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quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Justiça, segurança…!

                       Justiça, segurança…! 

Atualmente, existem trabalhos intensos dos órgãos governamentais para gerar leis que contenham a criminalidade crescente, visando, pretensamente, à segurança das pessoas e das organizações sociais.  

Estuda-se uma lei mais severa para conter a criminalidade crescente e sofisticada; igualmente, a criação de fundos que financiem a sua aplicação. Esses trabalhos e embates extenuantes entre parlamentares são esforços para adequar visões e entendimentos divergentes. 

O reajuste e a modernização das leis são necessários de tempos em tempos. No entanto, tratam-se de artifícios apaziguadores de um mal crônico e crescente.  

A violência e o crime têm origem no próprio ser humano, cuja educação inicial é inexistente ou distorcida de fundamentos morais sadios e nobres 

Esse mal social não é encontrado somente no indivíduo iletrado ou de poucas letras, mas também naqueles titulados e, às vezes, nos doutores da própria lei.  

Alegoricamente, é um sucessivo apagar de incêndios, que constantemente se ampliam e se tornam mais complexosPois o combustível desse mal está no próprio componente da sociedade, que alimenta ânsias e intenções deformadas. Pretende-se obter riqueza e poder sem a fundamentação nos valores morais de respeito e justiça em relação ao seu próximo. O próximo é todo indivíduo alcançado pela influência — benéfica ou não — de quem age, podendo abranger uma sociedade, um país ou o mundo inteiro.  

O problema central está na educação chamada “educação de berço” — educação de dentro de casa. Esse é o grande pilar da segurança e da justiça global. No entanto, é preciso perguntar se isso será possível, considerando a preferência pela modernidade de tudo, que transfere as obrigações e deveres próprios para terceiros, para os aplicativos e equipamentos tecnológicos. Com issoos pais se despreocupam de suas obrigações, deveres e responsabilidades prementes, ou seja, a verdadeira educação moral de seus filhos.   

Ainda é preciso inquirire aqueles que não tiveram boa formação educacional de casa, como poderão oferecer a educação moral indispensável aos seus dependentes, se grande parte da formação moral de um indivíduo depende dos exemplos colhidos dos pais e, depois, do próprio meio onde vive? 

Relembrando ensinamentos de obra básica da Doutrina Espírita¹, colhemos o trecho abaixo:  

Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.”  

 

O indivíduo que não teve sólida formação moral no lar, ao adentrar os meios formativos e as relações sociais, com as modernas liberdades convencionais — “tudo é permitido e tudo é direito” —, não tendo em si anteparo, o filtro moral, para fazer contraponto ao que surgir, refletindo sobre o que deve ou não aceitar, pode entrar, sem resistência, por caminho que não lhe seja favorável. Tendo seguido por caminho inadequado e praticado algum delito, o retorno, ou a recuperação ao estado de normalidade é pouco provável. Fica o estigma do desvio e a sociedade é implacável em seu julgamento. Certamente, seguirá à margem social, pela falta de oportunidade, em vista de seu histórico, envolvendo-se mais intensamente com a criminalidade — ressalvadas algumas exceções 

Allan Kardec se ocupa da reflexão sobre a Lei do Trabalho, na questão 685 de O Livro dos Espíritos, publicado em 1857, sendo que o trecho a ser transcrito abaixo corrobora o entendimento do tema deste texto:  

Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.² (Mantida a ortografia vigente quando da publicação da edição utilizada). 

A justiça e a segurança dependem da formação moral dos indivíduos de uma sociedade. Quando a justiça e a segurança precisam ser impostas por leis civis e criminais, isso demonstra o quanto aquela sociedade necessita de educação. 

Não é difícil entender que, sem uma família bem constituída, tendo como base princípios morais positivosseus filhos não encontrarão comportamentos e ensinamentos educativos virtuosos nos quais se espelharGeralmente, darão continuidade aos costumes familiares, pois assim acham certo, replicando-os aos seus descendentes. Por conta disso, forma-se um círculo vicioso crescente. 

Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.”  

“A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. 

Frisamos, acima, dois apontamentos de Allan Kardecfeitos no ano de 1857, portanto há 168 anos, por se tratarem de uma verdade que não caducou, sendo perfeitamente válidos para a sociedade de nosso tempo.  

Sem o desenvolvimento moral e a lucidez espiritual dos indivíduos, iniciando-se na infância e no ambiente doméstico, a justiça e a segurança sempre estarão comprometidas — dependentes de constantes arregimentações de novas leisrecursos humanos e financeiros, sem solução satisfatória. A recomendação do Codificador nos leva a afirmar que a violência e os males sociais, que geram impactos negativos na justiça e na segurança pública, dependem da neutralização das matrizes do mal, com a educação iniciada nos lares. Os investimentos governamentais precisam ter foco na educação básica, em um esforço de melhor estruturação das famílias. 

Somente o intelectualismo não garante nem a justiça e nem a segurança social. 

Todos os indivíduos precisam ter consciência que uma sociedade justa e segura nasce das ações nobres, sendo que cada pessoa é um ponto constitutivo da grande teia social, que terá a qualidade oferecida por seus componentes. Não há o que esperar de outros ou de governos: é preciso que cada um faça a sua parte, começando por aprimorar a sua própria educação moral e exemplificar para os que estão sob a sua responsabilidade.  

Não há dúvida: sem educação moral exercitada em casa, ninguém estará seguro em nossa sociedade. Pois é no lar que tudo começa!    

                          Dorival da Silva                         

1. O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. V, item 4, Causas atuais das aflições, Allan Kardec (Paris, abril 1864)Ed. FEB.  

2. O Livro dos Espíritos, questão 685, parte III, cap. 3 – Da Lei do Trabalho, Allan Kardec (Paris, 18/4/1857), Ed. FEB. 



Nota: As obras básicas da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese) podem ser baixadas gratuitamente do sítio da Federação Espírita Brasileira (FEB), através do endereço eletrônico abaixo: