uma Era Nova da sociedade do Mundo passa pela mudança do estado espiritual de cada indivíduo que compõe os residentes do Planeta.

Assim é a razão de morrer e nascer, nascer e morrer. Tudo o que ocorre entre um ponto e outro, sair e entrar, entrar e sair da vida material são vivências do Espírito, que se educa, se corrige, faz novo planejamento para se tornar melhor. Na sociedade é como engrenagem de grande maquinismo evolutivo, oferece o seu contributo e sofre as consequências. “A cada um segundo as suas obras.”

Sucumbindo o corpo, o Espírito reingressa no mundo de que veio com a inteireza de suas condições, sendo que,  de acordo com os seus créditos morais, libera-se dos constrangimentos da vida que acaba de deixar; vem-lhe ao encontro aqueles que são afins, ajudando na adequação ao novo momento da existência. O Espírito é sempre um ser existente, jamais deixará de sê-lo.

O período entre a morte do corpo e o reingresso em nova experiência física é denominado pela Doutrina Espírita de erraticidade, ou vida errante. Nesse estado, o Espírito já recomposto à nova condição, sendo seu desejo, poderá estudar, trabalhar, conquistar novos conhecimentos, desenvolver projetos e compor equipe para executar planejamentos coletivos dentro do seu nível de competência, inclusive auxiliar os seus amigos e parentes que estão ainda no corpo carnal, ajudando-os no que puder. Outros, que não tiveram vida regular, que preferiram o caminho dos vícios, da criminalidade, alimentaram o ódio, a vingança, a inveja, que planejaram o mal em qualquer circunstância, certamente estarão lutando com o resultado de suas preferências, até que a misericórdia Divina entenda de reingressar esses sofredores em corpos de carne e ambientes sociais compatíveis com suas necessidades de restabelecimento.

Voltando à esperança, em que pese a miscelânea de desmandos governamentais, entendimentos divergentes sobre muitos fatos que levam o povo a sofrimentos diversos, não só pela pandemia existente, mas por tudo mais que se encontra em desequilíbrio na sociedade, prejudicando a possibilidade de vida harmônica, nada mais são que os resultados da própria desarmonia dos seus integrantes. Então, há esperança! Depende da conscientização de que sempre se encontrará, em qualquer época, a condição de vida que ajudou construir; pois, vai e volta, tanto no outro mundo, como aqui, sempre se deparará com a qualidade de suas próprias obras.

Não é difícil observar que num grupo nem todos sofrem o mesmo mal, do mesmo constrangimento de ordem econômico-financeira, nem os problemas sociais são idênticos, há sempre uma particularidade, o que corresponde à condição espiritual de cada indivíduo, mesmo na família consanguínea existe singularidade de toda ordem. 

Há esperança! Ninguém se extingue, apenas precisa vencer as suas mazelas, buscar o seu aprimoramento moral, espiritualizar-se. O Evangelho de Jesus mostra o caminho, embora não obrigue ninguém a segui-lo. O sofrimento, de qualquer ordem, é próprio do transeunte da vida, tanto como a paz e a felicidade são de sua conta, se para isso trabalhar.

Há esperança! Todos serão vencedores, quando se propuserem se vencer do egoísmo e do orgulho, da presunção e da ignorância, reconhecendo que pela sabedoria e a humildade serão reconhecidos senhores do Universo. Pandemias não existirão, pobreza, doenças e problemas sociais degradantes não se conhecerão, pois, somente as realizações nobres pulularão os pensamentos, divinizando cada vez em maior escala as consciências vencedoras de si mesmas.

Há esperança!...

                       Dorival da Silva

sábado, 23 de novembro de 2019

Gentileza e Paz


Gentileza e Paz

À medida que a criatura humana vem desenvolvendo as suas nobres funções intelecto-morais, libera-se dos instintos agressivos e adquire valores que engrandecem a vida, dando-lhe sentido e significado.

