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domingo, 11 de julho de 2021

Alguém fez uma viagem definitiva!

                      Alguém fez uma viagem definitiva!   

Há bom tempo vi um filme que não lembro o nome, neste um menino que sofria de doença terminal perguntava para o seu médico se ele sabia como era morrer, o médico desviava o assunto, mas o garoto insistia e explicava: quando dormimos no sofá e alguém nos leva para a cama, nós dormimos num lugar e acordamos em outro, morrer é a mesma coisa, adormecemos aqui e acordamos do outro lado desta vida.  Essa analogia infantil revela grande verdade.  

 

Neste ano e alguns meses de pandemia quantas famílias viram seus entes entrarem num sono e não despertarem deste lado da vida.  

 

Filhos e filhas, mães e pais, avós... não se encontram presentes em seus lares, no Brasil passam de quinhentos mil e no Mundo mais de quatro milhões, num átimo de tempo deixaram seus afazeres, seus planos, os seus amores, cessaram as rotinas diárias na jornada terrena.  

 

Para todas as pessoas amorosas pelos seus, essas ocorrências são muito difíceis de vivenciar, no entanto, ficam mais doloridas para aquelas que não conhecem o mecanismo da morte, após fechados os olhos e aquietados os sinais vitais do corpo.  Não é fácil conceber que aquela pessoa que amamos a partir desse ponto não é o corpo que permitia a sua proximidade, demonstrava as reações e realizava as suas tarefas sob nossas percepções. Em conta disso que se diz que o corpo de fulano foi inumado, e não que o tal fulano foi enterrado.  Pois, não se leva para o cemitério o nosso familiar querido e sim o seu corpo, em conta o respeito que devemos àquele que o habitava. 

 

A vida é sempre uma continuidade, é certo que existe um tempo de adaptação à nova realidade, às vezes aprender como se vive sem o corpo pesado, liberar-se dos reflexos de hábitos que se tornaram comuns no dia a dia da vida material, encaminhar-se para trabalhos novos, relacionamentos sociais diferentes, sem, no entanto, esquecer daqueles que ficaram, porque a saudade não acontece somente para os que permanecem, do outro lado isso pode ser bem mais intenso.  

 

É preciso que tenhamos consciência que a vida normal do Espírito é aquela que dizemos do outro lado desta vida, fora do corpo físico. Existe um equívoco de entendimento, a vida que conhecemos no corpo é passageira, todos sabemos. A vida do Espírito não se interrompe. O Ser espiritual entra num corpo, quer dizer, passa pelo processo de reencarnação, através da gravidez, que requer a coparticipação do pai e da mãe, como recurso evolutivo.   

 

A inteligência se desenvolve mais rapidamente com as necessidades que o mundo material impõe, tanto quanto desenvolve o senso moral com as vivências oportunizadas em cada fase da vida. O objetivo fatal do indivíduo é chegar a um estado de perfeição, o que acontecerá com seus próprios esforços, livrando-se de retornar a um corpo pesado. Em conta disso, as inumeráveis reencarnações.  Se não fosse esse processo de evolução constante, embora na velocidade que cada um se impõe, estaríamos ainda na idade da pedra. 

 

Os nossos amores vão, ou nos antecipam na viagem definitiva  à presente experiência que todos estamos vivendo, assim, todos iremos. Aqueles que nos anteciparam, estarão nos aguardando o retorno, como os que anteciparam àqueles também os aguardavam. 

 

A estrutura social que conhecemos aqui no mundo material, como diz algumas obras psicografadas, é cópia um tanto desfigurada da estrutura social do mundo espiritual, correspondendo ao estado evolutivo em que nos encontramos. Como as necessidades do Espírito, em relação às questões materiais mudam significativamente, mas com relação às condições emocionais e espirituais há continuidade, os reflexos dos condicionamentos da vestimenta carnal e dos hábitos exigem acomodação.  

 

Para atender essas necessidades, existem colônias e cidades organizadas com hospitais e todos os departamentos especializados nas questões da saúde espiritual, dispõem de escolas e universidades (certamente não com estas denominações) que proporcionam a melhor formação e especialização de diversas Ciências, tanto quanto diversos segmentos nos variados níveis evolutivos intelectuais e morais. 

 

Jesus, o Cristo, sendo Mestre e Guia da Humanidade, o que quer dizer, de todos os que estamos envergando por ora um corpo de carne e aqueles que estão na vida espiritual, assim se compõe a Humanidade do nosso Planeta, deixou claro: “A cada um segundo as suas obras.”   Como se trata de verdade inderrogável, não há dúvida que existem Espíritos felizes e outros que nem tanto, e até mesmo muitos que são infelizes nas paragens espirituais. Isto se pode constatar na nossa própria comunidade no dia a dia, no outro lado da vida não é diferente.  

 

A comunicação entre o aqui e o acolá da vida se dá pelo pensamento, este é o celular do Espírito, assim podemos grosseiramente comparar. O pensamento quando bem utilizado, com equilíbrio, sobriedade e amoroso proporciona  alegria, esperança, motivação nobre àquele que o recebe, de lá e de cá. Quando em desalinho moral, desequilibrado, agressivo, impertinente causa mal-estar, angústia, revolta, ódio proporcionando desconforto o que poderemos considerar uma obsessão (influência persistente exercida por espírito inferior, malfazejo). 

 

A Doutrina Espírita tem em seus postulados o lema: “Fora da caridade não há salvação.”, o que congrega respeito ao próximo, respeitando as condições morais e intelectuais, mesmo que divergentes, exercitando a benevolência para com todos e perdão das ofensas. Assim, cabe respeitar àquele que deixou a matéria, com a morte do corpo, independente do seu histórico de vida, cabendo a oração a seu benefício, porque todos temos algum ajuste a fazer diante da própria consciência, por isso, ainda, não somos perfeitos.  

 

O Evangelho de Jesus tem a finalidade de aclarar os caminhos do Espírito na sua jornada evolutiva, tanto faz se está envergando a indumentária carnal ou posteriormente na vida espiritual, porque Jesus ensinou ao Espírito, mas, desejoso de que, quando do lado de cá se preparasse adequadamente para chegar no outro lado desta jornada em melhor condição, se possível, apto a galgar outro estágio evolutivo, porque o êxito de Seus esforços como Governador da Terra é a melhoria espiritual de todos os que estão sob o seu comando.  Qual mestre não se sentiria realizado vendo que seus alunos venceram um estágio e se habilitaram para outro patamar evolutivo mais complexo? 

 

A morte do corpo libera o seu habitante para retornar ao lar espiritual, de onde veio, lá permanecerá se preparando por um certo tempo, que poderá ser de curto prazo e até por período secular, visando nova jornada reencarnatória (em novo corpo),  dependendo das necessidades e do estado de consciência de cada indivíduo, em grande parte é o próprio Espírito que requer o seu retorno à vida material, pois é nela que se refaz de seus pesares, conserta os seus erros, reverte as antipatias e se harmoniza com a própria consciência. 

 

É natural ter receio da morte, trata-se da preservação da vida -- até os irracionais têm esse temor, tanto que lutam com todos as suas forças para manter a sua existência --, e desejar a morte, mesmo que esteja em estado terminal, é contrassenso, pois, em alguns minutos ou poucas horas num corpo em estado de dificuldades extremas o Espírito poderá resolver problemas espirituais de séculos,  libertando-se definitivamente de certas peias morais que o infelicitavam.  

 

A saudade dos que viajaram para a espiritualidade é laço de amor, proporciona alegria e renova a motivação para a caminhada que não termina, vez que a perfeição ainda está distante e a vida é para sempre. 

 

                                      Dorival da Silva               

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Fraternidade!

 

Fraternidade!

       “Mas, infelizmente, meus amigos, não pudestes compreender ainda a grande significação da palavra -- Fraternidade!

        Não é um termo, é um fato; não é uma palavra vazia, é um sentimento, sem o qual vos achareis sempre fracos para essa luta que vós mesmos não podeis medir, tal a sua extraordinária grandeza! ”

        O registro em destaque foi extraído de mensagem psicografa em 1899, por Allan Kardec, com o título: Instruções aos Espíritas do Brasil, sendo que outras referências colheremos no texto; não é exagero considerar como carta direcionada pessoalmente a cada liderança espírita, de qualquer nível, tanto quanto a todos os espíritas conscientes de suas responsabilidades diante de si mesmos e do Movimento Espírita.

