sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Jesus está presente

 Jesus está presente


No caminho de Emaús Ele junta-se aos dois que se dirigiam àquela localidade e comentavam sobre o que ocorreu com o Senhor naqueles últimos dias; falavam da ida das mulheres ao seu túmulo e seu corpo lá não se encontrava, naquele local alguns Anjos informavam que Jesus estava vivo…  Na caminhada de dez quilômetros o Estrangeiro relembrou as profecias desde os escritos antigos, prevendo que tudo aquilo se daria, após o que, o Emissário Divino retornaria à vida espiritual. Somente ao entardecer, quando do agradecimento a Deus pelo alimento e do gesto característico no partir do pão e distribuir-lhes os pedaços foi reconhecido pelos viajantes, desaparecendo de suas vistas, incontinenti…¹

Nos tempos modernos a multidão continua olhando o momento significativo que marcou a linha divisória entre a presença material, que se desfazia, e a presença espiritual que se confirmava, logo depois, reafirmada com a aparição junto aos apóstolos, demonstrando que a vida continua noutro plano, que o Espírito segue a sua trajetória, passada a experiência do corpo. 

O ato da crucificação, que marcou a humanidade, conquanto a importância histórica, não se trata de obra de Jesus, Ele foi vítima da ignorância e da injustiça dos homens. O que continua até os nossos dias, com o desrespeito aos seus ensinamentos (que são verdades imutáveis), além da ingratidão dos que dizem segui-Lo, mas que cometem crimes hediondos em Seu nome, e buscam hipocritamente justificativa  para o desvirtuamento do sentido de seus ensinamentos, nos próprios textos sagrados. O uso desrespeitoso de seu nome e de sua imagem, como propaganda de quaisquer coisas, o colocar de palavras “em sua boca” para afiançar mentiras como se de verdades fossem, no atendimento de propósito esdrúxulo, perpetuando inverdades no coração dos ignorantes  e dos incautos. Certamente que dores de toda ordem virão.

O Mestre está presente, pois o Trabalhador Divino não abandona a sua vinha, com frequência colhe êxito das plantas que frutificam; enquanto os olhos e ouvidos do mundo aturdem-se com os choros e lágrimas, lamentos e exprobrações, luxos e exacerbação de prazeres. Apesar de tudo isso, muitos deixaram de ouvir os gritos, os lamentos e o chamamento da materialidade, e aguçaram suas percepções espirituais para notarem a Sua presença,  sutil, mas intensa, aquecendo corações de corpos murchos, fortalecendo almas para a vitória sobre si mesmo, cheias de esperança e conforto espiritual, sendo que os ruídos externos já não incomodam as almas que anteveem se cumprir a promessa do Cristo: “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo. (Mateus, 11:28 a 30.)²”.

A presença do Senhor nunca deixa de existir, como se utilizou dos caminheiros de Emaús, que retornaram junto aos Apóstolos para dar testemunho de que Ele estava vivo, também recorre à ajuda dos humildes de coração e de boa vontade para certificar aos que desejarem saber de Sua presença.  Jesus mesmo deixou a indicação de onde estaria, caso desejassem encontrá-Lo: Atendendo o pobre desvalido, a criança abandonada, aliviando a dor dos humildes… 

Logo, pode-se concluir onde Ele não estaria atuando, até que cesse o império materialista e o interesse da criatura se volte para Deus, modificando o seu estado espiritual; o que, quase sempre,  dá-se por um sofrimento grande, um acidente que mexe com as convicções cristalizadas,  abrindo brechas para novos raciocínios, assim,  estará presente,  com os seus prepostos, oferecendo recursos emocionais de reconstrução. 

