O trabalho é um grande remédio espiritual
Inicialmente, precisamos entender que todos nós, que estamos no mundo, somos espíritos. Nós, os espíritos encarnados, somos imortais. A nossa existência espiritual é única, jamais sofreu ou sofrerá interrupção. Há muitos séculos exercemos o livre-arbítrio e, no uso desse atributo, cometemos muitos erros deliberados — quase sempre motivados por orgulho, vaidade, arrogância, presunção, vingança… Embora muitas coisas boas, aprendizados importantes e feitos relevantes também foram realizados.
Tudo o que já aconteceu na trajetória milenar de nossa vida espiritual é parte do processo evolutivo que nos proporciona a liberdade de decidir sobre os fatos de cada momento, bons ou maus, cujas consequências sempre se integram ao nosso patrimônio moral. O bem realizado não pede justificativa, uma vez que é o objetivo da vida. No entanto, tudo o que é negativo e proporcionou prejuízo ou sofrimento a alguém necessariamente será objeto de reajuste, não importando a gravidade. O problema está no nosso estado de consciência.
Quando da realização de algo nocivo, não importando a quantidade ou a intensidade, gera-se uma mácula diante da Lei Divina, que tudo rege no Universo. Essa desarmonia proporcionará ao responsável um desassossego que perdurará até a solução de tal ocorrência. Isso poderá estender-se por várias existências físicas, uma vez que a responsabilidade pelo mal praticado ficou incrustada na alma, e ela, que não sofre interrupção em sua existência, é sempre uma continuidade. A qualidade desse existir está nas condições do estado de consciência presente, este que guarda o resultado de todo o tempo passado.
Assim, evidenciam-se com bastante frequência, nestes tempos atuais, dificuldades emocionais, neurológicas e motoras, além de doenças graves que surgem na criança, no adulto e no idoso, exigindo tratamentos severos, quase sempre dolorosos e de longa duração. Com poucas exceções, não se encontra a origem dessas doenças na presente existência. Elas já existiam antes deste corpo, na alma do sofredor. São doenças da alma, portadoras de máculas vibratórias, estabelecidas a partir de atos nocivos praticados voluntariamente em vida — ou em vidas -- anteriores.
Devemos considerar como trabalho toda realização útil e nobre, remunerado ou não. Nessa perspectiva, o trabalho, em todas as configurações, preenche o tempo com algo de satisfação e motiva as pessoas, livrando-as do ócio que provoca o vazio existencial.
Todos que vivemos presentemente na Terra, com alguma exceção, estamos em tratamento de particularidade que nos incomodam. Poderíamos perguntar: qual? Ou mesmo: quais? A resposta, ou respostas, somente nós mesmos podemos dar. Como? Executando um trabalho excelente a nosso favor, dos mais relevantes: o exercício de nos conhecermos.
Quais são as minhas facilidades e quais são as minhas dificuldades na presente existência? O que observo em meu comportamento íntimo quanto ao orgulho, à vaidade, à inveja, à ganância, à infidelidade, à mentira, à deslealdade, à indiferença, à intolerância, ao egoísmo, à presunção…? O que vejo em minhas ações e reações com referência ao perdão, à compreensão das dificuldades alheias, à minha disponibilidade para a cooperação na área social carente? Que ideia faço sobre o altruísmo? Qual é o meu comportamento emocional quando preciso de cuidados médicos? Tenho uma religiosidade verdadeira, e minha relação com a Divindade é sincera? O que espero desta existência? Que confiança tenho do futuro depois desta vida?
As dificuldades, as limitações e também as facilidades foram estabelecidas, em sua maioria, em outras vidas, razão pela qual agora convivemos com elas. São nossas. As que tiveram origem nessa existência, temos consciência delas, e as demais, intuímos.
O trabalho, nas suas mais diversas formas que surgem em nossos caminhos, é aquele pelo qual programamos — pelas finalidades e características — com as melhores probabilidades de nos auxiliar na solução das problemáticas que carregamos. Um exemplo: quem impediu, em uma de suas existências, que crianças fossem alfabetizadas, porque isso atrapalharia seus interesses -- como mão de obra barata para os seus negócios -- certamente, quanto toma consciência de tamanha dívida com a humanidade, vê-se na obrigação de atuar na alfabetização, seja direta ou indiretamente. Em um esforço enorme para compensar as consequências de tal crime pendente com a sociedade, que lhe pesa assombrosamente.
Assim, o trabalho surge na vida de cada pessoa como terapêutica às suas pendências morais, e precisa ser exercido com dedicação e respeito. Embora exista a questão da remuneração, isso também é recurso terapêutico, por educar a pessoa dentro de suas possibilidades e necessidades. Quaisquer deliberações em atitudes de má-fé, para buscar vantagens ilícitas ou imorais, gerarão novas dívidas a serem solucionadas em algum momento -- ainda nesta vida ou depois, em vidas futuras -- e arrastarão todas as consequências a que derem origem.
O homem trabalha porque cumpre uma Lei Divina. Com isso, o trabalho precisa ser exercício dignamente, pois qualquer desvirtuamento fere tal Lei e cria compromisso de reajuste. Jesus Cristo se refere ao trabalho: “E Jesus lhes respondeu (aos judeus): Meu Pai (Deus) trabalha até agora, e eu trabalho também.” — João 5:17.
O trabalho, além de atender às nossas necessidades imediatas, também nos ajuda a resolver pendências de outras existências. Assim, sempre precisamos estar cientes de que as nossas atividades, profissionais ou voluntárias, têm seus efeitos sobre a vida dos espíritos -- sobre a nossa própria vida e a de outros, direta ou indiretamente. Com isso, devemos sempre trabalhar pensando no bem, pois causar deliberadamente dificuldades ou enganar alguém é acumular dívidas de difícil solução, que, cedo ou tarde, teremos de solucionar para liberar os efeitos constrangedores de nossa consciência.
Dorival da Silva
Nota: As obras básicas da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese) podem ser baixadas gratuitamente do sítio da Federação Espírita Brasileira (FEB), através do endereço eletrônico abaixo:
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