Periodicamente, porém, surgem momentos difíceis no crescimento histórico da sociedade, quando nuvens escuras geram situações lamentáveis de incompreensões e disputas, nas quais o ego predomina, facultando que as paixões inferiores apenas adormecidas assomem e agridem-se os indivíduos, uns aos outros.

Estamos vivendo um desses períodos sombrios, no qual prevalecem a insensatez e o ódio, com incidentes de conduta primitiva que deveria estar superada.

Questões sociopsicológicas necessitadas de orientação e equilíbrio dividem as criaturas e atiram-nas, furibundas, em batalhas de anarquia, destruição e crimes de todo porte.

Conquistas grandiosas do pensamento que foram logradas em milênios de sacrifícios, quando idealistas fizeram-se mártires em benefício do mundo melhor, são desprezadas e vergonhosamente exaltadas as lutas de classes, de raças, de condutas, de desconsideração pelo ético e pelo bem, num vergonhoso retrocesso cultural e moral.

Indivíduos que constituem o mesmo clã, os mesmos esforços de dignificação, separam-se e promovem combates contínuos de rancor e desforço numa lamentável demonstração de primarismo evolutivo.

Os primeiros sinais dessa postura adversária do progresso manifestam-se nas carrancas do semblante e na arbitrariedade do comportamento.

Alucinados pelos desejos asselvajados, desejam permitir-se tudo sem respeito aos outros e às leis estabelecidas que contestam, e a sociedade como um todo retorna aos mecanismos da sobrevivência apoiados no velho refrão cada um por si e nada para os demais.

Apesar da situação deplorável, surgem nos movimentos da violência e da soberba as expressões insuperáveis da gentileza prenunciadora da paz. Erguem-se pessoas simples ou enobrecidas que não se permitem perder a dignidade no caos que predomina, preservando os valores da civilização e do direito.

São esses apóstolos do bem que mantêm as tradições da honra e do dever, sempre dispostos a construir a felicidade onde se encontram, assim como em favor de todos aqueles que a necessitam. Nesse báratro assustador preserva a gentileza nos teus gestos e nos relacionamentos, porque o ser humano está destinado às estrelas, que alcançará quando superar o primarismo do qual se originou.

Todos, afinal de contas, anelamos pela paz e pelo progresso. Comecemos nos pequenos gestos de cortesia e de afabilidade… Não reajamos com grosseria ao mal, nem nos detenhamos no exame das imperfeições alheias, orientando sempre a conduta que dignifica.

Gentileza sempre!

Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, Coluna Opinião, em 14.11.2019.
Em 20.11.2019.

