O Anjo da dor
As
pessoas de todos os recantos da Terra estão sofrendo, diríamos em sua maior
parte, porque existe parcela de gentes que parece não se importar com as
desgraças dos outros e nem se preocupar com a sua própria segurança.
No Mundo existe uma pandemia de vírus
que tem nome (COVID-19), embora nomeado, não se conhece medicamento, vacina,
ou até mesmo beberagem que possa detê-lo em sua voragem pelos organismos mais
frágeis, suscetíveis de sua possessão, minando todas as resistências e exigindo
grande aparato de cuidados, levando sua vitória sobre contingente muito grande
de sofredores que não resistem à sua sanha.
As autoridades que orientam a saúde no
Planeta são unanimes em informar que o distanciamento social, o uso de máscara
e a higienização das mãos são os únicos anteparos eficientes para se livrar do
contágio. Em sendo contaminado pelo tal vírus, três situações se apresentam: o
indivíduo assintomático, mas que contamina; o sintomático que apresenta sinais
característicos do mal, que podem ser superados em tratamento domiciliar; e
àqueles que o agravamento exige hospitalização e cuidados severos, pois que
além de comprometer o sistema respiratórios também invade demais órgãos vitais.
As notas acima são apenas preâmbulo de
um novo modo de vida, estão dizendo: um
novo normal. Será mesmo? Enquanto a Ciência não descobrir uma vacina, ou
medicamento capaz de frear a pandemia se faz necessário o exercício das
virtudes, quem não as têm será imprescindível adquiri-las. Onde as têm? Quem as
disponibilizam? A quais preços?
Quanto faz falta o conhecimento e a
vivência do Evangelho de Jesus, que dá luz aos homens, ensinando-lhes a
responsabilidade consigo e com o próximo, mostrando que nossas atitudes além de
seus feitos imediatos também nos seguem no tempo, mostrando as consequências,
no que se denomina a Lei de Retorno¹, como registra o apóstolo João, 5:29: “E os que fizeram o bem sairão para a
ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da
condenação.”. O versículo refere-se a reencarnação, o que se dará no futuro e como consequência do presente, --
sendo que hoje estamos vivendo reencarnação com os reflexos das vidas passas
--, assim é preciso saber de como se age, o modo de vivência e a sua
preocupação ambiental, ou seja, com os outros. A grande síntese do Evangelho é
o amor: “Amarás a Deus sobre todas as
coisas, e ao próximo como a si mesmo.”.
As virtudes são um estado do sentir dos
efeitos de nossas atitudes, da mesma forma das atitudes dos outros e o sentir
dos efeitos dos fatos circunstanciais da vida. Com a pandemia todos estamos
dentro de contexto favorável a observarmos esses sentires. Quem pretende se
conhecer não prescinde de se analisar, o que pede reflexão. Estou irritado,
raivoso, com medo, inseguro… ou confortável, confiante, calmo… e meus
sentimentos em relação aos vizinhos, aos colegas de trabalho, e as demais
pessoas conhecidas ou não, que participam do mesmo ambiente que respiro! Todos
têm sentimentos, têm familiares, tem seus amores, partes de suas vidas.
Lá fora, nos noticiários e imagens que
reverberam pelos poros de todas as horas do dia, encontraremos em maior parte a
publicidade de maus exemplos, inclusive dos que envergam cargos de autoridade,
sem deterem a autoridade moral, que não conhecem, pois, são partidários disto ou
daquilo, não sabem demonstrar justiça com total desinteresse particular. Razão
pelo descrédito de suas ações, exceto pelos seus acólitos, cegos pelos seus
interesses egoísticos que lhes beneficiem.
Então, será no mundo íntimo, como barco
incólume em mar bravio, que deverá sofrer solavancos e repuxos, no entanto,
mantendo-se íntegro, com um Espírito que tudo analisa, reflexiona, assimila o
que lhe fortalece e descarta àquilo que nada constrói de bom para si.
Precisamos ressurgir dos escombros de
nós mesmos, em melhores condições, seja no dia a dia, de tempo em tempo, e
principalmente com o cessar desta vida, porque depois desta ressurgiremos para
um estágio maior, para avaliação mais ampla, sem a possibilidade de engano no
julgamento dos feitos pelo caminho até ali percorrido. As luzes serão mais claras, a consciência se
verá cruamente e a razão não terá razão que não mereça.
As gerações se vão para o mundo dos
espíritos, vez que de lá vieram, é a casa originária, frequentam
a vida do corpo como experiência de aprendizado, de expiação e de provação;
entretanto, cada indivíduo de sua composição é mundo próprio, enfrenta a morte
do corpo, tanto como mergulha em novo organismo sozinho com a sua
consciência. Relembrando o ensinamento
de Jesus: “E os que fizeram o bem sairão
para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da
condenação.”.