Jesus está presente em todas as fases evolutivas da Civilização da Terra, mesmo de todos os períodos da construção do próprio Planeta, tem compromisso junto ao Criador de Todas as Coisas, de levar os Espíritos de seu redil à plenitude. Para isso, faz-se necessário que os indivíduos caminhem com seus esforços e adquiram méritos. Sendo o Governador do mundo, trabalha para que o objetivo maior alcance êxito, no entanto, não pode invadir o direito individual, não pode fazer e nem decidir pelo outro; com paciência aguarda que a planta chegue ao tempo próprio de frutescer no bem, conscientemente, a seu próprio benefício. 

O que parece balburdia no mundo, nada mais são do que os recursos em favor da educação dos Espíritos reencarnados num espaço de tempo, com suas virtudes e mazelas, servindo como escola de autoaprimoramente, sendo que geração sucede geração, colhendo os resultados de seus feitos no tempo; a reencarnação mostra consistentemente a comprovação de que sempre se encontrará a herança de existências passadas nos povos do futuro.  A coletividade e os indivíduos carregam as suas experiências boas ou comprometedoras, as favoráveis  para serem ampliadas e as de consequências danosas para serem solucionadas. 

O que precisa ser notado é que a mudança significativa acontece na individualidade, as resoluções modificadoras e restauradoras do Ser espiritual se dão na intimidade. Sendo que, Jesus lançou as suas sementes nesse terreno e aguarda que germinem, renovando a paisagem do Espírito, que com humildade reconhecerá o trabalho do Benfeitor da Humanidade. 

Reconhecer que Jesus está presente no caminhar evolutivo de cada personagem da vida, que conhece cada irmão pelo nome e respeita integralmente os seus direitos; no entanto, pacientemente  aguarda que despertem e entendam que todos são viajantes do infinito e têm o dever de alcançar a perfeição pelos seus esforços. 

Jesus está presente, contribui incessantemente, e nós como participamos desse caminhar a nosso próprio proveito?  


                                        Dorival da Silva

  1. Lucas 24:13-35

  2. O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VI, item 1.

Nota: Todas as obras de Allan Kardec poderão ser consultadas no endereço:

www.kardecpedia.com.br

sábado, 31 de outubro de 2020

Você sabe orar? Poucos sabem

 Você sabe orar?  Poucos sabem

                 Na Doutrina Espírita, quando se refere ao substantivo homem em seus escritos, está se referindo ao ser humano, à humanidade. Portanto, está tratando tanto do homem quando da mulher, que correspondem às características orgânicas de Espíritos reencarnados.

         Todos os humanos da Terra -- não se trata de redundância --, estamos nos referindo aos que estão vinculados ao nosso Planeta, como ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo III, itens 8 e 9: “Nos mundos mais atrasados, os homens são de certo modo rudimentares. Possuem a forma humana, mas sem nenhuma beleza; seus instintos não são temperados por nenhum sentimento de delicadeza ou benevolência, nem pelas noções do justo e do injusto; a força bruta é a sua única lei. (...)”   “Nos mundos que atingiram um grau superior de evolução, as condições da vida moral e material são muito diferentes das que encontramos na Terra. A forma dos corpos é sempre, como por toda parte, a humana, mas embelezada, aperfeiçoada, e sobretudo purificada. O corpo nada tem da materialidade terrena, e não está, por isso mesmo, sujeito às necessidades, às doenças e às deteriorações decorrentes do predomínio da matéria. Os sentidos, mais sutis, têm percepções que a grosseria dos nossos órgãos sufoca. A leveza específica dos corpos torna a locomoção rápida e fácil. Em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, eles deslizam, por assim dizer, pela superfície ou pelo ar, pelo esforço apenas da vontade, à maneira das representações de anjos ou dos manes dos antigos nos Campos Elíseos. (...). Vivem o plano de vida material e o espiritual simultaneamente, embora essa realidade possa não ser compreendida sem o estudo do paradigma da reencarnação. 