domingo, 15 de julho de 2018

Testemunhos à fé

Testemunhos à fé

Jamais te permitas agasalhar a tristeza no teu íntimo, seja qual fora a situação em que te encontres ou a ocorrência que te aflija.
A melancolia é má conselheira por sombrear a razão no teu íntimo.
A existência física é um hino ao progresso e os acidentes de aparente dificuldade que surgem são desafios ao crescimento interior, de que necessitas para a conquista da plenitude.
Permite que os sonhos bons permaneçam contigo, auxiliando-te a sorrir e a confiar no futuro, em vez de deixar-te empurrar para as províncias do desencanto, porque neste momento não se realizaram...
Desse modo, não facultes que se te obscureçam os caminhos a percorrer. São essas situações que proporcionam o amadurecimento psicológico e fomentam a segurança moral e o crescimento íntimo.
Nunca faltarão, no percurso que elegeste para o desenvolvimento ético-moral, esses fatores que aos fracos mais debilitam, aos idealistas desafiam, aos afervorados nos ideias de beleza esmaecem...
Intercambiando contigo por meio de contingências das Leis do Progresso, outros seres, que já se libertaram do corpo, mas não das suas paixões inferiores, comprazem-se em atormentar as criaturas humanas e acercam-se de ti, impondo ideias e conflitos inquietadores.
Alguns estão vinculados às tuas existências transatas, outros se arruinaram durante a existência humana e permanecem ressentidos contigo, porque os molestaste, mas outros, dominados pela inveja ou pelo ódio, formam legiões de inimigos do Bem que não desfrutam e buscam sitiar-te a mente.
Na sua sandice acreditam-se como forças poderosas do Universo, a serviço do atraso moral e das sensações grosseiras.
Vivem e, sentindo-se infelizes, tudo fazem para atormentar os caminhantes da vida de sublimação.
Quando não encontram sintonia direta contigo, sincronizam com outros, frívolos e desditosos, que se voltam contra ti e tentam aturdir-te mediante sutis processos obsessivos de que padecem.
Multiplicam-se os conflitos na Terra por invigilância de ambos os seus habitantes: físicos e espirituais.
Quando abraças um ideal de beleza e de engrandecimento moral e espiritual, despertas, nessas consciências ultrajadas, antipatias e animosidades, desejos de interromper-te a marcha.
Quantas florações de amor emurchecem e morrem ante a ardência de maldades, da crueza de perseguições e da tormentosa inveja de outros companheiros de lutas!
Diariamente, pessoas forradas de bons sentimentos iniciam empreendimentos enobrecedores e logo, em vez de receberem apoio, são excruciadas em perseguições gratuitas.
Algumas, não possuindo resistências morais suficientes, sensíveis à crítica destrutiva, por serem almas sonhadoras e nobres, abandonam a jovem sementeira de amor que morre ou é vencida pelas ervas daninhas...
Não faltam tais críticos de plantão, ociosos e atormentados, que tudo patrulham e de tudo se apropriam, formando a malta de perseguidores.
Arrogam-se como modelos, proclamam a sua liberdade de falar e agir, fiscalizando a dos outros, que tentam proibir e silenciar.
Não os temas, nem lhes consideres as torpes condutas.
Jesus não transitou sem enfrentar-lhes a crueldade, a hipocrisia, mas não lhes deu maior importância.
Permanece irretocável no teu dever, fiel à consciência da fé e aceita o testemunho, agradecendo a Deus.
*
Sempre convém recordar que o mestre não prometeu o reino do mundo material, nem a eloquência ilusória dos louros terrestres.
Ele próprio preferiu a incompreensão, o abandono e a sordidez dos que se lhe fizeram inimigos espontâneos e não desdenhou a cruz, transformando-a de instrumento de punição que era em asas de luz para voar no rumo do Infinito.
Lamentas a incompreensão que se expande nos arraiais da fé que esposas.
Sofres, ante o comportamento esdrúxulo daqueles que se afirmam pertencentes à grei da fraternidade.
Padeces o látego aplicado por mãos que antes afagavam as tuas e surpreendes-te.
Observas o júbilo e a crueza daqueles que te premiam com a difamação e sentes o descoroçoar das forças...
Não te facultes esse luxo, permanecendo fiel ao trabalho que eleva e dignifica.
Não lhes respondas, não os antipatizes na faixa vibratória em que estão. É isso que desejariam para alimentarem o ódio e a perturbação,
Sua ira os consome com rapidez e o seu é o triunfo de Pirro, ante a exaltação do próprio ego que se atribui superioridade aos demais.
Eles passarão, enquanto o Bem prosseguirá iluminando o planeta.
O sentido da existência humana é viver conforme as circunstâncias, tornando-as melhores e ampliando o círculo da alegria e da saúde em todos os seus aspectos.
Quem serve a Jesus não dispõe de tempo para as despesas pessoais, para as refregas do orgulho e a inutilidade.
Testemunha a qualidade do teu ideal mediante o comportamento à hora da refrega, da tempestade.
Não te permitas sofrer em razão dos ataques desferidos contra ti.
Mantém ânimo jovial, recordando que o Espiritismo que amas é luz inapagável, promessa de Jesus que a cumpriu por intermédio de Kardec e dos seus cooperadores de ambos os planos da Vida!
Também eles provaram a perseguição inclemente dos seus contemporâneos e permaneceram fiéis.
*
Na alvorada luminosa da Era Nova, ainda permanecem as sombras teimosas da noite demorada.
Mantém acesa a tua lâmpada de amor, trabalhando e servindo sem cansaço nem inquietação, louvando aquele que te conduz à Vida cercado de carinho.
...E nunca te entristeças com o aguilhão abençoado que te impulsiona ao avanço...
Joanna de Ângelis
 