A lição do Cristo é Universal, porque ocorre em todas as
partes do Cosmo Infinito, mas nós ainda estamos circunscritos à Terra -- em
conta o estado de inferioridades que envergamos --, como ensina a Doutrina
Espírita, que esse Planeta se apresenta de acordo com as necessidades do
Espírito em evolução, na figura de lar, escola, hospital, presídio, hospício… “A cada
um segundo as suas obras.”.
As novas gerações vão chegando em substituição as que retornam,
o que se dá gradualmente no tempo, que pode escoar por décadas ou séculos, mas,
sempre trará cada Espírito o seu próprio mundo e a sua própria herança, sem,
contudo, deixar de sentir o eco do progresso ou do desastre que ajudou a sua
geração anterior elaborar.
Em todos os tempos da Terra sempre houve
muitas dores de toda ordem, porque somos da classe de provas e expiações,
conquanto tenhamos caminhado alguma coisa, ainda falta muito para o
aprimoramento do Espírito se concluir, até o ponto de nos livrarmos e passarmos
para a classe seguinte, a dos regenerados.
Afeiçoamos ao sofrimento, porque
relutamos em solucionar o egoísmo que como visgo nos fixa aos interesses
mesquinhos, que embora proporcionem prazer e sensação, não redundam em
felicidades. Muito apego ao que é material, com o embotamento dos valores
espirituais.
No
endurecimento de nosso coração, na rebeldia viciada de contrariar a razão e
desconsiderar a consciência, não resta senão recurso extremo em socorro dos
incautos caminheiros sem rumo. Então, a Lei de Deus faz a sua parte em favor
dos endurecidos, encaminha o Anjo da Dor, cuidando para que as lições do
Evangelho de Jesus sejam ouvidas, entendidas e vivenciadas; com a agravante de
que permanecerá até que os beneficiários se salvem de si mesmos, vencendo-se o
egoísmo que os iludem.
Será
que a pandemia que está provocando milhares de mortes diariamente irá ser
sanada sem que um estado de humanidade exista, onde cada indivíduo assuma a sua
responsabilidade, tornando-se consciente de que não são somente nas famílias
dos outros que a morte visita. O COVID-19 não conhece bandeira, nem raça, muito
menos condição social, não reconhece nem moço e nem velhos, todos são terrenos
alcançáveis.
As autoridades, as lideranças de todos os
matizes precisam exercer a humildade, expor com clareza que ninguém tem poder
de rechaçar a pandemia e dar segurança a quem quer que seja, embora todos os cuidados
que a Ciência tem orientado. Por ora, o melhor que se pode fazer é cada indivíduo
assumir postura pessoal de acolhimento do que se orienta, embora as
dificuldades apresentadas em grande parte das sociedades.
Chegou-se
o tempo da fraternidade, do amor ao próximo, conhecido e não conhecido, o
momento da conscientização de que cada um é cidadão do Mundo, não importando,
se é rico ou é pobre, se tem muita instrução ou não, o contagiante não conhece
divisas e não calcula preferência, iguala todo cristão, ateus, religiosos ou
não; alinhamentos políticos de Direita, Esquerda ou de Centro, desconhece, o
que importa isto?
Allan
Kardec, o insigne codificador da Doutrina Espírita, em O Livro dos Espíritos²,
na questão 740, fez a seguinte indagação aos Espíritos nobres que trabalharam na
terceira revelação das Leis de Deus, como segue: “Para os homens, os flagelos seriam também
provações morais, ao fazerem que ele se defronte com as mais aflitivas
necessidades?”, obtendo a resposta: “Os
flagelos são provas que dão ao homem oportunidade de exercitar a sua
inteligência, de demonstrar paciência e resignação ante a vontade de Deus,
permitindo-lhe manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de
amor ao próximo, caso o egoísmo não o domine.”. O que nos relembra que os flagelos
aconteceram em todos os séculos passados, levando as gerações a impulsos de
melhoramentos.
A dor está presente em todas as partes. Será o Anjo da Dor
que veio nos amparar na nossa inércia espiritual? O que pensamos?
Dorival da
Silva
1.
Obra: Pão Nosso, Francisco Cândido
Xavier, Espírito Emmanuel, capítulo 127, publicação 1950.
2.
Obra: O Livro dos Espíritos, Allan
Kardec, lançado em 18.04.1857, tradução utilizada de Evandro Noleto Bezerra,
FEB.