        Chama a nossa atenção a ênfase dada à “Fraternidade”, dizendo que “Não é um termo” e, sim, “que é um fato”.   Um fato é algo verdadeiro e definitivo.

        À época lamentava que não se tinha compreendido a “significação da palavra Fraternidade”, que não era “um termo” e nem “uma palavra vazia”, mas “um sentimento”.  Depois de mais de um século do recebimento desta mensagem e os esforços do Mundo Espiritual e das lideranças de maior vulto no Movimento Espírita é de se lamentar que o sentimento de fraternidade ainda não faz morada no coração da maioria dos que se denominam espíritas. Sentimento é vivência, é consciência, é fazer parte – não como um elemento – mas como uma força resultante de aprimoramento moral e intelectual no bem, que se torna luz, que clareia e incentiva que outros também se encandeçam.  Onde essa luz-consciência chega o mal não faz morada.

                                               *  *  *

       “Ismael tem o seu Templo, e sobre ele a sua bandeira – Deus, Cristo e Caridade! Ismael tem a sua pequenina tenda, onde procura reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram por verdadeira: chama-se Fraternidade!

        Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é: Deus, Cristo e Caridade? ”

        O espírito Allan Kardec vem falar do Templo do Anjo Ismael, que no Brasil se conecta à organização da Federação Espírita Brasileira, como canal que permite fluir as orientações do Mundo Espiritual para a Terra. Agora Ismael tem uma pequenina tenda”, uma referência espiritual percebida no Mundo material.   Naquele momento, fazia pouco tempo que a Federação havia tomado forma, mesmo que inicialmente, como federativa.

        O Anjo Ismael, como o Espírito do Codificador, anuncia: “onde procura reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram por verdadeira: chama-se Fraternidade! ”.

        O que pesa nos ombros dos espíritas vacilantes é o questionamento: “Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é: Deus, Cristo e Caridade?“

“Como, e de que modo?

        Meus amigos! É possível que eu seja injusto para convosco naquilo que vou dizer: o vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a Doutrina – mas com o que interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. Esse trabalho, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes nos vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ele assenta, dais entrada constante e funesta àquele que, encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará com todo o peso da sua iniquidade. ”

        A tenda de Ismael, que era pequenina no final do século XIX, hoje se encontra em todo o Território Nacional, por meio da rede das Federativas Estaduais e seus departamentos, ramificando-se pelas Casas Espíritas em grande parte das cidades do País.

        No entanto, o questionamento: Como, e de que modo? “ -- ainda não encontra resposta satisfatória, apesar dos grandes esforços realizados em treinamentos e orientações emanadas da Casa Mater do Espiritismo e das Federativas Estaduais.  O Movimento Espírita Nacional sofre por interpretação equivocada da Doutrina Espírita, com estudos sem abrangência, ou mesmo sem estudos, adicionando por achismo pensamentos que não condizem com os ensinamentos colhidos pelo Codificador, desfigurando a unidade doutrinária. Kardec é categórico na orientação: “(...): o vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a Doutrina – mas com o que interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. “

        Na própria argumentação: Esse trabalho, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes nos vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ele assenta, dais entrada constante e funesta àquele que, encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará com todo o peso da sua iniquidade. ”  -- mostra que a desatenção à orientação doutrinária, apresenta risco para os que a abraçam, com o propósito de levar à Humanidade a Terceira Revelação das verdades Divinas, ou seja, ampliar os conhecimentos da Boa Nova trazida por Jesus e desvelando a vida do Mundo Espiritual, a reencarnação… Há forças contrárias, perseguidoras do Cristo, que utilizam de todos os meios para O desacreditar, com infiltração de ideias destoantes com os ensinamentos Divinos, junto a seus seguidores, principalmente os de liderança.