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão de 19 de fevereiro
de 2018, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador,
Bahia.
Em 26.6.2018.

Esta mensagem foi extraída do sítio Divaldo Franco,
 que poderá ser acessada através do endereço abaixo:
http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=519
 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Os tempos são chegados - 4/5

Os tempos são chegados (parte 4)


A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social. Mas não haverá fraternidade real, sólida e efetiva se não for apoiada em base inabalável; esta base inabalável; esta base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e se atiram pedras, porque, anatematizando-se, entretêm o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convictos de que Deus é o mesmo para todos, que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer de injusto, que o mal vem dos homens e não Dele, olhar-se-ão como filhos de um mesmo pai e se darão as mãos. É esta fé que dá o Espiritismo e que, de agora em diante, será o pivô sobre o qual se moverá o gênero humano, sejam, quais forem sua maneira de adotar e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas das quais não deve se ocupar. Somente desta fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque só ela dá uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direto é o que é dado pela força; o dever, um código humano imposto pela violência. Sem ela que é o homem? um pouco de matéria que se dissolve, um ser efêmero que apenas passa; o próprio gênio não é senão uma centelha que brilha um instante, para extinguir-se para sempre; por certo não há nisto muito para o erguer aos seus próprios olhos. Com tal pensamento, onde estão, realmente, os direitos e os deveres? Qual o objetivo do progresso? Somente esta fé faz o homem sentir sua dignidade pela perpetuidade e pela progressão de seu ser, não num futuro mesquinho e circunscrito à personalidade, mas grandioso e esplêndido; seu pensamento o eleva acima da Terra; sente-se crescer, pensando que tem seu papel no Universo, e que esse Universo é o seu domínio, que um dia poderá percorrer, e que a morte não fará dele uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros. 


O progresso intelectual realizado até hoje nas mais vastas proporções é um grande passo, e marca a primeira fase da Humanidade, mas, apenas ele, é importante para regenerar. Enquanto o homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em benefício de suas paixões e de seus interesses pessoais, razão por que os aplica no aperfeiçoamento dos meios de prejudicar os outros e de se destruírem mutuamente. Só o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens na Terra, pondo um freio nas más paixões; somente ele pode fazer reinarem a concórdia, a paz, a fraternidade. É ele que derrubará a barreira dos povos, que fará caírem os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se olharem como irmãos, chamados a se ajudarem mutuamente, e não a viverem uns à custa dos outros. É ainda o progresso moral, aqui secundado pelo progresso da Inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença, estabelecida sobre verdades eternas, não sujeita à discussão e, por isto mesmo, por todos aceitas. A unidade de crença será o laço mais poderoso, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, em todos os tempos quebrada pelos antagonismos religiosos, que dividem os povos e as famílias, que fazem ver no próximo inimigos que é preciso fugir, combater, exterminar, em vez de irmãos que devem ser amados.


