Milagre! Existe, ou não?
“Não é, pois, da alçada do
Espiritismo a questão dos milagres; mas, ponderando que Deus não faz coisas
inúteis, ele emite a seguinte opinião: Não sendo necessários os milagres para a
glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais.
Deus não faz milagres, porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe
é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos
faltam os conhecimentos necessários. ” ¹
1. A
Gênese, capítulo XIII, item 15, Allan Kardec.
Existem
ocorrências que têm aparências de fatos extraordinários, que se lhes atribuem
sentidos miraculosos. Entretanto, são situações que se dão por Leis Naturais
desconhecidas daqueles que propagam os fatos, com base numa interpretação
inadequada, nas mais das vezes calcada numa fé cega, quando não se exige
explicação.
Os
fatos materiais que nos séculos passados não tinham explicações, com o
desenvolvimento da Ciência e conhecidas as Leis Naturais que as provocavam,
caíram no domínio popular e perderam a condição extraordinária.
No
entanto, vive-se ao mesmo tempo duas realidades, a material e a espiritual. Se os fenômenos materiais a Ciência os elucidaram
suas origens e manifestações, o mesmo não se dá com as ocorrências que têm
origem no elemento espiritual. Esses são muito mais complexos, pois que são
fenômenos inteligentes, acompanhados de emoções, vontades... Trata-se de
manifestação de espírito humano, que outrora habitou num corpo, o que se
repetiu muitas vezes, sendo que em cada oportunidade em corpo diferente, novo.
Há
interferência do mundo espiritual sobre o mundo material, ou seja, os espíritos
desencarnados agem sobre os que estão encarnados, auxiliando naquilo de que
necessitam, ajudando na solução de seus problemas, quando podem, o que quer
dizer, quando a Lei Natural permite. O que corresponde ao mérito já conquistado
do paciente encarnado, ou a sua resolução firme de alteração do estado
espiritual existente. Há, também, a interferência do espírito encarnado sobre o
desencarnado, sendo permanente a via de duas mãos.
Falar-se
em “milagre”, entendendo-se como fato extraordinário, inexplicável, sem
conhecimento do processo de atendimento, o que, ocorrendo nessas condições, favorecendo
um em detrimento de outrem, seria privilégio de um em relação à multidão de
necessitados, o que é uma injustiça, pois, se serve a um deveria servir a
todos.
A
Lei Divina é a Lei Natural, é imutável, não serve exclusivamente a nenhuma
criatura, em parte nenhuma do Universo, porque é Lei de Justiça, Lei de Amor.
As
dificuldades existentes, as doenças, os aleijões, as misérias e tantas outras
coisas que provocam o sofrimento nada mais são que o estado espiritual dos que
sofrem, é o distanciamento em que a criatura se encontra do estado de
perfeição, individual ou coletivamente.
Jamais
a Lei Divina será derrogada para dar exclusividade para esta ou aquela
criatura, pois o ser maior de que se denomina Deus, que tem toda a perfeição,
no grau absoluto, caso permitisse qualquer oscilação da sua perfeição deixaria
de ser o Ser Onipotente.
Existem
muitas ocorrências que o vulgo não encontra explicação, porque desconhece as
causas, porque acolhe e se satisfaz intelectual e emocionalmente com uma
explicação estanque, com a insígnia indiscutível denominada “milagre”. O que dá solução imediata a todas possíveis
indagações sobre a ocorrência, eliminando-se todo o trabalho de análise,
pesquisa, buscas trabalhosas para o entendimento.
No
entanto, Deus rege todas as coisas através das Leis Naturais, Suas Leis, desde
a harmonia dos incontáveis astros da abóboda celeste à germinação da semente, a
concepção orgânica no reino animal, o tempo de uma vida no corpo de um ser
humano, nada foge a esta Força Ordenadora.
A
busca da cura para as doenças difíceis, para as aflições, é obrigação daquele que
sofre, no entanto, não cabem mais o imediatismo e o comodismo. É certo que Deus
não desampara a nenhuma de suas criaturas, racional ou irracional, mas em
relação ao ser humano, que é inteligente e detém muitos recursos espirituais a
conhecer e a desenvolver, exige-se uma postura compatível com o seu estado
evolutivo.
Com
o advento da Doutrina Espírita, que quebrou muitos preconceitos com a luz
lançada sobre as causas de muitos fatos que ocorriam desde a antiguidade, que
ocasionavam medo e tormentos, dando origem a lendas que perduraram por muitas
gerações. Somente com a revelação da
existência do mundo espiritual, que convive com os homens separado apenas pela
frequência vibratória diferente, com a ausência da percepção dessa população
imensa de desencarnados pela limitação dos órgãos materiais do corpo físico,
esta existente para atender as necessidades
dos encarnados, que precisam de oportunidade para consertar os erros e enganos
de outras vidas, bem como caminhar evolutivamente em inteligência e moralidade,
e encontrar a paz e a felicidade que tanto almeja, harmonizando-se com as Leis
Divinas, o que é o objetivo do Criador para todos os homens.
Para
encontrar essas verdades reveladas pelo Espiritismo, faz-se indispensável
desvestir-se dos preconceitos, principalmente os religiosos, e conhecer os
princípios básicos que a Doutrina dos Espíritos apresenta para a compreensão
dessa relação com os mortos, segundo a carne, mas vivos espiritualmente, tanto
como os habitantes do corpo físico. São princípio básicos, a preexistência e a
pós-existência do espírito a vida do corpo físico, a comunicabilidade dos
espíritos, a pluralidade das existências e a pluralidade dos mundos habitados.
Ensina
Allan Kardec que a Doutrina Espírita é uma Ciência e como toda Ciência
precisa ser estudada para que haja entendimento.
A
Doutrina Espírita transcende os limites da materialidade, o que as demais
Ciências não podem fazer, em conta os protocolos próprios e a ética que as
dominam.
O
Espiritismo é a Ciência que fluiu da espiritualidade, porque é a Doutrina
revelada pelos Espíritos, então não está limitada pelas convenções da academia
convencional. Não tem barreira a transpor, pois, não existem as situações que
regem os efeitos materiais, vez que a comunicação ocorre no campo
extracorpóreo, sendo o pensamento o seu ingrediente essencial, materializando
essas manifestações através da escrita (psicografia) e pela expressão oral
(psicofonia). Existem várias outras formas de manifestação espiritual, sendo a
que estão referidas as mais utilizadas para os efeitos de orientação e
instrução.
Em
conta o que se expõe acima e tudo mais que se exara na Revelação Espírita,
conclui-se pela impossibilidade do que se chama “milagre”; conquanto, as
chamadas curas e reversão de casos considerados insolúveis não são mais do que
ocorrências naturais, que têm por base o mérito e a fé daqueles que os possuem.
Como os méritos e a fé são registros que existem na alma, a avaliação não
pertence a nenhuma autoridade deste mundo.
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. " (Jesus - João, 8:32)
Dorival da Silva