        A união de sentimentos sinceros dos Espíritas com os objetivos Doutrinários é a argamassa da Fraternidade que produz o fortalecimento seguro do Movimento Espírita, congregando corações que se renovam porque buscam se conhecer, aplicando a si mesmos as lições do Crucificado.  Esses formam a família-sentimento, que faz o bem e sabe reconhecer o mal, não se iludindo e nem  permitindo-se cair em engano.

                                          *   *    *

        “Entretanto, dar-se-ia o mesmo se estivésseis unidos? Porventura acreditais na eficiência de um grande exército dirigido por diversos generais, cada qual com o seu sistema, com o seu método de operar e com pontos de mira divergentes? Jamais! Nessas condições só encontrareis a derrota, porquanto – vede bem --, o que não podeis fazer com o Evangelho: unir-vos pelo amor do bem, fazem os vossos inimigos, unindo-se pelo amor do mal!

        Eles não obedecem a diversas orientações, nem colimam objetivos diversos; tudo converge para a Doutrina Espírita – Revelação da Revelação – que não lhes convém e que precisam destruir, para o que empregam toda a sua inteligência, todo o seu amor do mal, submetendo-se a uma única direção!

        A luta cresce dia a dia, pois que a vontade de Deus, iniciando as suas criaturas nos mistérios da vida de além-túmulo, cada vez mais se torna patente. Encontrando-se, porém, os vossos Espíritos em face da Doutrina, no estado precário que acabo de assinalar, pergunto: Com que elemento contam eles, os vossos Espíritos, na temerosa ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade? “

        O lema é: união.  União de sentimentos convergentes é para o que está exarado na Doutrina Espírita. Por que ela é o fulcro da verdade, é o ponto de intersecção da compreensão entre os dois mundos, por onde flui a promessa de Jesus. Isso é o mesmo que dizer que o Mestre, através de sua luz, faz rebrilhar a essência de seus ensinamentos, que cada um colhe com a ânfora de sentimentos que interagem com àqueles.  

        A mensagem é a do Cristo, na carne a verbalizou e a demonstrou. No possível, visou retornar no futuro, quando os homens tivessem mais condições. Ele se fez presente no tempo próprio, apresentou a “Revelação da Revelação”  e não deixou de ampliá-la através de seus mensageiros, que utilizam a ferramenta mediúnica para verter revelações complementares, e o fará constantemente de acordo com as possibilidades dos homens.

        O Anjo Ismael grafou em sua bandeira o signo da unidade: “Deus, Cristo e Caridade” -- Deus, a origem de tudo; Cristo, o caminho por onde a verdade percorre  para chegar ao Mundo, límpida; e a Caridade, a virtude-meta, que todos deverão alcançar, certificando ao Criador o estágio de lucidez da consciência espiritual de cada criatura, reconhecimento e coroamento dos esforços de Jesus e seus prepostos de todos os tempos.

        Não é hora de tirar os olhos e os sentidos do estandarte do Anjo Ismael, que está fincado na Federação Espírita Brasileira. Este é o manancial das orientações do Cristo que se irradia para os Estados, chegando aos Centros Espíritas para encontrar os corações e mentes sedentos das claridades Divinas, que lhes proporcionem paz e esperança.   

        A obediência doutrinária é a direção norteadora para os Espíritas. Não há razão para acolher ou atender sugestões estranhas a título de modernidade ou de atualização da codificação espírita. Mesmo porque, no necessário, os próprios mensageiros do Cristo fazem com frequência as ampliações necessárias, através de obras complementares. A direção é a de Jesus.

        Qual a razão de se comprometerem com novidades que deslustram a verdade Doutrinária: Com que elemento contam eles, os vossos Espíritos, na temerosa ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade? “

        Que contas prestar à própria consciência? Como enfrentar Aquele que trouxe a Boa Nova e cumpriu a promessa de que rogaria ao Pai e Ele mandaria o Consolador para relembrar o que tinha ensinado e colocar à disposição de todos aquilo que não pôde ensinar, porque faltava ao homem recursos suficientes para a compreensão?  