Tal estado de coisas supõe uma mudança radical no sentimento das massas, um progresso geral que não poderia realizar-se senão saindo do círculo das ideias estreitas e terra-a-terra, que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de escol procuraram impelir a Humanidade nessa via; mas, ainda muito jovem, a Humanidade ficou surda, e seus ensinamentos foram como a boa semente caída sobre a pedra. Hoje ela está madura para lançar suas vistas mais alto do que o fez, a fim de assimilar ideias mais largas e compreender o que não havia compreendido. A geração que desaparece levará consigo os seus preconceitos e os seus erros; a geração que surge, temperada numa fonte mais depurada, imbuída de ideias mais justas, imprimirá ao mundo o movimento ascensional, no sentido do progresso moral, que deve marcar a nova fase da Humanidade. Esta fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis, pelas ideias grandes e generosas que vêm à tona e que começam a encontrar eco. É assim que se vê fundar-se uma porção de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais diariamente se impregnam de um sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos começam a olhar-se como membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de transação, suprimem as barreiras que os dividem de todas as partes do mundo, reúnem-se em comícios universais para os torneios pacíficos da inteligência. Mas faltam a essas reformas uma base para se desenvolverem, para se completarem e se consolidarem, uma predisposição moral mais geral para frutificarem e se fazerem aceitas pelas massas. Isto não é menos um sinal característico do tempo, o prelúdio do que se realizará em mais vasta escala, à medida que o terreno se tornar mais propício.


Um sinal não menos característico do período em que entramos, é a reação evidente que se opera o sentido das ideias espiritualistas, uma repulsa instintiva contra as ideias materialistas. Cujos representantes se tornam menos numerosos ou menos absolutos. O espírito de incredulidade que se havia apoderado das massas, ignorantes ou esclarecidas, e as tinha feito repelir, com a forma, o próprio fundo de toda crença, parece ter sido um sono, ao sair do qual se experimenta a necessidade de respirar um ar mais vivificante. Involuntariamente, onde se fez o vazio procurar-se algo, um ponto de apoio, uma esperança.

Allan Kardec - Revista Espírita - outubro de 1866

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Os Tempos são Chegados (quarta parte de cinco)


Os Tempos são Chegados 

-continuação 4/5.

A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espírito e a encarnação é apenas uma forma temporária de sua existência. Salvo a vestimenta exterior, há, pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diversos, ora pertencendo ao mundo visível, ora ao mundo invisível, encontrando-se ora num, ora noutro, concorrendo, num e noutro, para o mesmo objetivo, por meios apropriados à sua a situação.

Desta lei decorre a da perpetuidade das relações entre os seres; a morte não os separa, não põe termo às suas relações simpáticas e nem aos seus deveres recíprocos. Daí a solidariedade de todos para cada um, e de cada um para todos; daí, também, a fraternidade. Os homens só viverão felizes na Terra quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e em seus costumes, porque, então, a eles sujeitarão suas leis e suas instituições. Será este um dos principais resultados da transformação que se opera.

Mas, como conciliar os deveres da solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte torna os homens para sempre estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que ligam todos os seres, o Espiritismo funda esse duplo princípio sobre as próprias leis da Natureza; disto faz não só um dever, mas uma necessidade. Pela lei da pluralidade das existências o homem se liga ao que está feito e ao que será feito, aos homens do passado e aos do futuro; não mais poderá dizer que nada tem de comum com os que morrem, pois uns e outros se encontram incessantemente, neste e no outro mundo, para subirem juntos a escada do progresso e se prestarem mútuo apoio. A fraternidade não está mais circunscrita a alguns indivíduos, que o acaso reúne durante uma vida efêmera; é perpétua como a vida do Espírito, universal como a Humanidade, que constitui uma grande família, cujos membros, em sua totalidade, são solidários uns com os outros, seja qual for a época em que tenham vivido.

Tais são as ideias que ressaltam do Espiritismo, e que ele suscitará entre todos os homens, quando estiver universalmente espalhado, compreendido, ensinado e praticado. Com o Espiritismo a fraternidade, sinônimo da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma palavra vã; tem a sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nasce o da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de povo a povo, de raça a raça. Destes dois sentimentos bem compreendidos sairão, forçosamente, as mais proveitosas instituições para o bem-estar de todos.