         Pretendíamos apenas elucidar que existem seres humanos no Universo, além da Terra, no entanto, a citação fala de mundos inferiores e mundos superiores, em qual situação se encontra a Terra? Conforme a Doutrina dos Espíritos Ela figura na faixa vibratória em que estagiam os mundos de provas e expiações. O próximo passo é chegar ao mundo de regeneração.  A Escala Espírita pode ser estudada em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, nas questões de 100 a 113.

          A oração é o momento em que o indivíduo alça, através do pensamento, vontade imbuída de um objetivo claro, ao Criador, a Jesus, ou algum Ser de sua confiança em busca de algo para si mesmo, ou para outrem, de socorro, alento, coragem, esclarecimento para suas dúvidas; também para agradecer petição atendida, a disponibilização dos recursos da Natureza e a própria vida, e louvar a Deus em reconhecimento à Sua grandiosidade.

         “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e fechada a porta, ora a teu Pai em secreto; e teu Pai, que vê o que se passa em secreto, te dará a paga. E quando orais não faleis muito, como os gentios; pois cuidam que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não queirais, portanto, parecer-vos com eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, primeiro que vós lho peçais. (Mateus, VI: 5-8)”.  Jesus ensina a orar, referindo-se a entrar no aposento e fechar a porta; que aposento é esse? e que porta é essa? O Senhor quando orava, e isso fazia com muita frequência, ia para a montanha, para a margem do lago de Genesaré, ou para algum lugar da Natureza, onde não tinha aposento e nem porta, então, a que Ele se referia? 

         Naquele momento da Humanidade não tinha como explicar melhor, utilizou dos conhecimentos que o povo tinha nos usos do dia a dia para grafar no sentir das Almas a ciência de fundo transcendente que somente nos séculos futuros poderia encontrar entendimento.  Ele falava ao Espírito do Homem, conquanto imantado a um corpo carnal, por algum tempo, permaneceria evoluindo no tempo, e a semente lançada alcançaria resultado da Ciência iniciada, quando o terreno espiritual estivesse fértil para a eclosão da sabedoria. A moradia é o corpo, àquele em que se habita, o aposento é a Alma e a porta corresponde aos sentidos que dão acesso às realidades exteriores. O ambiente da oração é o estado espiritual, o Ser e seus valores, num impulso de humildade busca o diálogo sincero e honesto, aonde o burburinho do mundo material não tem lugar, é o coração e a mente que vibram, sem palavras, é sentimento que adentra a frequência do Ente a alcançar e a comunicação se dá Espírito a Espírito. 

         É certo que somos pequenos e não sabemos ou não temos entendimento suficiente para jornada tão grandiosa, em conta disso não ficamos abandonados, existem os Espíritos intercessores que acompanham o nosso caminhar nesta vida e fazem com que as rogativas, pedidos e os agradecimentos, àqueles que têm mérito, cheguem ao seu destino, e carreiam as virtudes de acordo com as nossas possibilidades.  

         Nada pode ser concretizado sem que exista a conformidade da Lei Divina. Os seres responsáveis pela execução daquilo que vem dos pedidos não poderão ir além dos méritos de quem solicita, tanto quanto para aquele a quem se pede. 

         “A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo.   (...)¹”.  A prece livre é o sentimento que flui do estado espiritual de quem ora, influxo singular, nunca haverá outro igual, pois corresponde aos valores daquele Espírito que se expressa para a Divindade, não são o que as palavras conseguem dizer, são a essência daquele que se manifesta, lançando-se na corrente energética Universal. Atinge o objetivo e acolhe a retribuição. 

         Toda manifestação do indivíduo a título de oração, seja lida, decorada e na forma de repetição, precisa ser considerada com validade, sem se esquecer o ponto central de interação, “a intenção”, conquanto em grande parte de pouca eficácia, vez que a forma utilizada não proporciona conexão espiritual com o Ser a que se pretende alcançar ou aos intercessores, pois, não acontece nenhum fato vibracional para que isso ocorra. O que pode acontecer é que, em certo momento de dificuldade premente, mesmo utilizando-se dessa forma de orar, entra, sem se dar conta disso, num estado espiritual próprio da oração efetiva, fechando a porta do aposento”, realizando a interação vibratória significativa atingindo o atendimento para às suas necessidades. Para isso, pode receber ajuda de Espírito caridoso que o auxilia a entrar por esse caminho vibratório que desconhece. 