 *  *  *

Nota: Os excertos de cor azul e em itálico que foram colhidos da mensagem do  Espírito Allan Kardec, recebida pelo médium Frederico Pereira da Silva Junior, na Sociedade Espírita Fraternidade, no Rio de Janeiro-RJ, em 1889. A mensagem integral foi publicada no Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, nas edições de abril (n.º 1629), maio (n.º 1630) e junho (n.º 1631) do ano de 2020.

     A mensagem em referência é ampla em orientações. Mesmo as partes que separamos poderiam embasar muitos outros comentários pela sua profundidade doutrinária e psicológica, mas o nosso objetivo foi enfatizar a  "Fraternidade".

                                               Dorival da Silva

 

terça-feira, 9 de junho de 2020

Povo bom!

Povo bom!

Brasil, brasileiro, brasilidade.

O que vemos? Que observamos?

Tempos difíceis. A pandemia grassa!

Recolhimentos, distanciamentos…

Abrem, reabrem, não abrem as atividades, aturdem.

O emprego se esvai, as empresas menores estorcegam.

O Ente Federal obnubila-se.

A torrente viral corre para o interior do País.

Rastro de derrota deixa corpos sem vida.

Cemitérios enxameados de covas abertas.

Hospitais insuficientes para tanta enfermidade.

Corações amorosos atormentados, aflitos, desesperados.

Amores entregues para socorro sem a certeza do retorno.

Médicos, Enfermeiros, Assistentes atordoados, exaustos.

A fé, a confiança no Criador, apazígua os sofrimentos.

A morte é objeto de notícias, de estatísticas, discussões, críticas…

As divergências políticas em torno da pandemia, da morte… não cessam.

O Povo sofre as dificuldades de toda ordem, vê enterrarem seus entes em cava rasa.

A dependência do Poder para atender necessidades prementes permanece exposta.

O coração está dolorido, a revolta está contida, o sofrimento é para os fortes, a esperança é para quem tem fé, amanhã será…

Àquelas empresas mais fortes e muitos, de muitos recursos, fazem sua parte, compram equipamentos e insumos hospitalares, constroem hospitais de emergência, financiam pesquisas para medicamentos e vacina capaz de dominar o vírus intruso.

Muitos na linha de frente de atendimento aos infectados adoecem e alguns morrem, são os heróis anônimos, só Deus os recompensará!

Povo que tudo suporta. Chora suas dores. Convive com as insuficiências do indispensável. A tristeza toma conta. A saudade dos que se ausentaram instiga sentimentos de toda ordem. Amanhã é outro…

Sofre, suporta, espera… 

Pacífico, tolerante, amoroso, cordato, fraterno, amigo, o perdão é sua bandeira.

Povo bom!

                                                 Dorival da Silva

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Encontro em Hollywood


Encontro em Hollywood

Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire Boulevard,  em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do Memoriam Park Cemetery, entre o nosso caminho e os jardins de Glendon Avenue.
A formosa mansão dos mortos mostrava grande movimentação de Espíritos libertos da experiência física, e entramos. 

Tudo, no interior, tranquilidade e alegria. 

Os túmulos simples pareciam monumentos erguidos à paz, induzindo à oração. Entre as árvores que a primavera pintara de verde novo, numerosas entidades iam e vinham, muitas delas escoradas umas nas outras, à feição de convalescentes, sustentadas por enfermeiros em pátio de hospital agradável e extenso. 

Numa esquina que se alteava com o terreno, duas laranjeiras ornamentais guardavam o acesso para o interior da pequena construção que hospeda as cinzas de muitas personalidades que demandaram o Além, sob o apreço do mundo. A um canto, li a inscrição: “Marilyn Monroe – 1926-1962”.  Surpreendido, perguntei a Clinton, um dos amigos que nos acompanhavam:

-- Estão aqui os restos de Marilyn, a estrela do cinema, cuja história chegou até mesmo ao conhecimento de nós outros, os desencarnados de longo tempo no Mundo Espiritual? 

-- Sim – respondeu ele, e acentuou com expressão significativa: -- não se detenha, porém, a tatear-lhe  a legenda mortuária... Ela está viva e você pode encontrá-la, aqui e agora...

-- Como?

O amigo indicou frondoso olmo chinês, cuja galharia compõe esmeraldino refúgio no largo recinto, e falou:

-- Ei-la que descansa, decerto em visita de reconforto e reminiscência...

