Fraternidade!
“Mas, infelizmente, meus amigos, não pudestes
compreender ainda a grande significação da palavra -- Fraternidade!
Não é
um termo, é um fato; não é uma palavra vazia, é um sentimento, sem o qual vos
achareis sempre fracos para essa luta que vós mesmos não podeis medir, tal a
sua extraordinária grandeza! ”
O registro em destaque foi extraído de uma mensagem psicografada em 1899, por Allan Kardec, com o título: Instruções aos
Espíritas do Brasil, sendo que outras referências colheremos no texto; não é exagero considerar como carta direcionada pessoalmente a cada liderança
espírita, de qualquer nível, tanto quanto a todos os espíritas conscientes de
suas responsabilidades diante de si mesmos e do Movimento Espírita.
Chama a nossa atenção a ênfase dada à “Fraternidade”,
dizendo que “Não é um termo” e,
sim, “que é um fato”. Um fato é algo verdadeiro e definitivo.
À época lamentava que não se tinha
compreendido a “significação da palavra
Fraternidade”, que não era “um termo” e
nem “uma palavra vazia”,
mas “um sentimento”. Depois de mais de um século do
recebimento desta mensagem e dos esforços do Mundo Espiritual e das lideranças
de maior vulto no Movimento Espírita é lamentável que o sentimento de
fraternidade ainda não faz morada no coração da maioria dos que se denominam espíritas. Sentimento
é vivência, é consciência, é fazer parte – não como um elemento – mas como uma
força resultante de aprimoramento moral e intelectual no bem, que se torna luz,
que clareia e incentiva que outros também se encandeçam. Onde essa luz-consciência chega o mal não faz
morada.
* * *
“Ismael tem o seu Templo, e sobre ele a sua bandeira –
Deus, Cristo e Caridade! Ismael tem a sua pequenina tenda, onde procura reunir
todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram
por verdadeira: chama-se Fraternidade!
Pergunto-vos:
Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo
lema é: Deus, Cristo e Caridade? ”
O espírito Allan Kardec vem falar do
Templo do Anjo Ismael, que no Brasil se conecta à organização da
Federação Espírita Brasileira, como canal que permite fluir as orientações do
Mundo Espiritual para a Terra. Agora “Ismael
tem uma pequenina tenda”, uma referência espiritual percebida no Mundo
material. Naquele momento, fazia pouco tempo que a
Federação havia tomado forma, mesmo que inicialmente como federativa.
O Anjo Ismael, como o Espírito do
Codificador, anuncia: “onde procura
reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram
por verdadeira: chama-se Fraternidade! ”.
O que pesa nos ombros dos espíritas vacilantes é o questionamento: “Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade?
Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é: Deus, Cristo e
Caridade?“
“Como, e de que modo?
Meus
amigos! É possível que eu seja injusto para convosco naquilo que vou dizer: o
vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a Doutrina – mas com o que
interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. Esse
trabalho, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que
esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes nos
vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ele assenta,
dais entrada constante e funesta àquele que, encontrando-vos desunidos pelo
egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará com todo o peso
da sua iniquidade. ”
A tenda
de Ismael, que era pequenina no final do século XIX, hoje se espalha por todo
o Território Nacional, por meio da rede das Federativas Estaduais e seus
departamentos, ramificando-se pelas Casas Espíritas em grande parte das
cidades do País.
No
entanto, o questionamento: “Como, e de que
modo? “ -- ainda não encontra resposta satisfatória, apesar dos grandes esforços realizados em treinamentos e orientações emanadas da
Casa Mater do Espiritismo e das Federativas Estaduais. O Movimento Espírita Nacional sofre com a interpretação equivocada da Doutrina Espírita, com estudos que não têm abrangência, ou mesmo sem estudos, adicionando por achismo pensamentos que não são condizentes com os ensinamentos colhidos pelo Codificador, desfigurando a unidade doutrinária.
Kardec é categórico na orientação: “(...): o vosso
trabalho, feito todo de acordo – não com a Doutrina – mas com o que interessa
exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. “
Na própria
argumentação: “Esse trabalho, sem regime, sem
disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos
que dilacerem vossas almas, dores pungentes nos vossos Espíritos, por isso que,
desvirtuando os princípios em que ele assenta, dais entrada constante e funesta
àquele que, encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade,
facilmente vos acabrunhará com todo o peso da sua iniquidade. ” -- mostra que a desatenção à
orientação doutrinária, apresenta risco para os que a abraçam, com o propósito
de levar à Humanidade a Terceira Revelação das verdades Divinas, ou seja,
ampliar os conhecimentos da Boa Nova trazida por Jesus e desvelando a vida do
Mundo Espiritual, a reencarnação… Existem forças contrárias, perseguidoras do
Cristo, que utilizam de todos os meios para desacreditá-Lo, infiltrando ideias que destoam dos ensinamentos divinos entre seus seguidores,
principalmente entre os líderes.
