Escritura
individual
“Mas tudo
isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas. Então, todos os
discípulos, deixando-o, fugiram.” - (Mateus, 26:56.)
O desígnio a
cumprir-se não constitui característica exclusiva para a missão de Jesus.
Cada homem tem o
mapa da ordem divina em sua existência, a ser executado com a colaboração do
livre-arbítrio, no grande plano da vida eterna.
Acima de tudo,
nesse sentido, toda criatura pensante não ignora que será compelida a restituir
o corpo de carne à terra.
Os companheiros
menos educados sabem, intuitivamente, que comparecerão a exame de contas, que
se lhes defrontarão paisagens novas, além do sepulcro, e que colherão, sem mais
nem menos, o fruto das ações que houverem semeado no seio da coletividade
terrestre.
Em geral, porém,
ao homem comum esse contrato, entre o servo encarnado e o Senhor Supremo,
parece extremamente impreciso, e prossegue, experiência afora, de rebeldia em
rebeldia.
Nem por isso,
todavia, a escritura, principalmente nos parágrafos da morte, deixará de
cumprir-se. O momento, nesse particular, surge sempre, com múltiplos pretextos,
para que as determinações divinas se realizem. No minuto exato, familiares e
amigos excursionam em diferentes mundos de ideias, através das esferas da
perplexidade, do temor, da tristeza, da dúvida, da interrogação dolorosa e,
apesar da presença tangível dos afeiçoados, no quadro de testemunhos que lhe
dizem respeito, o homem atende, sozinho, no capítulo da morte, aos itens da
escritura grafada por ele próprio, diante das Leis do Eterno Pai, com seus
atos, palavras e pensamentos de cada dia.
Mensagem extraída da obra: Vinha de Luz, ditada
pelo Espírito Emmanuel e psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier,
capítulo 94,
REFLEXÃO: Como negar ao que consta instalado na consciência? O translado
escritural dos compromissos assumidos diante da estância evolutiva é inegável,
intransferível, cabendo ao compromissado dar contas sob pena das cominações inerentes
ao inadimplente, podendo ser agravadas pela renitência no descumprimento de
suas obrigações.
Uma multidão de Espíritos todos os dias deixa a vida do corpo físico, em
incontável circunstância, e uma outra entra na vida corporal, os que retornam
ao campo espiritual levam consigo o atendimento ou não de seus compromissos
escriturados na alma, põem-se felizes ou magoados, revoltados o que corresponde
aos seus feitos e ao atendimento ou não das cláusulas morais do seu contrato
diante da vida; os que chegam, vem com os ajustados deveres a cumprir, na
maioria, cheios de esperança e os melhores desejos, no entanto, no transcorrer
da lida, no levantar da cortina dos oferecimentos do mundo poucos resistem à
tentação de novamente usufruir das experiências conhecidas em vida anterior,
que tendenciosamente acende o braseiro adormecido, lembrando-se intuitivamente de
sensações, tais como: do poder degenerativo, do sensualismo, do sexualismo e
outros “-ismos” depreciativos de comportamento digno diante da consciência, dando aso ao descumprimento voluntário dos
compromissos escriturados no próprio espírito.
O orientador espiritual Emmanuel, na página inicial, registra: “Em geral, porém, ao homem comum esse
contrato, entre o servo encarnado e o Senhor Supremo, parece extremamente
impreciso, e prossegue, experiência afora, de rebeldia em rebeldia”. É a liberdade que o Criador dá à criatura, o
livre-arbítrio. Aí reside o problema humano, que pode decidir por sua conta, o
que fazer na vida; como está mais próximo da sua origem, do estado egoístico,
próximo da animalidade, conquanto a conquista de alguns passos evolutivos,
contrariar a própria consciência ainda lhe dá satisfação, tem prazer doentio, o
prefere aos esforços do livramento de seu próprio mal.
Respeitar o escriturado espiritual, que geralmente exige reparação de
desvios antigos, reorientação dos sentimentos, estabelecimentos em si de uma fé
raciocinada, ações no bem geral, diminuição do orgulho e do egoísmo, exercício
da verdadeira caridade, conquista de virtudes, não é tarefa cômoda, não é
viagem de lazer, trata-se de esforço hercúleo.
O que se precisa entender, o que faria com que os esforços ficassem mais
leves, é ter uma visão de futuro, futuro espiritual, entendendo que o espírito
humano viaja no tempo, pela eternidade, e quanto mais rápido supera suas
misérias e conquista virtudes mais leve se torna, fazendo com que a viagem que
por ora é incômoda, pesada, dolorida, porque carrega-se uma montanha de
quinquilharia emocionais sem nexo, em muito, somente atendendo os caprichos da
própria escuridão moral que em nada importa para a felicidade e paz
íntima.
No final do último parágrafo do texto de Emmanuel, lê-se: “(...) o homem atende, sozinho, no capítulo da
morte, aos itens da escritura grafada por ele próprio, diante das Leis do
Eterno Pai, com seus atos, palavras e pensamentos de cada dia.” Conquanto a rebeldia geral, considerando o não
atendimento em nada do que foi combinado antes da entrada na carne, uma
cláusula será cumprida fielmente, a da morte do corpo, essa não há como adiar;
mesmo correndo num processo de mortes coletivas, cada espírito estará
singularmente posto na forma “grafada por ele próprio”.
Por que não honrar o compromisso proposto e assumido voluntariamente
diante da Lei Natural, sendo que todas as cláusulas são a favor do devedor?
Dorival da Silva