A poucos passos de nós, uma jovem desencarnada, mas ainda evidentemente enferma, repousava a cabeleira loura no colo de simpática senhora que a tutelava. Marilyn Monroe, pois era ela, exibia a face desfigurada e os olhos tristes. Informados de que nos seria lícito abordá-la, para alguns momentos de conversa, aproximando-nos, respeitosos. 

Clinton fez a apresentação e aduzi:

-- Sou um amigo do Brasil que deseja ouvi-la.

-- Um brasileiro a procurar-me, depois da morte? 

-- Sim, e porque não? – acrescentei – a sua experiência pessoal interessa a milhões de pessoas no mundo inteiro...

E o diálogo prosseguiu:

-- Uma experiência fracassada...

-- Uma lição talvez.

-- Em que lhe poderia ser útil?

-- A sua vida influenciou muitas vidas e estimaríamos receber ainda que fosse um pequeno recado de sua parte para aqueles que lhe admiraram os filmes e que lhe recordam no mundo a presença marcante...

-- Quem gostaria de acolher um grito de dor?

-- A dor instrui...

-- Fui mulher como tantas outras e não tive tempo e nem disposição para cogitar de filosofia. 

-- Mas fale mesmo assim...

-- Bem, diga então às mulheres que não se iludam a respeito de beleza e fortuna, emancipação e sucesso... Isso dá popularidade e a popularidade é um trapézio no qual raras criaturas conseguem dar espetáculos de grandeza moral, incessantemente, no circo do cotidiano. 

-- Admite, desse modo, que a mulher deve permanecer no lar, de maneira exclusiva? 

-- Não tanto. O lar é uma instituição que pertence à responsabilidade tanto da mulher quanto do homem. Quero dizer que a mulher lutou durante séculos para obter a liberdade...  Agora que a possui nas nações progressistas, é necessário aprender a controlá-la. A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...

Pensei alguns momentos na fama daquela jovem que se apresentara à Terra inteira, dali mesmo, em Hollywood, e ajuntei:

-- Miss Monroe, quando se refere à liberdade da mulher, você quer mencionar a liberdade do sexo?

-- Especialmente. 

-- Porquê?

-- Concorrendo sem qualquer obstáculo ao trabalho do homem, a mulher, de modo geral, se juga com direito a qualquer tipo de experiência e, com isso, na maioria das vezes compromete as bases da vida. Agora que regressei à Espiritualidade, compreendo que a reencarnação é uma escola com muita dificuldade de funcionar par o bem, toda vez que a mulher foge à obrigação de amar, nos filhos, a edificação moral a que é chamada.

-- Deseja dizer que o sexo...

-- Pode ser comparado à porta da vida terrestre, canal de renascimento e renovação, capaz de ser guiado para a luz ou para as trevas, conforme o rumo que se lhe dê. 

-- Ser-lhe-ia possível clarear um pouco mais este assunto? 

-- Não tenho expressões para falar sobre isso com o esclarecimento necessário; no entanto, proponho-me a afirmar que o sexo é uma espécie de caminho sublime para a manifestação do amor criativo, no campo das formas físicas e na esfera das obras espirituais, e, se não for respeitado por uma sensata administração dos valores de que se constitui, vem a ser naturalmente tumultuado pelas inteligências animalizadas que ainda se encontram nos níveis mais baixos da evolução. 

-- Miss Monroe – considerei, encantado, em lhe ouvindo os conceitos --, devo asseverar-lhe, não sem profunda estima por sua pessoa, que o suicídio não lhe alterou a lucidez.

-- A tese do suicídio não é verdadeira como foi comentada – acentuou ela sorrindo. – Os vivos falam acerca dos mortos o que lhes vem à cabeça, sem que os mortos lhes possam dar a resposta devida, ignorando que eles mesmos, os vivos, se encontrarão, mais tarde, diante desse mesmo problema... A desencarnação me alcançou através de tremendo processo obsessivo. Em verdade, na época, me achava sob profunda depressão. Desde menina, sofri altos e baixos, em matéria de sentimento, por não saber governar a minha liberdade... Depois de noites horríveis, nas quais me sentia desvairar, por falta de orientação e de fé, ingeri, quase semi-inconsciente, os elementos mortíferos que me expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose  de pílulas mensageiras do sono...