A
união de sentimentos sinceros dos Espíritas com os objetivos Doutrinários é a
argamassa da Fraternidade que produz o fortalecimento seguro do Movimento
Espírita, congregando corações que se renovam porque buscam se conhecer,
aplicando a si mesmos as lições do Crucificado.
Esses formam a família-sentimento, que faz o bem e sabe reconhecer o
mal, não se iludindo e nem permitindo-se cair em engano.
* * *
“Entretanto, dar-se-ia o mesmo se
estivésseis unidos? Porventura acreditais na eficiência de um grande exército
dirigido por diversos generais, cada qual com o seu sistema, com o seu método
de operar e com pontos de mira divergentes? Jamais! Nessas condições só
encontrareis a derrota, porquanto – vede bem --, o que não podeis fazer com o
Evangelho: unir-vos pelo amor do bem, fazem os vossos inimigos, unindo-se pelo
amor do mal!
Eles não obedecem a diversas
orientações, nem colimam objetivos diversos; tudo converge para a Doutrina Espírita
– Revelação da Revelação – que não lhes convém e que precisam destruir, para o
que empregam toda a sua inteligência, todo o seu amor do mal, submetendo-se a
uma única direção!
A luta cresce dia a dia, pois que a
vontade de Deus, iniciando as suas criaturas nos mistérios da vida de
além-túmulo, cada vez mais se torna patente. Encontrando-se, porém, os vossos
Espíritos em face da Doutrina, no estado precário que acabo de assinalar,
pergunto: Com que elemento contam eles, os vossos Espíritos, na temerosa ação
em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade? “
O
lema é: união. União de sentimentos
convergentes é para o que está exarado na Doutrina Espírita. Por que ela é o fulcro
da verdade, é o ponto de intersecção da compreensão entre os dois mundos, por
onde flui a promessa de Jesus. Isso é o mesmo que dizer que o Mestre, através de sua
luz, faz rebrilhar a essência de seus ensinamentos, que cada um colhe com a ânfora
de sentimentos que interagem com àqueles.
A
mensagem é a do Cristo, na carne a verbalizou e a demonstrou. No possível, visou retornar no futuro, quando os homens tivessem mais condições. Ele se fez presente no tempo próprio,
apresentou a “Revelação da Revelação” e não deixou de ampliá-la através de seus
mensageiros, que utilizam a ferramenta mediúnica para verter revelações
complementares, e o fará constantemente de acordo com as possibilidades dos
homens.
O
Anjo Ismael grafou em sua bandeira o signo da unidade: “Deus,
Cristo e Caridade” -- Deus, a origem de tudo; Cristo, o caminho por
onde a verdade percorre para chegar ao Mundo, límpida; e a Caridade, a
virtude-meta, que todos deverão alcançar, certificando ao Criador o estágio
de lucidez da consciência espiritual de cada criatura, reconhecimento e
coroamento dos esforços de Jesus e seus prepostos de todos os tempos.
Não
é hora de tirar os olhos e os sentidos do estandarte do Anjo Ismael, que está
fincado na Federação Espírita Brasileira. Este é o manancial das orientações do
Cristo que se irradia para os Estados, chegando aos Centros Espíritas para
encontrar os corações e mentes sedentos das claridades Divinas, que lhes
proporcionem paz e esperança.
A
obediência doutrinária é a direção norteadora para os Espíritas. Não há razão
para acolher ou atender sugestões estranhas a título de modernidade ou de
atualização da codificação espírita. Mesmo porque, no necessário, os próprios
mensageiros do Cristo fazem com frequência as ampliações necessárias, através
de obras complementares. A direção é a de Jesus.
Qual
a razão de se comprometerem com novidades que deslustram a verdade Doutrinária: “Com que elemento contam eles, os vossos Espíritos, na temerosa
ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade? “
Que contas prestar à própria
consciência? Como enfrentar Aquele que trouxe a Boa Nova e cumpriu a
promessa de que rogaria ao Pai e Ele mandaria o Consolador para relembrar o que
tinha ensinado e colocar à disposição de todos aquilo que não pôde ensinar,
porque faltava ao homem recursos suficientes para a compreensão.
* * *
Nota: Os excertos de cor azul e em itálico que foram colhidos da mensagem do
Espírito Allan Kardec, recebida pelo médium Frederico Pereira da Silva Junior,
na Sociedade Espírita Fraternidade, no Rio de Janeiro-RJ, em 1889. A mensagem
integral foi publicada no Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do
Paraná, nas edições de abril (n.º 1629), maio (n.º 1630) e junho (n.º 1631) do
ano de 2020.
A mensagem em referência é ampla em orientações. Mesmo as partes que separamos poderiam embasar muitos outros comentários pela sua profundidade doutrinária e psicológica, mas o nosso objetivo foi enfatizar a "Fraternidade".
Dorival da Silva