O Amor Silente
Fala-se muito de amor! O que é o amor? Onde está o amor?
O amor é um sentimento-ação desprendido. É difícil de explicar. Um atributo espiritual dessa ordem que não se vê, não se ouve, somente se sente. Esse sentir é quantitativo, qualitativo e exclusivo em cada indivíduo.
Ninguém poderá sentir o amor em intensidade e qualidade maiores do que as que oferece. Tampouco poderá oferecer o sentimento amoroso de que ainda não conquistou.
Todos desejam ser amados; no entanto, nem todos desejam amar. Grande parte dos indivíduos não pensa em amar, mas somente ser amada. É o império do egoísmo reinante nas sucessivas gerações -- uma das razões do grande sofrimento existente no mundo.
Recordando um Espírito amigo da humanidade¹, que ensina ser a Natureza o grande exemplo de amor -- de amor atuante, em outras palavras. As sementes desfazem-se de sua película protetora e realizam grande esforço para vencer as camadas de terra que as sobrepõem, a fim de alcançar a luz solar e oferecer silenciosamente seus frutos, não importando a quem beneficiar.
Nesse mesmo pensar, caem chuvas sobre terras de pessoas dignas e honestas, tanto quanto sobre terras pertencentes a criminosos e déspotas, oferecendo oportunidade de produção. No Universo, os astros, em número incontável e em grupos imensuráveis, percorrem caminhos distintos e em velocidades fantásticas, sem se entrechocarem, sem perturbarem as coexistências universais de suas naturezas. Essa ordem e harmonia são a ação do amor desprendido. Produz-se no silêncio, realiza-se numa ordem harmônica, e somente seus efeitos são percebidos. A fonte desse amor universal todos sabem: “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” -- é Deus! ²
Os habitantes da Terra, em boa parte, têm o desejo de “fazer amor”. Total irreflexão: não é possível “fazer” um sentimento. Embora o sentimento do amor já se encontre em cada indivíduo -- em estado latente, desde sua origem --, ainda não se compreendeu que somente o seu exercício voluntário e persistente poderá revesti-lo do potencial transformador de seu próprio estado espiritual.
Tudo deve ser realizado com amor, mas isso depende da existência desse sentimento desenvolvido naquele que se propõe realizar algo! Realizar com amor é ter clareza do que se faz, vislumbrar seus efeitos e respeitar o direito dos outros.
O sentimento amor é incompatível com tudo o que não deriva dele. A simpatia, a compreensão, a bondade, o perdão e todos os sentimentos tendentes ao bem fluem do amor. Mas a inveja, o ódio, o rancor, a vingança e tudo o que caminha na direção do mal são a sua ausência. Somente a mudança íntima, sincera e voltada para o bem é capaz de despertar o amor que dormia adormecido, mas existia no ser que tinha preferência para o que lhe era avesso.
Isso me faz lembrar de algum escrito de Chico Xavier³ que devemos ser como o algodão que envolve em maciez a pedra que o atinge — essa é uma possível imagem material do amor, assim entendo.
Deus, sendo todo amor e bondade, oferece os seus atributos -- dos quais as criaturas nem imaginam a existência -- num silêncio eterno, que se manifesta em todo o Universo.
Onde percebermos o belo, o harmônico, assim como a alegria e felicidade verdadeiras, estamos contemplando o amor que sorri para quem ama. No entanto, isso não será percebido por aquele em quem o sentimento do amor não vibra na alma. É preciso ter “olhos de ver”, “ouvidos de ouvir” e alma amorosa para sentir.
O amor existe em cada indivíduo, como a semente que precisa acordar e vencer as camadas que a cobrem até apresentar os seus frutos. Todos os Espíritos do Universo surgiram da Fonte Incriada — que é o fulcro do amor — impregnados com tal sentimento, num princípio de riqueza a ser desenvolvido, para que o mérito lhes pertença. Tudo isso, num silêncio profundo dos tempos.
Amor silente!
Dorival da Silva.
¹ Meimei (Espírito), na mensagem: Melodia do Silêncio (14), da obra: Instruções Psicofônicas, psicografia de Francisco Cândido Xavier (10-06-1954).
² O livro dos Espíritos, questão 1, Allan Kardec.
³ Chico Xavier, Francisco Cândido Xavier, médium espírita, tinha como mentor o Espírito Emmanuel, psicografou cerca de 450 obras, de Espíritos diversos, nasceu em 1910 e desencarnou em 2002.