         “O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço.²”  Esses esclarecimentos são dos Espíritos reveladores da Doutrina Espírita, que não deixam dúvida de que tudo é trabalho e exige esforço, trata-se de conquista pessoal, é a busca permanente da elevação espiritual, o que corresponde a aquisição de valores nobres, intelectuais e morais, em todos os momentos da vida. O estado espiritual existente, por afinidade natural, propõe sintonia com Espíritos envolvidos nos mesmos propósitos de cada um de nós, e se conectam pela atmosfera mental que alimentamos, formando ligação com o mundo espiritual que nos é próprio; assim vivemos nos dois mundos simultaneamente, a qualidade corresponde às nossas escolhas. 

         A oração é uma via direta de duas mãos e chegará até onde nossas forças permitirem, até onde o combustível do mérito puder nos conduzir. 

         A fé raciocinada, àquela que a Doutrina Espírita nos apresenta com a suas revelações sobre o Homem e o mundo dos Espíritos, dando aos seus estudiosos a clareza sobre a existência, mostra a necessidade do esforço em todos os momentos da vida de forma consciente, sabendo-se que a construção efetiva é a do Espírito. Assim todos os trabalhos realizados com amor, mesmo os dificultosos, sempre visando o bem, não importando para quem seja, mesmo que o beneficiário não reconheça, é por isso uma prece, uma oração, pois o bem já existia na origem da intenção de quem a realiza, enriquecendo espiritualmente àquele que o detém.

        Aquele que sabe como orar, por que orar e para que orar é um Ser consciente em evolução espiritual. Sempre estará confiante, com coragem, paciente e resignado diante do que não pode mudar. Será vencedor de si mesmo, carregará consigo a paz e a felicidade, pois tem plena confiança em Deus.

           Oremos!

 

                                Dorival da Silva      

¹ O Livro dos Espíritos, questão 658

2   O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 7 (final)

Nota: Todas as obras de Allan Kardec poderão ser consultadas no endereço:

www.kardecpedia.com.br

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Educação moral, um paradigma para o Espírito

 Educação moral, um paradigma para o Espírito 

Os seres humanos são os senhores das eras; mergulham, de tempos em tempos, nas carnes que se preparam com o fundir de gametas, o que se denomina reencarnação. Trazem nas suas bagagens os valores que são os resultados de seus esforços.  

Assim surgem como homem ou mulher no berço dos lares, vencem os primeiros tempos, o equipamento carnal se desenvolve e vai permitindo a manifestação do seu morador. Primeiramente reflexos instintivos, a inteligência se apresenta represada porque o cérebro ainda não consegue decodificar, e a composição osteomuscular e a cardiorrespiratória não estão prontas para obedecer à ordem da vontade comandante. 

Instalado adequadamente no seu instrumento de manifestação, que caminha pela infância, adolescência, sendo que na fase adulta está maturado, permitindo o seu uso na integralidade. Assim ocorreu em outras vezes sem conta, que por ora não se lembra.  

É questionamento corrente: por que não se lembrar das vidas passadas -- isto é complexo --, mas de uma forma apenas indicativa, pode-se dizer que o cérebro do corpo da presente existência somente tem a capacidade para decodificar as lembranças daquilo dos quais participou; recordações anteriores podem ocorrer através dos sonhos e alguns estados de emancipação da alma muito específicos, capazes de alcançar registros de vidas passadas. Sendo que a vida do Espírito é uma só, entrar ou sair da vida material é oportunidade evolutiva. Os fatos vivenciados de todos os tempos estão na mente, pertencente ao Ser espiritual, portanto, é elemento extracorpóreo. Não se recordar de fatos de vidas passadas é um recurso Divino em favor da criatura, para que possa se refazer de erros que lhe proporcionaram tormentos. Com o esquecimento, pode-se conviver novamente com os desafetos de outros tempos, que em muitas oportunidades estão dentro do lar. Há, no entanto, aqueles que, por comodidade, falta de interesse ou mesmo a impossibilidade de encontrar trabalho remunerado, vivem às expensas de seus idosos. Isso é uma vergonhosa inversão de valores, salvo as exceções.  