A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social. Mas não haverá fraternidade real, sólida e efetiva se não for apoiada em base inabalável; esta base inabalável; esta base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e se atiram pedras, porque, anatematizando-se, entretêm o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convictos de que Deus é o mesmo para todos, que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer de injusto, que o mal vem dos homens e não Dele, olhar-se-ão como filhos de um mesmo pai e se darão as mãos. É esta fé que dá o Espiritismo e que, de agora em diante, será o pivô sobre o qual se moverá o gênero humano, sejam, quais forem sua maneira de adotar e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas das quais não deve se ocupar. Somente desta fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque só ela dá uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direto é o que é dado pela força; o dever, um código humano imposto pela violência. Sem ela que é o homem? um pouco de matéria que se dissolve, um ser efêmero que apenas passa; o próprio gênio não é senão uma centelha que brilha um instante, para extinguir-se para sempre; por certo não há nisto muito para o erguer aos seus próprios olhos. Com tal pensamento, onde estão, realmente, os direitos e os deveres? Qual o objetivo do progresso? Somente esta fé faz o homem sentir sua dignidade pela perpetuidade e pela progressão de seu ser, não num futuro mesquinho e circunscrito à personalidade, mas grandioso e esplêndido; seu pensamento o eleva acima da Terra; sente-se crescer, pensando que tem seu papel no Universo, e que esse Universo é o seu domínio, que um dia poderá percorrer, e que a morte não fará dele uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros.

O progresso intelectual realizado até hoje nas mais vastas proporções é um grande passo, e marca a primeira fase da Humanidade, mas, apenas ele, é importante para regenerar. Enquanto o homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em benefício de suas paixões e de seus interesses pessoais, razão por que os aplica no aperfeiçoamento dos meios de prejudicar os outros e de se destruírem mutuamente. Só o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens na Terra, pondo um freio nas más paixões; somente ele pode fazer reinarem a concórdia, a paz, a fraternidade. É ele que derrubará a barreira dos povos, que fará caírem os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se olharem como irmãos, chamados a se ajudarem mutuamente, e não a viverem uns à custa dos outros. É ainda o progresso moral, aqui secundado pelo progresso da Inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença, estabelecida sobre verdades eternas, não sujeita à discussão e, por isto mesmo, por todos aceitas. A unidade de crença será o laço mais poderoso, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, em todos os tempos quebrada pelos antagonismos religiosos, que dividem os povos e as famílias, que fazem ver no próximo inimigos que é preciso fugir, combater, exterminar, em vez de irmãos que devem ser amados. 

Tal estado de coisas supõe uma mudança radical no sentimento das massas, um progresso geral que não poderia realizar-se senão saindo do círculo das ideias estreitas e terra-a-terra, que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de escol procuraram impelir a Humanidade nessa via; mas, ainda muito jovem, a Humanidade ficou surda, e seus ensinamentos foram como a boa semente caída sobre a pedra. Hoje ela está madura para lançar suas vistas mais alto do que o fez, a fim de assimilar ideias mais largas e compreender o que não havia compreendido. A geração que desaparece levará consigo os seus preconceitos e os seus erros; a geração que surge, temperada numa fonte mais depurada, imbuída de ideias mais justas, imprimirá ao mundo o movimento ascensional, no sentido do progresso moral, que deve marcar a nova fase da Humanidade. Esta fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis, pelas ideias grandes e generosas que vêm à tona e que começam a encontrar eco.

É assim que se vê fundar-se uma porção de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais diariamente se impregnam de um sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos começam a olhar-se como membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de transação, suprimem as barreiras que os dividem de todas as partes do mundo, reúnem-se em comícios universais para os torneios pacíficos da inteligência. Mas faltam a essas reformas uma base para se desenvolverem, para se completarem e se consolidarem, uma predisposição moral mais geral para frutificarem e se fazerem aceitas pelas massas. Isto não é menos um sinal característico do tempo, o prelúdio do que se realizará em mais vasta escala, à medida que o terreno se tornar mais propício.
- continua –

  ALLAN KARDEC

Revista Espírita, outubro de 1866.