-- Conseguiu dormir na grande transição?

-- De modo algum. Quando minha governanta bateu à porta do quarto, inquieta ao ver a luz acesa, acordei às súbitas da sonolência a que me confiara, sentindo-me duas pessoas a um só tempo... Gritei apavorada, sem saber, de imediato, identificar-me, porque lograva mover-me e falar, ao lado daquela outra forma, a vestimenta carnal que eu largara...  Infelizmente para mim, o aposento abrigava alguns malfeitores desencarnados que, mais tarde, vim a saber, me dilapidavam as energias. Acompanhei, com indescritível angústia, o que se seguiu com o meu corpo inerme; entretanto, isso faz parte de um capítulo do meu sofrimento que lhe peço permissão para não relembrar...

-- Ser-lhe-á possível explicar-nos porque terá experimentado essa agudeza de percepção, justamente no instante em que a morte, de modo comum, traz anestesia e repouso?

-- Efetivamente, não tive a intenção de fugir da existência, mas, no fundo, estava incursa no suicídio indireto. Malbaratara minhas forças, em nome da arte, entregando-me a excessos que me arrasaram as oportunidades de elevação... Ultimamente, fui informada por amigos daqui de que não me foi possível descansar, após a desencarnação, enquanto não me desvencilhei da influência perniciosa de Espíritos vampirizadores a cujos propósitos eu aderira, por falta de discernimento quanto à leis que regem o equilíbrio da alma. 

-- Compreendo que dispõe agora de valiosos conhecimentos, em torno da obsessão...

-- Sim, creio hoje que a obsessão, entre as criaturas humanas, é um flagelo muito pior que o câncer. Peçamos a Deus que a ciência no mundo se decida a estudar-lhe os problemas e resolvê-los...

A entrevistada mostrava sinais de fadiga e, pelos olhos da enfermeira que lhe guardava a cabeça no regaço amigo, percebi que não me cabia avançar.

-- Mis Monroe – concluí --, foi um prazer para mim este encontro em Hollywood. Podemos, acaso, saber quais são, na atualidade, os seus planos para o futuro?

Ela emitiu novo sorriso, em que se misturavam a tristeza e a esperança, manteve silêncio por alguns instantes e afirmou:

--Na condição de doente, primeiro, quero melhorar-me... Em seguida, como aluna no educandário da vida, preciso repetir as lições e provas em que fali...  Por agora, não devo e nem posso ter outro objetivo que não seja reencarnar, lutar, sofrer e reaprender...

Pronunciei algumas frases curtas de agradecimento e despedida e ela agitou a pequenina mão num gesto de adeus. Logo após, alinhavei estas notas, à guisa de reportagem, a fim de pensar nas bênçãos do Espiritismo Evangélico e na necessidade da sua divulgação.

Escrito extraído da obra:  Estante da Vida, pelo Espírito Irmão X,  psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 1, publicada em 1969.
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NOTA:


  Iniciando a leitura da obra referida, deparei de início com essa “reportagem do além” com entrevista de personagem de grande influência na arte cinematográfica do século XX, pelo Espírito Irmão X, que foi jornalista no Brasil, que apresenta muitos pontos para análise na atualidade da nossa sociedade, o que faremos apenas referência, deixando a reflexão a critério dos leitores.


1. Relato pelo próprio Espírito de como realmente se deu a sua morte na última existência na Terra.


2. Os cuidados que o Espírito recebe para o seu restabelecimento e a consciência de seu retorno nas lides onde faliu.


3. A consciência de que o seu comportamento e os excessos na vida lhe trouxeram desequilíbrio que a levaram à morte.


4. Dá clareza à questão da liberdade da mulher, apontando: “A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...”


5. Avalia a questão da morte, de que nem tudo o que se diz ou se conclui sobre certas ocorrências, embora as aparências, são verdadeiras. 


Outros pontos poderiam ser levantados, mas ficaremos com esses que anotamos.


                                       Dorival da Silva