O senhor Kardec, ao analisar as respostas dos Espíritos às perguntas que formulou, traz um despertar para o presente século: “(...).  Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Esse equilíbrio, porém, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. (...).” 

Sem desprezar o conhecimento geral, com que Kardec contribuía grandemente como professor de notório saber de múltiplas matérias, observou que a educação moral se faria substancial na caminhada evolutiva da Humanidade. Ele explica sua compreensão da educação moral, que não pode ser oficializada. Veja como ele ensina: “(...), é o conjunto dos hábitos adquiridos.; -- frisamos: hábitos morais. 

Destacamos a frase: “Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria”. Vejamos que o Codificador, mesmo estando 163 anos de distância do nosso tempo, tinha a percepção e lançava olhar para o futuro, prevendo que a economia sofria e ressentia com a ausência da educação moral. Observemos o excesso de leis para controlar a evasão de impostos, a corrupção, a criminalidade, que cresce vertiginosamente, exigindo mais aparatos humanos, tecnologia e recursos financeiros na tentativa de conter o ilícito. No entanto, a conclusão dessa análise confirma que a educação moral eliminaria a maior parte desses desvios comportamentais que parecem ter se naturalizado. O freio do mal precisa estar presente em cada indivíduo. Assim, eliminaríamos a maior parte do aparato legal, poupando o Estado de gastos que poderiam ser direcionados para a melhoria da vida das pessoas. O excesso de leis para disciplinar comportamentos demonstra a ausência da educação moral dos indivíduos. 

A experiência mostra ser indispensável que os valores morais venham antes, para isso se faz imprescindível que o Espírito tenha adquirido em vidas passadas -- que se faz refletir na vida presente, o que acontece com muitos -- ; ou,  que,  desde o berço,  os pais deem exemplos com seus comportamentos, no linguajar, nas atitudes do dia a dia, nas preferências culturais, de igual importância a moralidade do ambiente onde terá seu desenvolvimento social; nos tempos da tecnologia, saber como conduzir a criança ao acesso dos entretenimentos virtuais, sendo que estes nem sempre apresentam compromisso com a educação moral do público infantil. 

Uma ferramenta de alta importância para formar o conjunto de hábitos moralizados é estudar, apreender, aprender e viver o Evangelho de Jesus, na sua pureza. Esses ensinamentos precisam estar na vida dos indivíduos desde os primeiros movimentos da existência. Tudo o que vier depois encontrará na intimidade do Ser um escudo, como se fosse uma vacina moral. Quando alguma ocorrência divergir do que é bom e nobre, não será acolhida, haverá repulsa, porque o estado vibracional da alma moralizada é discordante daquelas ainda imorais, ou de fatos, ou de circunstâncias também desse teor. 

Do prefácio da monumental obra: Educação - Um tesouro a descobrir², transcrevemos os excertos: “(...). ‘A Comissão não resistiu à tentação de acrescentar novas disciplinas, como o conhecimento de si mesmo e dos meios de manter a saúde física e psicológica, ou mesmo matérias que levam a conhecer melhor e preservar o meio ambiente natural. Contudo, os programas estão cada vez mais sobrecarregados. É necessário, pois, optar, com a condição de preservar os elementos essenciais de uma educação básica que ensine a viver melhor, através do conhecimento, da experiência e da construção de uma cultura pessoal.’    

‘Finalmente, e trata-se, também neste caso, de uma realidade permanente, a tensão entre o espiritual e o material.  Muitas vezes, sem sequer se aperceber disso ou sem ter capacidade para o exprimir, o mundo tem sede de ideal ou de valores a que chamaremos morais, para não ferir ninguém. Cabe à educação a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradições e convicções de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, esta elevação do pensamento e do espírito para o universal e para uma espécie de superação de si mesmo. Está em jogo -- e aqui a Comissão teve o cuidado de ponderar bem os termos utilizados -- a sobrevivência da humanidade.’” 

Os elementos morais cultivados se estabelecem exclusivamente na alma do indivíduo e se expressarão naturalmente em todas as suas ações, seja na vida física ou no mundo espiritual. Voltando em Jesus, vamos encontrar o ensinamento síntese dos Seus postulados: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (Mateus, 22:34 a 40.)³ .  O Mestre Nazareno tinha por objetivo esclarecer o Ser Espiritual, na sua individualidade, porque seu ensinamento precisaria ser apreendido e vivenciado, o que corresponde a educação moral da criatura, uma das razões que quase sempre exemplificou primeiro, para elucidar depois, quando necessário. O exemplo nem sempre exige esclarecimento, é dedutível por si mesmo.  

O grande problema da Humanidade está em compreender que a vida do corpo é finita, instável e sem garantia de duração, e que as consequências de seus atos permanecerão com os responsáveis até que seus efeitos sejam resolvidos -- estamos falando das ações negativas, imorais e corruptas… Os reflexos destas atitudes e seus desdobramentos recairão sobre os envolvidos, mesmo que a justiça dos homens não tenha percebido ou mesmo acobertado. Pois, existem muitas leis que não corroboram à justiça, são frutos da premeditação de interesses ilegítimos em detrimento do que seria justo e moral. Todos somos Espíritos e respondemos a uma única lei que não foge à justiça e à verdade, a Lei Divina, que se acha bem instalada na consciência de cada indivíduo, porém, adormecida pela ignorância ou entorpecida pelo egoísmo e o orgulho, que despertará no ambiente moral que cultiva.  

A educação moral estará presente e será a norteadora da qualidade de vida da Humanidade da Terra, sem se esquecer que ora se está no corpo, ora se está na espiritualidade, a Humanidade é a soma de todos os Espíritos ligados ao planeta Terra. Através do processo da reencarnação entramos na vida corporal e com a exaustão da carne retornamos ao mundo daqueles que deixaram a sua indumentária no túmulo.  

É um paradigma para o Espírito vencer a sua obscuridade particular, superar os preconceitos religiosos, os pensamentos materialistas “desconstrutivos” do frágil senso de espiritualidade do ser humano. A ausência da fé racional, a crença dependente de outrem, esquecendo-se ou ignorando-se ser senhor de si mesmo, responsável pela condução da própria vida. Ainda, sem se descurar de que vive em sociedade com seus iguais, e que o compromisso moral é contribuir com o próximo, “é amar o próximo como a si mesmo”, é resguardar o direito do outro, assim, garantindo o direito de todos, aí está o ângulo maior da educação moral, muito pouco percebido pelos habitantes da Terra.  

Inserimos como fecho desse trabalho a última parte dos argumentos de Allan Kardec sobre o tema tratado nas questões acima referidas: “Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? 

Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos. 4” 

                 -- “Sem educação moral ninguém tem segurança”

                              Dorival da Silva 

  1. O Livro dos Espíritos - Trad. de Guillon Ribeiro - FEB

  2. Educação - Um tesouro da descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI - Jacques Delors - 6.ª ed.

  3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Trad. J. Herculano Pires - 43.ª ed.- LAKE

  4. O Livro dos Espíritos - Trad. de Guillon Ribeiro - FEB, final do esclarecimento das questões 685 e 685-a

    Nota: As obras de Allan Kardec, podem ser acessadas através do endereço:  https://kardecpedia.com/